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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

AS APOSTAS PARA 2013: ENTRE O CHÃO FIRME E AS INCERTEZAS

Por Leonardo Lichote


RIO - Uma nova edição do Rock in Rio e a abertura de palcos importantes na cidade indicam um cenário positivo para a música em 2013. Mas o recente desinteresse do público pelos shows de estrelas como Madonna e Lady Gaga, a nova lei da meia-entrada e o fato de turnês internacionais (como Jamiroquai e Elton John) anunciadas para passar pelo Brasil nos próximos meses não incluírem o Rio em seu roteiro, entre outros fatores, plantam algumas incertezas.

O Rock in Rio, que será realizado entre os dias 13 e 22 de setembro, pisa em solo firme. Estruturado sobre o conceito de festival-família, voltado para as massas, sem radicalismos na curadoria, o evento aposta no certo. Os artistas anunciados até agora — em sua maioria, grandes nomes do pop e do rock — reafirmam essa ideia. Estão confirmadas atrações como Bruce Springsteen (pela primeira vez no Rio, 25 anos depois de seu único show no Brasil, realizado em São Paulo), Muse, Metallica, Alice In Chains, Ben Harper, Iron Maiden e a dupla Ivan Lins e George Benson (reeditando parceria feita na primeira edição do festival, em 1985).

O país terá novas edições de outros festivais, como o Lollapalooza (em março, com 60 atrações, entre elas Pearl Jam, The Killers e Black Keys) e o Planeta Terra (que teve sua edição confirmada para outubro/novembro após boatos de cancelamento), ambos em São Paulo — no caso do Lolla, está prevista uma miniedição no Circo Voador, com Alabama Shakes e Hot Chip, entre outros.

A Cidade das Artes — antiga Cidade da Música — se anuncia como um novo palco importante para o Rio. E controverso. A abertura em janeiro, com o musical “Rock in Rio”, não inaugura o espaço como um todo — em sistema de soft opening, apenas uma das salas da construção (que custou mais de R$ 500 milhões) será usada. Ainda não estão definidas as próximas atrações.


Preços mais baixos?

Outro espaço importante é o Teatro Bradesco, no Shopping VillageMall, na Avenida das Américas. Com 1.060 lugares e pensado (como a matriz paulistana) para receber shows, concertos, musicais e peças, o espaço está previsto para abrir em maio, após um período de soft opening. João Gilberto está cotado para ser a atração da inauguração.

Além das novas casas e dos festivais, um fator extra-palco promete mexer com o mercado: a possível aprovação da nova lei da meia-entrada, nos próximos meses, que limitará os ingressos do tipo a 40% do total. Hoje, como a emissão de carteiras não é centralizada, há shows em que quase toda a plateia paga meia — os produtores, para compensar, põem os ingressos à venda pelo dobro do valor real. Com o fim dessa situação, há uma perspectiva de que os preços diminuam e que o planejamento dos orçamentos seja mais fiel à realidade — o que, defendem os empresários, tornará mais fácil viabilizar as produções.

sábado, 22 de dezembro de 2012

NOSSOS VOTOS DE FELICIDADE AO LONGO DO NATAL E UM 2013 PLENO DE REALIZAÇÕES


Por Bruno Negromonte


Mário Quintana certa vez escreveu para desconfiarmos que os momentos mais belos de nossa vida ficam para sempre esquecidos porque a memória trata-se de uma velha avarenta,  que rouba e guarda a sete chaves em seu baú tais momentos. Ao ler isso lembrei que desde 2008 o Musicaria Brasil vem me propiciando momentos belos, seja em novas e surpreendentes descobertas ou no reconhecimento de um trabalho de divulgação que muito orgulha não só a mim, mas a todos que de uma forma ou de outra contribuem para a manutenção desse espaço, que apesar de singelo, vem cumprindo sua missão ao longo desses anos.

É muito bom para todos nós termos conquistado a credibilidade que hoje o espaço possui, pois sabemos que foi uma conquista feita a base de muita coerência e dedicação ao longo desse período que estamos em atividade. A música fez (e continua a fazer todos os dias) com que somássemos novos conhecimentos, agregando valores diversos e incontáveis amigos e colaboradores.

Na nova conjuntura em que a música encontra-se, seja no contexto mercadológico ou logístico, caminhos alternativos como este espaço tem sido, sem sombra de dúvidas, o maior aliado dos artistas independentes e quanto a isso sabemos que temos procurado cumprir o nosso papel desde o primeiro momento em que abrimos nosso espaço para o primeiro artista independente que nos procurou. Quem nos acompanha ao longo desses anos sabe do que aqui vos falo. Confesso que não nada mais gratificante (talvez em uma proporção tão grande quanto a do próprio artista) ouvir que conheceu o trabalho de artistas como Letícia Scarpa, Rhana Abreu, Dinda, Amanda Garruth, João Sabiá, Júlia Tygel, Flávio Assis, Julia Bosco, Quarteto Primo, Miriam Bezerra, Pedro Moraes e Samuel Carnero no Musicaria Brasil.

Um dos aspectos relevantes neste ano que estar pra findar-se, como o público leitor pode perceber, foram os holofotes do nosso espaço voltados principalmente para a emblemática e mítica figura de Luiz Gonzaga, também não seria para menos. Luiz é a maior referência musical ainda hoje existente na região em que o Musicaria nasceu. Tanto é a sua importância que ao longo de 2013 daremos continuidade as homenagens ao nosso ilustríssimo Rei da música nordestina, procurando reverberar todo o legado deixado por ele ao longo de sua carreira. Seja em vídeo, imagens ou textos como a série "Luiz Gonzaga é cem" do pesquisador Abílio Neto, que abrilhantou o nosso espaço com o seu vasto conhecimento e imprescindível colaboração.

Outro ponto alto em 2102 que tem se consolidado como um diferencial em nosso espaço são as entrevistas exclusivas, que ao longo do ano trouxe ao conhecimento do nosso público peculiaridades de artistas como Rita Gullo, Gonzaga Leal, além de outros citados no parágrafo anterior. Resta-me agradecer a assessoria de imprensa de cada artista que acreditou na potencialidade do nosso espaço e associou o nome do seu respectivo artista ao nosso. Gostaria de pedir licença para fazer alguns agradecimentos em especial, particularmente à pessoa da Bebel Prates, assessora de grandes nomes da musica brasileira e que, de modo sempre solicito, procura atender a todas as nossas solicitações. Obrigado a Valentina Assessoria de Comunicação & Marketing, em especial a pessoa da Fabiane Pereira e que, possamos em 2013, somarmos as devidas forças em pró de uma melhor qualidade cultural. Obrigado em especial a cada pessoa que trouxe as suas marcas e posições em nossos comentários ao longo do ano abrilhantando o nosso espaço com sua contribuição. Foi bom ouvir de muitos que ao longo de 2012 nos consolidamos como uma das mais relevantes vitrines da música independente brasileira. Acreditem que quando o espaço surgiu em 2008 não mensurava que estaríamos hoje aqui tornando-se, segundo o conceito de vocês, uma referência significativa para a divulgação da cena musical brasileira, em particular a cena independente.

Resta-me desejar a cada colaborador, artista, assessoria e o público em geral os nossos sinceros votos de um Natal esplendoroso e um 2013 bem melhor que 2012 sempre procurando crer que a Melhor mensagem de Natal e ano novo é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida como tem sido a presença de vocês em nossa existência.

Grande abraço!

domingo, 16 de dezembro de 2012

KID ABELHA, 30 ANOS

Ainda em tempo, o Musicaria Brasil homenageia um dos mais emblemáticos nomes da música pop brasileira pelas três décadas de existência.


Anos 80

Em 1981, Paula Toller conhece Leoni na faculdade. Ambos estudavam na PUC-Rio e começaram a namorar. Com isso, Paula passou a visitar os ensaios da banda "Chrisma", formada por Leoni (voz e baixo elétrico), Carlos Beni (bateria) e Pedro Farah (guitarra). Os garotos sempre convidavam Paula a ingressar na banda, porém, ela sempre recusava, alegando ser tímida. Suas visitas aos ensaios a motivaram a cantar. George Israel, por sua vez, foi visto tocando saxofone em Búzios, Rio de Janeiro, e convidado por um amigo de Leoni a conhecer a tal banda que este liderava.

