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sábado, 18 de dezembro de 2010

1000 ANOS DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Por Bruno Negromonte

2010 foi sem dúvida um ano que marcará a música popular brasileira como o ano do centenário de nada menos que 10 (isso mesmo, são 10!) nomes que de uma forma ou de outra são relevantes dentro da nossa MPB. Se somados são 1000 anos em apenas um, um milênio de geniaidade exacerbada de grandes nomes da nossa música.

Nomes como os já citados Adoniran Barbosa, Haroldo Barbosa, Manezinho Araújo, o celebrado Noel Rosa; além de Custódio Mesquita, Nássara, Luis Barbosa, Jorge Veiga, Vadico e Claudionor Cruz trazem algumas características em comum além do grande talento para a música e para as composições, coincidentemente todos eles nasceram no mesmo ano e há exatamente 100 atrás. Alguns desses nomes já foram citados em postagens anteriores, restando-me abordar apenas sobre os demais para não fazer dessa pauta algo redundante.


Antônio Nássara
Antônio Gabriel Nássara ou Antônio Nássara como era conhecido no meio artístico nasceu em São Cristóvão no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1910, porém foi foi criado em Vila Isabel. O filho de libaneses, começou a compor marchinhas carnavalescas nos anos 30, disputando e vencendo concursos com Lamartine Babo, Noel Rosa (seu vizinho de infância em Vila Isabel) e Ary Barroso. Chegou a frequentar o curso de Belas Artes, mas não se formou. Trabalhou nos jornais Carioca, O Globo, Vamos Ler, A Noite, Diretrizes, O Cruzeiro, Mundo Ilustrado, Flan, Última Hora e Pasquim; pois Nássara além de compositor também era caricaturista.

Seu maior sucesso foi a marcha "Alá-lá-ô", de 1941, em parceria com Haroldo Lobo.

Ficou conhecido por seu estilo de parodiar ou citar composições famosas em suas próprias músicas.

Suas composições mais conhecidas incluem:

Alá-lá-ô (com Haroldo Lobo)
Formosa (com J. Ruy)
Periquitinho verde (com Sá Róris)
Florisbela (com Frazão)
Mundo de Zinco (com Wilson Batista)
Nós Queremos uma Valsa (com Frazão)
Retiro da Saudade (com Noel Rosa)
Meu Consolo É Você (com Roberto Martins)
O Craque do Tamborim (com Luís Reis)
Balzaqueana (com Wilson Batista)
Alegria de Pobre (com Valdemar de Abreu)
Desprezo (com Osvaldinho)

Nássara é tido também como o primeiro autor de um jingle comercial do Brasil.

Ele auto se descrevia dessa maneira:

"Eu me chamo Antônio Gabriel Nássara. Também me assino como Antônio Nássara. Mas me identifico melhor como Nássara. Há os que me chamam por psiu, meu chefe, alô, meu chapa, hei e etc... Sou reservista, 2ª categoria, pela minha carteira sei o seguinte a meu respeito: tenho 1,68 de altura, sou de cor branca, tenho cabelos castanhos (ainda são), a boca regular, o rosto oval, nariz regular. Que leio – sim – que escrevo – sim – que conto – sim (até nove) – outros sinais: calço 38 no inverno – 39 no verão – o mesmo acontecendo com o colarinho. Nascido em São Cristóvão e criado em Vila Isabel, no ex Distrito Federal, hoje Guanabara, que sou vacinado e sabia nadar".


Custódio Mesquita
Compositor, pianista, regente e ator seu nome verdadeiro era Custódio Mesquita de Pinheiro. Tio do produtor cultural carioca Albino Pinheiro. Nasceu no bairro das Laranjeiras de família de classe média alta, aprendeu as primeiras noções de música com a mãe. Seu pai, Raul Cândido de Pinheiro, tocava piano, e lhe ensinou os primeiros acordes. Estudou com o professor Luciano Gallet, que lhe ministrou aulas durante pouco tempo pois o menino só gostava de tocar de ouvido. Estudou depois com o professor Otaviano Gonçalves. Muito indisciplinado foi colocado pela mãe para ser escoteiro no Fluminense Futebol Clube, onde se tornou tocador de tambor. Ficou pouco tempo como escoteiro, mas dessa experiência passou a se interessar pela bateria a qual aprendeu a tocar tanto quanto o piano.

