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sábado, 18 de dezembro de 2010

MAIS UM ANO SE PASSOU...

Por Bruno Negromonte

Como diria (o já abordado aqui em nosso espaço) Genival Cassiano: "Mais um ano se passou..." e durante esse ano que se passou o Musicaria Brasil veio aos poucos se solidificando e se conceituando como um espaço voltado para a boa música popular brasileira, diferenciando-se de outros espaços existentes em alguns momentos e em outros sendo apenas mais entre tantos, o que importa de fato é que a proposta tem sido atendida e ao longo desses anos em que o Musicaria tem estado no ar tem procurado priorizar o que há de bom de maneira imparcial e procurando garimpar talentos e trabalhos independentes da notoriedade do artista.

2010 veio com algumas novidades em nosso espaço, a mais recente foi a reformulação no design e a criação de outras maneiras de dar vazão ao material exposto aqui no site a partir de algumas redes sociais como é o caso de nossa comunidade no orkut.

Em 2010 também tive a oportunidade de conhecer novas figuras dentro da nossa MPB, contabilizando mais algumas estrelas na já enorme constelação que existe em nossa música. Foi o caso da dulcíssima Daniella Alcarpe e o seu marido Daniel Cukier, que sempre foi receptiva desde o primeiro momento em que sugerimos as pautas sobre o álbum "Qué que cê qué?" (álbum este que encontrasse disponível para download em sua íntegra no site da Daniella (http://www.cantora.mus.br/), fazendo jus ao título da matéria onde ela nos concedeu um belíssima entrevista: todo artista tem que ir aonde o povo está), da mesma forma, Rodrigo Vellozo nos atendeu prontamente quando sugerimos uma pauta sobre o seu álbum de estreia "Samba de câmara". De forma não diferente, a talentosíssima Cristina Braga também não se opôs na elaboração de uma pauta sobre "Feito um peixe", álbum lançado ao longo de 2010 e que teve o título extraído de uma canção do Luís Capucho.

Gostaria de agradecer também imensamente a três pessoas fundamentais para a nós: a primeira vem acompanhando o blog a algum tempo e sempre que possível expressa suas opiniões de maneira sensata e gentil, ela chama-se Roseli Pedroso, proprietária do blog Sonhos e melodias (http://sonhosmelodias.blogspot.com/) espaço este que indico sem restrições em várias doses diárias.

A segunda pessoa trata-se de um grande divulgador de nosso espaço e que tem procurado difundir o Musicaria sempre que possível. Trata-se do Sr. Jorge Macêdo pessoa que eu tenho um grande apreço não só por ser responsável pela difusão do espaço, mas também por fazer parte de certa forma de meu convívio, pois ele é pai de pessoas que fazem parte de minha vida desde o início da adolescência.

A terceira trata-se de uma colega que adquiri a partir da existência desse espaço, é a comunicadora social Felícia Oliveira, que possui um dos programas de MPB mais interessantes que conheço até então e que é transmitido lá de Barra Velha (SC). O programa chamasse "Aquarela Beeem brasileira" e o horário do programa é das 23:00hs às 00:00hs de segunda a sexta e aos domingos das 20:00hs às 22:00hs (horário de brasília) podendo ser sintonizado a partir da própria internet (http://www.aquarelafm.com.br/br/index.php). Muito obrigado de coração por cada atitude de vocês em favor do Musicaria, pois sem vocês talvez o site não obtivesse as mais de 90 mil visitas que obteve ao longo desse tempo no ar.

Outra coisa interessante descoberta ao longo desse ano foi saber que em um espaço aparentemente tão restrito a gente pode ganhar o mundo. Através de levantamentos me chegou a informação que entre os 5 países que mais visitam o nosso espaço encontra-se a Ucrânia e a Polônia. Quem diria não é?

Mas nem tudo são rosas... já recebemos ameaças de processos e já perdemos patrocínios importantes para a manutenção do espaço por disponibilizar alguns matérias. E isso me tem feito rever essa questão da disponibilização de download a partir do ano que se aproxima. A verdade é que haverá uma reestruturação do nosso espaço para podermos mantê-lo mais ou menos semelhante ao que se apresenta hoje. Haverá novas colunas e permanecerá algumas outras que já se encontram desde períodos anteriores. Afinal de contas são algumas dessas matérias que geram os elogios que acabam se tornando a força-motriz que me estimula a manter o vigor do Musicaria desde o seu surgimento.

Que 2010 tenha vindo não só como um ano a mais em nossa bagagem da vida, mas também como um período de aprendizado e evolução no sentido mais amplo da palavra e que 2011 venha cheio de positividade, muita música e coisas legais; é mais ou menos como eu disse ao término do ano passado; que a música (alimento da alma como muitos dizem) predomine nos momentos mais felizes da vida de cada um daqueles que participam ou simplesmente visitam o Musicaria Brasil ao longo de 2010. E como diria o saudoso Dom Hélder Câmara:

"Que o ano seja novo, de fato: iluminemos de justiça, solidariedade e teimosa esperança, cada ato."

Que 2011 venha repleto de realizações em todos os âmbitos para todos que visitam o blog Musicaria Brasil e muitíssimo obrigado por todas as 90 mil visitas ao longo da existência do blog e as cerca de 60 mil visitas ao longo de 2010!!!

Abraço a todos e até 2011 se Deus assim permitir!!!

DICAS DA MUSICARIA

Cd 01
01 - Maior Abandonado (Caetano Veloso)
02 - Todo Amor Que Houver Nessa Vida (Gal Costa)
03 - Bilhetinho Azul (Olívia Byington)
04 - Carente Profissional (Marina Lima)
05 - Nós (Bebel Gilberto)
06 - Milagres (Adriana Calcanhotto)
07 - Amor, Amor (Leila Pinheiro)
08 - Down Em Mim (Edson Cordeiro)
09 - Mal Nenhum (Leoni)
10 - Vem Comigo (Zélia Duncan)
11 - Pro Dia Nascer Feliz (Pedro Mariano)
12 - Você Se Parece Com Todo Mundo (Frejat)
13 - Heavy Love (Karyme Hass)
14 - Tudo É Amor (Ney Matogrosso)
15 - Minha Flor, Meu Bebê (Renata Arruda)
16 - Faz Parte Do Meu Show (Maria Creuza)
17 - Preciso Dizer Que Te Amo (Léo Jaime)
18 - Solidão Que Nada (Kid Abelha)
19 - Codinome Beija-Flor (Emílio Santiago)
20 - Só Se For A Dois (Cássia Eller)

Cd 02
01 - Que O Deus Venha (Barão Vermelho)
02 - Malandragem (Cássia Eller)
03 - Poema (Ney Matogrosso)
04 - Seda Pura (Simone)
05 - Mais Feliz (Adriana Calcanhotto)
06 - Amigos De Bar (Bebel Gilberto)
07 - A Inocência Do Prazer (Dulce Quental)
08 - Companhia (Zizi Possi)
09 - Gatinha De Rua (Marcelo)
10 - De Quem É O Poder (Kid Abelha)
11 - Conforto (Cris Braun)
12 - Incapacidade De Amar (Heróis Da Resistência)
13 - Amor Quente (Engenheiros Do Hawaii)
14 - 4 Letras (George Israel)
15 - Olhar Matreiro (Fagner)
16 - Vingança Boba (Fafá De Belém)
17 - Nunca Sofri Por Amor (Joanna e Emílio Santiago)
18 - Blues Dos Anos 2000 (Moska)
19 - Sem Conexão Com O Mundo Exterior (Sandra De Sá)
20 - Onde Todos Estão (A Cor Do Som)

Fonte: http://playlistpessoal.blogspot.com/

1000 ANOS DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Por Bruno Negromonte

2010 foi sem dúvida um ano que marcará a música popular brasileira como o ano do centenário de nada menos que 10 (isso mesmo, são 10!) nomes que de uma forma ou de outra são relevantes dentro da nossa MPB. Se somados são 1000 anos em apenas um, um milênio de geniaidade exacerbada de grandes nomes da nossa música.

Nomes como os já citados Adoniran Barbosa, Haroldo Barbosa, Manezinho Araújo, o celebrado Noel Rosa; além de Custódio Mesquita, Nássara, Luis Barbosa, Jorge Veiga, Vadico e Claudionor Cruz trazem algumas características em comum além do grande talento para a música e para as composições, coincidentemente todos eles nasceram no mesmo ano e há exatamente 100 atrás. Alguns desses nomes já foram citados em postagens anteriores, restando-me abordar apenas sobre os demais para não fazer dessa pauta algo redundante.


Antônio Nássara
Antônio Gabriel Nássara ou Antônio Nássara como era conhecido no meio artístico nasceu em São Cristóvão no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1910, porém foi foi criado em Vila Isabel. O filho de libaneses, começou a compor marchinhas carnavalescas nos anos 30, disputando e vencendo concursos com Lamartine Babo, Noel Rosa (seu vizinho de infância em Vila Isabel) e Ary Barroso. Chegou a frequentar o curso de Belas Artes, mas não se formou. Trabalhou nos jornais Carioca, O Globo, Vamos Ler, A Noite, Diretrizes, O Cruzeiro, Mundo Ilustrado, Flan, Última Hora e Pasquim; pois Nássara além de compositor também era caricaturista.

Seu maior sucesso foi a marcha "Alá-lá-ô", de 1941, em parceria com Haroldo Lobo.

Ficou conhecido por seu estilo de parodiar ou citar composições famosas em suas próprias músicas.

Suas composições mais conhecidas incluem:

Alá-lá-ô (com Haroldo Lobo)
Formosa (com J. Ruy)
Periquitinho verde (com Sá Róris)
Florisbela (com Frazão)
Mundo de Zinco (com Wilson Batista)
Nós Queremos uma Valsa (com Frazão)
Retiro da Saudade (com Noel Rosa)
Meu Consolo É Você (com Roberto Martins)
O Craque do Tamborim (com Luís Reis)
Balzaqueana (com Wilson Batista)
Alegria de Pobre (com Valdemar de Abreu)
Desprezo (com Osvaldinho)

Nássara é tido também como o primeiro autor de um jingle comercial do Brasil.

Ele auto se descrevia dessa maneira:

"Eu me chamo Antônio Gabriel Nássara. Também me assino como Antônio Nássara. Mas me identifico melhor como Nássara. Há os que me chamam por psiu, meu chefe, alô, meu chapa, hei e etc... Sou reservista, 2ª categoria, pela minha carteira sei o seguinte a meu respeito: tenho 1,68 de altura, sou de cor branca, tenho cabelos castanhos (ainda são), a boca regular, o rosto oval, nariz regular. Que leio – sim – que escrevo – sim – que conto – sim (até nove) – outros sinais: calço 38 no inverno – 39 no verão – o mesmo acontecendo com o colarinho. Nascido em São Cristóvão e criado em Vila Isabel, no ex Distrito Federal, hoje Guanabara, que sou vacinado e sabia nadar".


