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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

20 ANOS SEM BATATINHA

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Despedida e Legado


Apesar de reconhecido e admirado no meio musical, Batatinha encontrava dificuldades para fazer circular seu trabalho na década de 1990. A indústria fonográfica da Bahia tinha se voltado quase que exclusivamente para a axé music, então no seu auge. É na contracorrente desse movimento que os jovens produtores J. Velloso e Paquito procuram Batatinha e lhe propõem a gravação de um novo disco, formatado como espécie de songbook, com a participação de grandes nomes da música brasileira. O novo projeto devolve o ânimo ao sambista nos seus últimos anos.

Entretanto, tão logo entram em estúdio para a gravação, a notícia de que um câncer acometia o artista mexe com todos os envolvidos. Mas do hospital ele manda seu recado: “Diga aos meninos que eu vou sair pra gravar esse disco”. E assim foi. Tão logo o poeta recobrou forças, voltou para o estúdio, agora com a vontade de concretizar o que, estava claro, seria seu último registro. Quando o derradeiro disco ficou finalmente pronto, Batatinha já não estava entre nós, partira no dia 04 de janeiro de 1997. Nos deixou Diplomacia como adeus em forma de música, último acorde num legado que conclama o nosso direito de sambar.



Diplomacia – Antologia De Um Sambista

A história do último disco de Batatinha é uma história de muitos contratempos, mas de uma vontade ainda maior de realização. Tudo começou quando os jovens produtores Paquito e J. Velloso resolveram produzir em Salvador um disco que fizesse o devido contraponto à axé music, então no seu apogeu. A ideia era oferecer ao público uma música baiana que, naquele momento, era relegada. A escolha dos dois foi imediata e certeira: quem melhor para representar esse esforço se não o mestre Batata?

Os produtores procuram o sambista que, de pronto, topa encarar o desafio. Era a chance de gravar um novo trabalho, dessa vez recebendo o tratamento merecido. A proposta desde o início era prestar uma reverência a Batatinha, convidando intérpretes de renome nacional para participarem desse trabalho, que pudesse ficar para posteridade como um songbook. Foram horas de entrevistas com o compositor para recuperar suas histórias e antigas canções, para escolher o repertório posteriormente. Definidos objetivos e perfil do projeto, os produtores resolvem inscrevê-lo no Prêmio Copene. Com muita ansiedade, aguardaram o resultado e, para a surpresa de todos, ele não foi classificado.

Todavia, os produtores tinham inscrito o projeto tão confiantes da sua qualidade e da sua importância que já haviam começado as gravações, mesmo sem qualquer garantia. Wesley Rangel, dono dos estúdios WR, cedeu o espaço e, timidamente, eles já faziam a passagem de som, testavam repertório, Batatinha colocava voz em algumas canções etc. Assim, a desclassificação foi um golpe sobre todos, seguido de um golpe ainda maior. Logo em seguida, Batatinha foi internado às pressas, confirmando a desconfiança de que ele estava bastante doente, acometido por um câncer.

Em meio a tanta desesperança, algo de bom finalmente aconteceria. Num show do amigo Roberto Mendes, J. Velloso acaba por conhecer Rodolfo Tourinho, à época secretário da Fazenda do Estado da Bahia, um homem sensível às artes. Ele, ao saber de toda a situação, abraça imediatamente o projeto e o torna financeiramente viável. A partir daí, começa uma corrida contra o tempo, tudo era arranjado para que Batatinha pudesse retomar as gravações imediatamente, tão logo saísse do hospital. Em nenhum momento duvidaram da convicção do sambista, que lhes tinha mandado recado: “Diga aos meninos que eu vou sair pra gravar esse disco”.

Como prometido, aconteceu. Batatinha sai do hospital e, mesmo abatido, corre para o estúdio. Àquela altura, já estava claro para todos que aquele seria seu último trabalho e seu maior legado. O artista aparentava essa consciência. A dedicação de todos os envolvidos aumentava na mesma medida em que viam seu enorme esforço para vencer o tempo e a doença. A prioridade era registrar a voz do cantor acompanhado de sua caixa de fósforos e mais um violão, para só depois colocar os outros instrumentos. Em seguida, os convidados gravariam sua parte. Eis que perto do fim do projeto, Batatinha é novamente internado e, dessa vez, não resiste, despedindo-se no dia 04 de janeiro de 1997.

O sentimento de pesar se abate em todo o meio artístico da Bahia, mas os produtores e músicos não permitem que a tristeza os paralise e agora, mais do que nunca, se veem na obrigação de fazer jus à memória de Batatinha e terminar o disco. Faz-se um esforço enorme para atender a todas as últimas vontades do mestre, que anteriormente tinha deixado especificado tudo: os intérpretes a ser chamados, a capa que ele pediu a Carybé, o texto do disco a Cid Teixeira.

Diplomacia só ficaria pronto meses após a morte de Batatinha. E ainda um último desafio: não havia mais dinheiro para a fabricação das cópias. Nesse ponto, a maior intérprete do compositor irá intervir. Maria Bethânia viabiliza o lançamento nacional do disco por meio de sua gravadora, a EMI, em 1998. O clima em torno do disco é, a um só tempo, de felicidade e melancolia, a saudade imperando entre todos que tiveram a honra de conhecer o diplomata do samba. E como prova de que todos os percalços valeram a pena, Diplomacia se torna um disco de enorme êxito e faz justiça, recolocando o nome de Batatinha no rol dos grandes sambistas do Brasil.

Batatinha - Diplomacia (1998)



Faixas:
01 - Depois eu volto (J. Luna - Batatinha)
02 - Conselheiro (Batatinha - Paulo César Pinheiro)
03 - Direito de sambar (Batatinha)
04 - Pra todo efeito (Lula Carvalho - Batatinha)
05 - Bebê diferente (Batatinha)
06 - De revólver não (Batatinha)
07 - Hora da razão (J. Luna - Batatinha)
08 - Bolero (Roque Ferreira - Batatinha)
09 - Imitação (Batatinha)
10 - Jajá da Gamboa (Batatinha)
11 - Fala de Batatinha 
Ministro do Samba (Batatinha)
12 - Ironia (Batatinha - Ederaldo Gentil)
13 - Zé de Loca (Batatinha)
14 - Toalha da saudade (J. Luna - Batatinha)
15 - Diplomacia (J. Luna - Batatinha)
Só eu sei (Batatinha-J. Luna) 
Fala de Batatinha
16 - Bolero (Roque Ferreira - Batatinha)
17 - Foguete particular (Batatinha)


Fonte: Site oficial do artista

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