George aceitou o convite e se uniu à banda, pouco tempo depois conhecida como Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, nome escolhido durante uma transmissão ao vivo na Rádio Fluminense FM. A primeira demo executada pela extinta rádio foi Distração. O sucesso foi imediato, a banda passou a fazer shows no Circo Voador e, com isso, participam do LP Rock Voador, com duas faixas:Distração e Vida de Cão é Chato pra Cachorro. Pedro Farah foi o primeiro integrante a abandonar a banda, logo no início do sucesso, para morar nos Estados Unidos. Com isso, Bruno Fortunato assume a guitarra do Kid em definitivo. Beni, que mais tarde seria produtor da banda carioca Biquini Cavadão, foi o segundo integrante a sair do Kid, sendo substituído por bateristas contratados.


Pintura Íntima


Depois de entrar com duas musicas no LP "Rock Voador", uma coletânea de bandas novas lançada pela Warner, a banda é contratada pela gravadora e grava o primeiro compacto, Pintura íntima, que teve no lado B a canção "Por Que Não Eu?". "Fazer amor de madrugada..." foi o primeiro refrão do Kid Abelha a ficar na cabeça dos brasileiros, e primeiro disco de ouro. Em 1984, o maior sucesso da banda entrou como lançamento do segundo compacto, Como Eu Quero, os levou ao segundo disco de ouro. O Lado B era "Homem com uma Missão".


Seu Espião, Rock in Rio e Educação Sentimental

O primeiro álbum do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens é lançado também em 1984, Seu Espião. Um LP que carrega consigo grandes sucessos que estouravam nas rádios: "Fixação", "Nada Tanto assim", "Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor)", e as lançadas anteriormente "Pintura Íntima", "Por Que Não Eu?" e "Como Eu Quero". O álbum conseguiu o terceiro disco de ouro da carreira. Em janeiro de 1985, a banda toca no maior evento de rock do mundo no momento, o Rock in Rio. Na terça-feira, dia 15, tocaram para 50 mil pessoas e na sexta-feira, dia 18, para 250 mil pessoas. Os 7 maiores sucessos do disco Seu Espião foram tocadas ao vivo. "Educação Sentimental", segundo LP da banda, é lançado ainda em 1985, trazendo "Lágrimas e Chuva", "Educação Sentimental I e II" e "Garotos". "A Fórmula do Amor", parceria da banda com o cantor Léo Jaime, foi regravada em versão lenta. O sucesso somou mais um disco de ouro. Para este trabalho é contratado o novo baterista da banda, Claudinho Infante.


Saída de Leoni e o 'Ao Vivo'

Em um show de Léo Jaime no Rio de Janeiro, o cantor chamou a banda para cantar o sucesso A Fórmula do Amor. Entretanto, esqueceu de chamar Leoni. Devido a isso, houve desentendimentos entre Leoni e Paula Toller e seus respectivos namorados, Fabiana Kherlakian (herdeira da grife Zoomp) e Herbert Vianna (líder da banda Os Paralamas do Sucesso). Os desentendimentos culminaram com a saída de Leoni, que, além de baixista, era o principal compositor. Parecia ser o fim dos Abóboras, porém, a banda promoveu o projeto de um LP duplo e VHS ao vivo, intitulado "Kid Abelha Ao Vivo" e gravado no Parque Anhembi para um público de 20 mil pessoas, contendo os maiores sucessos até então e também a inédita Nada Por Mim, parceria de Paula Toller e Herbert Vianna anteriormente gravada pela cantora Marina Lima. Por problemas técnicos com as imagens, o projeto foi reduzido a um LP único, com nove músicas. Aos Abóboras somaram-se Cláudia Niemeyer (baixo elétrico), Marcelo Lima (teclados), Don Harris (trompete) e Julio Gamarra (percussão). Ao Vivo foi mais um disco de ouro.


Tomate

Em 1987, Paula é nomeada a mais nova sex symbol do Brasil e o grupo promove sua maior ousadia, com o disco Tomate. O clipe da canção-título (inspirada no poema de Murilo Mendes, O Tomate (da Crítica de Arte)) foi muito premiado, além de estourarem No Meio da Rua, Me Deixa Falar e Amanhã é 23 (incluída na trilha sonora da novela O Outro, da Rede Globo) todas da primeira safra de canções da parceria Paula Toller e George Israel. Já com a presença do baixista e produtor Nilo Romero, o disco foi mixado em Londres e dedicado a todas as pessoas que trabalham à noite.

Em 1988, Claudinho saiu da banda, reduzida-a à atual formação de Paula, George e Bruno. Mesmo assim, ainda participa do disco Kid, um ano depois. Agora Sei, Todo o Meu Ouro, Dizer Não é Dizer Sim e De Quem é o Poder foram as mais conhecidas. Além do tema de novela Dizer Não é Dizer Sim, a canção Sexo e Dólares foi tema do filme nacional que contava a história de Lili Carabina, Lili, a Estrela do Crime. Nos agradecimentos, nomes bastante conhecidos, como Cazuza (que escreveu o press release do disco), Frejat e Herbert Vianna. Devido à gravidez de Paula Toller, os shows foram reduzidos e a banda foi obrigada a parar por alguns meses.


Anos 90


O início da década de 1990 é brindado com o disco "Greatest Hits 80's", que além de nove sucessos em LP e dez em CD, revela "No Seu Lugar". As músicas foram remasterizadas digitalmente e "Como Eu Quero" e "Fixação" ganharam novo vocal, com a voz de Toller mais afinada do que nunca. Rendeu o primeiro disco de platina da banda. "Tudo É Permitido" trouxe, em 1991, um forte erotismo em letras como "Gosto de Ser Cruel", "Lolita" e "Eletricidade" (estréia de George Israel nos vocais). Trouxe também o sucesso "Grand' Hotel", as regravações de "Fuga Número 2", d'Os Mutantes; e de "Não Vou Ficar", canção de Tim Maia que fez sucesso com Roberto Carlos. "A Indecência", por sua vez, vem inspirada no poema de D.H. Lawrence, "A Indecência Pode Ser Saudável".

"No Seu Lugar" também é incluída no disco, que marca a estréia de Kadu Menezes na bateria. O disco também marcou a redução do nome da banda, que perdeu os "Abóboras Selvagens", passando a se chamar "Kid Abelha". "O Sexo que Fazemos" foi o tema principal do disco "IêIêIê", de 93, pelo fato de este verso iniciar três letras do disco, "Por Uma Noite Inteira", "Mil e Uma Noites" e "Um Segundo a Mais". "Eu Tive um Sonho" (tema da minissérie Sex Appeal), "Deus (Apareça na Televisão)", "Em 92" e "O Beijo" se destacaram. Presente no trabalho também a primeira gravação da banda em inglês, a regravação de "Smoke On The Water", do Deep Purple.


O Zumbido Acústico

Entre março e julho de 1994 foi gravado por George Israel e Kadu Menezes nos shows realizados em BH, Curitiba, Criciúma, Concórdia, Venâncio Aires e Sta. Bárbara o disco "Meio Desligado", que além de grandes sucessos acústicos, traz as regravações "Cristina" (Tim Maia) e "Canário do Reino". A música de trabalho foi "Solidão Que Nada", parceria entre George Israel, Nilo Romero e Cazuza. Após 18 shows no Jazzmania, que foi inclusive especial de TV, a turnê percorre todo o Brasil. Participaram do disco Mauricio Gaetani (piano e acordeon), Odeid (baixo), Serginho Trombone (trompete), Lui Coimbra (cello) e, como convidados, Sérgio Dias (em Deus), Ritchie (Como Eu Quero) e Lulu Santos (Canário do Reino). Como premiação por mais de 500 mil cópias, este é um dos discos duplos de platina da coleção dos abelhas.


