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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

FILHA ADOTIVA DE DOLORES DURAN PERDEU PARTE DOS DIREITOS AUTORAIS DA MÃE

Por Lucas Nobile


Uma mulher à frente de seu tempo. Essa é a imagem que se tem de Dolores Duran após ler a biografia escrita por Rodrigo Faour. 


Em plenos anos 1950, a cantora entrou para o hall de parceiras de Tom Jobim, namorou quem quis, falava abertamente de uma cirurgia plástica que fez e criticou abertamente o regime comunista ao regressar de uma excursão à União Soviética, em viagem promovida pelo Partido Comunista Brasileiro a fim de realizar um intercâmbio cultural.

Bancar tudo isso não foi fácil. Com hábitos boêmios demais para uma pessoa com histórico de problemas cardíacos, Dolores acabou sucumbindo, após um infarto, em seu apartamento, em Ipanema, no Rio.

Tudo teve seu preço em uma vida curta e atribulada. Coincidentemente, após a partida da cantora e compositora, Maria Fernanda Virgínia da Rocha Macedo - filha adotiva e única herdeira de Dolores - teve uma vida até mais conturbada do que a da mãe.

Tanto que no livro, Rodrigo Faour dedica um dos capítulos finais a contar todos os percalços vividos por Maria Fernanda, que tinha menos de 2 anos quando Dolores morreu.

No fim dos anos 1950, a mãe biológica de Maria Fernanda ficou sabendo que havia ocorrido um grave acidente envolvendo trens no Rio. Seguindo instruções passadas pelas rádios, que alertavam do incidente e recomendavam que caso algum parente não desse notícias, que os familiares fossem procurá-lo no IML. Grávida, a mãe da garotinha foi até o local indicado e encontrou seu marido morto.

Em choque com a notícia, disse a uma médica na ambulância que não resistiria ao baque, pedindo para entrar em trabalho de parto. Ela acabou morrendo, mas conseguiu dar à luz Maria Fernanda. Antes de falecer, recomendou que deixassem a menina com uma amiga sua, a empregada que trabalhava na casa de Dolores Duran. Sem hesitar, a cantora adotou a recém-nascida.


"Gene Imaginário"

"Essa garota herdou um gene imaginário da mãe, não é possível", conta Rodrigo Faour.

A declaração do biógrafo de Dolores faz sentido, quando se observa que Maria Fernanda teve uma vida muito mais problemática do que a de sua mãe adotiva.


Após a morte da cantora, foi educada pela avó Josepha. Na adolescência, começou a tirar notas baixas na escola. Foi estuprada e tentou se suicidar. Mais tarde, sofreu três abortos espontâneos, teve relacionamentos difíceis, incluindo um marido alcoólatra.


Por fim, ainda descobriu que o advogado contratado pela família para cuidar do espólio de Dolores acabou lhe passando a perna.

"A obra da minha mãe foi registrada em algumas editoras diferentes. Muitos anos depois, fui descobrir que o advogado nunca tinha falado pra gente da existência de duas editoras", conta Maria Fernanda, 54.

Justamente em uma delas, havia sido registrada a composição de "A Noite de Meu Bem", maior sucesso da carreira de Dolores.

"Eu quis esquecer essa história. Nenhum advogado topou pegar o caso porque eles dizem que seria antiético um advogado processar outro. Também nunca colocamos no papel quanto foi perdido em direitos por essa música, mas dizem que era o filé mignon da obra da minha mãe", diz a herdeira da compositora.

Sobre a liberação para que o autor tratasse da vida de Dolores de maneira completa, Maria Fernanda defende a vivência de sua mãe adotiva.

"O livro não teve nada que denegrisse a história dela e da nossa família. Minha mãe foi daquele jeito. Seria hipocrisia querer esconder algo. Conheci muitos lados da minha mãe pelo livro. Me surpreendi bastante com o fato de ela ser uma intelectual, que se interessava muito por todo tipo de arte e de leitura."

"Sou muito grata ao universo e tenho muito orgulho de poder reencontrá-la nessa existência", completa Maria Fernanda.

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