''Proponho, com o título e com as letras, que se questione o que é bom ou ruim em música'', adianta o músico
Bom gosto, mau gosto. O que cabe a cada um? Quem decide o que é? A linha tênue que separa a música considerada popular das canções reconhecidas por mérito artístico é fronteira que instiga o belo-horizontino Matheus Brant em seu segundo álbum solo, Assume que gosta. Trata-se de provocação para envolver o ouvinte em pagode e arrocha sem medo. “Proponho, com o título e com as letras, que se questione o que é bom ou ruim em música”, ele adianta.
O músico explica que o eixo de concepção do disco foi O homem sem conteúdo (1970), livro de Giorgio Agamben. Nele, o filósofo italiano trata, historicamente, de como o homem desenvolve gosto artístico e passa a discernir o que é teoricamente válido em detrimento das produções apontadas como inferiores. “O bom gosto tem dentro dele o mau gosto”, resume o músico.
Lançado gratuitamente pela internet no mês passado e recentemente publicado em versão física, o disco traz composições autorais que se assumem como bons pagodes. O lançamento ocorre hoje, na Benfeitoria, em um show que o cantor prefere encarar como festa. “É para ser um festejo, uma celebração de fim do carnaval”, convida Brant. A alusão à folia não vem por acaso. O artista é um dos fundadores do bloco Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, ao lado de outros ex-integrantes do grupo de samba Chapéu Panamá. Coberto de glitter nas fotos que ilustram o álbum, Matheus Brant deixa explícito que sua origem artística tem raízes, para além do pagode, no carnaval da capital mineira.
Na sonoridade, Assume que gosta consegue equilibrar o que era fenômeno nos anos 1990 com as pegadas individuais do cantor e compositor. A única exceção ao autoral é uma versão para Abandonado, parceria de Thiaguinho e Pezinho consagrada em registro do Exaltasamba. Para ele, o registro original é aquém da canção. “Merecia uma gravação melhor, o original é ao vivo e o pagode se perde um pouco.” O arranjo é uma releitura bem mais complexa da melodia, feito para provocar”, afirma, revelando que a estratégia segue a de Caetano Veloso de “pegar uma música considerada brega e mostrar que ela é tão boa quanto as demais”.
Aos ouvidos mais conservadores, pode soar inusitado que as passagens de Matheus Brant por bandas de rock e samba culminassem em um disco de pagode com toques eletrônicos. O autor, porém, descarta apego a estilos específicos e inseriu flertes com outros que lhe são próximos. Fábio Pinczowski e Mauro Motoki, paulistanos que já produziram artistas como Céu e Elza Soares, expandiram a sonoridade do projeto. “Fui atrás dos produtores para aplicar ao disco os sons que eu mais ouço agora, referências de dub e reggae. Com esses toques, fugimos de uma eventual caricaturização, ganhamos autenticidade”, conta Brant.
Fonte: Uai
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