A Filarmônica de Pasárgada é onde a Vanguarda Paulistana deságua em Tom Zé. A Filarmônica de Pasárgada a pororoca provocada por este encontro, ganhou vida própria em 2008, e vem correndo atrás da popularidade e sucesso de vendas (até agora inalcançados, como ressaltam em sua página oficial) desde o álbum de estreia, O Hábito da Força (2012).
Veio em seguida Rádio Lixão (2014), que já prenunciava em pluralidade de ideias o terceiro disco, que está aterrissando nas lojas, Algorritmos (Coaxo do Sapo). Um álbum conceitual, baseado na gramática e sintaxe de um invento que completa este ano 25 primaveras: a Internet. Cada faixa do álbum é inspirada num processo da Internet.
Abrindo nova página. Algorritmos é um disco, com perdão do trocadilho, de uma banda larga. Literalmente. A FP é integrada por sete artistas de habilidades múltiplas: Fernando Henna, Gabriel Alterio, Ivan Ferreira, Marcelo Segreto, Maria Beraldo, Migue Antar, Paula Mirhan. Têm em comum o fato de saber de música mais do que ler partituras (a FP foi formado na escola de música da USP). Esbanjam criatividade no grupo, mesmo que todos estejam conectados em outros projetos. De volta à página anterior.
A faixa que abre o repertório, Por Favor, Aguarde, simula a abertura de uma página, um loading lento da nossa Internet rápida dá impressão de que há problema no áudio. Nesta WEB sonora as possibilidades são infinitas, incluindo aí as pesquisas equivocadas no Google. Em Você Quis Dizer Filarmônica de Passárgada, o “s” a mais em Pasárgada serve de propósito para um comentário sobre a luta de artistas independentes para alcançar o consumidor: “Haja Facebook/haja propaganda/menino dá um look/no nome da banda”.
A anagrama Kiwi/Wiki (pedia) vale para um libelo bem humorado contra a intolerância: “Que é que tem que sou maricas?/que é que tem que sou kiwi?/que é que tem se sou sapata?/que é que tem, sou travesti?”, versos da canção Kiwi , dedicada ao deputado Jean Wyllis. Em 144 Caracteres a letra se limita ao tamanho de uma mensagem no Twitter, e que termina subitamente quando se chega a 140 caracteres.
Mas o que poderia ser um cul-de-sac, torna-se links para muitas páginas, como já se citou em Kiwi. WWW (obviamente, de World Wide Web) é uma colagem que, faz um mix de, entre outros, Caetano Veloso (Baby), Beatles (Love Me Do. O grupo volta a ser citado com ecos de Let It Be, na faixa No Repeat), Jacques Brel (Ne me Quitte Pas) e Shakira (Estoy Aqui) numa canção (até certo ponto) convencional, com acompanhamento de arpeggios de guitarra.
O Filarmônica de Pasárgada participou com as primeiras experimentações de Tom Zé com a Internet, em Tribunal do Facebook, mas em Algorritmos leva adiante o que o mestre ainda fazia com conexão discada. Conectado em Internet rápida, a Filarmônica de Pasárgada posta uma opera pop, com 15 canções assinadas por Marcelo Segreto (algumas em parceria), valendo-se de marchinhas, funk carioca, rock, dodecafonia, baladinhas, acrescentando amigos que comungam de conceitos sonoros parecidos. Segreto também criou os arranjos, com a produção do álbum a cargo de Alê Siqueira. A capa é de Guto Lacaz,
A onipresença de Tom Zé sai da virtualidade na faixa São Paulo SP. Ele e Tim Bernardes (O Terno) assinam a música com Segreto (parceria que remonta à época de Tribunal do Facebook). Um comentário sobre a megalópole conectando-a a grande rede, quase um remake de São São Paulo, canção com que Tom Zé ganhou o IV Festival da MPB, da TV Record, em 1968. As interfaces são fartas como num texto de James Joyce. Te Eu Vou Amar Que Sei é algoritmo randômico aplicado ao clássico Eu Sei Que Vou Te Amar (Tom/Vinicius).
Em 7 Comentários, Guilherme Arantes, Ná Ozzetti, Tom Zé, Juçara Marçal, Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik são os amigos que participam da faixas, que tem parcerias de Tatá Aeroplano, Cacá Machado, Gustavo Galo, Caê, Rafa Barreto e Julinho Addlady. Todos eles teceram comentários à postagem que Sérgio Segreto lhes enviou, como se estivessem numa rede social. Há ainda amigos, que ficam online por pouco tempo: Kassin (steel guitar), e Barulho Max (instrumentos experimentais, na ficha técnica). Os dois estão em Ctrl C Ctrl V.
É certo que tantas citações aos processos e ferramentas da Internet exigem demasiada atenção do ouvinte, no palco certamente o cenário deve sinalizar para isto. Evitando que o diálogo em Fernando Henna está online não seja confundida, por incautos, como uma mera atualização deAmigo é Pra Estas Coisas (Aldir Blanc/Silvio Silva). O disco termina com o que se era de prever comOffline: “Já não sei o que é que existe, o que que é ilusão/A pessoa, o pixel, o mouse, a sua mão. Eu saio saio saio saio/meu último logoff enfim/tudo desligado/meu reflexo na tela preta/eu clico em mim”. Diante a tela escura do monitor, uma pausa para reflexões: “Existimos a que será que se destina?”.
Confiram áudio da Filarmônica de Pasárgada em São Paulo SP:
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