Custódio Mesquita
Compositor, pianista, regente e ator seu nome verdadeiro era Custódio Mesquita de Pinheiro. Tio do produtor cultural carioca Albino Pinheiro. Nasceu no bairro das Laranjeiras de família de classe média alta, aprendeu as primeiras noções de música com a mãe. Seu pai, Raul Cândido de Pinheiro, tocava piano, e lhe ensinou os primeiros acordes. Estudou com o professor Luciano Gallet, que lhe ministrou aulas durante pouco tempo pois o menino só gostava de tocar de ouvido. Estudou depois com o professor Otaviano Gonçalves. Muito indisciplinado foi colocado pela mãe para ser escoteiro no Fluminense Futebol Clube, onde se tornou tocador de tambor. Ficou pouco tempo como escoteiro, mas dessa experiência passou a se interessar pela bateria a qual aprendeu a tocar tanto quanto o piano.

Estudou no Liceu Francês, no Flamengo chegando apenas até a terceira série do antigo curso ginasial. Iniciou a carreira artística por volta dos 18 anos atuando como baterista em conjuntos musicais que se apresentavam no cinema Central.
Entre 1935 e 1937, foi subsecretário a Sbat e em 1945, foi eleito conselheiro dessa entidade, a que estava filiado desde 1933. Não chegou, porém, a tomar posse do cargo porque morreria de crise hepática. Considerado pela imprensa e pelos fans um galã, sempre perfeitamente vestido e penteado, foi uma das principais figuras românticas da era de ouro da radiofonia e dos discos.

1931
Começou a atuar no rádio, inicialmente no "Esplêndido Programa" apresentado por Waldo Abreu na Rádio Mayrink Veiga. Passou em seguida a atuar na Rádio Philips, no Programa Casé. Por essa época começou também a atuar como pianista.

1932
Teve suas primeiras composições gravadas, os fox-canção Dormindo na rua e Tenho um segredo. Nesse ano, foi parceiro de Noel Rosa no samba Prazer em conhecê-lo, gravado por Mário Reis na Odeon.

1933
O mesmo cantor lançou o samba Os homens são uns anjinhos; João Petra de Barros gravou os sambas-canção Palacete de malandro e Conto da carochinha e, Carmen Miranda, o samba Por amor a esse branco. Nesse ano, fez com o radialista Paulo Roberto os fox-canção Canção ao microfone e Cantor do rádio gravados por João Petra de Barros na Odeon. Também no mesmo ano, teve seu primeiro grande sucesso gravado, a marcha Se a lua contasse, lançada na voz de Aurora Miranda na gravadora Odeon. Fez sucesso também com o samba Doutor em samba, com letra e melodia suas gravado por Mário Reis na Victor e que era, veladamente, uma homenagem ao cantor, formado em direito e da alta sociedade carioca.

1934
Voltou a ter composições gravadas por Aurora Miranda, os sambas Câmbio de amor, com Paulo Roberto e Moreno jogador; o samba-canção Moreno cor de bronze e as marchas Eu sou pobre... Pobre..., Juntei os meus trapinhos, Sobe balão e A lua fez feriado.

1935
Atuou em cinco filmes, todos com músicas suas, "Alô, alô Brasil", com direção de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, no qual aparecem as músicas Ladrãozinho, cantada por Aurora Miranda e Fique sabendo, com Elisa Coelho ; "Estudantes", de Adhemar Gonzaga, com a música Onde está o carneirinho, com Aurora Miranda; "Carioca maravilhosa", de Luiz de Barros, com a música Moreno cor de bronze, interpretada por Carmen Miranda; "Noites cariocas", do argentino Henrique Cadicamo, com as músicas Jardineiro do amor, cantada por Lourdinha Bittencourt, Conheço um lugar onde se sonha, Hospedaria internacional e Tabuleiro e, "Favela dos meus amores", de Humberto Mauro. Nesse ano, Aurora Miranda gravou as marchas Coração camarada, com J. Cortez e J. Milton, Cansei de sofrer e Noites cariocas; Silvinha Melo a canção Negra velha e, João Petra de Barros, o fox-trot O que o teu piano revelou, com Orestes Barbosa e a canção Tapera, com Alberto Ribeiro.

1936
Teve gravados os sambas Sambista da Cinelânia, com Mário Lago e Cuíca, pandeiro, tamborim..., por Carmen Miranda; a marcha É noite, com Mário Lago, por Aurora Miranda; o samba Exaltação da favela, com Dan Málio e a marcha Fruto proibido, com Orestes Barbosa, pelas Irmãs Pagãs, e a marcha Menina eu sei de uma coisa, com Mário Lago, por Mário Reis. A revista "O Sambista da Cinelândia", encenada no Teatro Fênix, marcou sua estréia como compositor para teatro.

1937
Fez com Joracy Camargo o choro Quem é?, sucesso na voz de Carmen Miranda e Barbosa Júnior que o gravaram em dueto na Odeon.

1938
Atuou ao lado de Dircinha Batista, e outros no filme "Bombonzinho", dirigido por Joraci Camargo. Nesse ano, teve a valsa Enquanto houver saudade, com Mário Lago, gravada por Orlando Silva na Victor no mesmo disco que tinha o grande sucesso Nada além, fox-canção também feito em parceria com Mário Lago.

1939
Sua marcha Faça de conta, com Mário Lago, foi gravada na Columbia por Emilinha Borba. Ainda neste ano atuou na peça "Carlota Joaquina", de Magalhães Junior, fazendo o papel de D. Pedro I, tendo saído em excursão pelo país com a companhia Jaime Costa, chegando a Belém do Pará onde foi por algum tempo diretor da Rádio Clube do Pará.

1940
Seu fox Céu e mar, com Geysa Bóscoli, a valsa-canção Larãozinho, com David Nasser, e a marcha No meu tempo de criança, foram gravadas por Francisco Alves na Columbia. Nesse ano, teve lançado por Sílvio Caldas um de seus maiores sucessos, o fox-canção Mulher, parceria com Sadi Cabral, com quem assinou também a valsa Velho realejo, lançada com sucesso no mesmo disco. Também nesse ano, Sílvio Caldas gravou com sucesso o samba Preto velho, parceria com Jorge Faraj

1941
Teve três valsas gravadas, O pião, com Sai Cabral e Caixinha de música, por Sílvio Caldas e Bonequinha, com Sadi Cabral por Carlos Galhardo.

1942
Carlos Galhardo gravou a marcha Espera Maria, com versos de René Bittencourt.

1943
Assumiu o cargo de diretor artístico da gravadora RCA Victor, que exerceu até sua morte. Esse ano, por sinal, foi um dos mais férteis de sua carreira. Teve onze composições gravadas, entre as quais, O samba da Beatriz, com Evaldo Rui, gravado por Sílvio Caldas; Olhos negros, fox-canção composto com Ari Monteiro e gravado por Nelson Gonçalves; Os produtos da minha terra, samba registrado por Isaura Garcia e Antigamente era assim, com Ari Monteiro e O homem da valsa, com David Nasser, valsas gravadas por Carlos Galhardo. Gravou nesse ano com sua orquestra cinco disco com obras de Ernesto Nazareth, os choros Brejeiro, Bambino, Escovado, Apanhei-te cavaquinho e Escorregando e as valsas Eponina, Gotas de ouro, Expansiva, Faceira e Coração que sente. Também com sua orquestra acompanhou gravações de Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, João Petra de Barros e Sílvio Caldas. Atuou ainda ao lado de Grande Otelo no filme "Moleque Tião", de José Carlos Burle, sendo bastante elogiado. Nesse filme foram incluídas suas músicas Promessa, Mãe Maria e Pretinho. Ainda em 1943, iniciou fecunda parceria com Evaldo Rui, com o qual compôs trinta músicas, entre as quais o bolero Pra que viver?, gravado por Carlos Roberto e os sambas Pretinho, gravado por Isaura Garcia e Promessa, por Sílvio Caldas.

1944
Fez com Evaldo Rui os sambas Como os rios que correm pro mar, dedicado aos olhos verdes da vedete Iracema Vitória e Noturno em tempo de samba, gravados por Sílvio Caldas; Eu fico e Não faças caso coração, por Isaura Garcia; Olha o jeito desse negro, na voz de Linda Batista; o fox Nossa comédia, gravado por Nélson Gonçalves, que fez bastante sucesso e a valsa Gato escondido, lançada por Carlos Galhardo. Uma das melhores composições desse ano foi o samba Algodão, parceria com David Nasser e gravado por Sílvio Caldas. Também nesse ano, teve registradas por Carlos Galhardo a valsa Gira...gira... gira... e o fox Rosa de maio, parcerias com Evaldo Rui.

1945
Teve sete música gravadas, todas nos dois primeiros meses daquele ano: os sambas Eu fico e Não faças caso coração, lançados por Isaura Garcia, o samba Feitiçaria e o fox Sim ou não, por Sílvio Caldas; o fox Voltarás e a Valsa de quem não tem amor, por Nélson Gonçalves, todas em parceria com Evaldo Rui e o samba-choro Flauta, cavaquinho e violão, com Orestes Barbosa, gravado por Aracy de Almeida. Sua última composição, que teve letra de Freire Júnior, chamava-se Despedida. Foi considerado um compositor de melodias elaboradas e que em muitas delas antecipou arranjos que somente seriam vistos durante a bossa nova como serão possivelmente os casos de Promessa e Noturno em tempo de samba. A sua principal composição, o samba-canção Saia do caminho, com Evaldo Rui, somente foi gravada mais de um ano depois de sua morte, por Aracy de Almeida na Odeon. No mesmo ano, o samba Viva o samba, também com Evaldo Rui e até então inédito, foi lançado por Linda Batista na Victor.

1949
O samba-canção Adeus, com Evaldo Rui foi gravado por Dircinha Batista e a valsa Beduína, com Davi Nasser, foi gravada por Francsico Alves.

1952
Carlos Galhardo regravou o fox Mulher, parceria com Sadi Cabral.

1954
Orlando Silva regravou o samba Feitiçaria, com Evaldo Rui.

1956
Cauby Peixoto regravou na Victor o fox-canção Nada além, Roberto Paiva na Odeon o samba Preto velho e Dalva de Oliveira na Odeon o samba-canção Saia do caminho, com Evaldo Rui.