Meu mundo Gira em Torno de Você


Em 1996 a música de Hyldon "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" lançou o disco "Meu Mundo Gira em Torno de Você". No clipe "Te Amo pra Sempre", top na MTV, Paula aparece vestindo um simplório biquíni de bolinhas. Também encontram-se no disco "Como É Que Eu Vou Embora", "Combinação" e "A Moto". Participações nos instrumentos, de Rodrigo Santos (da banda Barão Vermelho) no baixo e a estreia do atual trompetista Jefferson Victor, na faixa "Vou Mergulhar". "Meu Mundo…" é o disco de estúdio mais vendido da banda, tendo 3 diferentes versões, inclusive uma de platina, com CD duplo.


Espanhol e Remix

No ano seguinte, 1997, a banda alçou vôos ainda maiores, levando o seu trabalho para o exterior, no CD Kid Abelha, divulgado nos EUA, Espanha e países latino americanos. O álbum traz seus grandes sucessos em espanhol, como "¿Por Que Me Quedo Tan Sola?", "Como Yo Quiero", "Te Amo Por Siempre", "Dios", "Todo Mi Oro", "Em medio de la calle", "Grand Hotel" e outros, tendo a participação de Alejandro Sanz em "Nada por mi". A banda quase teve o nome reduzido para "Kid", devido à difícil pronúncia do nome "Abelha" em espanhol. Devido ao sucesso da banda nas baladas e boates, no mesmo ano, chega às lojas brasileiras "Remix", com sucessos remixados por conceituados DJs. Duplo de platina, com 500 mil cópias vendidas em dois meses.



E o mundo não se acabou

De saia bem acima do joelho, em frente a um avião, "Paula Toller" é o primeiro CD solo da cantora. Com seis grandes músicas da MPB, duas em inglês e duas inéditas, duas que se tornaram temas de novela e uma que se tornou tema de um comercial da Garoto. Paula não fez turnê do disco, divulgando apenas em alguns programas de TV, como Domingão do Faustão e Romance MTV. Podemos destacar "Derretendo Satélites", "Oito Anos" (regravada por Adriana Calcanhoto), "E o Mundo Não Se Acabou", "Patience" (cover do Guns N' Roses), "Cantar" e "1800 Colinas".


Fechando com Disco de Ouro

"Autolove", nome que o trio define como "o amor que se locomove sozinho, cujo combustível somos nós" vem em 1998, com mais um disco de ouro. Considerado um dos melhores e mais maduros discos da banda, emplaca "Eu Só Penso em Você", "Maio…", "Minas - São Paulo", "Tanta Gente" e a homenagem a Renato Russo em "Três Taças". Ainda há a canção "Ouvir Estrelas", adaptada do poema homônimo de Olavo Bilac.


Anos 2000

2000 marcou o lançamento do disco "Coleção". Embalado pelo sucesso "Pare o Casamento" da cantora Wanderléa, o disco vem com diversos sucessos de outros artistas, como "O Telefone Tocou Novamente" e "Mas Que Nada" (ambas de Jorge Ben), "Pingos de Amor" (Paulo Diniz e Odibar), "Teletema" (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar), "Mamãe Natureza" (Rita Lee), "As Curvas da Estrada de Santos (Roberto e Erasmo Carlos), além das inéditas "Deve Ser Amor", "Eu Sei Voar" (gravada originalmente para o disco Autolove) e "Um Momento Só" (gravada originalmente para o disco IêIêIê). O disco encerra o contrato com a gravadora Warner e a entrada do atual tecladista Humberto Barros, além da presença de Dunga (baixo), Rodrigo Santos (baixo) e Cris Braun (vocais e composições).

Mais uma vez o Kid Abelha participa do evento Rock in Rio. A terceira edição aconteceu em janeiro de 2001, onde a apresentação da banda aconteceu no dia 20, mesma data de Engenheiros do Hawaii, Elba Ramalho, Zé Ramalho e atrações internacionais. Tocaram sucessos como "Fixação", "Pintura Íntima", "Lágrimas e Chuva", "Alice", "No Meio da Rua", "Amanhã É 23", "Pare o Casamento", "Te Amo Pra Sempre", "Como É Que Eu Vou Embora", "Eu Tive Um Sonho", "Desculpe o Auê" (de Rita Lee), entre outras. Surf, foi o primeiro álbum lançado pela Universal Music, em 2001. As três singles, "Eu Contra a Noite", "Eu Não Esqueço Nada" e "O Rei do Salão" apresentam o disco, que contém também, dentre outras, "3 Garotas na Calçada", "Gávea Posto 6" e "Pelas Ruas da Cidade", que falam da vida e cenário dos cariocas e dos brasileiros. Bateria e percussão eletrônica acompanham as canções.



O Maior êxito

Os 20 anos do Kid foram comemorados em grande estilo em 2002: a banda foi convidada para participar do projeto Acústico MTV. Compõem o disco 20 anos de sucesso em versão acústica: "Como Eu Quero", "Lágrimas e Chuva", "Fixação", "Eu Contra a Noite", "Os Outros", "No Seu Lugar" etc. Possui três inéditas: "Nada Sei", "Gilmarley Song" (homenagem a Gilberto Gil, que havia lançado um disco com canções de Bob Marley) e "Meu Vício Agora", além das regravações de "Brasil" (parceria entre George Israel, Nilo Romero e Cazuza), "Mudança de Comportamento" (Ira!), com participação do guitarrista e vocalista Edgard Scandurra, e "Quero Te Encontrar" (da dupla funk Claudinho e Buchecha, numa homenagem a Claudinho, falecido em junho do mesmo ano). O álbum recebeu vários prêmios de grande importância no cenário nacional e foi indicado ao Gramy Latino, em 2003; seus singles permaneceram por tempo prolongado no "Top 10" e suas vendagens ultrapassaram a marca de 1.250.000 cópias vendidas. Só no ano de 2006, quase quatro anos após o lançamento, o CD teve vendagem de 250 mil cópias, sendo o nono disco mais vendido no Brasil. No ano seguinte o disco ficou em sétimo. A turnê, que durou três anos, permitiu shows por todo Brasil e em algumas cidades dos EUA. O DVD, primeiro trabalho áudio-visual da banda, teve como premiação o DVD de diamante duplo, marca rara em trabalhos em vídeo.



4 Letras de Israel

Antes de lançar um novo disco com o Kid, George, em 2004, grava seu primeiro CD solo, "4 Letras", titulo de uma música sua com o parceiro Cazuza. Canções inéditas, algumas com Israel como letrista, além de parcerias com Alvin L, Arnaldo Antunes e participações dos Paralamas, Lulu Santos e Sergio Dias estão nesse trabalho produzido por Ramiro Mussoto. A canção "Girassois Azuis" (de George Israel/Dulce Quental) foi inclusive tema da novela América, da rede Globo. Shows no Teatro Ipanema no Rio de janeiro marcaram o lançamento em 2005.


Pega Vida

Pega Vida foi lançado em meados de abril de 2005. O disco trouxe onze faixas inéditas, de autoria de George Israel e Paula Toller, e uma regravação, "Será Que Pus um Grilo na Sua Cabeça?". Logo de cara, a primeira single, "Poligamia", posicionou-se entre as dez mais tocadas do país, chegando ao 3º lugar nas paradas. "Peito Aberto", segundo single, além de chegar ao primeiro lugar em versão original, ficou no topo com as versões acústica e remix. "Eu Tou Tentando" e "Por Que Eu Não Desisto de Você" foram as últimas músicas de trabalho, que também obtiveram grande êxito. Houve divulgação em diversos programas de TV: Altas Horas (três vezes), Domingão do Faustão, Pulso MTV (duas vezes), Fanático MTV (duas vezes), Sem Censura (TV Cultura), Programa do Jô, Programa Hebe (SBT), Especial Oi Noites Cariocas (MTV) e Especial Pega Vida (Multishow). Pega Vida foi também lançado em DVD, sendo o primeiro trabalho de artistas brasileiros em vídeo totalmente com músicas inéditas, que rendeu DVD de ouro.


