Por Jaquim Macedo Júnior
Luperce Miranda, o mestre do choro pernambucano, um baluarte do gênero no Brasil
Fiz recentemente um trabalho abrangente, custoso e recompensador sobre o choro brasileiro. Foi material para curso de pós-graduação, com boa repercussão na faculdade e nesse nosso querido site, o Musicaria Brasil.
A partir do livro de Henrique Cazes, pude passear por inúmeras biografias dos pais do choro brasileiro, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Jabob, Altamiro, Valdir, Ernesto e outros.
Foi à pesquisa, ao estudo que reafirmei a tese que defendia de que o choro ainda é música instrumental brasileira mais tocada pelo país afora.
Também descobri que, em que pese seus mais famosos criadores estivessem ou nascessem no Rio de Janeiro, ele se espalhara, de forma quase autônoma, por todos os cantos do Brasil. E, se querem saber, até de fora, com outras denominações.
Descobri um fortíssimo núcleo de “chorões”, do Recife, de origem simultânea a de outros estados.
Às vezes corro o risco de me repetir, mas, mais uma vez, a minha grande professora desta área também, foi Dagô, minha mãe. Não custa dizer que nossa “faculdade” – minha e de meu irmão, músico, compositor e multi-instrumentista Zeca Macedo – foi Dagô. Tinha grandes vantagens sobre média das pessoas com boa cultura e frequentadora de academias, concertos e eventos artísticos: a absoluta ausência de preconceito. Discorria sobre Debussy, como falava com muita intimidade sobre Jackson do Pandeiro e sua parceira Almira.
Estudou cinco anos de Conservatório, à época dirigido pelo maestro Cussy de Almeida, seu conterrâneo, embrenhando-se no aprendizado de Bach, Beethoven, Mozart e outros.
Mas, ao deixar as salas de piano, as partituras e os ensaios, compartilhava nas ruas, no Sítio da Trindade, nas rádios Clube e Jornal do Comércio, no rádio de casa e depois na televisão, e se deixava permear pelos sons populares e nem sempre aceitos por certa elite, ouvindo com afinco e decorando letras e músicas e interpretações de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, Miltinho, Zimbo Trio, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira, Marlene, Emilinha. Depois, Elis, Gil e Chico.
Foi numa destas conversas sobre música – gênero, geografia e qualidade – que Dagô, respondendo a uma demanda minha sobre o choro em Pernambuco, que ela, quase repreendendo, disse: “Oh, meu filho! Você não conhece o grande Luperce Miranda”. Bem o resto, eu já contei.
Luperce Miranda nasceu no Recife, em 28 de julho de 1904 e faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de abril de 1977. Compositor, bandolinista e bamba no choro, começou a carreira quando seu pai montou uma orquestra infantil com os 11 filhos – um time de futebol.
Desde cedo, portanto, aprendeu a tocar bandolim, tendo composto sua primeira música aos 15 anos de idade.
Também tocava piano e foi o músico contratado de uma confeitaria do Recife, ainda na juventude.
Na década de 1920, integrou os Turunas da Mauriceia, que foi para o Rio de Janeiro em 1927, provocando a primeira “onda nordestina” que chegou à então capital do país. Sua chegada ganhou grande repercussão no cenário musical local. Voltou ao Recife e montou outro conjunto, “Voz do Sertão”. Depois, foi definitivamente para o Rio, até formar o “Regional Luperce Miranda”, em 1929, Na década de 30 acompanhou Mário Reis, Carmen Miranda e Francisco Alves.
Voltou para o Recife em 1937 e retornou à capital federal nos anos 1950, quando gravou mais discos e excursionou pela Europa.
Considerado um dos maiores bandolinistas do país, criou uma escola de música especializada em instrumentos de corda.
Em 1994, o bandolinista Pedro Amorim lançou o CD “Pedro Amorim toca Luperce Miranda”, dedicado à obra do compositor.
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