Estudou no Liceu Francês, no Flamengo chegando apenas até a terceira série do antigo curso ginasial. Iniciou a carreira artística por volta dos 18 anos atuando como baterista em conjuntos musicais que se apresentavam no cinema Central.
Entre 1935 e 1937, foi subsecretário a Sbat e em 1945, foi eleito conselheiro dessa entidade, a que estava filiado desde 1933. Não chegou, porém, a tomar posse do cargo porque morreria de crise hepática. Considerado pela imprensa e pelos fans um galã, sempre perfeitamente vestido e penteado, foi uma das principais figuras românticas da era de ouro da radiofonia e dos discos.

1931
Começou a atuar no rádio, inicialmente no "Esplêndido Programa" apresentado por Waldo Abreu na Rádio Mayrink Veiga. Passou em seguida a atuar na Rádio Philips, no Programa Casé. Por essa época começou também a atuar como pianista.

1932
Teve suas primeiras composições gravadas, os fox-canção Dormindo na rua e Tenho um segredo. Nesse ano, foi parceiro de Noel Rosa no samba Prazer em conhecê-lo, gravado por Mário Reis na Odeon.

1933
O mesmo cantor lançou o samba Os homens são uns anjinhos; João Petra de Barros gravou os sambas-canção Palacete de malandro e Conto da carochinha e, Carmen Miranda, o samba Por amor a esse branco. Nesse ano, fez com o radialista Paulo Roberto os fox-canção Canção ao microfone e Cantor do rádio gravados por João Petra de Barros na Odeon. Também no mesmo ano, teve seu primeiro grande sucesso gravado, a marcha Se a lua contasse, lançada na voz de Aurora Miranda na gravadora Odeon. Fez sucesso também com o samba Doutor em samba, com letra e melodia suas gravado por Mário Reis na Victor e que era, veladamente, uma homenagem ao cantor, formado em direito e da alta sociedade carioca.

1934
Voltou a ter composições gravadas por Aurora Miranda, os sambas Câmbio de amor, com Paulo Roberto e Moreno jogador; o samba-canção Moreno cor de bronze e as marchas Eu sou pobre... Pobre..., Juntei os meus trapinhos, Sobe balão e A lua fez feriado.

1935
Atuou em cinco filmes, todos com músicas suas, "Alô, alô Brasil", com direção de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, no qual aparecem as músicas Ladrãozinho, cantada por Aurora Miranda e Fique sabendo, com Elisa Coelho ; "Estudantes", de Adhemar Gonzaga, com a música Onde está o carneirinho, com Aurora Miranda; "Carioca maravilhosa", de Luiz de Barros, com a música Moreno cor de bronze, interpretada por Carmen Miranda; "Noites cariocas", do argentino Henrique Cadicamo, com as músicas Jardineiro do amor, cantada por Lourdinha Bittencourt, Conheço um lugar onde se sonha, Hospedaria internacional e Tabuleiro e, "Favela dos meus amores", de Humberto Mauro. Nesse ano, Aurora Miranda gravou as marchas Coração camarada, com J. Cortez e J. Milton, Cansei de sofrer e Noites cariocas; Silvinha Melo a canção Negra velha e, João Petra de Barros, o fox-trot O que o teu piano revelou, com Orestes Barbosa e a canção Tapera, com Alberto Ribeiro.

1936
Teve gravados os sambas Sambista da Cinelânia, com Mário Lago e Cuíca, pandeiro, tamborim..., por Carmen Miranda; a marcha É noite, com Mário Lago, por Aurora Miranda; o samba Exaltação da favela, com Dan Málio e a marcha Fruto proibido, com Orestes Barbosa, pelas Irmãs Pagãs, e a marcha Menina eu sei de uma coisa, com Mário Lago, por Mário Reis. A revista "O Sambista da Cinelândia", encenada no Teatro Fênix, marcou sua estréia como compositor para teatro.

1937
Fez com Joracy Camargo o choro Quem é?, sucesso na voz de Carmen Miranda e Barbosa Júnior que o gravaram em dueto na Odeon.

1938
Atuou ao lado de Dircinha Batista, e outros no filme "Bombonzinho", dirigido por Joraci Camargo. Nesse ano, teve a valsa Enquanto houver saudade, com Mário Lago, gravada por Orlando Silva na Victor no mesmo disco que tinha o grande sucesso Nada além, fox-canção também feito em parceria com Mário Lago.