Os Britos

George Israel lança, em 2006, com Gutto Goffi, Nani Dias e Rodrigo Santos o primeiro CD e DVD de sua banda paralela, Os Britos formada em 1994. A banda toca músicas dos Beatles, no espirito "Cavern Club", ou seja um quarteto de rock sem frescuras e muita energia.


2007, o ano em que o Kid tirou férias

A banda anunciou suas férias em 2007. Paula Toller lança seu segundo CD solo, Só Nós. O trabalho tem catorze canções inéditas, compostas por Caio Márcio e Coringa, Dado Villa-Lobos, Donavon Frankenreiter, Jesse Harris (autor de "Don't Know Why", de Norah Jones), Nenung (do grupo gaúcho Os The Darma Lóvers), Kevin Johansen, Paul Ralphes e Paula Toller. "All over" e "À noite sonhei contigo" seriam de uma vez as canções de divulgação do disco, mas por problemas com selos internacionais o primeiro single foi "Meu amor se mudou pra lua", lançado dia 22 de maio. George Israel também lança seu segundo CD solo, "Distorções do meu jardim", tendo como single "A Noite Perfeita", parceria com Leoni (depois de 20 anos sem comporem juntos) e conta com João Barone (Paralamas do Sucesso) na bateria. Também no disco, "Chão de jardim" parceria com Marcelo Camelo, "Alguém Como Você", feita por George Israel para o acústico MTV da dupla Sandy e Junior e "As Rosas Não Falam", de Cartola. "Curados ao sol de Copacabana" escrita por George fala da chegada dos avós ao Brasil fugidos do holocausto e tem participação de Jorge Mautner

No final de 2008, Paula Toller lança em CD e DVD o trabalho Nosso, gravado ao vivo na turnê Só Nós. O disco faz uma mistura entre os dois trabalhos anteriores, trazendo também dois hits do Kid Abelha ("Grand' Hotel" e "Nada por mim"), as regravações de "Saúde / Só love" (Rita Lee / Claudinho e Buchecha) e "Mamãe coragem" (Caetano Veloso) e a versão original em Espanhol de "À noite sonhei contigo", titulada "Anoche soñé contigo". Em 2010 George lança o cd "13 parcerias com Cazuza" juntando sua obra com o poeta. Entre as canções: "Brasil", "Solidão que nada", "Burguesia". Tem participações de Elza Soares, D2, Frejat, Sandra de Sá, Ney Matogrosso. Em junho do mesmo ano registra no Canecão o show do cd com convidados e com a banda que o acompanha na tour solo; Guto Goffi, Odeid, Gê Fonseca e Rene Rossano. Os fãs perguntam pelo retorno da banda em contatos virtuais ou pessoais com membros do Kid Abelha, principalmente com Paula Toller e George Israel, mas a resposta é sempre a mesma, de que não sabem do futuro do Kid.




2010, o retorno

Em julho de 2010, a banda anuncia a volta aos palcos, que teve a pré-estréia em Tóquio, Japão, no festival "Brazilian Day". Uma pré-turnê está divulgando uma nova fase da banda, mais voltada às músicas do estilo anos 80, abandonando o estilo acústico.


Turnê Glitter de Principiante

Em 2011, a banda percorre pelo brasil com sua nova turnê - Glitter de Principante, comemorando os 30 anos de carreira.


Show comemorativo no Rio de Janeiro (Multishow Ao Vivo: Kid Abelha 30 anos)


Em 28 de abril de 2012 a banda gravou um especial para celebrar os 30 anos de carreira que os abelhas completam em 13 de novembro, data do primeiro show profissional da banda, em show na cidade do Rio de Janeiro transmitido ao vivo pelo canal de TV Multishow, com direito a bolo de aniversário no final e a participação da Bateria da Escola de Samba Mangueira. A gravação do show gerará um DVD comemorativo, com registros da turnê "Glitter De Principiante", iniciada em Curitiba em 2011.
Fonte: Wikipédia

Discografia Oficial


Seu Espião (1984)

Faixas:
01 - Seu Espião
02 - Nada Tanto Assim
03 - Alice
04 - Hoje eu Não Vou
05 - Fixação
06 - Como eu Quero
07 - Ele Quer Me Conquistar
08 - Porque Não Eu
09 - Homem Com Uma Missão
10 - Pintura Íntima



Kid Abelha - Ao Vivo (1986)

Faixas:
01 - Fixação
02 - Lágrimas E Chuva
03 - Nada Por mim
04 - Educação Sentimental
05 - Pintura Íntima
06 - Nada Tanto Assim
07 - Como eu quero
08 - Os Outros
09 - Porque Não Eu?


Educação Sentimental (1985)

Faixas:
01 - Lágrimas E Chuva
02 - Educação Sentimental 2
03 - Conspiração Internacional
04 - Os Outros
05 - Amor por Retribuição
06 - Educação Sentimental
07 - Garotos
08 - Um Dia Em Cem
09 - Uniformes
10 - A Fórmula Do Amor



Tomate (1987)

Faixas:
01 - Me Deixa Falar
02 - Eu Preciso
03 - No Meio da Rua
04 - Dança
05 - Tomate
06 - Leão
07 - Mais Louco
08 - Amanhã é 23 




Kid (1989)

Faixas:
01 - De quem é o poder 
02 - A história única de todo amor 
03 - Dizer não é dizer sim 
04 - Sexo e dólares 
05 - Paris, Paris 
06 - Agora sei 
07 - Todo o meu ouro 
08 - Promessas de ganhar 
09 - Cantar em inglês 
10 - De quem é o poder (Versão Extended) 
11 - De quem é o poder (Radio Version) 
12 - De quem é o poder (Versão This A Jorney) 


Tudo é Permitido (1991)


Faixas:
01 - A palavra forte
02
 - Lolita
03
 - A indecência
04
 - Não vou ficar
05
 - Eletricidade
06
 - Grand’hotel
07
 - Fantasias
08
 - Gosto de ser cruel
09
 - No seu lugar
10
 - Fuga número dois





Iê Iê Iê (1993)


Faixas:
01 - Eu tive um sonho  02 - O beijo  
03 - Mil e uma noites  
04 - Por um dia
05 - Em noventa e dois
06 - Deus (Apareça na televisão)
07 - Um segundo a mais
08 - Smoke on the water
09 - Por uma noite inteira


Meio Desligado (1995)

Faixas:
01 - Deus (Apareça na Televisão) (Com Sérgio Dias)
02 - Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor)
03 - Gosto de Ser Cruel
04 - Como Eu Quero (Com Richie)
05 - Por Que Não Eu?
06 - Seu espião
07 - Eu Tive um Sonho
08 - O Beijo
09 - Cristina
10 - No Meio da Rua
11 - Nada Por Mim
12 - Grand' Hotel (Introdução)
13 - Grand' Hotel
14 - Solidão Que Nada
15 - Canário do Reino (Com Lulu Santos)



Meu Mundo Gira em Torno de Você (1996)


Faixas:
01 - Como É Que Eu Vou Embora
02 - Te Amo Prá Sempre
03 - Meu Mundo Gira Em Torno de Você
04 - Combinação
05 - Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)
06 - Apenas Timidez
07 - La Nouveaute
08 - Quero Me Deitar
09 - Baixa Pressão
10 - Vou Mergulhar
11 - A Moto
12 - O Animal



Espanhol (1997)

Faixas:
01 - ¿Por Qué Me Quedo Tan Sola? (Como é que eu vou embora)
02 - Te Amo Por Siempre (Te amo pra sempre)
03 - Yo Tuve un Sueño (Eu tive um sonho)
04 - Nada Por Mi (Nada por mim)
05 - En Tu Lugar (No seu lugar)
06 - Como Yo Quiero (Como eu quero)
07 - Gran Hotel (Grand' Hotel)
08 - El Beso (Um beijo)
09 - En Medio de la Calle (No meio da rua)
10 - En el 96 (Em 92)
11 - Dios (Aparece en el Televisor) (Deus (Apareça na televisão))
12 - Todo Mi Oro (Todo meu amor)
13 - París París (Paris Paris)
14 - ¿Por Qué Me Quedo Tan Sola? (Remix)
15 - Te Amo Por Siempre (Remix)





