Por Abílio Neto
Na véspera do Natal de 2011, eu vinha do Mercado de São José e ao passar pelo Pátio de São Pedro eu vi uma cantora no palco com duas crianças e mais alguns músicos e técnicos de som. Quando ela se aproximou eu falei:
- Ô Ylana, faz tanto tempo que eu queria te ver num palco e você vai cantar justo hoje, véspera de Natal quando vou me reunir aos familiares.
Ela respondeu na maior simplicidade:
- Não se preocupe, o senhor terá outras oportunidades para me ver.
Passou-se o tempo e nada. E também nenhum sinal do seu CD para o qual vinha gravando as faixas desde 2007.
Mas finalmente saiu agora em 2013. Está na Passa Disco, de Fábio Cabral, esperando o ouvinte de bom gosto. O disco é surpreendente. Primeiro porque foge da mesmice. Depois porque é moderno pra caramba. Mas o velho também se encontra lá. É desigual e por isso se torna tão gostoso. Há faixa que você encontra sax barítono, trompete, trombone, percussão, bandolim, guitarra, samplers, programações, violão, teclados, baixo e bateria. Em outra você encontra a suavidade de uma flauta doce e um violoncelo combinando com a voz doce da cantora.
Fiquei agradecido por este som que discorre agradavelmente por 12 belas composições. Por ser desigual agrada tanto aos jovens quanto àquela turminha que já passou dos 60 e insiste em viver, se renovar, acostumar o ouvido às novidades. Ylana é jovem e talentosa. É madura, no entanto, na qualidade do seu som. Cai no gosto de gregos, goianos, cearenses etc.
Do disco, já conhecia pela net as belíssimas Calcanhar (Manuca e Yuri Queiroga) e Trancelim de Marfim (Isaar). Agora, ao acabar a primeira audição do CD, fiquei surpreso com a beleza de Overlock (China); Nublado ( Yuri Queiroga); Pedras de Sal, de Alceu Valença, que faz muito tempo que não ouvia; um samba de Capiba da década de 30; Aquela Rosa Vermelha (Ortinho); Loa da Lagoa (Lula Queiroga, Mr Jam, Lulu Oliveira); Tempo (Siba); Duas Cores (Felipe S) e Um Dia (Guilherme Almeida).
A variedade de ritmos fez bem ao trabalho. O pessoal de Pernambuco que trabalha em estúdio com essa coisa que chamam de “grooves” está dando um banho. Este disco é a maior prova disso!
Ao que me parece, foi um trabalho feito com muito amor. Pois com amor deve ser recebido. Faz tempo que as minhas “oiças” não recebiam um presente tão bom. A menina tem berço: uma família inteira de artistas por parte de mãe e nada menos do que Spok como pai. Ele participa do disco, assim como sua mãe, Nena Queiroga.
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