1939
Sua marcha Faça de conta, com Mário Lago, foi gravada na Columbia por Emilinha Borba. Ainda neste ano atuou na peça "Carlota Joaquina", de Magalhães Junior, fazendo o papel de D. Pedro I, tendo saído em excursão pelo país com a companhia Jaime Costa, chegando a Belém do Pará onde foi por algum tempo diretor da Rádio Clube do Pará.

1940
Seu fox Céu e mar, com Geysa Bóscoli, a valsa-canção Larãozinho, com David Nasser, e a marcha No meu tempo de criança, foram gravadas por Francisco Alves na Columbia. Nesse ano, teve lançado por Sílvio Caldas um de seus maiores sucessos, o fox-canção Mulher, parceria com Sadi Cabral, com quem assinou também a valsa Velho realejo, lançada com sucesso no mesmo disco. Também nesse ano, Sílvio Caldas gravou com sucesso o samba Preto velho, parceria com Jorge Faraj

1941
Teve três valsas gravadas, O pião, com Sai Cabral e Caixinha de música, por Sílvio Caldas e Bonequinha, com Sadi Cabral por Carlos Galhardo.

1942
Carlos Galhardo gravou a marcha Espera Maria, com versos de René Bittencourt.

1943
Assumiu o cargo de diretor artístico da gravadora RCA Victor, que exerceu até sua morte. Esse ano, por sinal, foi um dos mais férteis de sua carreira. Teve onze composições gravadas, entre as quais, O samba da Beatriz, com Evaldo Rui, gravado por Sílvio Caldas; Olhos negros, fox-canção composto com Ari Monteiro e gravado por Nelson Gonçalves; Os produtos da minha terra, samba registrado por Isaura Garcia e Antigamente era assim, com Ari Monteiro e O homem da valsa, com David Nasser, valsas gravadas por Carlos Galhardo. Gravou nesse ano com sua orquestra cinco disco com obras de Ernesto Nazareth, os choros Brejeiro, Bambino, Escovado, Apanhei-te cavaquinho e Escorregando e as valsas Eponina, Gotas de ouro, Expansiva, Faceira e Coração que sente. Também com sua orquestra acompanhou gravações de Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, João Petra de Barros e Sílvio Caldas. Atuou ainda ao lado de Grande Otelo no filme "Moleque Tião", de José Carlos Burle, sendo bastante elogiado. Nesse filme foram incluídas suas músicas Promessa, Mãe Maria e Pretinho. Ainda em 1943, iniciou fecunda parceria com Evaldo Rui, com o qual compôs trinta músicas, entre as quais o bolero Pra que viver?, gravado por Carlos Roberto e os sambas Pretinho, gravado por Isaura Garcia e Promessa, por Sílvio Caldas.

1944
Fez com Evaldo Rui os sambas Como os rios que correm pro mar, dedicado aos olhos verdes da vedete Iracema Vitória e Noturno em tempo de samba, gravados por Sílvio Caldas; Eu fico e Não faças caso coração, por Isaura Garcia; Olha o jeito desse negro, na voz de Linda Batista; o fox Nossa comédia, gravado por Nélson Gonçalves, que fez bastante sucesso e a valsa Gato escondido, lançada por Carlos Galhardo. Uma das melhores composições desse ano foi o samba Algodão, parceria com David Nasser e gravado por Sílvio Caldas. Também nesse ano, teve registradas por Carlos Galhardo a valsa Gira...gira... gira... e o fox Rosa de maio, parcerias com Evaldo Rui.

1945
Teve sete música gravadas, todas nos dois primeiros meses daquele ano: os sambas Eu fico e Não faças caso coração, lançados por Isaura Garcia, o samba Feitiçaria e o fox Sim ou não, por Sílvio Caldas; o fox Voltarás e a Valsa de quem não tem amor, por Nélson Gonçalves, todas em parceria com Evaldo Rui e o samba-choro Flauta, cavaquinho e violão, com Orestes Barbosa, gravado por Aracy de Almeida. Sua última composição, que teve letra de Freire Júnior, chamava-se Despedida. Foi considerado um compositor de melodias elaboradas e que em muitas delas antecipou arranjos que somente seriam vistos durante a bossa nova como serão possivelmente os casos de Promessa e Noturno em tempo de samba. A sua principal composição, o samba-canção Saia do caminho, com Evaldo Rui, somente foi gravada mais de um ano depois de sua morte, por Aracy de Almeida na Odeon. No mesmo ano, o samba Viva o samba, também com Evaldo Rui e até então inédito, foi lançado por Linda Batista na Victor.

