Enquanto os fãs nutrem as lembranças do mangueboy, o poder público vira as costas para a memória daquele que colocou Pernambuco no mapa da música pop
Por Karoli Pacheco
Landau de Chico Science sofre com a maresia no Espaço Ciência
A memória de Chico Science, que hoje faria 49 anos, se ainda está muito viva entre os familiares, companheiros de banda e fãs (muitos deles que sequer o conheceu), ela é, por outro lado, objeto de um abjeto descaso do poder público do Recife, Olinda (onde nasceu) e de Pernambuco, sua terra natal que tanto projetou e colocou no mapa da música pop, em tão pouco tempo de meteórica carreira – abortada num acidente de carro às vésperas do Carnaval, em 2 de fevereiro de 1997.
A saudosa Dona Rita, 81 anos, mãe de Francisco de Assis França, sabe que para lembrar do filho não necessita ver fotografias, tampouco ouvir suas músicas. Por sinal, a memória dela não falha ao recordar daquele nascimento. “Ele nasceu numa maternidade que ficava à beira do rio, o Hospital Evangélico, no Recife. Foi um dos meus filhos que nasceu bem fácil”, diz. Sobre o início da carreira artística de Chico Science, relembra: “Depois do show do Aeroanta, em São Paulo, ele foi convidado para fazer outro show. E ele me disse: mamãe, eu vou por baixo e volto por cima.” Literalmente, foi de ônibus e voltou de avião, com um contrato com a Sony que rendeu o seminal Da lama ao caos (1994), que marcou uma década e uma geração.
O agitador cultural Roger de Renor lembra-se bem do carro tunado de Chico, do mesmo modelo de um que ele tivera. “Ele comprou esse carro quando voltou daquele show no Summerstage, em Nova Iorque, e não o reformou. Ele dizia que o carro tinha que parecer com o da galera do Brooklyn, pagando mais caro no som e nas luzes florescentes do carro, e deixou amassado mesmo”, conta um dos maiores bróders de Chico.
Segundo Jamesson França, Jamelão, irmão de Chico Science, o Ford Galaxy Landau 79 está exposto no Memorial Arcoverde há mais de 15 anos. Aliada a falta de manutenção, a maresia deteriora o veículo estacionado no Espaço Ciência. Outra negligência diz respeito ao Memorial Chico Science, no Pátio de São Pedro. Mofo, infiltrações, calor e outros problemas estruturais deixa o espaço às moscas – já que os fãs, muitas vezes, passam direto pela fachada mal sinalizada. Na contracorrente, os mangueboys se manifestam e cobram à Prefeitura do Recife a reforma do local. O órgão público responde de forma rasa. Diz que espera receber, oficialmente, as reivindicações para posterior análise das ações a serem realizadas no local.
Enquanto isso, um tributo neste sábado (14), em Olinda, faz as homenagens que a Semana Chico Science, cancelada pela Secretaria de Cultura, não fará neste ano. No palco do Fábrica Bar (Travessa Municipal, 9, Carmo), às 23h, a banda Cadillac 65, com participação de Jamaelão, toca o repertório da Nação Zumbi enquanto teve o malungo como frontman. E, assim, mais pelos fãs que pelo governo, a memória daquele que teve Pernambuco debaixo dos pés e a mente na imensidão toma corpo.
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