1957
A marcha Se a lua contasse foi gravada de forma instrumental por Lindolfo Gaya e seu conjunto.

1958
Ângela Maria regravou o samba Promessa e o samba-canção Saia do caminho.

1961
Dalva de Oliveira regravou o samba Não faças coração, com Evaldo Rui.

1963
Lindolfo Gaya regravou com sua orquestra a valsa Velho realejo, que foi regravada dois anos depois por Jair Rodrigues na Philips.

1968
O choro Quem é?, com Joracy Camargo foi regravado na Philips pela musa da bossa nova Nara Leão.

1974
Gal Costa regravou Saia do caminho, em disco Philips. A mesma música seria regravada três anos depois por Nana Caymmi na CID e por Miúcha e Tom Jobim na RCA Victor. No mesmo ano, Maria Bethânia regravou o samba Promessa na Philips.

1983
Cauby Peixoto regravou o fox-canção Mulher.

1986
O pesquisador Bruno Ferreira Gomes lançou pela Funarte o livro "Custódio Mesquita - Prazer em conhecê-lo".

2000
Teve as músicas Se a lua contasse, na voz e Aurora Miranda e Saia do caminho, na voz de Aracy de Almeida relançadas pela EMI/Odeon na série "Ídolos do Rádio - volume 1".

2002
O professor Orlando de Barros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro lançou nova biografia do compositor, "Custódio Mesquita - Um compositor romântico no tempo de Vargas".


Vadico
Vadico (Osvaldo de Almeida Gogliano), compositor, regente e instrumentista, nasceu em São Paulo SP, em 24/6/1910 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 11/6/1962. Filho de imigrantes italianos do bairro do Brás, todos seus irmãos eram músicos: Carlos tocava flauta e sax, Rute formou-se em piano e harmonia e Dirceu fez o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Começou a interessar-se por música aos 16 anos e aos 18 deixou a profissão de datilógrafo, para tocar piano em público pela primeira vez, apresentando-se num hotel em Poços de Caldas MG.
No mesmo ano venceu um concurso de música popular recebendo medalha de ouro com sua primeira composição, a marcha Isso mesmo é que eu quero. Em 1929, seu samba Deixei de ser otário foi incluído no filme Acabaram-se os otários (dirigido por Luís de Barros); essa foi sua primeira composição gravada, na Odeon, por Genésio Arruda. Por essa época, já fazia trabalhos de orquestração e enviou um samba para o Rio de Janeiro, Arranjei outra (com Dan Mallio Carneiro), que foi gravado por Francisco Alves em 1930. Isso o encorajou a dedicar-se somente à música, aperfeiçoando seus estudos de piano.

Em 1931 foi para o Rio de Janeiro, onde, por intermédio de Eduardo Souto, teve seu samba Silêncio gravado por Luís Barbosa e Vitório Lattari. Dois anos depois, o mesmo Eduardo Souto o apresentou a Noel Rosa no estúdio da Odeon. Ouvindo uma de suas composições, Noel aceitou a sugestão de Souto para fazer a letra, e dois dias mais tarde estava pronto o Feitio de oração, o primeiro dos seus sambas que teve Noel como letrista e que foi gravado em 1933, na Odeon, por Francisco Alves e Castro Barbosa.

Seguiram-no Feitiço da Vila, Provei, Quantos beijos e Só pode ser você. Musicou depois os versos de Noel Rosa: Conversa de botequim, Cem mil-réis, Tarzan (O filho do alfaiate), Pra que mentir e a Marcha do dragão (publicitária).

Por essa época, também atuou como pianista em diversas escolas de dança, e em 1934 foi contratado por Luís Americano para tocar na boate Lido, substituindo-o, posteriormente, na direção da orquestra. Quatro anos depois tocou durante alguns meses no Cassino Tênis Clube de Petrópolis RJ.

Em 1939 foi com a Orquestra Romeu Silva para os E.U.A., para atuar no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de New York, estreando em junho. Permaneceu naquele país até novembro, tendo gravado transmissões para o Brasil na National Broadcasting Corporation. Retornou ao Brasil com Romeu Silva, passando a apresentar-se com a orquestra deste na Feira de Amostras do Rio de Janeiro.

Voltou a New York em abril de 1940, para a reabertura da Feira Mundial. Com o encerramento da mostra em outubro daquele ano, foi para Hollywood, onde se encontrou com Zé Carioca e passou a trabalhar na gravação das músicas do filme Uma noite no Rio (That Nightin Rio, de Irving Cummings), com Carmen Miranda.

No ano seguinte, a pedido da Universal Pictures, compôs para um filme o samba Ioiô, que teve letra de Nestor Amaral. Continuou como pianista de Carmen Miranda e do Bando da Lua, fazendo também várias orquestrações para filmes em que estes atuavam, como Weekend in Havana (Aconteceu em Havana, direção de Walter Lang, 1941) e Springtime in the Rockies (Minha secretária brasileira, direção de Irving Cummings, 1942), além de outros.

Em 1943 fez shows em teatros e night clubs, sendo convidado no mesmo ano por Walt Disney, que o pediu emprestado à Twentieth Century Fox por cinco dias, para musicar o desenho de longa metragem Saludos, amigos, em que o personagem Zé Carioca aparece como símbolo do Brasil.

Em 1944 participou de shows com Carmen Miranda e o Bando da Lua, apresentados nas bases da Marinha, em San Francisco, E.U.A. No ano seguinte atuou no restaurante Latin Quarter. Nesse mesmo ano de 1945, deixou de atuar com Carmen Miranda e o Bando da Lua, passando a integrar orquestras norte-americanas. Estudou harmonia, contraponto, composição musical, orquestração e regência, com Mario Castelnuovo-Tedesco (1895-1968).

Em 1948 acompanhou Carmen Miranda em sua temporada em Londres. Em 1949 entrou para a companhia da bailarina Katherine Dunham, como regente de orquestra, excursionando pelos E.U.A., Europa e América do Sul.

Em agosto de 1951 deixou a companhia em Kingston, Jamaica, e foi para New York trabalhar com uma orquestra cubana. Três anos depois, retornou ao Brasil definitivamente, atuando com Os Copacabana, na boate Casablanca, em 1956, passando depois a tocar piano somente em gravações e a fazer orquestrações para a Continental e a Rádio Mayrink Veiga.

No início de 1957 ingressou como diretor musical na TV-Rio, em substituição a Osvaldo Borba. No ano seguinte voltou a trabalhar com Os Copacabana, atuando no dancing Brasil e depois no Avenida. Em 1959 deixou Os Copacabana e foi para o Fred's, até que em janeiro de 1960 foi contratado pelo Sacha's.

Gravou em 1962 na etiqueta Festa o LP Festa dentro da noite. Seus principais parceiros foram Noel Rosa e Marino Pinto, este último letrista de Prece, que considerava sua obra-prima.

Obras
Cem mil-réis (c/Noel Rosa), samba, 1936; Conversa de botequim (c/Noel Rosa), samba, 1935; Feitiço da Vila (c/Noel Rosa), samba, 1934; Feitio de oração (c/Noel Rosa), samba-canção, 1933; Mais um samba popular (c/Noel Rosa), samba, 1934; Pra que mentir (c/Noel Rosa), samba, 1934; Prece (c/Marino Pinto), samba-prelúdio, 1958; Provei (c/Noel Rosa), samba, 1936; Quantos beijos (c/Noel Rosa), samba, 1936; Só pode ser você (c/Noel Rosa), samba, 1936; Súplica (c/Marino Pinto), samba-canção, 1956; Tarzã, o filho do alfaiate (c/Noel Rosa), samba, 1936.


Jorge Veiga
Jorge Veiga (Jorge de Oliveira Veiga), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 6/12/1910 e faleceu em 29/5/1979. Nascido no subúrbio do Engenho de Dentro, trabalhou desde menino como engraxate, vendedor de bananas e em biscates. Costumava cantarolar enquanto trabalhava, e sua oportunidade surgiu quando executava serviços de pintor de paredes num armazém cujo proprietário tinha contatos na Rádio Educadora do Brasil.

Levado ao Programa Metrópolis, estreou em 1934, cantando no estilo de Sílvio Caldas, um dos intérpretes de maior prestígio na época. Por influência de Heitor Catumbi e, depois, Rogério Guimarães, resolveu mudar de estilo.

Integrante do elenco da Rádio Tupi a partir de 1942, o cantor firmou-se sobretudo como intérprete de sambas malandros e anedóticos e ainda de sambas de breque, característica marcante de seu repertório, merecendo de Paulo Gracindo, em cujo programa atuava, o nome de Caricaturista do Samba. Estreou no disco com a gravação do samba Iracema (Raul Marques e Otolino Lopes), grande sucesso do Carnaval de 1944.

Nos anos seguintes alcançou novos êxitos, interpretando Rosalina e Cabo Laurindo (ambas de Haroldo Lobo e Wilson Batista) e Na minha casa mando eu (Ciro de Sousa), em 1945; Vou sambar em Madureira (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e Pode ser que não seja (Antônio Almeida e João de Barro), em 1946.

No Carnaval de 1947, sua interpretação da marcha Eu quero é rosetá (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), alcançou enorme sucesso. Na Rádio Tupi, e a partir de 1951 na Rádio Nacional, ficou famoso pela fórmula, criada por Floriano Faissal, com a qual iniciava seus programas: "Alô, alô senhores aviadores que cruzam os céus do Brasil, aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Estações do interior, queiram dar os seus prefixos para guia de nossas aeronaves".
Como compositor, em 1955 lançou, em parceria com José Francisco (Zé Violão), o samba Aviadores do Brasil, entre outros. Durante a década de 1950, obteve seus maiores sucessos com as gravações dos sambas Estatutos de gafieira (Billy Blanco), lançado em 1954, e Café Soçaite (Miguel Gustavo), em 1955.

No ano seguinte lançou o LP Boate Tralalá, cuja música-título é de Miguel Gustavo. Bigorrilho (Paquito, Sebastião Gomes e Romeu Gentil) foi grande êxito no Carnaval de 1964. Em 1971 gravou, com Ciro Monteiro, o LP De leve, pela RCA Victor, em que cantaram seus respectivos repertórios, em dupla ou sozinhos. Em 1975 gravou na Copacabana o LP O melhor de Jorge Veiga.

Músicas cifradas e letras: Acertei no milhar, Bigorrilho, Brigitte Bardot, Café Soçaite, Estatutos de gafieira, História da maçã, Iracema, Na cadência do samba, Noiva da gafieira, Perdeu-se uma valise, Que bate fundo é esse?, Rosalina, Senhor Comissário, Vou te abandonar.


