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quarta-feira, 20 de março de 2013

MORRE EMÍLIO SANTIAGO, UMA DAS VOZES MAIS EMBLEMÁTICAS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Artista, que tinha 66 anos, estava internado desde o início do mês após sofrer um AVC. Enterro acontece nesta quinta-feira às 11h no cemitério Memorial do Carmo.



RIO - Morreu às 6h30m desta quarta-feira o cantor Emílio Santiago, de 66 anos. Ele estava internado desde o dia 7 no hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, após ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. O velório começou às 12h, na Câmara dos Vereadores, no centro da cidade, e o enterro está marcado para as 11h de de quinta-feira, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju.
No dia 4 de março, Emílio fez sua última aparição pública, relembrando sua trajetória e cantando seus maiores sucessos no programa "Encontro com Fátima Bernardes". O cantor tinha shows marcados para os dias 22 e 23 de março, em São Paulo.

Em 1970, Emilio Santiago estreou como cantor num festival da Faculdade Nacional de Direito, que cursava então. Entre os jurados, estavam nomes como Marlene, Beth Carvalho e Marcos Valle. Os prêmios que levou do júri (foi escolhido o melhor intérprete, e duas das três canções que apresentou ficaram com o 2º e o 3º lugares) foram um inegável incentivo para que seguisse na carreira artística, uma possibilidade que ele não considerava seriamente.

Eu cantava por diversão, em reunião, festas de amigos, e alguns colegas me inscreveram à revelia. Depois de me apresentar, Marcos (Valle) foi falar comigo, disse que eu tinha que continuar, que era um cantor nato... — contou em entrevista ao Globo em 2007. — A partir daí, ainda tentei conciliar música, estudo e trabalho. Até concluí a faculdade, mas não fiz a prova para o Instituto Rio Branco, como sonhava.

Ainda na faculdade, Emilio passou a frequentar programas de calouros na televisão. Chegou à final de um deles, “A grande chance”, comandado por Flávio Cavalcanti, na TV Tupi — apresentando “Que bobeira”, canção de Marcos e Paulo Sérgio Valle. Após se formar, seguiu com a música, influenciado por nomes como Nelson Gonçalves, Anísio Silva e Cauby Peixoto. Sua voz aveludada e elegante, de afinação perfeita e divisões espertas, o levou a ser crooner na orquestra de Ed Lincoln, abrindo portas também para que se apresentasse em várias casas noturnas. Na boate Colt 45, no Leblon, abria o show de Marlene. Na boate Fossa, era o aperitivo para Tito Madi e Marisa Gata Mansa.

Em 1973, lançou o seu primeiro compacto, com “Transa de amor” e “Saravá nega”. Dois anos depois, chegou o primeiro disco, homônimo, pela gravadora CID, no qual interpretava canções de Ivan Lins, Jorge Ben, João Donato, Nelson Cavaquinho e Marcos Valle, entre outros. Em 1976, foi contratado pela Philips/Polygram, onde permaneceu até 1984, gravando dez discos. O crítico Sérgio Cabral saudou: “Finalmente, um cantor que canta”.

Em 1982, venceu o festival MPB Shell, da TV Globo, cantando “Pelo amor de Deus”. Com “Elis Elis”, foi escolhido o melhor intérprete do Festival dos Festivais, também da Globo, em 1985. A consagração popular, porém, veio mesmo em 1988, quando lançou “Aquarela brasileira”, convidado por Roberto Menescal e Heleno Oliveira. Com uma releitura de clássicos da MPB, o projeto da Som Livre gerou sete álbums, vendendo mais de quatro milhões de cópias.

Encerrada a série de sucesso, ele continuou uma carreira discográfica com mais discos de ouro e prêmios. Fez álbuns dedicados à obra de artistas como Dick Farney, Gonzaguinha e João Donato.

Versátil, fez shows no exterior, apresentando-se com sucesso em várias cidades da Europa e Estados Unidos, inclusive em festivais de jazz. Após uma passagem pela Sony, criou o seu próprio selo, Santiago Music, por onde lançou, em 2010, o álbum “Só danço samba”, uma homenagem a Ed Lincoln. Dois anos depois, o projeto se transformou no DVD “Só danço samba (ao vivo)” — com o qual ganhou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode, dividindo a premiação com Beth Carvalho.


Personalidades lamentam a morte de Emílio Santiago

A notícia repercutiu entre artistas e fãs, que colocaram o nome do músico entre os termos mais citados mundialmente no Twitter nesta quarta-feira. Botafoguense, Emílio recebeu homenagem no site oficial do clube.

Roberto Menescal, músico: "Sempre falei isso: ele é a voz do Brasil. Que me desculpem meus amigos grandes cantores como Milton e Caetano, mas o Emilio era o meu cantor. E era uma figura adorada pelos colegas artistas. Porque o cara pode ser um tremendo cantor, mas ser um chato. Emílio não, era venerado. Lembro da Nana Caymmi gritando num show dele: 'Imprescindível!' Os elogios eram sempre neste nível. Sempre achei ele o máximo, tanto que convidei para fazer o projeto 'Aquarela brasileira'. De começo ele não estava muito animado, mas deu no que deu: fizemos sete, vendeu 6 milhões de discos, mudou a vida dele. Daí em diante ele nunca mais parou a fazer show. Acho que o última música que ele gravou foi minha, 'Amanhecendo', num disco que estamos gravando com a orquestra de jazz Animateia, com participação dele e e da Leny. Era um cara muito sozinho, morava sozinho, não pôde ser medicado imediatamente, o que prejudicou a situação".