Remix (álbum) (1997)


Faixas:
01 - Fixação
02 - Pintura Íntima
03 - Eu Tive Um Sonho
04 - Como É Que Eu Vou Embora
05 - Como Eu Quero
06 - Eu Sou Terrível
07 - Amanhã é 23
08 - Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda
09 - Te Amo Pra Sempre
10 - O Beijo
11 - Todo O Meu Ouro
12 - No Seu Lugar...
13 - Garotos
14 - Deus



Autolove (1998)

Faixas:
01 - Tanta Gente
02 - Eu Só Penso em Você
03 - Maio...
04 - Depois das Seis
05 - Ouvir Estrelas
06 - Minas-São Paulo
07 - 3 Taças (A Nossa Canção do Renato)
08 - Mãos Estranhas
09 - Someday
10 - Tambaú
11 - Eu Só Penso em Você (Extended Version)
12 - Eu Só Penso em Voc
ê (Paul's Remix)


Coleção (2000)


Faixas:
01 - Pare o Casamento
02 - Deve Ser Amor
03 - Eu Sei Voar
04 - O Telefone Tocou Novamente
05 - Pingos de Amor
06 - Teletema
07 - Mamãe Natureza
08 - Quem Tem Medo de Brincar de Amor
09 - Esotérico
10 - As Curvas da Estrada de Santos
11 - Mas, Que Nada
12 - Um Momento Só
13 - Pare o Casamento



Surf (2001)


Faixas:
01 - Eu Contra a Noite
02 - 3 Garotas Na Calçada
03 - O Rei Do Salão
04 - Ressaca 99
05 - Gávea-Posto 6
06 - 10 Minutos
07 - Eu Não Esqueço Nada
08 - Da Lama à Pista
09 - Solidão, Bom Dia!
10 - Pelas Ruas Da Cidade (A Vida Continua)


Acústico MTV (2002)

Faixas (DVD):
01 - Tudo de Nós
02 - Lágrimas e Chuva
03 - Eu Contra a Noite
04 - Nada Sei (Apneia)
05 - Maio
06 - Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Com Lenine)
07 - Eu Só Penso em Você
08 - Grand'Hotel
09 - Gilmarley Song
10 - Brasil
11 - Os Outros
12 - Amanhã é 23
13 - Como Eu Quero
14 - Mudança de Comportamento (Com Edgard Scandurra)
15 - Eu Tive um Sonho
16 - Meu Vício Agora
17 - Quero Te Encontrar
18 - No Seu Lugar
19 - Fixação
20 - Te Amo Pra Sempre
21 - Pintura Íntima



Pega Vida (2005)

Faixas:
01 - Eu Tou Tentando
02 - Poligamia
03 - Pega Vida
04 - Por que Eu Não Desisto de Você
05 - Será que Eu Pus um Grilo na Sua Cabeça?
06 - Peito Aberto
07 - Fala Meu Nome
08 - Mãe Natureza (Querência)
09 - Duas Casas
10 - Eutransoelatransa
11 - Strip-tease
12 - Órion



Multishow Ao Vivo: Kid Abelha 30 anos (2012)


Faixas:
01 - No seu lugar
02 - Nada tanto assim
03 - Educação sentimental II
04 - Por que eu não desisto de você
05 - Dizer não é dizer sim
06 - Todo meu ouro
07 - Amanhã é 23
08 - Em 92
09 - Garotos - Louras Geladas
10 - Grand’ Hotel
11 - Nada sei (Apneia)
12 - Seu espião
13 - Eu tive um sonho
14 - Alice (Não me escreva aquela carta de amor)
15 - Fixação (Com Marcelinho da Lua)
16 - Te amo pra sempre (Com Marcelinho da Lua)
17 - Como eu quero
18 - Pintura íntima (Com Ivo Meirelles, Bateria Surdo Um, Mangueira)
19 - Caso de Verão (O Amorzinho) (Estúdio)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DOENÇA NÃO CALA O REI DO BAIÃO E O SEU FORRÓ TÁ É DANADO DE BOM

Quem acompanha nosso espaço sabe que mensalmente diversos artistas concede-nos entrevistas exclusivas para abrilhantar o nosso espaço. Este mês, devido ao centenário de Luiz Gonzaga, a entrevista deste mês será a republicação de uma das últimas entrevistas concedidas pelo Rei do baião, 31 dias antes de dar entrada no hospital onde morreria. Nesta conversa informal a expressão máxima da música revela histórias do seu passado. Confira:



Abatido pela osteoporose (uma doença que provoca a descalcificação dos ossos), mas com a mesma força na voz, ele promete que este mês continuará a animar as noitadas de forró, nos chãos batidos das festas juninas. Não tocará seu fole, porque já não aguenta o peso, mas soltará a garganta para que seu canto possa ser ouvido por todos aqueles que lhe admiram.

Com 56 discos gravados, mais de 50 anos de carreira, dois filhos e um incontrolável amor pela família –quando decidiu casar, falou para a noiva: “se você se entender com minha família, se entenderá comigo”-, Luiz Gonzaga já fez de quase tudo na vida: foi soldado do Exército, cantor de cabaré e, por duas vezes, se apresentou na Europa, só para descobrir que “aqui é o melhor lugar do mundo”.

Nascido em 1912, através das mãos da parteira Januária, um dia ele deixou o pé de serra do Araripe, em Exu, Pernambuco, para tomar os rumos do sucesso e acabar conhecido pelo mundo como “o rei do baião”. Luiz Gonzaga tem uma longa história de lutas e conquistas, uma soma que lhe rendeu muito sucesso. Sucesso que nunca lhe subiu à cabeça, pois como diz “o sentimento pelo povo nordestino é muito mais forte”.

Em entrevista exclusiva, concedida em seu apartamento em Boa Viagem à Ângela Belfort, Patrícia Raposo e Marcos Cirano, ele falou de sua vida. Mas, não daquilo que todos já sabem e, sim, de alguns detalhes que a sua memória, a mesma que em alguns momentos o traiu, conseguiu resgatar do tempo perdido entre o Araripe e as veredas sem fim de sua história.

(Esta entrevista foi publicada pelo jornal Folha de Pernambuco, Recife, a 14 de maio de 1989. No dia 21 de junho de 1989 Gonzagão era internado no Hospital Santa Joana, onde morreria a 02 de agosto de 1989)




Qual a previsão do senhor para este São João?

Luiz Gonzaga – As previsões são ótimas, os contratos estão assinados, eu até achei que não devia aceitar, por conta da saúde, mas eles parece que têm mais fé em deus do que eu. Então, vamos lá! E foi assinado contrato: Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, por aí. E eu pedindo a Deus que me proteja porque eu tô precisando. Os meninos estão aí, afinados, e eu posso fazer uma festa junina sem precisar tocar, sem fazer um só fon. O meu conjunto tá bonzinho, sabe me acompanhar, e a minha voz tá boa. Tocar? Neres! Os meus meninos tocam igual a mim, são de uma família só e vamos lá! Tenho muita fé. Felizmente, tô melhorando, fiz uma cirurgia que não é brincadeira e até ontem Deus me ajudou. Pode ser que Ele me ajude de amanhã em diante. Como eu sou um bom filho, bom pernambucano, bom pai, bom irmão, eu espero que Deus proteja este bom filho. Meus contratos para tocar no São João são com os melhores clubes de Caruaru, Campina Grande, João Pessoa, Salvador e por aí a fora.


E os músicos do seu conjunto, quem são?

Luiz Gonzaga – Pra começar, Joquinha, meu sobrinho, sujeito bom. E o resto é de Exu. Joquinha é neto do velho Januário, mora no Rio de Janeiro, nasceu lá, e ele já é o meu herdeiro musical.