Claudionor Cruz
Claudionor Cruz (Claudionor José da Cruz), compositor e instrumentista, nasceu em Paraibuna SP 1/4/1914-?, e faleceu em 21/6/1995. Filho de mestre-de-banda, seus irmãos tocavam trombone, pistom e bombardino, enquanto ele tocava caixa. Começou a aprender música desde pequeno e estudou com o maestro Peixoto. Iniciou carreira profissional tocando cavaquinho, em vários conjuntos, até formar o Claudionor Cruz e seu Regional. De 1932 a 1969, atuou nas rádios Tupi, Nacional, Globo e Mundial, e na TV-Rio e TV Educativa, no Rio de Janeiro RJ, e na TV Excelsior e TV Cultura, de São Paulo SP.

Em 1935, sua primeira composição, Tocador de violão (com Pedro Caetano), foi gravada na Odeon por Augusto Calheiros. Nessa época, passou a tocar violão tenor. Durante as décadas de 1940 e 1950, seu regional foi o grande rival do conjunto de Benedito Lacerda, com o qual revezava nas gravações e nas rádios.

Com ele atuaram os músicos Abel Ferreira, Portinho, Bola Sete, Arlindo Ferreira, Freitas, Araújo e Jair do Pandeiro. Foi parceiro de Pedro Caetano e Ataulfo Alves em dezenas de músicas, entre as quais Caprichos do destino (com Pedro Caetano), gravada por Orlando Silva em 1938, Eu brinco (ou Com pandeiro ou sem pandeiro) (com Pedro Caetano), gravada por Francisco Alves para o Carnaval de 1944, e Sei que é covardia (com Ataulfo Alves), gravada por Carlos Galhardo para o Carnaval de 1939.

Compôs também ao lado de André Filho, Wilson Batista, Dunga, Freitinhas e Portinho, além de fazer gravações e shows com Orlando Silva, Francisco Alves, Dircinha Batista, Linda Batista, Ângela Maria, Araci de Almeida, Isaurinha Garcia, Gilberto Alves, Deo e João Petra de Barros. Durante muitos anos foi baterista, trabalhando também como vendedor de livros e operador de carga do cais do porto.

Desde a fundação dirigiu seu Regional, só abandonando essa atividade quando a música estrangeira invadiu as rádios. Com mais de 400 gravações, foi homenageado em agosto de 1995 no espetáculo Um poema na terra, no Espaço BNDES, Rio de Janeiro.


Luis Barbosa
Luís Barbosa (Luís dos Santos Barbosa), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 7/7/1910 e faleceu em 8/1 0/1938. Irmão do compositor Paulo Barbosa, do humorista e cantor Barbosa Júnior e do radialista Henrique Barbosa, começou sua carreira na Radio Mayrink Veiga, no Esplêndido Programa, de Valdo Abreu, em 1931, logo se destacando por sua personalidade na interpretação de sambas, reforçada pela novidade da utilização de “breques”.

Foi também o introdutor do chapéu de palha como acompanhamento rítmico, nos programas de rádio e em gravações. Seus primeiros sucessos foram as interpretações de Caixa Econômica (Nássara e Orestes Barbosa) e Seu Libório (João de Barro e Alberto Ribeiro).

Em 1931 gravou na Odeon seus primeiros discos: os sambas Meu santo (Pedro Brito), Silêncio (Vadico), Não gostei de seus modos (Amor) e Sou jogador (de sua autoria), e as marchas Vem, meu amor (Pedro Brito e Milton Amaral) e Pega, esta também de sua autoria.

Na Victor, em 1933, gravou o primeiro samba de Wilson Batista, Na estrada da vida, e em seguida o samba Adeus, vida de solteiro, além do samba-canção Jamais em tua vida, ambos do compositor e pianista Mano Travassos de Araújo, que o acompanhou ao piano. No mesmo ano, a convite de Jardel Jércolis, passou a se apresentar todas as noites no Teatro Carlos Gomes, cantando juntamente com Deo Maia o samba No tabuleiro da baiana (Ary Barroso), que seria gravado por ele em dupla com Carmen Miranda, na Odeon, em 1937.

Em seguida gravou, na Victor, a marcha Quem nunca comeu melado (com Jorge Murad), o samba Bebida, mulher e orgia (Luis Pimentel, Anis Murad e Manuel Rabaça), o samba Cadê o toucinho e a marcha Eu peço e você nao dá (ambos de Nássara e Antônio Almeida), e os sambas Lalá e Lelé (Jaime Brito e Manezinho Araújo), Risoleta (Raul Marques e Moacir Bernardino), Perdi a confiança (Rubens Soares e Ataulfo Alves) e Já paguei meus pecados (Leonel Azevedo e Germano Augusto).

Entre 1935 e 1937 gravou uma série de sambas de breque de Antônio Almeida e Ciro de Sousa, com acompanhamento ao piano de Mário Travassos de Araújo. No Carnaval de 1936, fez sucesso com a gravação da marchinha de Antônio Almeida e A. Godinho Ó! ó! não, que inicialmente era um anúncio da Drogaria Sul-Americana, do Rio de Janeiro.

A vida de boêmio interrompeu o sucesso de sua curta mas extraordinariamente marcante carreira, tendo morrido tuberculoso em casa de sua família, na Tijuca, em 1938.

Dois álbuns bastante interessantes sobre dois dos artistas aqui presentes (Nássara e Claudionor Cruz) podem ser adquiridos através do endereço:


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

LEILA PINHEIRO, 50 ANOS

Leila Toscano Pinheiro é paraense, de Belém. Do seu nascimento, na primavera de 1960, ao primeiro disco, duas décadas depois. Tempo suficiente para que a linha da voz cerzisse irreversivelmente sua história no linho da música. A música, Leila descobre ainda menina. Aos 5 anos, suas primeiras inclinações musicais são registradas pelo pai Altino num gravador de rolo. Dos 10 aos 14 anos, Leila freqüenta as aulas do Instituto de Iniciação Musical, de sua tia Arlette. É nessa época que ela deixa de lado a teoria musical do Instiuto e passa a aprender com Guilherme Coutinho, músico de talento e presença importante no cenário musical de Belém. Durante a adolescência de Leila, nos efervescentes anos 70, seu pai, Altino Pinheiro, inspirado tocador de gaita de boca, ouve LPs de Elizete Cardoso, Elis Regina, Os Cariocas, Nara Leão... apaixonado por música e band leader caseiro, Seu Altino forma, ao lado dos quatro filhos, uma banda para canjas diárias no palquinho improvisado na sala de jantar. Leila toca piano e canta, o irmão mais velho de Leila, Alberto, fica com o violão, a irmã mais nova, Vera, com a bateria e a caçula, Marisa, com a percussão. No repertório, sucessos de Chico Buarque, Gonzaguinha, Joyce e Elis. Paralelamente, o inquieto cenário musical do país leva para Leila o som da Jovem Guarda e dos tropicalistas.

Na virada da década de 70, a dobradinha de Guilherme Coutinho com o cantor paraense Walter Bandeira incentiva em Leila a vontade – nessa época, latente - de cantar. Hoje, os dois músicos estão numa espécie de marco zero da estrada musical da cantora - embora o comando dessa narrativa tenha sempre cabido à própria Leila. A dupla compôs especialmente para ela, Leila deu canjas na noite e ainda ganhou reforço no aprendizado de piano. É nesse momento que surge boa parte do repertório do show “Sinal de Partida”, o primeiro de Leila.

Em outubro de 1980, Leila faz sua estréia no Theatro da Paz, o mais importante de Belém, com o show “Sinal de Partida”. O mote é explícito. A glosa é cada passo dali em diante. Para Leila, a sístole-diástole da ilusão incurável de alma de artista, de perseguidora de sonhos, de mulher desdobrável. Em 1981, Leila finca o pé na estrada. Ela deixa Belém, com um curso de medicina no meio do caminho e uma possibilidade de cantora na garganta.

O Rio da década de 80 não era o mesmo Rio da bossa nova, aquela enorme Ipanema, balneário do amor, do sorriso e da flor. É nesse Rio que a voz de Leila desembarca em maio de 1981. Convidada por Jane Duboc, também cantora e paraense, Leila vai assistir às gravações de “SEDUÇÃO”, LP de Maria Creusa, quando conhece Raymundo Bittencourt, produtor daquele trabalho. O episódio resulta em “LEILA PINHEIRO”, disco de estréia de Leila, que começa a ser gravado dois meses depois desse encontro e é lançado de forma independente em 1982. O disco de estréia anuncia o que vai passar na trajetória musical da cantora. Logo no primeiro capítulo, já aparecem convidados ilustres, como Tom Jobim – em “Espelhos das Águas” e Ivan Lins – em “Mãos de Afeto”.

Alguns shows na noite depois do lançamento de “LEILA PINHEIRO”, em 1985, a fita demo inscrita por Leila no Festival dos Festivais – o penúltimo grande festival de música realizado no país, promovido naquele ano pela TV Globo – cai nas mãos de Cesar Camargo Mariano, um dos responsáveis pela escolha dos artistas do evento. Ele convida Leila para defender o samba “Verde”, de Eduardo Gudin e José Carlos Costa Netto.



A canção é premiada com o terceiro lugar no pódium e Leila leva para casa o prêmio de cantora revelação do festival. “Verde” também a coloca na mira da PolyGram. Tiro certeiro. Convidada por Roberto Menescal, então diretor artístico da empresa, em meados de 1986, Leila lança seu primeiro disco por uma grande gravadora: “OLHO NU”, título pinçado do samba de Gilberto Gil. Desse trabalho, Leila resgata para o songbook “Verde” e “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, de Frejat e Cazuza. Lançado em 1988 com apresentação de Renato Russo, “ALMA” lapida vastas e profundas emoções. Dentre elas, “Besame”, de Flavio Venturini e Murilo Antunes, o segundo hit na voz de Leila. “Tempo Perdido”, ícone da geração 80 cantado pela Legião Urbana dois anos antes, ganha contorno romântico de íntima beleza, além de uma inestimável canção de Edu Lobo e Chico Buarque, “Abandono”, composta para o Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba.

Em 1989, a bossa nova completava seu trigésimo aniversário, se contado a partir do lançamento do LP “CANÇÕES DO AMOR DEMAIS”, de Elisete Cardoso, em 1958 – espécie de certidão de nascimento do movimento, na opinião de muitos conhecedores da história musical. A Nippon Phonogram, filial japonesa da PolyGram, decide homenagear essa data com uma obra dedicada a essas canções. Roberto Menescal convida Leila para um mergulho nas canções da bossa. Em 1989, “BÊNÇÃO, BOSSA NOVA” apresenta uma panorâmica do movimento, acomodando a obra de seus criadores em dez luminosos medleys. Entre eles, um formado por “Lobo bobo / Se é tarde me perdoa / O Barquinho” e outro por “Nós e o mar / Mentiras / Preciso aprender a ser só”.

