Páginas

terça-feira, 4 de junho de 2013

WILSON SIMONAL POR SEU JORGE

Wilson Simonal foi o primeiro negro popstar brasileiro, depois do Pelé. A gente tinha uma população muito maior do que a de hoje. Ele era o único artista negro que tinha algum respeito. A massa crítica tinha que aturá-lo. Ele tinha um estilo particular de cantar, uma extensão vocal muito limpa, clara, bonita. Tinha uma sensualidade. Ele era muito charmoso, intrigante. Dançava muito bem, tinha um poder de comunicação muito forte. E levava isso para o canto; era muito interessante de assistir. Ele era um artista muito versátil. Eu o escutei pela primeira vez com a música “Meu Limão, Meu Limoeiro”. Um episódio curioso. Eu estava com minha mãe e meu pai, e ouvimos a música no rádio, e eles reagiram como se fosse um orgulho ouvir aquela música na rádio. Como negros, naquela época, aquilo era muito bom, pois havia tolerância zero. Então, qualquer pessoa ou entidade, personalidade negra, que pudesse estar em posição de destaque, era motivo de orgulho. Aprendi isso, desde cedo, com meus pais ouvindo Wilson Simonal no rádio e sentindo orgulho por ele, ficando felizes mesmo. E isso era algo que só se falava dentro de casa. Por isso, essa mudança foi muito profunda. A música em si tem seus efeitos, mas o que está por trás dela até chegar às pessoas, são outros quinhentos. E isso ficou muito nítido no comportamento da minha mãe e do meu pai.

Eu me sinto influenciado por ele no lado showman, de quem tem cuidado com figurino, performance, de estar sempre na luz, nunca pra fora.

Muito dele eu trago, procuro me espelhar e fazer com que a música que estou fazendo chegue às pessoas mais claramente. Como intérprete, ele tinha outras qualidades, essa mobilidade em cena, no palco, por exemplo, que o Tim Maia não tinha. Tinha sempre o microfone em mãos, andando, pulando, se dirigia para massa e, de repente, a um casal. Eu gosto de muita coisa dele – “Nem Vem que Não Tem”, “Fio Maravilha” também, que foi um estouro na época, com ele. Mas destaco, principalmente, “Nem Vem que Não Tem”, o lance da pilantragem sadia é demais. Em uma época que não havia maldade, era mais curtição.

Foi muito bom homenageá-lo [no encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres]. Era necessário fazer essa homenagem. Acho também que é necessário fazer isso de novo, quando a Olimpíada for aqui. Um cantor incrível, sugeriu muitas coisas boas pra música brasileira. Fiquei muito feliz em poder fazer o papel dele. Me senti no teatro, na Inglaterra, um lugar onde nasce o teatro. O cara foi a performance, tenho ele como plataforma para representar meu país ali; sendo ele, eu era 190 milhões. Estava cantando Simonal ali, não era Seu Jogre. Eram milhares e milhares de brasileiros. Fiquei muito feliz em adentrar aquela cena com a áurea musical de Wilson Simonal. Carinho em dedicação pessoal e profissional.

Um álbum dele, cantando só músicas deles, nunca aconteceu. Fazer um filme no papel dele, eu adoraria, eu ia curtir. Mas não é um trabalho fácil. Interpretar a vida de uma pessoa não é só falar da vida dela, é falar dos amigos dela, dos inimigos. Você tem que estudar muito. Pra gente que se envolve com isso e com o cinema de uma forma geral, é um desafio superar as expectativas. Adoro desafios e espero que, se isso acontecer um dia, eu possa encarar como um desafio, porque não é uma história simplesmente vivida. É uma história que pode vir a ser um exemplo e que já é uma referência. Uma vez projetada nas telas, vira um modelo, um exemplo, e é uma responsabilidade muito grande.

Nenhum comentário:

Postar um comentário