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sábado, 5 de novembro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA


ANDRÉ FILHO, O HOMEM DE “CIDADE MARAVILHOSA”


André Filho, autor de inúmeras marchinhas de carnaval e até samba com Noel. Poucos o identificam como o compositor de “Cidade Maravilhosa”

Até certo momento da juventude pensava mesmo que “Cidade Maravilhosa” era um hino feito para a cidade do Rio de Janeiro, na época capital do estado da Guanabara.

Os hinos escritos, de forma geral, em louvor à pátria, como o feito à Bandeira, à Independência e ao Brasil, eram conhecidos por quase todos. Mas poucos sabiam quem os tinha composto. No máximo aparecia um Osório e um d. Pedro.

Quase da mesma forma, “Cidade Maravilhosa”, escrito em 1934 por André Filho e arranjo de Silva Sobreira, era cantado por todo mundo, no carnaval e nos grandes bailes da então capital federal e pelo país. Assim como os hinos oficiais, de loas às instituições e aos bravos que viram estátuas, a melodia de André Filho pegou de vez e se tornou hino oficial do Rio de Janeiro de 1960.

De forma semelhante, também pouquíssima gente conhecia seu autor. Antônio André de Sá Filho nasceu em 1906 e morreu em 1974, na cidade do Rio de Janeiro.

De carreira artística eclética, André Filho foi ator, violonista, bandolinista, violinista, pianista, compositor e cantor brasileiro.

Portanto, não foi por falta de talento e habilidades que André Filho não foi definitivamente colocado no panteão dos grandes artistas nacionais. A primeira gravação de “Cidade Maravilhosa” é de 1934 e André canta acompanhado de Aurora Miranda, irmã menos famosa de Carmen Miranda. André já havia feito canções para Carmen. Desta vez, foi Carmen quem pediu para que Aurora gravasse a marchinha. Na época, a iniciativa foi tomada como uma abertura de portas para que as mulheres cantassem mais músicas de carnaval, segmento hegemônico dos cantores.


Cidade Maravilhosa, de André Filho, com arranjo original de Silva Sobreira, com Autora Miranda (irmã de Carmen) e André Filho – 1934



O hino da cidade do Rio de Janeiro é chamado “Cidade Maravilhosa”, a partir de epíteto usado pela escritora francesa Catulle Mendès em seu livro de poemas ‘La Ville Marveilleuse’, publicado em Paris, em 1913, como homenagem às belezas naturais do Rio.

Há ainda outra versão que sugere que o título foi inspirado num programa jornalístico de grande sucesso, apresentado por César Ladeira, onde o radialista lia as “Crônicas da Cidade Maravilhosa”, escritas pelo futuro imortal da Academia Brasileira de Letras, Genolino Amado.

O disco foi originalmente gravado na Odeon em 1934 e lançado em 78 rpm. Aurora começou a cantar a nova melodia em todos os shows e no coro de suas gravações. A canção foi gravada por mais de 40 grupos e cantores até esta data.

Para não ficar apenas com seu grande hit, mostro a seguir a belíssima “Filosofia”, que André Fillho fez em parceria com Noel Rosa.


Filosofia, com Martinho da Vila – de Noel Rosa e André Filho – 1933



André Filho teve entre seus intérpretes Vicente Celestino, que gravou a valsa “Cinzas no Coração”, pela RCA Victor, obtendo enorme sucesso.

No final da década de 1960, André gravou depoimento para o MIS – Museu da Imagem e do Som -, tendo sido considerado com o estado mental ainda bastante razoável. Devido a uma grande crise no sistema nervoso, passou mais de 20 anos internado no Hospital da Ordem do Carma, afastando-se prematuramente da vida artística, o que obscureceu a avaliação de sua obra, fazendo com que seu trabalho fosse lembrado basicamente apenas por “Cidade Maravilhosa”.

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