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sábado, 8 de janeiro de 2011

TALENTOS HERDADOS

Anelis Assumpção
A malemolência feminina ecoa elegantemente no trabalho de Anelis Assumpção.

Cantora, compositora e percussionista, ela prepara-se para gravar seu primeiro CD com um punhado de canções Próprias – e pode manter o P maiúsculo aí no adjetivo porque as composições da moça têm um tempero que não se encontra em outras cozinhas. Com a sagacidade de quem canta na fluência das melhores conversas de botequim, a filha de Itamar Assumpção encontra o ponto certo do molho na mistura de uma descompromissada poesia (provável herança do gene paterno) com um balanço refogado na fervura do samba, do reggae, do hip hop e da chamada vanguarda paulistana – expressão essa, designada para identificar a inclassificável música de seu pai e comparsas como Arrigo Barnabé.

O timbre quase grave de voz e a interpretação quase teatral valorizam letras como a de “Bola Com Os Amigos”, um desabafo-canção direto e reto sobre uma frustração recorrente entre as mulheres brasileiras. Ela canta: “chamei meu nêgo pra passear / mas ele foi jogar bola com os amigos” (...) “não há razão pro suicídio / depois da bola eu sei que ele vem pra casa ver um vídeo”. Simples e aconchegantes, alguns de seus versos até soam familiares na voz de alguma pessoa conhecida, parecem fragmentos de uma conversa antiga ou diálogos em balão de algum HQ lido no jornal que te fez rir no café da manhã.

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