São duas décadas sem aquele que foi um dos primeiros críticos de música e cinema do Paraná e um dos mais importantes do Brasil.
Por Cristiano Castilho
Era uma casa muito engraçada a do curitibano Francisco Millarch. No sofá da sala de estar da residência, que ficava ali na rua Visconde do Rio Branco, entre a Vicente Machado e a Carlos de Carvalho, um sujeito chamado Vinicius de Moraes se atracou em em um copo de uísque e desatou a falar. Noutro dia, um outro, apelidado de Toquinho, dedilhava um violão. Com seus 10 anos, o garoto acompanhava tudo e reparava que o que havia em comum entre esses artistas que integravam o time titular da MPB em 1970 e outros personagens que visitaram o espaço – políticos, cineastas, atores –, era um gravador sobre a mesa. Sempre com a luz vermelha acesa.
O privilégio de Francisco foi ter nascido filho de Aramis Millanch, jornalista e um dos primeiros e principais críticos de música e cinema do Paraná. Compulsivo por informação e entrevistas, Aramis (1943-1992) criou em seus 32 anos de profissão um dos maiores acervos culturais do Brasil, “sequestrando” os artistas que passavam por Curitiba – antes e depois dos shows – ou os interpelando no aeroporto. Mas, em vez da insistência incômoda para conseguir palavra, utilizava a elegância e o bom humor que lhe eram característicos. O resultado foi um punhado de amigos “famosos”, 4 mil fitas com entrevistas, que somam 720 horas de gravação – cerca de uma hora e meia de conversa com cada entrevistado – e 572 personalidades nacionais retratadas. Estão lá Gilberto Gil, Cartola, Francis Hime, Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Ana Botafogo, Jamil Snege...
Todo esse precioso material ganhou vida nova com um projeto idealizado em 2006 pelos produtores curitibanos Samuel Lago, Rodrigo Barros Homem d’EL Rei e Luiz Antonio Ferreira. Juntos, recuperaram e digitalizaram o acervo completo, que agora está disponível em uma coleção com oito DVDs, que por sua vez será doada a 450 bibliotecas brasileiras. O material em áudio também está disponível no site www.millarch.org patrocinado pela Petrobras e viabilizado pela Lei Rouanet.
“Até 1981, as entrevistas eram feitas na minha casa. Os artistas iam jantar depois dos shows e algumas conversas têm interrupções e ruídos diversos, porque o gravador ficava ligado o tempo todo”, diz Francisco Millarch, filho do jornalista.
“Chico” era criança, mas talvez seu pai soubesse que dormir era menos importante do que presenciar as visitas ilustres. “Eu ficava até de madrugada com os entrevistados. Sentei no colo do Vinicius, inclusive, e meu pai dizia que eu fiz uma música em parceria com ele, já que pronunciei algo e o Vinicius começou a cantar, improvisando”, relembra Francisco. Outra das raridades recuperadas é a entrevista com a cantora Maysa. A conversa foi a última registrada antes do acidente automobilístico que mataria a artista, em janeiro de 1977.
Aramis Millarch vivia em seu mundo de 32 mil discos e 5 mil livros. Ele escreveu cerca de 50 mil artigos para mais de 20 periódicos. Sua compulsão pela informação era tanta que, ainda jovem, quando não havia material de imprensa sobre os filmes em cartaz, Millarch ia assistir às sessões e anotava todas informações técnicas do filme para utilizá-las em suas resenhas.
“Desde cedo, meus pais me levavam para assistir a tudo. Cinema, teatro, shows. Eu não tive uma infância típica, mas também não virei tiete de ninguém. Como meu pai, conheci todas essas personalidades como pessoas normais”, diz Francisco, hoje empresário.
O produtor Samuel Lago destaca o senso de percepção de Aramis, que viveu a ebulição da bossa nova e a consolidação da MPB tradicional. “Ele viveu essa época e teve oportunidade de vagar por esses ambientes diversos. Mas era amigo dos artistas e sabia como eles pensavam. Não era uma relação profissional, e sim de amizade”, diz, revelando também o modus operandi do jornalista. “Sua produção era caótica. Ele gravava entrevistas em diversas fitas e tivemos que remontar tudo.”