Paisagem da diversidade momentânea e um dos primeiros registros acústicos num momento em que os instrumentos andavam plugadíssimos, “OUTRAS CARAS”, lançado em 1991, é um ensaio democrático: traz de Walter Franco, com “Serra da Luar”, a Guinga - com Aldir Blanc, em “Esconjuro” e com Paulo Cesar Pinheiro, em “Noturna”.

“COISAS DO BRASIL”, de 1993, tem o toque de César Camargo Mariano nos teclados e arranjos de valiosos standards, como “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque, “Vai passar”, de Chico com Francis Hime e “Primavera”, de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. A voz de Leila sublinha a beleza de “Coisas do Brasil”, pop bossanovista de Guilherme Arantes e Nelson Motta, e “Gostava tanto de você”, de Edson Trindade. O disco traz a segunda leitura de Leila do pop da Legião Urbana, desta vez com “Monte Castelo”, elegia que une a epístola aos Coríntios e a lírica de Luís de Camões à poesia de Renato Russo.

Em maio de 1994 Leila passa a integrar o cast da EMI Music. No mesmo ano é lançado “ISSO É BOSSA NOVA”, um novo e explícito mergulho no baú da bossa, desta vez com leitura totalmente acústica. O trabalho oferece biscoitos finos da bossa cantados com suas harmonias originais, como “Discussão”, de Tom e Newton Mendonça, “Sem mais adeus”, de Francis Hime e Vinícius e, dele com Carlinhos Lyra, “Sabe você”.

Navegadora atenta desde sempre, é no fluir das canções caudalosas que Leila baldeia. É com o brilho dos olhos de quem escolheu os frutos mais bonitos do pomar que ela apresenta “CATAVENTO E GIRASSOL”. O disco, lançado em 1996, traz, além da polpa suculenta da parceria de Guinga e Aldir Blanc, sua primeira atuação como produtora executiva. Intimidade com o violão de Guinga Leila tem de sobra. O amor pela obra do compositor ela cultiva em fitas gravadas desde 1983, quando Pepê Castro Neves, seu professor de canto, levou o compositor para uma tarde musical na casa de Leila.

Sem brechas para as corredeiras oportunistas – e traiçoeiras - do mercado, as escolhas de Leila em CATAVENTO E GIRASSOL catapultam para um público jamais imaginado a rica tapeçaria musical que a poesia de Aldir Blanc borda no violão de Guinga. Cercada de músicos como Lula Galvão, Jorge Helder, Paulo Bellinati, Paulo Sérgio Santos, Jurim Moreira, Claudio Roditi, do próprio Guinga e de vários outros craques, além dos arranjos de Jorge Calandrelli, Leila faz de cada canção, uma apologia ao renascimento da (excelente) música brasileira. A beleza irretocável da obra é evidente e facilmente detectável. Para constatar é só ouvir o samba-choro “Catavento e Girassol”, as valsas “Exasperada”, e “Valsa para Leila”, esta recortada pela gaita (harmônica de boca) de Altino Pinheiro, pai da cantora. Ou então, se divertir com a ironia de “Coco do Coco” ou com o transe de “Baião de Lacan”.

A carreira de Leila é pródiga em dizer com clareza: não há água que ela não beba e não há o que ela não diga na ponta da língua. Em meados de 1997, ainda itinerando com o show “Catavento e Girassol”, Leila foi arrebanhando canções em pequenas audições improvisadas em quartos de hotéis com compositores e músicos das cidades por onde passava. Indiretamente surgem os primeiros tons do repertório que baseou Leila para gerar “NA PONTA DA LÍNGUA”. “NA PONTA DA LÍNGUA”, também produzido por Leila, é praticamente um contraponto ao trabalho anterior, “CATAVENTO E GIRASSOL”, integralmente dedicado à arrebatadora parceria de Guinga e Aldir Blanc. Dois anos depois, em 1998, Leila bebe outras águas e garimpa entre compositores e poetas da sua geração o destino da sua voz para aquele momento. Aí está o quê de inesperado de “NA PONTA DA LÍNGUA”: reunir, num mesmo trabalho, um punhado de canções compostas por seus contemporâneos de década. Um dado novo à sua discografia, sempre talhada na madeira de lei dos talentos máximos da música brasileira, em sua maioria de gerações anteriores à sua. Quem a ouve hoje percebe que ela quer menos contemplação e mais participação. O essencial, que é o amor pela música, está no suingue dengoso de “Abril”, de Adriana Calcanhotto, na melancolia esperançosa da elegíaca “Vento no Litoral”, de Bonfá, Renato Russo e Dado e no casamento feliz da caneta de Alvin L com o violão de Sérgio Santos em “Pra dizer a verdade”. “Mais uma Boca”, da irrepreensível Fátima Guedes, “Sentado à beira do caminho”, dos indefectíveis Roberto e Erasmo e a parceria inédita de Eduardo Gudin e Paulinho da Viola no samba “Ainda Mais”, completam as escolhas de Leila.

A densidade musical de cada página deste volume diz o que Leila Pinheiro vem dizendo na ponta da língua desde sempre.


Cronologia
1960 - Nasce no dia 16 de outubro de 1960 em Belém, capital do estado do Pará.

1970 - Começa seus estudos de piano no Instituto de Iniciação Musical.

1974 - Desiste das aulas teóricas de música e passa a estudar piano com Guilherme Coutinho, músico paraense de grande prestígio em Belém.

1980 - Abandona, no segundo ano, o curso de medicina da FEMP - Faculdade do Estado do Pará. Estréia em outubro, no Teatro da Paz, em Belém, o show SINAL DE PARTIDA, optando definitivamente pela carreira de cantora.

1981 - Em maio, muda-se para o Rio de Janeiro. Logo após a sua chegada, conhece através de Jane Duboc, Raimundo Bittencourt, que produz LEILA PINHEIRO, seu primeiro disco, gravado de forma independente durante os anos de 81 e 82 e lançado em 1983, com participações especiais de Tom Jobim, João Donato, Ivan Lins, Francis Hime e Toninho Horta.

1983 - Lançamento do disco "Leila Pinheiro" e primeira apresentação no Rio de Janeiro, na Sala Funarte, ao lado do compositor Sérgio Ricardo.

1984 - Viaja com o Zimbo Trio para a Colômbia e canta em Bogotá e Barranquilla.

1985 - A convite de César Camargo Mariano defende a canção "Verde" (Eduardo Gudin - José Carlos Costa Netto) no Festival dos Festivais, realizado pela TV Globo. Verde é classificada em terceiro lugar e Leila recebe o prêmio de cantora revelação.

1986 - Convidada por Roberto Menescal, então diretor artístico dessa gravadora, assina contrato com a PolyGram. Distribuído simultaneamente no Brasil e no Japão, o disco "Olho Nu", produzido por João Augusto, tem a participação especial do guitarrista americano Pat Metheny. Este trabalho leva Leila pela primeira vez ao Japão, como representante do Brasil no 17º Festival Mundial Yamaha, no qual é premiada como melhor intérprete. O disco tem vendagem significativa e, muito bem aceito pela crítica, o show "Olho Nu" é mostrado em algumas cidades brasileiras.

1987 - Recebe da ABPD - Associação Brasileira de Produtores de Disco, o Troféu Villa Lobos, como revelação feminina de 87. Em Portugal, representa a Rede Globo de Televisão e o Brasil no 16º Festival da OTI - Organização das Televisões Íbero-Americanas, com a canção Estrela do Norte (Eduardo Gudim - José Carlos Costa Netto).

1988 - Seu terceiro disco, "Alma", produzido por Renato Correa, sai em março, pela PolyGram, lançado também no Japão. Em junho, participa do Projeto Pixinguinha ao lado de Wagner Tiso e excursiona pelo Brasil.

1989 - Em janeiro renova o contrato com a gravadora PolyGram. É convidada por Roberto Menescal para ser a intérprete de um disco comemorativo dos 30 anos da Bossa Nova a ser lançado no mercado japonês, através da Nippon Phonogram. Produzido e arranjado pelo próprio Menescal, um dos criadores da bossa nova, o disco "Bênção, Bossa Nova", uma coletânea com as mais representativas canções do estilo, é lançado com grande êxito no Brasil.

1990 - O disco "Bênção, Bossa Nova" atinge 200 mil cópias vendidas - marca nunca alcançada por esse gênero de música no Brasil. Leila continua a excursão do show "Bênção, Bossa Nova", ao lado de Roberto Menescal.

1991 - Participa, ao lado de Carlos Lyra, Verônica Sabino, Leny Andrade, Os Cariocas e Johnny Alf, da Noite da Bossa Nova do 1o Rio Show Festival, em maio, apresentando-se com Roberto Menescal e banda. Lança em julho, pela PolyGram, "Outras Caras", seu quinto disco, também produzido por Roberto Menescal e lançado no Japão.



1992 - Continua a turnê de "Leila - Outras Caras", show dirigido por Nelson Motta.

1993 - Em julho grava o último disco pela PolyGram, "Coisas do Brasil", produzido e arranjado por César Camargo Mariano. Este trabalho vai para o palco como "Leila Pinheiro Solo". Pela primeira vez, a cantora se acompanha ao piano durante toda a apresentação. "Coisas do Brasil" ganha disco de ouro. Em novembro, apresenta-se pela primeira vez na Europa: Bélgica (Bruxelas), Holanda (Nijmegen), França (Paris) e Espanha (Barcelona).

1994 - Assina contrato com a gravadora EMI-Music em maio.
"Isso é Bossa Nova", produzido por João Augusto, é lançado no final de outubro, chegando também ao disco de ouro.

1995 - Estréia no Palace, em São Paulo, no mês de maio, o show "Isso é Bossa Nova", com direção de José Possi Neto. No palco, uma orquestra de 16 músicos (violinos, violas, cellos) e um quarteto acústico (piano, baixo, bateira e violão), seguem pelas principais capitais brasileiras. A tournée é encerrada no Canecão, Rio de Janeiro, em agosto. Recebe da Gafieira Estudantina o troféu "Destaque do Ano".

1996 - Grava e produz entre março e maio "Catavento e Girassol". O trabalho, inteiramente dedicado à obra de Guinga e Aldir Blanc, estreia no Canecão, em agosto, dirigido pela atriz Claudia Jimenez. Em novembro, volta ao Canecão participando do show Aldir Blanc - 50 anos, em homenagem ao cinqüentenário de nascimento do poeta.