1949
O samba-canção Adeus, com Evaldo Rui foi gravado por Dircinha Batista e a valsa Beduína, com Davi Nasser, foi gravada por Francsico Alves.

1952
Carlos Galhardo regravou o fox Mulher, parceria com Sadi Cabral.

1954
Orlando Silva regravou o samba Feitiçaria, com Evaldo Rui.

1956
Cauby Peixoto regravou na Victor o fox-canção Nada além, Roberto Paiva na Odeon o samba Preto velho e Dalva de Oliveira na Odeon o samba-canção Saia do caminho, com Evaldo Rui.

1957
A marcha Se a lua contasse foi gravada de forma instrumental por Lindolfo Gaya e seu conjunto.

1958
Ângela Maria regravou o samba Promessa e o samba-canção Saia do caminho.

1961
Dalva de Oliveira regravou o samba Não faças coração, com Evaldo Rui.

1963
Lindolfo Gaya regravou com sua orquestra a valsa Velho realejo, que foi regravada dois anos depois por Jair Rodrigues na Philips.

1968
O choro Quem é?, com Joracy Camargo foi regravado na Philips pela musa da bossa nova Nara Leão.

1974
Gal Costa regravou Saia do caminho, em disco Philips. A mesma música seria regravada três anos depois por Nana Caymmi na CID e por Miúcha e Tom Jobim na RCA Victor. No mesmo ano, Maria Bethânia regravou o samba Promessa na Philips.

1983
Cauby Peixoto regravou o fox-canção Mulher.

1986
O pesquisador Bruno Ferreira Gomes lançou pela Funarte o livro "Custódio Mesquita - Prazer em conhecê-lo".

2000
Teve as músicas Se a lua contasse, na voz e Aurora Miranda e Saia do caminho, na voz de Aracy de Almeida relançadas pela EMI/Odeon na série "Ídolos do Rádio - volume 1".

2002
O professor Orlando de Barros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro lançou nova biografia do compositor, "Custódio Mesquita - Um compositor romântico no tempo de Vargas".


Vadico
Vadico (Osvaldo de Almeida Gogliano), compositor, regente e instrumentista, nasceu em São Paulo SP, em 24/6/1910 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 11/6/1962. Filho de imigrantes italianos do bairro do Brás, todos seus irmãos eram músicos: Carlos tocava flauta e sax, Rute formou-se em piano e harmonia e Dirceu fez o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Começou a interessar-se por música aos 16 anos e aos 18 deixou a profissão de datilógrafo, para tocar piano em público pela primeira vez, apresentando-se num hotel em Poços de Caldas MG.
No mesmo ano venceu um concurso de música popular recebendo medalha de ouro com sua primeira composição, a marcha Isso mesmo é que eu quero. Em 1929, seu samba Deixei de ser otário foi incluído no filme Acabaram-se os otários (dirigido por Luís de Barros); essa foi sua primeira composição gravada, na Odeon, por Genésio Arruda. Por essa época, já fazia trabalhos de orquestração e enviou um samba para o Rio de Janeiro, Arranjei outra (com Dan Mallio Carneiro), que foi gravado por Francisco Alves em 1930. Isso o encorajou a dedicar-se somente à música, aperfeiçoando seus estudos de piano.

Em 1931 foi para o Rio de Janeiro, onde, por intermédio de Eduardo Souto, teve seu samba Silêncio gravado por Luís Barbosa e Vitório Lattari. Dois anos depois, o mesmo Eduardo Souto o apresentou a Noel Rosa no estúdio da Odeon. Ouvindo uma de suas composições, Noel aceitou a sugestão de Souto para fazer a letra, e dois dias mais tarde estava pronto o Feitio de oração, o primeiro dos seus sambas que teve Noel como letrista e que foi gravado em 1933, na Odeon, por Francisco Alves e Castro Barbosa.

Seguiram-no Feitiço da Vila, Provei, Quantos beijos e Só pode ser você. Musicou depois os versos de Noel Rosa: Conversa de botequim, Cem mil-réis, Tarzan (O filho do alfaiate), Pra que mentir e a Marcha do dragão (publicitária).

