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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

DANIELLA ALCARPE MOSTRA SEM SUBTERFÚGIOS QUE O SEU TEMPO É O TODO SEMPRE

Compositor de destinos, o tempo para Daniella Alcarpe não escoa pelas mãos; pelo contrário, é ele quem substancia de modo inventivo o seu canto.

Por Bruno Negromonte



De fato o tempo salta para todos conforme pregoniza o título do segundo registro fonográfico da cantora paulistana Daniella Alcarpe. E por mais que ele voe e escorra pelas mãos é necessário parar e observar a artista em questão, pois seu talento vem abrindo portas e galgando espaço dentro da música popular brasileira de modo bastante peculiar. Pós-graduada em “Canção Popular”, Daniella iniciou seus estudos musicais ainda criança e, desde então, sempre procurou aperfeiçoasse ao longo dos anos. Formada em Música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (FMU/FAAM), a artista vem procurando aprimorar seu canto nos mais diversos centros acadêmicos e musicais paulistas, dentre eles o Conservatório Musical Souza Lima. Toda esta experiência já suficiente para endossar sua arte, mostrando que o tempo (que neste projeto ela refere-se de modo tão lírico) também é responsável por substanciar o tom preciso nesta escolha musical a qual abraçou.



"O tempo salta", é o seu segundo projeto fonográfico e sucede o elogiadíssimo "Qué que cê qué", álbum lançado em 2009 e responsável pela inserção de Alcarpe entre as maiores intérpretes da nova geração da música popular brasileira. Em seu debute a intérprete emprestou o seu canto a composições inéditas em ritmos genuinamente brasileiros tais quais o samba, o baião, o frevo e o choro. Agora, quatro anos após o lançamento do seu primeiro disco, a cantora volta de modo rebuscado ao mercado fonográfico mostrando que o tempo é muito mais que o tambor de todos os ritmos. E se de fato o tempo salta, Daniella soube aproveitar-se desse impulso de modo irrefutável para nos trazer uma outra acepção acerca deste termo que nos faz medir segundos, minutos e horas. A experiência adquirida pela artista ao longo desses anos só faz com que tenhamos a certeza absoluta daquilo que certa vez escreveu o poeta curitibano Paulo Leminski: "Haja Hoje para tanto Ontem."

Apesar dos quatro anos de intervalo entre este e o projeto anterior, "O tempo salta" apresenta-se coeso e preciso, mostrando que Daniella soube maturá-lo nos palcos do Brasil e do exterior ao longo deste hiato de forma bastante depuradaSeu canto límpido flui de modo singular em interpretações carregadas de técnicas rebuscadas e emoção, comprovando de forma incontestável que este intervalo só lhe fez bem, substanciando-lhe na medida exata toda expectativa de um público que já estava ávido por um novo trabalho. Este projeto evidencia que não dúvida alguma quanto ao seu talento e vocação. Fugindo do convencional, o canto de Alcarpe procura não tomar conhecimento de obstáculos e delimitações, fluindo e emocionando independente das medidas convencionais atribuídas ao tempo, em momentos de deleite que tornam-se eternos, pois não há hora marcada para aquilo que nos dá prazer.

"O tempo salta" é composto por onze canções. Dentre as inéditas há também as regravações de 'Trem das cores', da lavra de Caetano Veloso e gravada originalmente em 1982 no álbum "Cores, nomes". O disco ainda conta com nomes recorrentes no repertório da cantora como o do ator, cantor, produtor e compositor catarinense Carlos Careqa que assina duas regravações: 'Acho' (canção composta pelo a e registrada pelo autor em 1993 no álbum "Os homens são todos iguais") e 'Chorando em 2001' (onde Careqa divide os vocais com Daniella), assinada em parceria com Chico Mello no disco "Música para final de século", de 1999. Presente no disco estão também o maranhense Zé de Riba autor da canção 'Passarim', registrada pelo mesmo em 2009 no disco "Não tenho culpa se você não sabe sambar"; já o segundo é Fred Martins. autor da canção 'Novamente' interpretada pelo autor em 2007 no álbum "Tempo afora", mesma época em que Ney Matogrosso a incluiu no roteiro do elogiado espetáculo "Inclassificáveis". Vem dos versos desta composição a inspiração para o título do álbum.

Dentre as faixas inéditas há 'Lágrima de Amor', um belíssimo tango composto pelo cantor e compositor paulistano Tiê Alves e que apesar do bandoneon vem imbuído substancialmente de uma brasilidade que evidencia-se não só na interpretação da cantora como também em seu arranjo. Isso mostra uma característica que vem mantendo-se evidente desde o primeiro álbum da artista: a necessidade de edificar uma sonoridade própria, onde a tradição e o regionalismo mescla-se de modo harmonioso com a contemporaneidade como pode-se perceber em faixas como 'Choro', composta por kléber albuquerque e que também traz em sua essência a marca que Alcarpe vem pontuando. o experiente cantor e compositor Joca Freire apresenta-se em parceria com Daniel Borges assinando a canção 'Véu'. A canção retrata a história de uma eterna espera de uma noiva que espera seu pretenso futuro marido voltar de uma pescaria, no entanto este dia nunca chega. Ainda há no álbum o choro 'Realmente', de autoria João Marcondes e a 'Canção de desmeninar', composta por Douglas GermanoO álbum encerra com 'Obrigado', um samba composto por Lucy Casas. 


A ficha técnica do trabalho além da assinatura da cantora conta também com nomes como João Marcondes (violão, coro, percussão, bandolim, produção, conceito, arranjos e direção musical); Gilberto de Syllos e Franco Lorenzon (baixos acústicos), Kabé Pinheiro (percussões); João Poleto (flautas e saxofones); Micaela Marcondes (violino); Martin Mirol (bandoleon); Rafael Mota (congas); Júlio César Barro (atabaques); Nani Barbosa (coro); Daniel Conti (coro); Daniel Cukier (produção executiva), Adriano Gambarini (fotografia), Daniel Canton (arte) e Felipe Ferreira (cabelo e maquiagem).

Se o poeta pede ao tempo o prazer legítimo, Alcarpe vem sabendo muito bem traduzir esta condição ao longo da trilha que resolveu seguir preconizando versos e melodias de modo contínuo neste caminho escolhido. A cantora não deixa limitar-se pelo ontem, o hoje ou o amanhã. Ela mostra-se atemporal na concepção de um som que foge dos convencionais rótulos existentes. Sua música vai além e o seu tempo faz-se tambor de todos os ritmos, pois ele torna-se algo maior e essencial nesta busca. Deste modo ela atesta que seu canto é um prazer que está aquém de todas as medidas, e por mais que o tempo salte sua sonoridade de tão coesa é capaz de fugir de qualquer delimitação de modo indelével, mostrando que sua música é algo maior que qualquer decurso existente.


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Onde comprar:
Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=42142133
Pop discos - http://www.popsdiscos.com.br/detalhe.asp?shw_ukey=39816


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Amazon - http://www.amazon.com/s/ref=ntt_srch_drd_B002P9SPWY?ie=UTF8&field-keywords=Daniella%20Alcarpe&index=digital-music&search-type=ss
Tradebit - http://www.tradebit.com/mp3-artist/993935/daniella-alcarpe
7digital - http://www.7digital.com/artist/daniella-alcarpe/release/o-tempo-salta

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