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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

BELCHIOR EM UM TOM BRILHANTE E DOIS ESMAECIDOS


Por José Teles


Belchior completa 70 anos com uma caixinha nas lojas, continuação da série Três Tons, da Universal Music, com os álbuns Alucinação (1976), Melodrama (1987), e Divina Comédia (1988), estes dois últimos pela primeira vez no formato CD. Não se entende bem o critério destes três títulos juntos, ou seja, o melhor álbum de Belchior, alucinação, de 1976, com dois discos em que sua carreira parecia ir à deriva.

Alucinação quase dispensa apresentações e comentários. É Belchior no pico de sua inquietude questionando, provocando, despejando futuros clássicos à música popular brasileira, em um dos álbuns fundamentais dos anos 70. Não que Melodrama ou Divina Comédia sejam de todo ruins. Eles apenas não envelheceram bem. Se a remasterização fez bem a Alucinação, nos outros realça a breguice dos teclados.

Os arranjos ficaram datados, o pessoal parecia não ter conseguido ler direito o manual dos teclados. Todos soavam iguais, tanto num estúdio quanto numa churrascaria, as guitarras têm os mesmos timbres que Pepeu Gomes usava naquela época. Melodrama abre com um bolerão, De Primeira Grandeza, com uma incompatibilidade entre arranjos e interpretação. A regravação de Todo Sujo de Batom ganha um sax à Kid Abelha, vai ver para aproximar Belchior dos jovens que estavam dando as cartas naquele tempo.

Belchior continua escrevendo letras contundentes, preocupado com seu tempo, mas falando de temas aos quais os jovens, que tanto louvou nos anos 70, estavam alheios. Melodrama é o primeiro disco que ele grava na Phillips/Polygram desde Alucinação. Na época Belchior comentava que seria uma continuação de Alucinação, a “retomada de uma emoção temática”. Talvez da temática, mas tem um repertório errático.

Elogio da Loucura foi o disco que deu as piores críticas a Belchior. No JB, então um dos grandes jornais impressos do país, num máximo de cinco estrelas, ele recebeu apenas uma, de todos os críticos do caderno de cultura. Com razão, é um álbum inteiramente equivocado, meio rock brasuca, impregnado de citações que vão de Rimbaud, Freud, John Lennon, Ian Anderson, do Jethro Tull, de quem tomou emprestado a frase: “Muito velho pro rock, e muito jovem pra morrer”

Às vezes os vocais estão afundados num creme de chantilly eletrônico, de teclados de mil e uma utilidades. Gadgets usados com exagero na faixa Kitsch Metopolitanus, provavelmente um dos piores reggae já gravados no Brasil.

As dez canções passam sem deixar rastro, e nem são de todo ruins. Tem interpretações e arranjos desencontrados. Mereciam ser recuperadas pelos novos artistas que estão redescobrindo Belchior, artista que merece parabéns, abraços e bolos pela sua obra, sobretudo a que fez até 1979.


Confiram Belchior no reggae Kitsch Metropolitanus:

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