Por essa época, também atuou como pianista em diversas escolas de dança, e em 1934 foi contratado por Luís Americano para tocar na boate Lido, substituindo-o, posteriormente, na direção da orquestra. Quatro anos depois tocou durante alguns meses no Cassino Tênis Clube de Petrópolis RJ.

Em 1939 foi com a Orquestra Romeu Silva para os E.U.A., para atuar no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de New York, estreando em junho. Permaneceu naquele país até novembro, tendo gravado transmissões para o Brasil na National Broadcasting Corporation. Retornou ao Brasil com Romeu Silva, passando a apresentar-se com a orquestra deste na Feira de Amostras do Rio de Janeiro.

Voltou a New York em abril de 1940, para a reabertura da Feira Mundial. Com o encerramento da mostra em outubro daquele ano, foi para Hollywood, onde se encontrou com Zé Carioca e passou a trabalhar na gravação das músicas do filme Uma noite no Rio (That Nightin Rio, de Irving Cummings), com Carmen Miranda.

No ano seguinte, a pedido da Universal Pictures, compôs para um filme o samba Ioiô, que teve letra de Nestor Amaral. Continuou como pianista de Carmen Miranda e do Bando da Lua, fazendo também várias orquestrações para filmes em que estes atuavam, como Weekend in Havana (Aconteceu em Havana, direção de Walter Lang, 1941) e Springtime in the Rockies (Minha secretária brasileira, direção de Irving Cummings, 1942), além de outros.

Em 1943 fez shows em teatros e night clubs, sendo convidado no mesmo ano por Walt Disney, que o pediu emprestado à Twentieth Century Fox por cinco dias, para musicar o desenho de longa metragem Saludos, amigos, em que o personagem Zé Carioca aparece como símbolo do Brasil.

Em 1944 participou de shows com Carmen Miranda e o Bando da Lua, apresentados nas bases da Marinha, em San Francisco, E.U.A. No ano seguinte atuou no restaurante Latin Quarter. Nesse mesmo ano de 1945, deixou de atuar com Carmen Miranda e o Bando da Lua, passando a integrar orquestras norte-americanas. Estudou harmonia, contraponto, composição musical, orquestração e regência, com Mario Castelnuovo-Tedesco (1895-1968).

Em 1948 acompanhou Carmen Miranda em sua temporada em Londres. Em 1949 entrou para a companhia da bailarina Katherine Dunham, como regente de orquestra, excursionando pelos E.U.A., Europa e América do Sul.

Em agosto de 1951 deixou a companhia em Kingston, Jamaica, e foi para New York trabalhar com uma orquestra cubana. Três anos depois, retornou ao Brasil definitivamente, atuando com Os Copacabana, na boate Casablanca, em 1956, passando depois a tocar piano somente em gravações e a fazer orquestrações para a Continental e a Rádio Mayrink Veiga.

No início de 1957 ingressou como diretor musical na TV-Rio, em substituição a Osvaldo Borba. No ano seguinte voltou a trabalhar com Os Copacabana, atuando no dancing Brasil e depois no Avenida. Em 1959 deixou Os Copacabana e foi para o Fred's, até que em janeiro de 1960 foi contratado pelo Sacha's.

Gravou em 1962 na etiqueta Festa o LP Festa dentro da noite. Seus principais parceiros foram Noel Rosa e Marino Pinto, este último letrista de Prece, que considerava sua obra-prima.

Obras
Cem mil-réis (c/Noel Rosa), samba, 1936; Conversa de botequim (c/Noel Rosa), samba, 1935; Feitiço da Vila (c/Noel Rosa), samba, 1934; Feitio de oração (c/Noel Rosa), samba-canção, 1933; Mais um samba popular (c/Noel Rosa), samba, 1934; Pra que mentir (c/Noel Rosa), samba, 1934; Prece (c/Marino Pinto), samba-prelúdio, 1958; Provei (c/Noel Rosa), samba, 1936; Quantos beijos (c/Noel Rosa), samba, 1936; Só pode ser você (c/Noel Rosa), samba, 1936; Súplica (c/Marino Pinto), samba-canção, 1956; Tarzã, o filho do alfaiate (c/Noel Rosa), samba, 1936.


Jorge Veiga
Jorge Veiga (Jorge de Oliveira Veiga), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 6/12/1910 e faleceu em 29/5/1979. Nascido no subúrbio do Engenho de Dentro, trabalhou desde menino como engraxate, vendedor de bananas e em biscates. Costumava cantarolar enquanto trabalhava, e sua oportunidade surgiu quando executava serviços de pintor de paredes num armazém cujo proprietário tinha contatos na Rádio Educadora do Brasil.

