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terça-feira, 27 de maio de 2014

SOB A ÉGIDE DA VIOLA, GONZAGA LEAL ATEMPORALIZA-SE EM SINTONIA COM A SAUDADE

Após um hiato de três anos, Gonzaga Leal volta ao mercado fonográfico com "De mim", álbum que conta com adesão de nomes como Marília Medalha, Cida Moreira e Jaime Alem

Por Bruno Negromonte




Em 1993 chegava às lojas de todo o Brasil mais um álbum do cantor e compositor carioca Chico Buarque cujo uma das faixas, intitulada "tempo e artista", descrevia a relação entre a arte e o constante movimento dos ponteiros. Em dado momento da terceira faixa do disco que é considerado, pela crítica especializada, como o melhor disco do artista ao longo da década de 1990, Chico entoa versos como "(...) Imagino o artista num anfiteatro... Onde o tempo é a grande estrela (...) " ou "(...) Já vestindo a pele do artista... O tempo arrebata-lhe a garganta (...)" entre outras frases que hoje, mais de duas décadas após o lançamento, substanciam de maneira bastante vivaz este novo projeto do produtor, cantor (e agora compositor) Gonzaga Leal. Nascido no sertão pernambucano, mais precisamente em Serra Talhada, o artista que foi aluno do Conservatório Pernambucano de Música (onde estudou técnica e teoria musical) vem desenvolvendo um trabalho bastante coerente desde a sua estreia no mercado fonográfico em 2000 com o título "O olhar brasileiro". Desde então vem desenvolvendo os mais diversos trabalhos ao lado de alguns dos principais nomes da cena musical pernambucana e nacional. Com mais de 30 anos de carreira, Leal traz uma vasta bagagem antes mesmo do seu debute em disco, somando relevantes parcerias nos palcos de todo o país assim como também fora deles. Após dar início a sua seleta discografia as parcerias aumentaram qualificamente, enumerando registros ao lado de nomes como Naná Vasconcelos, Francis e Olivia Hime, Alaíde Costa, Ná Ozetti entre outros; e neste oitavo álbum intitulado "De mim" o contexto, além de contemplativo e confessional, não destoando dos anteriores, trazendo para esta celebração a viola como protagonista e a saudade como enredo maior. 





Tendo o tempo como tema recorrente, as quinze canções presentes apresenta um intérprete imbuído de muita pessoalidade. Prova disto é "Da saudade" (Públius), canção considerada o cerne deste projeto é que chegou as mãos de Gonzaga quando ele encontrava-se na Europa sentindo falta do seu torrão, amigos entre outras coisas. Já e"Água serenada" (Déa Trancoso"Arco do tempo" (Paulo César Pinheiropor exemplo, a condescendência do artista ao seu tempo biológico se dá através de frases como "Eu não canto do jeito que eu já cantei... Bebi água serenada, até a voz eu mudei" ou "Em qualquer ponto do tempo... Eu passo e finco meu marco...". O tempo ainda chega em duo com Cida Moreira através da canção "A janela da casa do tempo" (Públius e Xico Bizerra). Do carioca Mário Travassos gravou "Palavra doce(gravada originalmente em forma de samba-canção pelo cantor Mário Reis em 1960 e agora ganha adornos de música caribenha). Vale observar nesta faixa o quanto se assemelham os timbres entre os dois intérpretes. Da cena musical paulista o pernambucano pincelou nomes como Virgínia Rosa ("Vou na vida" parceria com Swamy Jr.); Luiz Tatit e Fabio Tagliaferri (que assinam "Show"); o disco ainda conta com outros nomes conhecidos pelo grande público como Adriana Calcanhoto Altay Veloso que assinam, respectivamente, as faixas "Você disse não lembrar" e "Canção de adeus". A faixa "Vôo cego" (Lula Yuri Queiroga) conta com Marília Medalha, que volta aos estúdios de gravações depois de anos afastada. A cantora e compositora ainda participa da canção de domínio público "Deusa da Lua", que foi adaptada pelo próprio Leal. Outra faixa assinada por Gonzaga (ao lado de J. Velloso e Guito Argoloé "Sonho imaginoso", canção que busca retratar toda a afabilidade que o artista busca através das mais diversas minúcias. Outras faixas presentes são "Calmaria" (J. Velloso), "Colarzinho de pedra azul" (Junio Barreto), Sina de passarinho" (Bruno LinsManoel Filó e Tonzinho), "Ainda bem que eu trouxe a viola" (Juliano Holanda) e "Que falem de mim" (Bidú Reislançada pela saudosa Ademilde Fonseca, nos idos anos de 1959.
"De mim" conta com as participações especiais de nomes como Jaime Alem J. Velloso (além dos talentosos conterrâneos Juliano Holanda e Públius) tem o design gráfico assinado por Tânia Avanzi e a direção fotográfica de Helder Ferrer e do próprio Leal. É válido também o registro de que o disco foi gravado, mixado e masterizado nos estúdios Musak e Carranca (ambos em Recife) sob produção musical, direção musical e regência de Cláudio MouraConcepção, o repertório e a direção artística ficou a cargo do próprio artista com arranjos dos músicos Adilson BandeiraMauricio CezarNilson Lopes Marcos FMDentre os responsáveis pela tessitura do disco a ficha técnica conta, entre outros, com nomes como Daniel Coimbra (cavaquinho), Caca Barreto (contrabaixo acústico), Julio Cesar (acordeon), Ricardo Freitas (bateria), Adilson Bandeira (sax soprano, clarinete e clarone), Hugo Lins (viola dinâmica), Rafael Marques (bandolim), Fabiano Menezes (violoncelo), Mauricio Cezar (piano), Alex Sobreira (violão 7 cordas), Breno Lira (guitarra semiacústica) e nas percussões Lucas dos PrazeresGeorge Rocha e Tomás Melo, elencando de modo substancioso este disco nada prosaico e que nasceu quando um Gonzaga reflexivo e saudoso encontrava-se longe de sua terra deixando-se dominar pelo irrevogável desejo de voltar as suas origens.