1997 - Em janeiro e março participa das temporadas do show "Vivendo Vinicius", no Metropolitan, Rio de Janeiro. O show homenageia Vinicius de Moraes e reúne, no palco, seus parceiros Toquinho, Carlos Lyra e Baden Powell, além de Leila, que canta parcerias do poeta com Tom Jobim.

Entre junho e julho faz temporada no Teatro Rival, Rio. Acompanhada pelo quinteto Nó em Pingo d'Água e pelo violonista Lula Galvão, apresenta uma versão renovada do Show Catavento e Girassol e recebe, como convidados, Ivan Lins, Guinga e Maogani Quarteto de Violões.

Em setembro, viaja para os Estados Unidos, convidada por Ivan Lins para acompanhá-lo em sua turnê americana. Faz participações especiais nos shows do compositor brasileiro apresentando-se em 11 cidades. A turnê é finalizada em outubro, no Blue Note, em Nova Iorque.

Ainda em outubro, volta à Nova Iorque para participar do Show All Jobim, no Carnegie Hall. O show-tributo a Tom Jobim tem a direção musical de Cesar Camargo Mariano e as participações de Ivan Lins, Dori Caymmi, Al Jarreau, Joe Lovano, Eugene Malov e Sharon Isbin. E dos músicos Paulinho Braga, Café e Nilson Matta.

Em dezembro inicia a pré-produção de seu novo disco. Faz, desta vez, o caminho inverso: sai em busca de novos compositores, músicos e poetas,começando por Belo Horizonte, indo depois para São Paulo, Recife e Maceió.

1998 - No Rio, o estúdio Discover abriga, entre abril e junho a gravação de Na Ponta da Língua, o nono disco da carreira de Leila, lançado em setembro pela EMI Music. Esse trabalho, de canções inéditas em sua grande maioria, privilegia o discurso contemporâneo e afiado de compositores como Adriana Calcanhotto, Marina Lima, Alvin L., Roberto Frejat e Dulce Quental e Renato Russo. O CD, cujo título vem de uma canção minimalista de Walter Franco, também traz composições de Aldir Blanc (em duas parcerias: uma bissexta com Ivan Lins e outra, sempre ousada, com Guinga), um clássico de Roberto e Erasmo Carlos, outro de Fátima Guedes, além do belo samba de Eduardo Gudin letrado por Paulinho da Viola e da estréia da dupla Sérgio Santos e Alvin L.

Ainda em junho faz uma participação especial no show da Velha Guarda da Mangueira em homenagem aos 90 anos de Cartola, no Espaço das Artes, Rio de Janeiro. Vai à Portugal, em Lisboa, gravar pela RTP - Rádio e Televisão Portuguesa - o programa Atlântico ao lado do músico português Rui Veloso, de Eugenia Melo e Castro e Nelson Motta.

Em julho se apresenta no II Festival de Inverno da Chapada Diamantina, em Vila Igatu, Bahia.

No final de agosto Leila se apresenta em Nova York, na concha acústica do Damrosch Park, no Lincoln Center, para mais de 8 mil pessoas. O show Brazilfest, tem também a participação de Bebel Gilberto, Patricia Marx, Carol Saboya e do grupo de câmara Quinteto D’Ellas.

Em setembro lança seu nono CD "Na PONTA DA LÍNGUA" , com um pocket-show para convidados e jornalistas no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, no Rio. No mesmo mês, pelo projeto "Novo Canto", apresenta o cantor Augusto Martins.

Em outubro, é homenageada pela Gafieira Elite, uma das mais tradicionais do Rio.

No final do ano, em dezembro, acontecem os primeiros shows com algumas canções de NA PONTA DA LÍNGUA em Maceió, Recife e Fortaleza.


1999 - O ano começa com Leila no palco do Sesc-Pompéia, na capital paulista, ao lado do Ivan Lins e do MPB-4 numa noite de homenagens à bossa nova.

Em fevereiro, na mesma cidade, faz no Memorial da América Latina um espetáculo único para o Projeto Verão Musical, da Rádio Musical FM no qual canta e toca composições de Guinga, ao lado do próprio compositor, além dos violonistas Paulo Bellinati e Lula Galvão. Ainda em fevereiro Leila estréia no carnaval da Bahia, em Salvador, no trio de Margareth Menezes, como convidada da cantora baiana.

Em abril, grava o clipe da canção "Abril", dirigida por Isabel Diegues, ao ar livre, na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro; a autora da música, Adriana Calcanhotto faz uma aparição especial no clipe. Nesse mês, Leila se apresenta para milhares de pessoas no Parque Ibirapuera em São Paulo, ao lado de Ivan Lins e da Orquestra Jazz Sinfônica. Ao lado do sambista Walter Alfaiate grava "Sacode, Carola" para o CD "CASA DE SAMBA 3" (Universal Music). Paralelamente, acontecem os ensaios do show NA PONTA DA LÍNGUA.

Em maio, o show NA PONTA DA LÍNGUA estréia no Teatro Municipal de Niterói, dirigido por Denise Bandeira. Com a mesma linguagem visual do CD nos cenários, Leila se apresenta pela primeira vez inteiramente sozinha. Ora ao piano, ora com BGs, canta algumas canções do novo CD, relembra alguns sucessos e compositores ícones do jazz americano, como George Gershwin e Cole Porter.

Em junho, leva o show NA PONTA DA LÍNGUA para uma apresentação única no Metropolitan, Rio de Janeiro, com a participação do clarinetista Paulo Sérgio Santos. Volta ao Sesc Pompéia (São Paulo) para se apresentar ao piano ao lado de Baden Powell e do grupo vocal português Tet Vocal no show "É bonita a festa, pá".

Em agosto, no Rio de Janeiro, o Teatro Villa Lobos recebe a primeira temporada carioca de shows do CD NA PONTA DA LÍNGUA. Em duas semanas de apresentação, Leila recebe um convidado a cada noite; no palco, ao lado da cantora, estiveram os músicos Nelson Faria, Lula Galvão, Luiz Brasil, Roberto Menescal e o compositor Flávio Venturini.

Entre agosto e setembro, percorre o Nordeste com o show NA PONTA DA LÍNGUA, com participações especiais de artistas locais, entre eles, Margareth Menezes e Banda Didá, em Salvador. No final do mesmo mês, Leila canta pelo interior de São Paulo (Mogi das Cruzes, São José dos Campos e Sorocaba) como convidada do grupo português Madredeus. Ainda em setembro, a cantora faz uma participação especial no show de comemoração dos 50 anos de Flávio Venturini, no Metropolitan, Rio de Janeiro, cantando e tocando "Besame" ao lado do compositor da canção, um dos maiores sucessos da carreira de Leila.

Em outubro, vai pela primeira vez a Israel e canta acompanha pela Orquestra Sinfônica de Jerusalém, formada por 89 músicos no Jerusalem International Convention Center Binyael Ha'ooma, sob a regência do maestro Nelson Ayres.

O mês de dezembro marca o encerramento da turnê de NA PONTA DA LÍNGUA, no Teatro Rival, na Cinelândia, Rio de Janeiro. São 12 apresentações, cada uma ao lado de um convidado especial. Nesse período, subiram ao palco Ivan Lins, Joyce, MPB-4 e Quarteto em Cy, Chris Braun, Alvin L. e Sérgio Santos.

2000 - Em janeiro participa do Projeto do Sesi, cantando em Ilhéus, Jequié e Salvador. Inicia a pesquisa de repertório de seu próximo CD, gravado entre os meses de abril e junho, no Rio de Janeiro, com produção de Guto Graça Melo.
Com o novo CD, cujo escrete de canções é pinçado da obra de Ivan Lins e Gonzaguinha, Leila chega ao seu décimo trabalho. REENCONTRO é lançado em setembro pela EMI Music.

No mesmo mês sai em turnê com o show que leva o nome do disco, assim como o anterior, dirigido por Denise Bandeira, com quem Leila divide o roteiro das canções. A viagem começa pelo interior de São Paulo. No palco, uma imensa reprodução da capa do CD, criação colorida de Guili Seara e Lucia Nemer, é o cenário que recebe a cantora e os músicos da banda: Vitor Bertrami (bateria e bongô), BomBom (baixo elétrico e baixolão) e Adriano Souza (teclados).

Em outubro, Leila cai na estrada ao lado de Ivan Lins, Ed Motta e do grupo Batacotô rumo aos Estados Unidos. Juntos, percorrem de uma costa a outra, baldeando em 12 cidades entre São Francisco e Nova York para 13 apresentações.

A excursão culmina no lendário Carnegie Hall, em Nova York, palco em que Leila pisa pela segunda vez. Desta vez, para homenagear Ivan Lins, ao lado de nomes como Chaka Khan, Vanessa Williams, Brenda Russel, entre outros.

De volta ao Brasil, em novembro, segue com a turnê de REENCONTRO. Nesse mês, faz nova participação no projeto Casa de Samba, gravado ao vivo no espaço Universal Up, dentro dos estúdios da gravadora Universal, Rio de Janeiro, assim como os três discos anteriores da série. Leila divide os vocais com Martinho da Vila na faixa "Todos os Sentidos", do próprio Martinho. Em seguida, participa como uma das solistas do grandioso espetáculo "Sinfonia do Rio de Janeiro", criado e regido por Francis Hime, com letras de Paulo Cesar Pinheiro e Geraldo Carneiro, dirigido por Flávio Marinho. Em uma única apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Leila divide a noite com outros quatro solistas: Olivia Hime, Lenine, Sergio Santos e Zé Renato. Os cinco artistas, acompanhados de uma orquestra com 63 músicos e coro de oito vozes, contam a história musical da cidade em cinco movimentos, passeando por épocas e ritmos distintos, do lundu à bossa nova.

2001 - Em fevereiro, Leila assina contrato com nova gravadora, a Universal Music, ex-PolyGram, pela qual gravou os primeiros discos de sua carreira, entre 1986 e 1993: Olho Nu (1986); Alma (1988); Bênção, Bossa Nova (1989); Outras Caras (1991) e Coisas do Brasil (1993).

No final desse mês faz uma mini-temporada de shows no Japão, ao lado do cantor e compositor Ivan Lins, no tradicional Blue Note, em Tóquio. De lá, segue para a Ilha da Madeira (Portugal), onde apresenta no início de março o show "Reencontro".

