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terça-feira, 6 de setembro de 2016

DO FREVO DE MICHILES AO POP DE BARRO, SEIS NOVOS DISCOS PERNAMBUCANOS CANTAM O AMOR E A CIDADE

Recém-lançados no mercado, a maioria disponível para audição gratuita na internet, álbuns propagam mensagens afetivas em sintonia com demandas sociais



Por Larissa Lins



Madimboo, Barro, Pácua e Lögan estão por trás de alguns dos novos trabalhos na cena musical pernambucana. Fotos: Divulgação/Facebook/Reprodução

Foi pensando no afeto em suas muitas manifestações que o cantor e compositor pernambucano Barro idealizou Miocárdio (Independente, R$ 18,90), lançado hoje nas plataformas digitais. Idiomas e influências musicais se misturam no álbum, o primeiro solo desde a Bande Dessinée, como desdobramentos da mensagem central: os sentimentos humanos têm muitas formas. É o que reverberam outros lançamentos no início deste mês.

Pácua e Via Sat, oriundos do movimento mangue nascido em Peixinhos nos anos 1990, fazem recorte semelhante em Ramalhete (Independente, disponível no Youtube), dedicado às diferentes formas de amor, o pernambucano Tito Marcelo canta gênese e ocaso do sentimento em O futuro ligeiro da demora(Independente, R), enquanto a banda Madimboo divulga o EP Candeia (Independente, disponível no Youtube), inspirado em romances, juventude e transformações pessoais. “Não é por acaso”, diz o vocalista Artur Dantas sobre a confluência de temas. Para ele, as letras mais afetivas refletem intenção dos músicos locais em oferecer contraponto às crises morais e ideológicas da sociedade atual.

“O mundo está tão violento, que as pessoas só veem miséria e dor. Falta amor em tudo. Nas notícias, nos filmes, nas novelas, nas músicas. As mazelas que cantávamos há 20 anos são as mesmas, então decidimos lançar novo olhar sobre elas, sobre tudo. Um olhar mais afetivo, mais amoroso. Muitos artistas estão embarcando nessa viagem”, explica Pácua, que homenageia a Rua da Aurora na faixa que dá nome aRamalhete, o quarto disco do grupo em 24 anos de estrada.

Exaltar cenários e ritmos tradicionais da história pernambucana é outro ponto comum entre os álbuns recém-lançados. O coco é bom (Independente, disponível no Youtube), parceria do pernambucano Mestre Ulisses com o carioca Pedro Lögan, homenageia o coco olindense, e o flautista Cesar Michiles resgata o frevo em Eu sou (Independente, R$ 19,90). “Em geral, ritmos populares são pouco conhecidos pela população. A difusão da cultura popular de raiz é fundamental para termos consciência de quem somos, como cidadãos, e da nossa história”, opina Lögan em relação à musicalidade do novo álbum. 


O coco é bom (Independente, disponível no Youtube)
Mestre Ulisses e Pedro Lögan
Ainda sem show de lançamento marcado, o disco foi produzido em parceria pelos músicos, que compunham separadamente, em suas cidades de origem. O pernambucano Mestre Ulisses e o carioca Pedro Lögan somaram esforços em torno da homenagem ao coco, com participação do Mestre Lua de Olinda. São seis composições de Lögan e quatro de Ulisses. Entre as faixas, Quando a saudade apertar, Quisera eu e Joguei a semente. “Como artista dedicado à música pop, meu projeto é levar o coco, um ritmo popular de raiz, a novos palcos”, define Lögan. O álbum foi lançado virtualmente na última sexta e está disponível no YouTube.


Miocárdio (Independente, R$ 18,90)
Barro
O primeiro trabalho solo do cantor e compositor pernambucano Barro, um dos fundadores da Bande Dessinée, é dedicado ao afeto e às experiências pessoais do músico. Com capa assinada pelo ilustrador Laurindo Feliciano, o disco tem participações especiais de Juçara Marçal, Catalina García, entre outras, e reúne canções em português, inglês, francês, espanhol e italiano. “Misturar idiomas é algo que faço há um tempo, mas agora de modo amadurecido, lapidado. Isso chama participações especiais, e cada uma dessas participações chama sua própria conexão com uma cultura determinada, uma visão de mundo”, diz Barro. Ele lança o disco no Festival No Ar Coquetel Molotov, no Recife, em outubro, com participação de Juçara Marçal. Ficamos assim, Poliamor e Vai estão no repertório, inspirado nas diferentes manifestações sentimentais. 


Ramalhete (Independente, disponível no Youtube)
Pácua e Via Sat
Depois de três discos dedicados, predominantemente, às temáticas sociais, Pácua e Via Sat se voltam ao amor em Ramalhete, disponível no YouTube, com show de lançamento previsto para setembro, no Recife. “O nome faz referência ao gesto de presentear alguém com flores. É algo tão simples, mas se tornou raro, incomum. É um símbolo do romance. Essa coisa de falar do amor parece até meio brega, mas é isso que falta às pessoas, ao mundo. Quando falamos do nosso gueto, também falamos de amor. O sentimento tem várias formas”, conta Pácua, que pretende sensibilizar o público mais jovem com a temática. Mistura de jazz, hip hop, funk e ritmos pernambucanos, Ramalhete tem participação de Toca Ogan e Gilmar Bolla8 nas faixas Mundo punk e Sambalanço, respectivamente. 


Candeia (Independente, disponível no Youtube)
Madimboo
Sob o nome Madimboo, os integrantes da banda que acompanha o pernambucano Johnny Hooker compuseram as faixas do EP Candeia durante turnê do músico. “O disco fala sobre romances, juventude e transformações pessoais. As músicas imprimem sempre uma coisa boa. A ideia é mostrar que o importante é estar sempre mudando, mas vendo esse fluxo de forma positiva, alto astral. É um álbum animado, dançante”, conta o vocalista Artur Soares. Candeia, Caetano Veloso e Camomila compõem o trabalho lançado na semana passada, no Texas Café Bar, Centro do Recife. Natália Lins (Dunas do Barato) faz participação especial nos vocais, e Alan Ameson no trompete.


O futuro ligeiro da demora (Independente, R$ 15)
Tito Marcelo
O pernambucano explora a trajetória do amor, da gênese ao desgaste, em paralelo às quatro estações do ano no disco. Surto da espera, A cor de sermos e Como se quis estão no repertório, composto de inéditas, que chega ao mercado neste mês. “Hoje tenho o prazer de compor. O lugar onde fico mais confortável é compondo”, revela Tito, que assina todas as faixas do álbum, produzido pelo baixista André Vasconcellos e gravado com participação do percussionista Marcos Suzano. São 11 faixas selecionadas entre as mais de 30 compostas pelo artista entre o ano passado e o primeiro semestre deste ano. As músicas e o formato do álbum, distribuído entre lados A e B, remetem à sonoridade dos anos 1980 e têm, segundo o músico, influência de conterrâneos como Lenine e Alceu Valença.


Eu sou (Independente, R$ 19,90)
César Michiles
O flautista pernambucano César Michiles faz, em seu segundo álbum, ode ao frevo em dez faixas instrumentais. Lucas dos Prazeres, Cezzinha e o multi-instrumentista Naná Vasconcelos, morto em março deste ano, estão entre as participações especiais do álbum, gravado parte em estúdio e parte na sala de estar de Michiles. Pega ladrão, Pé de chinelo, Canto das águas e Pifando na pista fazem parte do setlist, aberto por Minha saudade, com participação do petrolinense Geraldo Azevedo. A capa é assinada por Hime Navarro.

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