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sábado, 20 de junho de 2015

EM MOMENTO OPORTUNO, LUIZ HENRIQUE REVERENCIA EM GARBOSO PROJETO SILAS DE OLIVEIRA

Considerado um dos grandes baluartes do samba, o compositor carioca Silas de Oliveira tem pela primeira vez um disco dedicado exclusivamente à sua obra, projeto este considerado pontapé inicial as comemorações do seu centenário.

Por Bruno Negromonte



Silas de Oliveira nasceu em Madureira, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, no ano de 1916, mas precisamente no dia 12 de Outubro. Desde a infância, apesar da resistência do pai, que era pastor protestante e via na música uma ‘manifestação do diabo’, envolveu-se com o samba a partir de participações nas mais distintas rodas de samba que ocorriam nas cercanias. Relutante, o pai de Silas tentou afastá-lo do universo do samba como pode, inclusive o colocando para lecionar assim que concluiu o científico na escola ao qual era dono, talvez acreditando que exercendo o ofício de educador o filho abandonasse o gosto pela música. Mero engano, pois apesar do esforço, o futuro compositor não consegue esquecer do gênero musical ao qual espontaneamente abraçou e, após conhecer o jornaleiro Mano Décio da Viola (que acabou por se tornar o seu maior parceiro), envereda de vez para o samba ao subir os morros cariocas e frequentar os tradicionais pagodes nas casas das ‘tias’ baianas. Quando estava com cerca de 30 anos compõe em parceria com Mano Décio o samba-enredo ‘Conferência de São Francisco’ ou ‘A Paz Universal’, defendido pelo Prazer da Serrinha, agremiação carnavalesca da qual faziam parte. Por divergência diversas no carnaval do ano seguinte surgiu a Império Serrano, escola que no ano seguinte a sua fundação já conquista o primeiro de uma série de quatro títulos carnavalescos que viria a ganhar sucessivamente. De 1948 a 1951, só deu verde e branco na folia. A escola foi tetracampeã do carnaval carioca, e os nomes de Mano Décio e Silas espalharam-se por toda a cidade como autores dos samba-enredos campeões. Dentre os dezesseis sambas compostos para a escola (dos quais 14 foram defendidos no desfile oficialem quase três décadas dedicados a agremiação, há diversas canções que ganharam o gosto popular e extrapolaram o período carnavalesco como pode-se conferir a partir dos diversos temas presentes nas composições deste nome que tem talhada em sua biografia a alcunha de ser o maior compositor de sambas-enredo de todos os tempos.



Como pode um artista deste naipe permanecer no limbo do nosso cancioneiro popular sendo lembrado vez por outra sem maiores destaques?. Talvez tenha sido este o  questionamento  que permeou os pensamentos do obstinado do cantor, compositor e pesquisador Luiz Henrique. Bacharel em direito, o incansável Luiz tem na música uma inesgotável fonte de prazer e mesmo enfrentando as mais diversas adversidades, vem sempre buscando trazer ao conhecimento do grande público exímios projetos fonográficos , dentre os quais o álbum duplo "Um Sinhô compositor", uma homenagem  aos 80 anos de saudade do compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, autor de alguns clássicos de nossa música como "Jura" e "Gosto que me enrosco". Outro interessante trabalho que consta no currículo do artista é  "Pro samba que Noel me convidou", mais um relevante resgate a favor da memória da canção popular brasileira. Tal projeto reitera, sem exageros, o aurífice existente no artista nesta homenagem a Noel Rosa e seus contemporâneos como é possível atestar a partir de um repertório meticulosamente escolhido. Dentre as faixas presentes pode-se citar "Perdi o meu pandeiro", de autoria de Cândido das Neves, o Índio, representativo compositor da música popular brasileira. Tal canção composta na década de 1930 ganhou o seu primeiro registro em disco justamente em "Pro samba que Noel me convidou" como chegou a ser abordado em nossas páginas à época do seu lançamento como pode-se conferir através da pauta "A ESMERADA PERSONIFICAÇÃO DO SAMBA". Agora  Luiz Henrique volta a cena fonográfica com O Império de Silas, ao grande mestre do samba Silas de Oliveira”, reiterando o seu, digamos, compromisso com o resgate de grandes nomes de nossa música e, em especial, do universo do samba. Assim como os demais, o álbum foi gravado de modo independente e apresenta catorze composições em doze faixas muito bem selecionadas e equacionadas entre clássicos da lavra do compositor carioca e músicas pouco conhecidas do seu repertório. Sucessos como "Apoteose ao samba" e "Heróis da liberdade" dividem espaço com composições como "O Império tocou reunir", "Caçador de esmeraldas", "Amor aventureiro" e "Desprezado" (Todas em parceria com Mano Décio e esta última assinada também por Manoel Ferreira). Outras da lavra do próprio Silas como "Calamidade", "Aquarela brasileira", "Pernambuco, leão do norte" e outras com distintos parceiros como "Meu drama (Senhora tentação)" (a quatro mãos com J.Ilarindo) "Me leva" (parceria com Anísio Silva e José Garcia), "A lei do morro" (de autoria também de Antônio dos Santos), "Os cinco bailes da história do Rio" (com Bacalhau Dona Ivone Lara) e "Rádio patrulha" (composição também assinada por Marcelino RamosLuiz Firmino dos Santos e J.Dias).