O senhor toca desde menino. Quem lhe ensinou a tocar?

Luiz Gonzaga – Desde menino que eu acompanho meu pai, o velho Januário, um sanfoneiro de pé de serra, foi ele quem me ensinou a tocar. Meu pai consertava fole, eu era seu molequinho, pra onde ele ia tocar, eu ia também.


Quando o senhor era adolescente, tinha muita vontade de conhecer o Crato, não era?

Luiz Gonzaga – É, taí uma boa história! Meu pai recebia muitos convites pra tocar longe de Exu. De Exu para o Crato (NR: cidade cearense) são 70 quilômetros e lá ia o molequinho dele também. E aí, nasceu aquela simpatia pelo Crato, que era uma cidade grande, até hoje o é, cada vez maior. Aí, eu fiquei meio civilizado.


Por que o senhor decidiu entrar para o Exército? 

Luiz Gonzaga – Porque era o colégio do pobre, o único lugar onde o pobre podia entrar para se desenvolver, para se promover. Naquele tempo, 1930, revolução, Getúlio Vargas, eu ainda não tinha idade suficiente, mas fui até lá porque fugi de casa, fui sentar praça em Fortaleza.


O senhor fugiu de casa sem avisar a ninguém? Por que?

Luiz Gonzaga – Foi, fugi sem avisar a ninguém, porque eu queria casar com uma moça, filha de um homem importante de Exu, e ele disse que eu era um sanfoneiro de merda e não podia casar com uma filha de um homem como ele. Aí, eu disse umas molecagens a ele, uma verdades sabe? Ele se queixou a meu pai e o meu pai, ó!...


Quem era o pai dessa moça? Era um líder político?

Luiz Gonzaga – Não, era dono de um sítio, tinha um bom cavalo de sela e isso já era suficiente pra ser um cidadão importante em Exu.


O senhor reencontrou essa moça quanto tempo depois?

Luiz Gonzaga – Meu encontro com ela foi a coisa mais linda do mundo, foi em Campo Grande (NR: bairro do Recife). Uns 30 anos, não, muito mais: uns 40. E, assim mesmo, fui enganado. Uma neta dela, que era estudante universitária (todo universitário gosta de botar os outros pra frente), foi me visitar no hotel, porque sabia da história da avó dela comigo. Foi me entrevistar, depois me convidou pra almoçar na casa de uma família de Exu, sem me avisar nada. Isso aconteceu em Campo Grande, já na década de 70. Quando chegamos lá, tava a patota toda dessa família...


E aí, o que foi que aconteceu?

Luiz Gonzaga – Aí, houve o nosso encontro. Ela não era brobó, era uma cabocla até inteligente, foi um encontro sensacional. E, à noite, no show, numa quadra lá, eu comecei a contar esse encontro maravilhoso que tinha se realizado em Campo Grande. Aí, a moça que me levou na casa dela gritou: 

- Ela tá aqui.

O povo aproveitou: “Vai, vai, vai...” Aí eu disse: Nazarena, chegue aqui! Ela chegou, baixinha, avó de muitos netos e o público começou a gritar: “Beija, beija...” Beijei. Fui aplaudidíssimo. Foi uma coisa louca... Minha vida tem cada história... 


E esse tempo todo não saiu nenhuma musiquinha pra ela?

Luiz Gonzaga – Não, porque eu tinha medo do pai dela. No tempo desse encontro em Campo Grande, ela já era viúva, não tinha problema, mas são histórias que... Só se eu fosse um grande poeta. Poesia nunca me entrou, sou apenas de histórias reais. Poderia ter saído daí uma coisa bonita, mas eu não sou bom pra isso. Sou bom pra criar coisas interessantes, mas sempre com uma poesia boa de poetas amigos meus. Não tive idéia de fazer nada sobre essa história, até mesmo porque esse nosso encontro já foi muito tarde, no final dos anos 70. Minhas histórias quase sempre são reais. Querem ver uma história real?... Gonzagão chama o sobrinho e, com a sanfona do sobrinho, cantam a música “Dá licença pra mais um”. 


Voltando à época do Exército... Depois de algum tempo, seu pai descobriu que o senhor estava no Exército e foi lhe visitar...

Luiz Gonzaga – É, foi no Crato. Foi o seguinte: quando eu era soldado, já tinha passado o pronto e tudo, tinha terminado a revolução, aí o Governo criou um contingente de soldados para desarmar tudo quanto fosse coiteiro, aqueles famosos fazendeiros que tinham armas. Eu pedi pra ir num desses contingentes e, realmente, cheguei a atuar no Cariri, no Juazeiro, e passei um telegramazinho pra meu pai e ele veio me dar um esculacho. Mas, ela não tava muito triste não, porque eu mandava um pouquinho de dinheiro pra ele. 


O tempo entre a saída do exército e o início do sucesso foi muito grande?

Luiz Gonzaga – Não foi nada rápido. Eu tinha gosto, vocação de tocar minha sanfoninha porque era a única coisa que eu sabia. Porque na minha infância eu tinha feito isso com meu pai. Mas, toda vez que eu fazia a tentativa, eu não encontrava caminho. Primeiro, porque a música nordestina ainda não oferecia esse caminho, não tinha intérprete fiel.


Que época foi essa?

Luiz Gonzaga – Já na década de 40, pois tive baixa nos fins dos anos 30. Eu precisava viver, tinha tido baixa, estava desempregado, mas havia adquirido uma sanfona e precisava tocar pra viver. Então, eu passei a tocar tangos argentinos, as coisas da moda. Eu achava que era bom porque eu corria o pires no povo e o dinheiro saía.


E quando o senhor tocava as músicas do seu pai...

Luiz Gonzaga – Eu não fazia fé naquilo, não era comercial, ninguém tocava, ninguém fazia.


O pessoal não conhecia esse tipo de música?

Luiz Gonzaga – Não, não. Porque era uma música que ainda não tinha sido descoberta, ela estava com meu pai, estava comigo, mas eu não fazia fé porque ninguém tocava, nem eu.


Quanto tempo o senhor passou tocando tangos, boleros, essas coisas?

Luiz Gonzaga – No Exército já praticava...Desde menino, quando comecei a tocar sanfona, eu já tocava isso e algumas valsas.


Quando o senhor resolveu tocar música nordestina?

Luiz Gonzaga – Foi por imposição de um grupo de universitários cearenses. Na época eu estava na zona braba do Rio de Janeiro. Eu estava cansado de ganhar dinheiro pra me ouvir tocar coisas que não se coadunavam comigo, nem com eles. Mas, era moda: era blues americano, boleros, era essas coisas que eu cantava. Até que os cearenses jogaram o desafio sobre mim, me entrevistaram lá mesmo no lugar onde eu tocava:

- Você é de onde?
- Sou de Exu, respondi.
- Onde é Exu?
- No pé da serra do Araripe.
- Nós somos cearenses, somos de lá também. Você não toca um negócio daqueles lá do pé da serra?
- Não, respondi.
- Você falou que tocava com seu pai. Por que você não toca aquelas coisas dele?
- Vocês são doidos: pra eu morrer de fome! Ninguém quer aquilo, não.
- Ah, você está completamente no mundo da lua. Toca um negócio daqueles só pra nós!
- Não posso, porque já toquei quando menino, mas agora não lembro mais.
- Então, vamos fazer um negócio, disseram eles. Quando a gente voltar aqui, você vai tocar um pé de serra pra nós, pra gente matar a saudade.
- É, vou ver se me lembro...