Francisco Millarch define o acervo, agora resgatado, como o mais importante legado de Millarch além de suas matérias. As circunstâncias únicas de gravação e os depoimentos interessantes de artistas que só seriam unanimidade anos depois comprovam a teoria. Chico ainda lembra que, em sua casa, ali na Visconde do Rio Branco, sempre “entrou e saiu muita gente”. Gente como Elis Regina, Pixinguinha, Tetê Espíndola, Valêncio Xavier...
O privilégio de Francisco foi ter nascido filho de Aramis Millanch, jornalista e um dos primeiros e principais críticos de música e cinema do Paraná. Compulsivo por informação e entrevistas, Aramis (1943-1992) criou em seus 32 anos de profissão um dos maiores acervos culturais do Brasil, “sequestrando” os artistas que passavam por Curitiba – antes e depois dos shows – ou os interpelando no aeroporto. Mas, em vez da insistência incômoda para conseguir palavra, utilizava a elegância e o bom humor que lhe eram característicos. O resultado foi um punhado de amigos “famosos”, 4 mil fitas com entrevistas, que somam 720 horas de gravação – cerca de uma hora e meia de conversa com cada entrevistado – e 572 personalidades nacionais retratadas. Estão lá Gilberto Gil, Cartola, Francis Hime, Nelson Cavaquinho, Elis Regina, Ana Botafogo, Jamil Snege...
Todo esse precioso material ganhou vida nova com um projeto idealizado em 2006 pelos produtores curitibanos Samuel Lago, Rodrigo Barros Homem d’EL Rei e Luiz Antonio Ferreira. Juntos, recuperaram e digitalizaram o acervo completo, que agora está disponível em uma coleção com oito DVDs, que por sua vez será doada a 450 bibliotecas brasileiras. O material em áudio também está disponível no site www.millarch.org patrocinado pela Petrobras e viabilizado pela Lei Rouanet.
“Até 1981, as entrevistas eram feitas na minha casa. Os artistas iam jantar depois dos shows e algumas conversas têm interrupções e ruídos diversos, porque o gravador ficava ligado o tempo todo”, diz Francisco Millarch, filho do jornalista.
“Chico” era criança, mas talvez seu pai soubesse que dormir era menos importante do que presenciar as visitas ilustres. “Eu ficava até de madrugada com os entrevistados. Sentei no colo do Vinicius, inclusive, e meu pai dizia que eu fiz uma música em parceria com ele, já que pronunciei algo e o Vinicius começou a cantar, improvisando”, relembra Francisco. Outra das raridades recuperadas é a entrevista com a cantora Maysa. A conversa foi a última registrada antes do acidente automobilístico que mataria a artista, em janeiro de 1977.
Aramis Millarch vivia em seu mundo de 32 mil discos e 5 mil livros. Ele escreveu cerca de 50 mil artigos para mais de 20 periódicos. Sua compulsão pela informação era tanta que, ainda jovem, quando não havia material de imprensa sobre os filmes em cartaz, Millarch ia assistir às sessões e anotava todas informações técnicas do filme para utilizá-las em suas resenhas.
“Desde cedo, meus pais me levavam para assistir a tudo. Cinema, teatro, shows. Eu não tive uma infância típica, mas também não virei tiete de ninguém. Como meu pai, conheci todas essas personalidades como pessoas normais”, diz Francisco, hoje empresário.
O produtor Samuel Lago destaca o senso de percepção de Aramis, que viveu a ebulição da bossa nova e a consolidação da MPB tradicional. “Ele viveu essa época e teve oportunidade de vagar por esses ambientes diversos. Mas era amigo dos artistas e sabia como eles pensavam. Não era uma relação profissional, e sim de amizade”, diz, revelando também o modus operandi do jornalista. “Sua produção era caótica. Ele gravava entrevistas em diversas fitas e tivemos que remontar tudo.”
Francisco Millarch define o acervo, agora resgatado, como o mais importante legado de Millarch além de suas matérias. As circunstâncias únicas de gravação e os depoimentos interessantes de artistas que só seriam unanimidade anos depois comprovam a teoria. Chico ainda lembra que, em sua casa, ali na Visconde do Rio Branco, sempre “entrou e saiu muita gente”. Gente como Elis Regina, Pixinguinha, Tetê Espíndola, Valêncio Xavier...
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