Marta Suplicy, ministra da Cultura: "Emílio Santiago, com sua voz e presença de palco marcantes, sempre figurará entre os mais importantes artistas da música brasileira. Com o Brasil, estou de luto".

Ricardo Cravo Albim, pesquisador musical: "A única voz que se compara a do Emílio é a de Dick Farney. Além de grande cantor, foi um grande vendedor de discos. Descobriu uma fórmula que argamassou a carreira dele como crooner. Isso fez dele um grande diferencial na indústria fonográfica. Tínhamos uma convivência muito íntima. Emílio foi forjado num meio singular, do night crooner, que convive muito com as outras pessoas. Por isso fez tantos amigos e se tornou uma pessoa tão querida no meio".

Leny Andrade, cantora: "Como é que a gente vai ter um outro Pery Ribeiro? E um outro Emílio Santiago? Essas vozes maravilhosas, com timbres magníficos... Eu dizia ao Emílio: 'Irmão, não esquece de agradecer ao Criador, que botou na sua garganta essa voz que enlouquece as pessoas'. Para cantar como ele, não adianta ter aula de canto. Emílio tinha um suingue de vida, era sagitariano, um amigo precioso. Sua morte foi uma jamanta que nos pegou de frente".

Marcos Valle, músico: "Emílio Santiago foi um grande cantor, um grande intérprete, uma das vozes mais bonitas de todos os tempos da música brasileira - e mundial. Quando eu o ouvi pela primeira vez, num festival em que era jurado, fiquei louco. Ele juntava a voz que tinha ganhado da natureza com a experiência de cantor da noite, que lhe deu o balanço. Tive a sorte de ter tido várias músicas minhas cantadas pelo Emílio. Era um grande amigo, agora só nos resta ficar ouvindo os seus discos".

José Milton, produtor musical: "Tivemos uma grande amizade na música, era como um irmão para mim. Trabalhamos juntos em vários discos, inclusive neste último trabalho, o disco "Só danço samba", em homenagem ao Ed Lincoln. Depois teve desdobramento no CD e no DVD "Só danço samba ao vivo". Ele ficou muito feliz com o Grammy conquistado com esse trabalho. Era uma voz reconhecida no mundo todo, respeitada pelos críticos e pelo grande público. Há muitos anos não aparecem cantores no nível dele".

Ed Motta, músico, pelo Facebook: "Não posso me conformar com o que a vida fez hoje, levar o Emilio Santiago daqui... Emilio o maior cantor desse país e um colega sempre generoso, atencioso. No reino dos céus ele sempre esteve, uma voz daquela não é do mundo terreno. Tive a mesma sensação de quando papai do céu levou o também jovem Spinetta, e por alguns segundos pensar : isso não é verdade, isso tem que ter um jeito...A sensação de perda é abrangente, como nos filmes de Guerra Nas Estrelas, sente-se uma queda na "força" um gigante adormeceu. Toda minha admiração e respeito mestre".

Áurea Martins, "Na primeira vez em que vi o Emílio cantar, no programa do Flavio Cavalcanti, eu já achei que ele iria ser isso tudo. Era uma voz diferente, pura e perfeita. Vai ficar uma lacuna enorme na música brasileira. Ele tinha o dom de ser sofisticado e popular - só ele poderia ter feito o discos "Aquarela Brasileira" de uma forma que eles perdurassem. O Brasil tem cantores, mas nenhum com essa abrangência."

Marcelinho da Lua (DJ do grupo Bossacucanova, com quem Emílio gravou ano passado a música "É preciso perdoar"): "Uma das vozes mais lindas do mundo. Um cantor esplendoroso, com uma elegância, um dominio e um balanço na voz que são pra poucos. Um dos maiores crooners do Brasil. A Família Bossacucanova lamenta profundamente a sua partida prematura e agradece a generosidade de Emilio nessa nossa gravação. Ele vem de uma escola de canto que talvez não tenha mais alunos formados."

Daniela Mercury, pelo Twitter: "A música brasileira acorda em descompasso com a perda de Emílio Santiago. Fica a lembrança da sua bela voz e repertório inesquecível!"

Padre Fábio de Melo, via Twitter: "Emílio Santiago, um dos maiores talentos da nossa MPB. Vai fazer falta por aqui".

Glória Perez, dramaturga: "Triste demais com a morte do #emiliosantiago".

Astrid Fontenelle, apresentadora, pelo Twitter: "Acordo com a noticia da morte do cantor Emílio Santiago. Triste. Tinha um plano de estreitar a amizade. Seu canto era foda! RIP meu negão!"

Ritchie, músico, pelo Twitter: "RIP Emílio Santiago, (nosso Lou Rawls). Grande voz, gente fina".

Lucas Lima, músico, pelo Twitter: "Putz, mais um dos f**** se foi... Emílio Santiago era um BAITA dum intérprete de samba, baita perda."

Aguinaldo Silva, dramaturgo, pelo Twitter: "Morreu Emílio Santiago, o último cantor de verdade do Brasil. Cantoras temos muitas, compositores também. Mas cantores... Ele era o único".

Gabriel Chalita, deputado federal: "Morreu Emílio Santiago. Um cantor fantástico".

Rafael Vannucci, cantor e empresário, pelo Twitter: "Emilio Santiago, uma das maiores vozes da música popular brasileira! Vá com deus!! Descanse em paz!".

Fonte: O Globo


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