Mesmo que tempo, como diria o poeta, com seu lápis impreciso ponha-lhe rugas ao redor da boca como contrapesos de um sorrisoGonzaga Leal sabe serenamente aliar-se a ele, deixando-lhe que o mesmo componha seu destino sem nunca deixar de adequar-se condescendente a esse inexorável contexto. Resoluto, Leal traz a prova documental que ele tem o seu próprio tempo e este parece estar longe das formais convenções. Em seu agora o artista pernambucano abarca, de modo sereno e astucioso, o futuro e o passado. Sua arte não delimita-se e nem faz concessões e procura trazer impregnada em sua gênese a mais profunda verdade acompanhado por um rigor estético que vem do seu âmago e que agora apresenta-se de modo mais intenso como pode-se observar em "De mim", um projeto que suplantou desejos maiores e fez com que a impulsividade do agora aliasse-se de modo reflexivo as mais diversas reminiscências. Astuto, Gonzaga sabe como contemplar a saudade adequando-se serenamente ao tresloucado tic-tac do relógio, permitindo-se pertinente e propícia condição para a atemporalidade. Senhor do seu tempo Gonzaga Leal  consegue imergir em cada segundo e dele tirar o seu melhor através da sapiência e disciplina, adjetivos que só ele, o tempo, é capaz de nos trazer. Nos percalços do passar das horas talvez haja avarias, no entanto o artista mostra que ao nos permitir, de modo complacente, encarar a frenética ampulheta do tempo tudo se atenua.


Maiores Informações:
Leal Produções Artísticas Ltda.
Rua Raul Lafayette, 191 - sala 403
Boa Viagem - Recife - PE
CEP: 51021-220

Fone/fax: (81) 3463.4635 e 8712.5110

Site Oficial - http://www.gonzagaleal.com.br/

Youtube (Canal) - http://www.youtube.com/user/gonzagaleal1

E-mail - http://www.blogger.com/leal-producoess@hotmail.com

Myspace - http://www.myspace.com/gonzagaleal2

Facebook - http://www.facebook.com/profile.php?id=1700959597

Twitter - @GonzagaLeal






O álbum pode ser encontrado nos seguintes endereços:


Leal Produções Artísticas - Fone/fax: (81) 3463-4635








Salvador: Pérola Negra - Fones: 71 3243-1432/3336-6997

Belo Horizonte: Disco Play - Rua Tupis, 70, Centro - Fones: 31 3222-0046/3271-4897

Fortaleza: Loja Desafinado - Av. Dom Luiz, 655,Lojas 2 e 3 - Fones: 85 3224-3853/3224-7774

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