Quando instrumento era considerado "coisa de malandro" no Rio de Janeiro, joinvilenses o incorporavam em saraus e serestas
Por Cláudia Morriesen
Guilherme Diefenthaeler faz evento de lançamento de 'O Pinho Toca Forte', com participação de músicos para bate-papo e pequenos showsFoto: Ana Ribas / Divulgação
O violão não era instrumento nobre até o século XX, apesar de ser considerado o primeiro a chegar ao Brasil. Não entrava nas salas de concerto e sua música era de "coisa de malandro" — pelo menos, na história registrada em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde Heitor Villa-Lobos influenciou a valorização do instrumento.
Sabendo disso, o jornalista Guilherme Diefenthaeler começou a se perguntar qual era a relação do instrumento em Joinville, cidade que teve sua colonização iniciada por imigrantes europeus, com estilo de vida muito mais sério e conservador do que as cidades do Sudeste. A curiosidade o levou à busca pelo passado do violão e a importância dele para a música joinvilense nos últimos 120 anos, relatados no livro O Pinho Toca Forte - Histórias do Violão Joinvilense, que será lançado nesta segunda-feira, às 19h30, com evento na Estação da Memória.
A obra apresenta episódios marcantes, narrativas e entrevistas com personalidades relacionadas ao instrumento. Foram muitas tardes passadas em meio aos documentos e jornais antigos do Arquivo Histórico de Joinville, em uma pesquisa apresentada nos dois primeiros capítulos do livro.
— Eu queria identificar onde estava o violão, quais eram as atividades ligadas à ele no início do século XX — relata Guilherme — Consegui boas histórias, contadas sem a preocupação rigorosa do registro histórico: não sou historiador, sou jornalista, e esta é uma grande reportagem.
Nesta investigação, o autor descobriu o instrumento em Joinville ainda no século XIX, nas festas dos escravos negros, nas fazendas; e nos cânticos das festividades de Natal. Já nos primeiros anos do século passado, ele estava em saraus e serestas e até na vinda de Pixinguinha e seu conjunto musical, os Oito Batutas, que se apresentaram no antigo Theatro Nicodemus (conhecido hoje como Cine Palácio) nos anos 1920.
Depois, segue para a história mais recente, com a criação da Escola de Música Villa-Lobos e a vinda de mestres brasileiros do violão para ensinar os professores joinvilenses e a formação de grupos como o Bera Samba.
— No total, entrevistei 50 pessoas, entre fontes para referências históricas, buscando subsídios e relatos, e para perfis de músicos regionais importantes. São 15, que formam o terceiro capítulo — conta ele.
Este arquivo apresenta biografias de músicos da cidade, como Ana Paula da Silva, Marcos Lerena, Jair Correia e Dentinho, e suas trajetórias contadas nas palavras do jornalista. Além deles, nove virtuoses da música como Fábio Zanon, Turibio Santos, Alegre Corrêa e Yamandu Costa, que em algum momento passaram por Joinville e se relacionaram com a música local, revelam suas percepções sobre o cenário para o violão no Brasil.
As últimas páginas do livro trazem uma lista de dez discos de violonistas que têm berço ou fizeram carreira em Joinville, indicações pensadas pelo jornalista que, apesar de não ser profissional, tem uma forte relação com o violão.
O Pinho Toca Forte – Histórias do Violão Joinvilense tem 180 páginas e tiragem de mil exemplares, sendo que 200 deles serão distribuídos gratuitamente em instituições de Joinville ligadas ao meio musical e ao ensino do instrumento, já que o projeto foi possível por meio do Edital de Apoio à Cultura da Fundação Cultural de Joinville. Depois do lançamento, o livro será vendido na sede da editora Mercado de Comunicação a R$ 30.
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