Isso foi lá no bar onde eu trabalhava, na zona braba. O nome do bar eu não me lembro, só sei que era na zona do mangue. Era um bar de um espanhol. Eu conto sempre essa história porque é batata, que o interlocutor vem direitinho nessa pergunta... Aí, eu cheguei em casa (eu morava lá num morro) e comecei a praticar um negócio quente que já era forró, era forró e eu não sabia, era forró puro. Ensaiei, pratiquei, decorei e eles não vinham. Eu não esquecia deles, mas também não tocava lá, era só pra eles que eu ia tocar. Até que um dia, um mês depois, eles apareceram, entraram calados no bar, eram uns quatro ou cinco, um atrás do outro, nem me cumprimentaram, se lembravam direitinho do compromisso, e eu também. Toquei uma das músicas prali, corri o pires no povo, não fui na mesa deles. Quando voltei, sentei na minha mesinha, peguei a sanfona e disse pros meus colegas (que eram três: violão, viola e guitarra): “Olha, rapaziada, vou tocar um negócio diferente aqui, mas vocês não vão estranhar não, porque é fácil: é só primeiro e segundo tom” (solfeja). 
Quando acabei, não foi só eles não, foi uma invasão naquele bar, tava escuro de gente. Aí, os cearenses gritaram:

- Eita, pai d’égua! Olha aí, você disse que não dava. Toque outro!

Foi outro forrozim. Naquela época, eu ia aos calouros do Ari (NR: Programa de Ari Barroso), do Almirante, todos os meses, nunca tirei uma nota cinco pra ganhar prêmio. Fui na Nacional (NR: Rádio Nacional), ganhei. Fui na Tupy, ganhei. Isso foi em 1941, justamente quando comecei a gravar. E, aí, apareceu amigo pra tudo. Só quem não gostou foi o dono do conjunto, porque perdeu o sanfoneiro. Começou a aparecer convite pra cá, convite pra lá, e o pobre do dono do conjunto ficou sem emprego, pois acabou o conjunto.



Com 50 anos de carreira, o tempo passa e Luiz Gonzaga sobrevive. Como o senhor explica o fenômeno do seu sucesso?

Luiz Gonzaga – Pobreza, pobreza. Eu sempre fui muito pobre, pobre demais e tudo o que eu faço tem sempre um destinatário: a pobreza. Eu trato o pobre bem, eu trato o pobre com amor. As histórias que eu conto sobre os pobres são todas com respeito, originalidade. E o nordestino era tão pobre e ainda o é. O povo nordestino, sendo um povo espirituoso, cheio de graça, não tinha quem cultivasse a sua graça. Então, a graça dele era uma graça sem graça. Aí, eu comecei a decantar o nordestino com respeito, com amor, com a alma. As histórias que eu pesquiso, como as poesias do poeta Patativa do Assaré, Zé Marcolino e outros têm espiritualidade. Nós sempre apresentamos o pobre como inteligente, engraçado. E esse pobre se agarrou comigo. As histórias do pobre nordestino que eu conto são todas verdadeiras. Canta: “Setembro passou/Cum oitubro e novembro/Já tamo em dezembro/Meu Deus que é de nóis?/Assim fala o pobre/Do seco Nordeste/Cum medo da peste da fome feroz”. Esse é um protesto forte. E isso se tornou a toada do pobre, do vaqueiro, do cangaceiro. Então, foi aí que eu me tornei cantador dessa gente. Quando eu gravo um disco, pouco estou me incomodando se vende muito ou pouco, porque o meu público, o pobre nordestino não pode comprar disco. O disco é para o pobre nordestino. Mas tem muita gente pobre que enriqueceu e se lembra do seu passado através do trabalho. No Sul, Centro-Sul, quanto mais distante, mais eles gostam de mim por causa da origem. Minha vida é uma coisa tão bonita, mas não é tão difícil de contar, não. 


Qual foi a época que o senhor fez mais sucesso?

Luiz Gonzaga – Quando eu descobri o Baião, aí foi sucesso mesmo.


A fama nunca lhe subiu à cabeça, não?

Luiz Gonzaga – Não, porque essas coisas nunca me atingiram, nunca.


Nesses 50 anos de carreira, o que foi que mais lhe marcou? Quais foram as maiores recordações da sua carreira?

Luiz Gonzaga – Foram tantas. O primeiro disco... O primeiro disco é uma coisa incrível. O primeiro sucesso, beleza.


Foi fácil gravar o primeiro disco? Como é a entrada de um artista popular na indústria do disco?

Luiz Gonzaga – O primeiro disco foi a coisa mais fácil do mundo. Difícil foi conseguir cantar. Porque, para gravar, eu fui chamado par acompanhar um humorista paulista chamado Genésio Arruda, na RCA, onde acharam que eu tinha um jeito bom e perguntaram se eu queria fazer um teste. Eu perguntei o que era isso. Aí, disseram: “toque alguma coisa da sua autoria”. Eu toquei. Aí, disseram: “quer gravar um disco aqui com a gente?” Gravei dois! Foi muito fácil. E, naquele tempo, eu tava começando a cantar nas gafieiras do Rio e começaram a achar que eu era engraçado na minha maneira de cantar. Cantava choro, músicas de Almirante e umas emboladas que era a única coisa do Norte que existia por aí. Foi aí que uma fábrica me chamou pra gravar, a Odeon. Eu disse: Vou falar com o meu patrão. Eu já tinha falado com ele uma vez, pra tentar uma prova lá na minha fábrica, mas o patrão me gozou: “Já te vi cantar, Luiz; é a maior tristeza do mundo, cê canta ruim demais”. Aí, eu disse: Agora, uma fábrica me chamou pra gravar, e é uma concorrente de vocês, é a Odeon. Aí, o patrão: “Ah, você não pode, não, você é nosso”. O diretor lá disse: “Você tá doido!” Então, telefone pra ele agora, disse eu. Ele telefonou e lá na gravadora disseram que me queriam. Foi quando ele viu que o convite tinha fundamento.

Então, a Odeon mandou eu fazer uma prova, pedindo que eu gravasse uma música cantando para ver o que acontecia. Eu estava, naquela época, numa fase tão sem expressão, que só ganhava uma espécie de ordenado. Só vendia um óleo de disco e recebia 300 mil réis por mês, uma quantia certinha. Mas, quando botei música cantando e aguardei o lançamento, saiu logo 350 mil réis de salário. Continuei até hoje (NR: na gravadora RCA).


Qual foi a sua primeira música gravada?

Luiz Gonzaga – “Dança, Mariquinha”. Dança, dança, Mariquinha/a rancheira para o povo apreciar... E fiquei lá na fábrica 48 anos.


Quantos discos o senhor já gravou?

Luiz Gonzaga – É difícil de dizer, porque eu comecei a gravar em março de 1941 e nós já estamos em 89. São 50 anos de discos. Nessa trajetória o discou mudou. No início era feio, pesado. Depois, passou a ser mais leve e hoje já se fala em disco laser. Esse é que o pobre não vai comprar, mesmo.


O senhor nunca gravou um disco de duplo sentido?

Luiz Gonzaga – Duplo sentido mesmo, esse duplo sentido que eles estão apresentando aí, que começam a cantar e você já sabe onde ele quer chegar, esse é lasca! (Neste instante tenta lembrar alguma música sua com duplo sentido e não consegue. Aí, Joquinha lembra de Capim Novo, Carolina com K). Mas, essas Joquinha, eram com freio, não considero duplo sentido, não. Eu sempre me dei bem com minhas coisas, para que vou apelar? Eu descobri muito cedo que o cantor engraçadinho se acaba logo cedo, num instante.


Por que?

Luiz Gonzaga – Vocês sabem mais do que eu. Ivon Curi, por exemplo, é um grande artista, mas para o público acabou-se, fazendo aquelas graças que fazia. Dá até pena. Acho, pelo seguinte: o sujeito que grava uma piada num disco e é cantor, acaba saturado porque a piada com o tempo perde a graça. A melodia, se for boa, fica, assim como a poesia. Eu gravei alguma coisa, como aquela música que meu pai dizia: “Isso é hora de chegar em casa, seu corno?!” Mas, isso é duplo sentido? Acho que não.


Que música Luiz Gonzaga ouve, além de baião, xote ou forró?

Luiz Gonzaga – Dominguinhos, eu gosto de ouvir Dominguinhos.


Como é que o senhor vê o movimento musical hoje no Brasil?

