Muitas e boas amizades nasceram numa mesa de bar, outras se desfizeram. Conversas sem fim, mágoas, traições, aventuras, política, futebol, verdades e mentiras, vale tudo na mesa de bar.
Antigamente os bares eram temáticos, não se sabe necessariamente por que. O Mustang na Avenida Conde da Boa Vista, o mote era política, invariavelmente. Quem quisesse encontrar Mano Teodósio, Ronildo Maia Leite, Bayron Sarinho, Guri, e até alguns “exilados” ou vivendo na clandestinidade, era só chegar e sentar. Debates calorosos, inúmeras soluções e receitas para um Brasil livre, por uma sociedade justa e fraterna. Por via democrática, não, alguém gritava logo: Viva a Revolução! Abaixo a Ditadura! Para desespero de Zago, o Gerente, pois com a chegada da polícia haveria debandada geral e xexô na certa.
Já o Bar Savoy, ficou conhecido em outra época por reunir os poetas, lá estavam: Gilberto Freire, Mauro Mota, Carlos Pena Filho, Ascenso Ferreira, Fernando Lobo e Antônio Maria. E foi lá, numa mesa do mezanino que Carlos Pena escreveu o mais famoso refrão da poesia Recifense.
São trinta copos de chopp
São trinta homens sentados
Trezentos desejos feitos
Trinta mil sonhos frustrados.
Na frente do Savoy, fui apresentado ao poeta Ascenso Ferreira, eu, ainda adolescente, e pesando uns cinqüenta quilos, senti minha mão quase esmagada pelo aperto da mão imensa do poeta. Sua voz trovejou nos meus ouvidos com um: Muito prazer meu jovem. Jamais esqueci aquele dia e aquele homenzarrão todo de branco, com um chapelão na cabeça, tudo nele era grande, e grande é a sua poesia.
Bar Central, O Galeto dos Quatro Cantos, Cantina Star, Bar do Derby era reduto de jornalistas, músicos, Bicho Grilo, Cabeça, Porra Louca, Play Boy, gente com dinheiro e lisos em geral. Nada impedia que nomes já citados aqui como frequentadores de outros redutos, fizessem incursões nos bares da periferia, principalmente na madrugada.
Citar nomes aqui não vai ser fácil, mas lembro de: Paulo da Cachorra, Gilvan Bandeira, Paulo Caldas, Eurico Rodolfo, Carlos Oertli, Cauby Holanda, e Alberto da Cunha Melo.
Em quase todos os bares a presença itinerante de Lauro Villares, extraordinário artista, caricaturista, e pintor. Os seus “bicos de pena” são famosos até hoje. Costumava trocar uma obra de arte por uma cerveja, diante de uma negativa, deixava marcas de dolorosos beliscões nos braços do freguês.
As quatro da matina, uma corrida na direção das barracas do Mercado do Cais de Santa Rita, no conhecido “come em pé” ou “mil e uma moscas”. No cardápio, inhame e macaxeira regados ao molho de galinha cabidela acompanhados pela última cerveja da noite, que, segundo os boêmios tinha com objetivo lavar o peritônio. Para uns poucos sonhadores o passo seguinte era dormir e sonhar com a revolução. Para outros um fim de noite, numa mesa de bar.
Amigo é pra essas coisas
Composição: Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc
Interpretação: MPB4
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