Em uma verdadeira celebração a este grande nome do samba o disco conta com a participação de nomes como Jorginho do Império, (filho do saudoso Mano Décio), Alex Ribeiro (filho do não menos saudoso cantor e compositor Roberto RibeiroSilas Júnior, filho do homenageado. Já na tessitura sonora do álbum há nomes como o de Dirceu Leite (Clarone, Clarineta e Flauta) e o do violonista Rafael dos AnjosToda a produção é assinada pelos músicos Julio Florindo (atuando também no baixo e Repique) Thiago da Serrinha (que executa no disco pandeiro, Tambor, Bandolim, Tamborim, Repique e entre outros instrumentos). Esta festa sonora conta também com a colaboração de nomes como Quininho da Serrinha (Tantan, Tambor, Cuica, Caixa,  Tamborim, Repique de Anel e Reco Reco), Marcio Vanderlei (no Cavaco), Adilson Didão (Surdo, Caixa, Tamborim e Ganzá), Rafael Mallmith (Violões), Tina Werneck (Viola), Cacá Colon (Caixa Marcial), Aquiles de Moraes (Trompete), Aquiles de Moraes (Flugel horn), Junior de Oliveira (Frigideira, Prato e Faca) e Everson Moraes (Trombone). O coro ainda conta com os nomes de Ary BispoAnalimarHamilton FofãoJussara LourençoHá ainda a participação da Velha Guarda Show do Império Serrano (com os componentes Capoeira, Silvio, Ivan Milanez, New Lee, Cizinho, Tia Vilma, Lindomar e Rachel Valença).

O Império de Silas, ao grande mestre do samba Silas de Oliveira” atesta o porquê Silas de Oliveira é considerado um dos grandes nomes do samba, assim como também a razão pela qual seu nome fez-se bastante respeitado e reverenciado, em particular no meio carnavalesco. Não é à toa que hoje ele é considerado o ídolo maior do GRES Império Serrano. Já era tempo para esta homenagem e este marco, que é um disco dedicado exclusivamente as composições de Silas de Oliveira. E ainda bem que quem teve esta ideia e ousadia foi Luiz Henrique, artista que inconscientemente traz em seus trabalhos esse compromisso de resgatar grandes valores de nosso cancioneiro sempre trazendo consigo uma gama de características que engrandecem tais projetos. Luiz traz consigo não apenas a preocupação de um intérprete que busca sempre apresentar ao seu público um repertório de primeira grandeza, mas também uma característica que o vem destacando ao longo dos últimos anos em seus projetos fonográficos, mesmo que de forma espontânea: um compromisso que busca o resgate da nossa Música Popular Brasileira, em especial do nosso samba. Feito de modo independente, O Império de Silas” faz-se por si só mais uma prova do indelével amor do artista para com a valorização da música a partir do caminho das pedras. Trilha esta difícil por, em sua discografia, mostrar-se mais um projeto que rema contra a maré comercial vigente apesar da indiscutível qualidade. É a primeira vez que Silas tem um trabalho exclusivamente dedicado a sua obra e, sem dúvida, o álbum é um marco para a música brasileira e, em especial para o samba, ao homenagear o centenário de um grande compositor como Silas. O disco torna-se uma prova documental da valorização e respeito a história de uma cultura onde a falta de memória coletiva é uma característica bastante arraigada É  Trabalho fundamental não apenas para aqueles que buscam uma fonte de fidedigna de consulta mas, principalmente para aqueles que são apaixonados pelo samba, uma fonte inesgotável prazer. Que O Império de Silas, ao grande mestre do samba Silas de Oliveira” seja considerado o pontapé inicial para as comemorações do seu centenário a acontecer em 2016.



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