Entre abril e maio, dedica-se à escolha de repertório para o próximo CD. Em junho, reúne os músicos da banda – Glauton Campello, teclados; Julio Texeira, teclados e acordeom; Sidinho Moreira, percussão; Jurim Moreira, bateria; Ricardo Silveira, guitarras e violão; Marcelo Mariano, baixo elétrico; Marcelo Martins, sax soprano, sax alto e flauta; Nelson Oliveira, trompete e flugel; Elias Corrêa, trombone – e começa os ensaios para o show de gravação simultânea do CD e do DVD "Mais Coisas do Brasil", ao vivo, no início de julho, no Espaço Universal Up, na sede da gravadora no Rio de Janeiro. Participam do show dois compositores importantes na carreira de Leila, Roberto Menescal e Guinga.

No final de agosto, chega às lojas o CD "Mais Coisas do Brasil" (Universal), seu décimo-primeiro disco de carreira, o primeiro ao vivo. O DVD de mesmo nome chega às lojas em novembro do mesmo ano.

Em setembro Leila participa do projeto "Avon Women in Concert", ao lado de Nana Caymmi e Daniela Mercury que, nesta edição, homenageia Vinicius de Moraes. As três cantoras são acompanhadas pela orquestra norte-americana formada apenas por mulheres, a San Francisco Women's Phillarmonic. O concerto é assistido por milhares de pessoas em apenas duas apresentações: uma na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro e outra no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

2002 - Em janeiro, Leila mostra parte do repertório gravado no projeto "Mais Coisas do Brasil" em um show que resgata compositores como Nelson Cavaquinho, Pedro Caetano e Jackson do Pandeiro, tendon a formação da banda as virtuosas presenças de Hamilton de Hollanda (bandolim) e Rogério Caetano (violão 7 cordas).

A estréia desse show acontece em abril, no Direct TV Music Hall, em São Paulo, ao lado de um quarteto de músicos formado por Adriano Souza (teclados), Pedro Mooraes (baixo), Erivelton Silva (bateria) e Sérgio Galvão (sopros). O show é também apresentado no Rio de Janeiro, no tradicional Canecão, em julho, e segue sendo apresentado ao longo do ano em diversas praças.

Em julho Leila encarna Billie Holiday para o projeto 4 x Jazz, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Convidada pelo produtor Paulinho Albuquerque, Leila mergulha no repertório das canções interpretadas pela cantora Americana para a série de shows que faz acompanhada pela banda formada por Osmar Milito (piano), Zeca Assumpção (baixo), Pascoal Meireles (bateria) e Marcelo Martins (sopros).

Em agosto, ao lado de Rosa Passos, Leila faz show em homenagem a Elis Regina no Lincoln Center, em Nova York.

Antes de terminar o ano, volta a se apresentar como uma das solistas da Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião, composta e regida por Francis Hime, ao lado de Lenine, Zé Renato, Sérgio Santos e Olívia Hime.

2003 - Em janeiro, participa do show de lançamento do CD de seu conterrâneo Billy Blanco, "A Bossa de Billy Blanco", no qual canta "A Banca do Distinto". No mesmo mês faz show com João Bosco no Teatro Castro Alves, em Salvador, e divide o palco com Ed Motta e Paulinho da Viola no show de inauguração das escadas rolantes do Corcovado, o ponto turístico mais famoso do Rio de Janeiro.

Em abril é acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Brasília, regida por Silvio Barbato em show que homenageia o compositor Renato Russo, líder da Legião Urbana. O evento integra as comemorações do aniversário da Capital Federal.

Em maio é a convidada especial do compositor e violonista Guinga, , nos shows de lançamento do livro "A Música de Guinga", organizado pela Editora Gryphus, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, ao lado do clarinetista Paulo Sérgio Santos, do violonista Lula Galvão e do trompetista gaucho Jorginho Trompete.

Participa de shows que homenageiam grandes nomes da música brasileira, como Vinicius de Moraes, ao lado de Gal Costa, Wagner Tiso, Ed Motta e Luciana Melo, no Rio de Janeiro e Tom Jobim, com Zizi Possi, Toni Garrido e Paulo Miklos, em Recife.

Durante o ano, segue apresentando o show "Mais Coisas do Brasil" ao piano e faz participação especial em shows e CD´s de artistas que despontam no cenário brasileiro, como Sérgio Santos, Simone Guimarães, Wolf Borges e Zé Paulo Becker bem como divide o palco com artistas de extensa carreira, como Erasmo Carlos, Celso Fonseca, Zé Luiz Mazziotti e Banda Didá em Salvador.

Em novembro é uma das convidadas no show de lançamento do Songbook de João Bosco, para o qual gravou "Senhora do Amazonas" (João Bosco e Belchior) e "Indeciso Coração" (João Bosco).

Participa também do lançamento do livro de canções do compositor Abel Silva "Só uma palavra me devora" e canta, ao piano, "Voz de Mulher", de Sueli Costa e Abel Silva e "Quando o Amor Acontece", de João Bosco e Abel Silva. Grava, ao vivo, para o CD "Lonas Acústico", ao lado de Guilherme Arantes, a faixa "Coisas do Brasil", na Lona Cultural Gilberto Gil, em Realengo (Rio de Janeiro) e ao lado de João Bosco, em estúdio, a música "Indeciso Coração".

No mesmo mês é convidada para se apresentar com a Orquestra de Sopros de Tatuí, no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, um dos mais importantes do país, sob a regência do Maestro Dario Sotelo. Nesta ocasião, além de cantar acompanhada pela orquestra de 80 componentes, Leila tem a oportunidade de reger essa orquestra em "Baião de Lacan" (Guinga e Aldir Blanc), arranjada pelo maestro Branco.

2004 - Em fevereiro divide o palco com Ná Ozetti, em Campinas, no encerramento do projeto "Brasileiras da Canção" e com Joyce, no Rio de Janeiro, participando de um dos shows da "Gafieira Moderna", promovidos pela compositora carioca. Recebe convite da gravadora carioca Biscoito Fino, de Olivia Hime e Kati Almeida Braga, para gravar um novo CD.

Em março é uma das convidadas do show "Carlos Lyra - Sambalanço - 50 anos de música", que acontece no Canecão, para a gravação do primeiro DVD do compositor, previsto para ser lançado em 2005.

Em maio, Leila Pinheiro, Vânia Bastos e Fatima Guedes são as convidadas do compositor paulistano Eduardo Gudin no concerto sobre a sua obra, no Teatro Cultura Artística em São Paulo, acompanhadas pelo compositor ao violão e pela Orquestra Jazz Sinfônica.

Nos meses de abril e junho, período em que inicia a pesquisa de repertório para seu próximo CD, canta acompanhada pela Orquestra de Sopros de Caxias do Sul, em Caxias do Sul (RS), sob a regência do Maestro Fernando Berti Rodrigues e novamente pela Orquestra de Cordas e a Big Band de Tatuí (SP), sob a regência dos Maestros Neves e Dario Sotelo. Na ocasião é também uma das juradas do 13º Festival de MPB de Tatui, promovido pelo conservatório da cidade, referência brasileira no ensino de música.

Em julho, integra e dirige no Canecão, o espetáculo "Alagoas de Corpo e Alma - Uma Revista Cultural", promovido pelo Governo de Alagoas. Apresenta-se ao lado dos alagoanos Junior Almeida, Leureny Barbosa, Hermeto Pascoal, Duo Fel, Altair Pereira, Eliezer Setton, além de muitos outros artistas da terra. Convida para participações especiais no show os artistas Toni Garrido, Dona Ivonne Lara, Jorge Vercilo, Fagner e a bateria da Mangueira.

Neste mesmo mês vai a Quito (Equador) convidada pelo escritor equatoriano Francisco Aguirre, pesquisador de música brasileira, para fazer shows no lançamento de seu livro "Mas allá del Carnaval". Leila canta na Embaixada Brasileira e no secular Teatro Sucre.

Em agosto participa do show comemorativo dos 25 anos de carreira de Fatima Guedes, "Tanto que Aprendi de Amor" e cria, a convite do Canal Brasil, um show de piano e voz especial para comemorar os sexto aniversário do canal, "Leila Pinheiro canta o Cinema Brasileiro", focado em canções que integram trilhas sonoras de filmes nacionais. É a convidada da Orquestra 11 Cabeças para o show de lançamento do primeiro CD do grupo, que acontece no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.



Em outubro, depois de quase 15 anos, reencontra, no palco, o compositor Roberto Menescal, para um ciclo de apresentações em duo de piano e guitarra que acontece na casa de shows Passatempo, em São Paulo. O encontro se repete em janeiro de 2005 no Teatro Castro Alves, em Salvador (em show do qual também participa Emílio Santiago).

Dá início à pré-produção de seu décimo-segundo CD, ao lado do produtor Alê Siqueira e do músico Marcos Suzano, respondendo pela concepção e co-produção do disco além de, pela primeira vez, ser a pianista e arranjadora de todo o trabalho.

Recebe em sua casa, no Rio de Janeiro, poetas e compositores que pensa em gravar no novo disco, para o qual seleciona repertório inédito, além de promover parcerias também inéditas. O mais festejado desses encontros por parte da imprensa é o de Ivan Lins e Chico Buarque, cuja parceria acontece com a intermediação de Leila.

Durante o mês de novembro grava, no Estúdio da Biscoito Fino, no Rio de Janeiro, "Nos Horizontes do Mundo", do qual participam cerca de 40 músicos, em 16 faixas.

2005 - Em janeiro grava, ao lado de Chico Buarque, "Renata Maria", registrando para o seu CD a primeira parceria de Chico com Ivan Lins, promovida por ela, que ficara pronta em dezembro de 2004. Participa da gravação do DVD de João Donato, a ser lançado em 2005, cantando e tocando ao lado do compositor "E Muito Mais" e interpretando "Até um dia".

Em fevereiro, acompanha as mixagens do disco no Studio Ilha dos Sapos, em Salvador e a masterização no estúdio Classic Master, em São Paulo. Vai a Belo Horizonte acompanhar o processo de finalização do projeto gráfico do trabalho. As fotos para a capa são feitas na "sala de som" de seu apartamento, no Rio de Janeiro,

Em abril é a convidada de Ivan Lins para o lançamento do DVD "Cantando Histórias", no Rio de Janeiro. Nesta ocasião cantam pela primeira vez juntos a canção "Renata Maria".
Em maio chega às lojas o CD "Nos Horizontes do Mundo", lançado pela gravadora carioca Biscoito Fino.

2006 - Excursiona pelo Brasil com o show "Nos horizontes do mundo", de onde ,é gravado ao vivo em agosto de 2006 no Teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo de onde é gravado o segundo DVD da carreira da Leila.

