Por Tatiana Meira e Vanessa Angeiras
Uma das maiores divas do teatro e da música brasileiros, Bibi Ferreira comemora, no palco, 90 anos de vida, com o show Bibi - Histórias e canções, que acaba de estrear com casa lotada no Rio de Janeiro. Outra estrela que nem cogita deixar de empunhar o microfone é Ângela Maria, 83, que vem ao Recife na próxima semana, para se apresentar no Manhattan Café Theatro, em Boa Viagem, por três noites seguidas. “Só paro quando morrer. Respeito meu público e, quanto mais canto, mais tenho disposição. Não me sinto cansada”, diz a eterna “Sapoti”.
Bibi e Ângela parecem se alimentar da energia que vem da plateia, ao contrário de outras artistas - até mesmo mais novas em idade - que anunciaram a aposentadoria recentemente. Uma delas foi Nana Caymmi, 70, que no início do ano completou meio século de carreira. Famosa por não ter papas na língua, a filha de Dorival Caymmi desabafou durante show no Rio de Janeiro no sábado passado. “Já dei o que tinha que dar. Estou me aposentando aos poucos. Tenho 50 anos de disco e ganhei um de ouro. Quero que o mundo se exploda. Estou encerrando essa fase da minha vida. Tenho que ter paz”, declarou. Rita Lee, 64, é outro exemplo. Após dedicar mais de 40 à carreira, postou no Twitter que, por causa da fragilidade física, estava aposentada dos shows, mas não da música.
O estresse de turnês, as críticas do público, a produção da maquiagem e do figurino fazem parte da rotina e pesam muito. Tudo isso, somado à carga emocional e pessoal que toda mulher suporta, gera desgaste. A cantora Elba Ramalho, 60, conhece os obstáculos da carreira. “É cansativo? É, sim, e muito. O mercado não é bom, a memória do público é curta, mas nós, cantoras, nascemos para isso. Nascemos para cantar. O Brasil é um país de cantoras”, rebate Elba.
É preciso adicionar à rotina também o estresse diário das gravadoras, a pirataria e o compartilhamento de músicas nas redes sociais. “Se a nossa música vai por um caminho incerto, não é por minha culpa, ou de Rita Lee. Muito menos, Nana (Caymmi). Faço o meu trabalho com dignidade e respeito ao público. Entendo o sentimento da Nana, mas sei o quanto é gratificante levar alegria por meio da música”, ressalta a paraibana Elba.
Nena Queiroga, 44, cantora de família nordestina, mas natural do Rio - e que, no próximo dia 18, recebe o título de cidadã pernambucana - concorda com a colega. “O palco é a parte mais leve, é a parte em que fazemos o que gostamos. O que cansa é figurino, maquiagem”, diz. Nena ressalta que “toda mulher tem que ser admirada. São mais fracas fisicamente do que os homens, sofrem com os hormônios, são mães, avós, carregam uma carga emocional pesada da vida. Para as artistas, isso se torna ainda mais pesado”.
No caso de Nana, as queixas vão além das limitações físicas e da rotina extenuante. “Vou fazer o mesmo que a Rita (Lee). As pessoas dizem: ‘Mas você tem 70 anos e essa voz toda!’ Ah, vai se ferrar, não tenho mais estrutura para ouvir baboseira de imprensa”, desabafou. O público padece impotente diante do destino das divas. Anseia por mais um show na esperança de ampliar o contato com as ídolas. E torce para as vozes imortalizadas pelo tempo ecoarem pelos palcos sem data de despedida.
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