Luiz Gonzaga – Uma grande confusão.


Por que?

Luiz Gonzaga – Eu não sei a causa, mas acho que é por essa coisa de comércio. E também tem muita gente, mas muita gente mesmo, fazendo besteiras, loucuras como essa história de rock. Então, se embola tudo, é uma lástima.


A música brasileira não tem qualidade?

Luiz Gonzaga – Inventaram um tipo de música chamada música comercial. Então, qualquer porcaria, o vendedor e o produtor acham que é comercial e jogam em cima do público. Essas porcarias saem muito mais rápido e a gente que procura caprichar, fazer uma coisa bonitinha, demora muito a vender. Agora, o bagulho, aquele bagulho que causa até vexame nas pessoas, a cambada compra, curte e depois joga no mato. 


Quais os compositores da MPB que o senhor mais gosta?

Luiz Gonzaga – Olha, eu gosto muito de Geraldinho Azevedo. Gosto do caboclo doidão que tem por aí chamado Alceu Valença. Adoro Elba Ramalho. Gosto muito daquela maranhense sambista, Alcione, apesar dela ser muito jazz. Têm muitos sambistas bons por aí, vindos do carnaval... O carnaval tem sido um peso muito pesado contra a música popular brasileira.


Por que?

Luiz Gonzaga – Porque a mau gosto impera, são músicas malfeitas. Antigamente, a música de carnaval atravessava anos e anos tocando para o povo. Músicas lindas. Aí, a crioulada tomou conta e lá vem bagulho. É uma pena, sabe?


Quem fazia músicas de carnaval bem feitas?

Luiz Gonzaga – Ora, Braguinha, Alberto Ribeiro, tanta gente boa. Uma Jardineira, quem não se lembra? Lamartine Babo, ô meu Deus do céu, era tanta coisa bonita. Mas, hoje são músicas de metros e metros. Como é que se vai suportar coisa daquele tamanho? Como é que se vai suportar um samba-enredo. O que é que tem ali para se gostar? Dezessete léguas e meia de samba ruim. Música bonita... Eu gravei uma música chamada “Triste Partida”, ela leva oito minutos, é grande, mas não é pra ser cantada assim coletivamente, não. É uma música pra se levar pra casa.


Quando o senhor vai escolher uma poesia para fazer uma música, o que é que o senhor leva em conta?

Luiz Gonzaga – Eu não escolho poesia. A primeira coisa que procuro é a graça, é ter imaginação, e levo para o meu poeta completar.


Qual foi o seu maior parceiro musical?

Luiz Gonzaga – Foram Humberto Teixeira e Zé Dantas. Os dois maiores.


O senhor fez excursões pela Europa: como foi a receptividade da sua música na Europa?

Luiz Gonzaga – Eu não fui várias vezes, não: só duas ou três vezes. Fui cantar lá levado como se leva um bando de bichos, animais pro curral. Fui sem liberdade, sem lugar condigno. Então, a gente é levado assim e apresentado como um cara sem expressão. Nunca mais! Quando me vem um convite, eu tremo de raiva. 


Como e quando foi essa história?

Luiz Gonzaga – Foi uma dessas festas de Governo. Só em Paris eu fui duas vezes. Negócio bom é quando o artista é contratado para cantar em casa de espetáculo, como eu vi Gilberto Gil em Paris fazendo mais sucesso do que aqui no Brasil. Ele cantou no Teatro Olympia, um teatrinho até feio, mas famoso que só o cão. E eu cantei em outro teatro, era até bom, no Bobino de Paris, em 1982.

Pergunta – Quem foi que patrocinou sua viagem pra lá?

Luiz Gonzaga – Foi Cello, um amigo de Nazaré Pereira. Pra mim, não aconteceu nada. Sou muito agradecido a Nazaré Pereira, porque ela me mostrou a cara de Paris de perto e Paris mostrou a cara a mim. Com Cello fui para o Meaurinoux. 


É verdade que o senhor tinha vontade de acompanhar o bando de Lampião?

Luiz Gonzaga – É, levei uma pisa por causa disso. Lá em casa, por qualquer motivo se castigava. Eu era doido por Lampião. Quando eu via aquele retrato nos jornais, eu dizia: “Eita, que homem bonito, olhe mãe”. E mãe dizia: “Hum, sei!..” Uma vez, houve uma notícia que ele ia passar na nossa ribeira, aí eu digo: É agora que eu vou ver o homem. Todo mundo daquela ribeira, daquele povoado, foi dormir nos matos. Eu também fui, mas em protesto. Aí, meu Deus, de manhã cedo minha mãe disse assim: “Será que Lampião já passou e deixou a estrada livre pra gente passar?” Passou coisa nenhuma, mãe. Lampião está longe, em outros lugares, e a gente dormiu neste mato, feito bicho. “Tu tem coragem de ir lá em casa, Luiz?” Eu vou, se a senhora quer, eu vou agora mesmo. A gente estava distante de casa, mais ou menos um quilômetro. Meti o pé na estrada, na vereda e, quando cheguei em casa, nas outras casas tava todo mundo em casa, menos nós. Aí, fiquei grosso. Voltei pra o nosso rancho planejando um malfeito. Quando avistei a negada, disse: Corre, gente, que Lampião vem aí! Quando entrei no rancho, que era debaixo da quixabeira, todo mundo com seus terens, com seus picuaios debaixo do braço, abri a boca no mundo e ri: Lampião passou coisa nenhuma, todo mundo dormiu em casa, menos nós. Aí, minha mãe, que era quem mais me batia, perguntou: “É, meu filho?” Eu disse: é mãe, voltou todo mundo, mãe Januária, seu Jacó, Zé Jacó, todo mundo em casa, menos nós. A essa altura, eu já tô sentindo o cheiro dela, bem pertinho de mim. Me pegou: “Seu moleque safado”... Ela não poderia me bater, ela era forte, mas eu já era meio taludinho. Aí, minha mãe e meus irmãos me cobriram de pau, porque o medo foi muito grande.


Quantos anos o senhor tinha nessa época?

Luiz Gonzaga – Devia ter uns 12 anos. Aí, sempre com a idéia de Lampião na cabeça, até que, quando eu vim ser artista, comecei a usar o chapéu de Lampião.


Quem era a mãe Januária?

Luiz Gonzaga – Era uma senhora parteira que tinha lá em Exu, foi ela quem me pegou. Lá chama-se aparadeira.


O senhor quis se candidatar várias vezes, mas nunca se tornou um político. Por que?

Luiz Gonzaga – Porque nos primeiros passos que eu fazia, eu já me decepcionava. Coisa horrível é a política. Ninguém respeita ninguém.


Como é que o senhor vê o movimento político no Brasil?

Luiz Gonzaga – Eu não vejo, porque pra isso aí ei sou meio cego, não dá pra ver nada.


E, pra presidente da república, o senhor votaria em quem?

Luiz Gonzaga – Em Marco Maciel, porque conheço de perto. E é um homem muito íntegro do Nordeste. Esses homens íntegros do Nordeste não se elegem, porque não deixam. Se eles se elegerem, é desmando na certa.


Nessa entrevista, o senhor falou em deus várias vezes. Gonzaga é um homem religioso?

Luiz Gonzaga – Olhe, lá em casa sempre foi uma casa de muita reza. Hoje mesmo, essa hora o que é que estão fazendo lá - Gonzaga pergunta ao sobrinho Joquinha e ele mesmo responde: Novena de trinta dias, é o mês de Maria. Depois que eu me casei com essa bichinha (refere-se a Edelzuíta Rabelo, sua atual mulher), eu emendei na reza, porque essa aí, quando a gente vai dormir, eu sinto aquele silêncio e percebo que ela está rezando sozinha. Aí, eu digo: Minha filha, me leva, que a gente reza junto. Rezar é bonito. Eu tô percebendo que as perguntas amoleceram. Eu tô mole, vocês também tão moles. Eu tô doente, gente. Desculpe, mas é que eu preciso me deitar. Vamos s’imbora?