2007 - Leila e Menescal. Piano e guitarra. Voz e olhar. Juntos, na sístole-diástole da música. De tão juntos, cúmplices. Parceiros na vida e na canção. Simbiontes, nesses dois momentos que amanhecem. Por tudo isso sai em 2007 o CD e DVD "Agarradinhos"; ainda Grava ao vivo no Teatro FECAP(SP) registros de um show com Eduardo Gudin.

2009 - Leila Pinheiro acende o ano de 2009 com um duplo lançamento: o seu selo musical, Tacacá Music – que dará seguimento aos futuros lançamentos da cantora - , e este novo rebento, “Pra iluminar”. O CD tem 17 faixas, das quais uma inédita, todas dedicadas à obra do paulista Eduardo Gudin, compositor que arregimenta em 40 anos de carreira, mais de 300 músicas e parceiros preciosos como Paulinho da Viola, Paulo Vanzolini, Paulo César Pinheiro, Adoniran Barbosa, Arrigo Barnabé e tantos, tantos outros.

2010 - Lança pela Biscoito Fino um álbum tributo ao cantor e compositor Renato Russo, pela passagem dos 50 anos do artista caso estivesse vivo e lança também junto ao guitarrista Nélson Faria e a banda Pequi, um cd em comemoração aos 10 anos da banda. Além de ter o relançamento oficial de seu primeiro álbum, agora em formato digital.

ASSESSORIA DE IMPRENSA LEILA PINHEIRO
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A VOZ DA BATERIA MINEIRA

Considerado por muitos como o maior nome da bateria de Minas Gerais, Esdras Ferreira deixa de lado todo a sua excelência e virtuosismo para dar essa belíssima entrevista.

Por Eduardo Tristão Girão

Criado em terreiro de candomblé, o baterista Esdra Ferreira bebeu nas fontes do jazz, do samba e do congado para criar sua inconfundível batida.
Com cerca de três décadas de carreira, o baterista Esdra Ferreira, belo-horizontino do Barro Preto, já tocou com praticamente todas as estrelas mineiras, além de Dominguinhos, Nana Caymmi, Paulinho da Viola e João Nogueira.


Eduardo Tristão Girão - Há músicos na sua família?
Esdra "Nenem" Ferreira - Profissionais, como eu, não. Mas quase todos os tios e primos tocavam alguma coisa. Meu pai cantava muito bem, tinha voz bonita. Toda a família dele gostava de cantar, de jazz, de Nat King Cole, de Frank Sinatra e de Billie Holiday. Já a parte da minha mãe é o povo do samba. São de Diamantina. Ela tocava quase todos os instrumentos de percussão, pois foi fundadora de uma das primeiras escolas de samba de Minas Gerais, a Monte Castelo. Com ela aprendi a parte do samba. Meus tios tocavam trompete. Fui criado nesse meio.

ETG - Quando você começou a se envolver com música?
ENF - Quando fui morar na casa da minha tia, no Bairro Colégio Batista, aos 7 anos. Por problemas de saúde, minha mãe não pôde cuidar de mim e me entregou para essa tia, que tinha um centro de candomblé. Ela era babalorixá, a manda-chuva do lugar. Lá comecei a brincar com o atabaque. Achava bonito, tinha ritmo, pois vinha da escola de samba da mamãe. Pequenininho, já a via tocar surdo, tamborim, tantã. Era natural. Foi uma experiência muito rica, pois aprendi vários ritmos e formas de tocar. Inclusive, aprendi o jeito primitivo de tocar, com aquela força.

ETG - Quando veio a bateria?
ENF - Passando pela Praça do México, no Bairro Concórdia, vi um cara tocando bateria. Achei absurdo um cara conseguir tocar aquele monte de coisas que formam a bateria. Era do outro mundo. Quando me mudei para o Alto dos Pinheiros, passei a frequentar o baile do Clube Recreativo. Não ia dançar, mas olhar o baterista. Ficava do lado dele. A bateria ficava num porão o dia inteiro e pedi para praticar enquanto o pessoal não estivesse ensaiando. Comecei assim, sozinho. E aprendi.

ETG - Você teve professor?
ENF - Tive, mas muitos anos depois. Foi o Emílio Gama. Ele foi meu professor técnico e o Laércio Vilar, professor intelectual. Percebi que tinha de estudar depois de receber muitas críticas das pessoas, quando me apresentava na boate Sucata. Era o bar da noite. Só fechava às 5h, 6h. Todo mundo ia para lá, inclusive o Laércio Vilar. Me criticavam muito por não ter técnica, ser muito bruto. Minha base, na verdade, era a do tambor, que é muito diferente. Bateria tem técnica especial, como tudo. Encontrei o Emílio quando ele veio do Rio de Janeiro ensinar aqui, na Ordem dos Músicos. Laércio me aconselhou a fazer o curso. O problema era a técnica correta, que eu não sabia usar. Eu e vários bateristas jovens fizemos esse curso. Estudei técnica, estudo até hoje e vou estudar eternamente. No dia em que parar, já era.

ETG - É preciso praticar todos os dias?
ENF - É bom. Todo instrumento deve ser praticado diariamente. É claro que, quando você está esgotado, não convém. Tudo tem limite. Quando a gente é mais jovem, estuda mais, mas é preciso manter, tocando e estudando. Estudar não é só a coisa de técnica. Para mim, o momento de estudo é de criação. Com os rudimentos que toco ao estudar, vou bolando várias coisas rítmicas e melódicas. Assim, a gente se prepara para se apresentar em público, o legal da história.

ETG - Quem foi o seu grande mestre?
ENF - No geral, foi o Laércio Vilar. O primeiro que me fez enxergar os outros bateristas do mundo. Ele e outro amigo nosso, o baterista Dinelli, que hoje é advogado. Íamos para a casa do Dinelli, no Padre Eustáquio, ouvir os grandes mestres, pois não tínhamos radiola. Ouvíamos Elvin Jones, meu grande mestre, Art Blakey, Max Roach e Buddy Rich. Os mais novos também, como Jack Dejohnette, meu ídolo maior na atualidade, Billy Cobham, Steve Gadd, Philly Jo Jones e Tony Williams. São caras criativos, inventaram o que o mundo todo copia. Criaram vários estilos. Nessa mesma época, também tive ídolos brasileiros, músicos que ouvi muito lá na casa do Dinelli, como Edson Machado, Airto Moreira, Dom Um Romão, Paulo Braga e Robertinho Silva. São meus ídolos.

ETG - O que está presente no seu toque de bateria?
ENF - A coisa africana, por causa dos tambores, a escola de samba e o congado. Participei disso tudo. Além do toque jazzístico das músicas que ouvia com meus pais, de Nat King Cole e de Count Basie. Então, é tudo misturado: o lado africano com a paixão pelo jazz e as coisas brasileiras, pois sou brasileiro, graças a Deus, com baião, xaxado, maracatu, samba e samba de roda.

ETG - É possível falar em estilo brasileiro de tocar bateria?
ENF - Sim. Isso começa pelo fato de que samba é um estilo em si. Só o baterista com estilo e sangue brasileiros consegue tocar samba com o nosso suingue. Mesmo assim, não são todos. É cultural, está no ar, na comida, nas pessoas, nas conversas. É coisa pura brasileira, assim como baião, choro e guarânia mineira.

ETG - Você é ogã. O que significa isso?
ENF - No meu caso, graças a Deus, é o seguinte: ogã, numa casa de candomblé em que se pratica iorubá, é o responsável pelo toque de chamado dos orixás, é o coração do candomblé, daquele momento de transe. Ele canta as cantigas em dialeto iorubá para a manifestação dos orixás. É uma pessoa muito responsável. Existe uma hierarquia: ogã alabê é o que canta, que tira a zuela. O ogã rum e o rumpi são os tambores médio e menor, respectivamente. Todos com funções independentes, cada um faz uma coisa para o todo da orquestra de tambores. Ogã é uma espécie de sacerdote, ligado ao dono do candomblé. Tudo dele é com o ogã, responsável pelo toque; se está bom, se é regular, se está mal tocado ou cantado. É complexa a coisa.

ETG - Musicalmente isso te influência?
ENF - Muito, pois ouvi demais as cantigas de candomblé e fiz um trabalho em cima disso com o flautista Mauro Rodrigues, a Suíte para os orixás. No meu toque, isso tudo está presente.

ETG - "Suíte para os Orixás" é seu único trabalho autoral lançado?
ENF - Por enquanto, é. Há o projeto de fazer um disco solo meu, com composições minhas e de compositores que quero interpretar. Este ano ou no ano que vem.

ETG - Como você compõe?
ENF - Canto uma melodia, ponho o ritmo e alguém coloca a harmonia para mim – Mauro Rodrigues, Beto Lopes ou Juarez Moreira, por exemplo. Sempre coloco o ritmo para eles. É uma troca, não é? Estou errado? (risos)

ETG - O que você vê de tendência na cena musical belo-horizontina?
ENF - Tenho gostado da garotada que vai ao Conservatório Music Bar, onde toco semanalmente. Fica lotado de gente que gosta de tudo que é bem tocado, bom e, principalmente, brasileiro. As pessoas se voltaram para a música brasileira com muita força. Os jovens estão se interessando mais por forró, samba, bossa nova, Clube da Esquina, Tropicália. Toda a vida, os ritmos brasileiros foram ricos, tocados por muitas pessoas. Mas, de uns anos para cá, essa tendência se fortaleceu. Por exemplo: tocamos jazz e, quando tocamos samba ou baião, parece que gostam mais. O negócio não era assim, era mais americanizado.

ETG - O que te vem à cabeça quando pensa na expressão música mineira?
ENF - Hoje ela é, com certeza, uma das músicas mais respeitadas e apreciadas no mundo. Principalmente depois do Clube da Esquina. Já fui ao Japão e à Rússia com o Toninho Horta. Viajei muito com Milton Nascimento e Beto Guedes, além do Marku Ribas, cuja música não tem muito a ver com o Clube, mas é respeitadíssima no mundo. Isso é um todo. No Japão, com o Toninho, a gente tem de fazer duas sessões por dia, de tanta gente que quer ouvi-lo. As pessoas me param para perguntar quando é que o Lô Borges, o Beto Guedes, o Flávio Venturini, o Juarez Moreira vão para lá. Todos os lugares por onde a gente viaja são assim. No Brasil, então, nem se fala. A música mineira está num momento maravilhoso. Mesmo depois do Clube da Esquina, continua muito bem com Skank, Jota Quest, Pato Fu, Flávio Henrique, Kadu Viana, Vítor Santana e Mariana Nunes.