Levado ao Programa Metrópolis, estreou em 1934, cantando no estilo de Sílvio Caldas, um dos intérpretes de maior prestígio na época. Por influência de Heitor Catumbi e, depois, Rogério Guimarães, resolveu mudar de estilo.

Integrante do elenco da Rádio Tupi a partir de 1942, o cantor firmou-se sobretudo como intérprete de sambas malandros e anedóticos e ainda de sambas de breque, característica marcante de seu repertório, merecendo de Paulo Gracindo, em cujo programa atuava, o nome de Caricaturista do Samba. Estreou no disco com a gravação do samba Iracema (Raul Marques e Otolino Lopes), grande sucesso do Carnaval de 1944.

Nos anos seguintes alcançou novos êxitos, interpretando Rosalina e Cabo Laurindo (ambas de Haroldo Lobo e Wilson Batista) e Na minha casa mando eu (Ciro de Sousa), em 1945; Vou sambar em Madureira (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e Pode ser que não seja (Antônio Almeida e João de Barro), em 1946.

No Carnaval de 1947, sua interpretação da marcha Eu quero é rosetá (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), alcançou enorme sucesso. Na Rádio Tupi, e a partir de 1951 na Rádio Nacional, ficou famoso pela fórmula, criada por Floriano Faissal, com a qual iniciava seus programas: "Alô, alô senhores aviadores que cruzam os céus do Brasil, aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Estações do interior, queiram dar os seus prefixos para guia de nossas aeronaves".
Como compositor, em 1955 lançou, em parceria com José Francisco (Zé Violão), o samba Aviadores do Brasil, entre outros. Durante a década de 1950, obteve seus maiores sucessos com as gravações dos sambas Estatutos de gafieira (Billy Blanco), lançado em 1954, e Café Soçaite (Miguel Gustavo), em 1955.

No ano seguinte lançou o LP Boate Tralalá, cuja música-título é de Miguel Gustavo. Bigorrilho (Paquito, Sebastião Gomes e Romeu Gentil) foi grande êxito no Carnaval de 1964. Em 1971 gravou, com Ciro Monteiro, o LP De leve, pela RCA Victor, em que cantaram seus respectivos repertórios, em dupla ou sozinhos. Em 1975 gravou na Copacabana o LP O melhor de Jorge Veiga.

Músicas cifradas e letras: Acertei no milhar, Bigorrilho, Brigitte Bardot, Café Soçaite, Estatutos de gafieira, História da maçã, Iracema, Na cadência do samba, Noiva da gafieira, Perdeu-se uma valise, Que bate fundo é esse?, Rosalina, Senhor Comissário, Vou te abandonar.


Claudionor Cruz
Claudionor Cruz (Claudionor José da Cruz), compositor e instrumentista, nasceu em Paraibuna SP 1/4/1914-?, e faleceu em 21/6/1995. Filho de mestre-de-banda, seus irmãos tocavam trombone, pistom e bombardino, enquanto ele tocava caixa. Começou a aprender música desde pequeno e estudou com o maestro Peixoto. Iniciou carreira profissional tocando cavaquinho, em vários conjuntos, até formar o Claudionor Cruz e seu Regional. De 1932 a 1969, atuou nas rádios Tupi, Nacional, Globo e Mundial, e na TV-Rio e TV Educativa, no Rio de Janeiro RJ, e na TV Excelsior e TV Cultura, de São Paulo SP.

Em 1935, sua primeira composição, Tocador de violão (com Pedro Caetano), foi gravada na Odeon por Augusto Calheiros. Nessa época, passou a tocar violão tenor. Durante as décadas de 1940 e 1950, seu regional foi o grande rival do conjunto de Benedito Lacerda, com o qual revezava nas gravações e nas rádios.

Com ele atuaram os músicos Abel Ferreira, Portinho, Bola Sete, Arlindo Ferreira, Freitas, Araújo e Jair do Pandeiro. Foi parceiro de Pedro Caetano e Ataulfo Alves em dezenas de músicas, entre as quais Caprichos do destino (com Pedro Caetano), gravada por Orlando Silva em 1938, Eu brinco (ou Com pandeiro ou sem pandeiro) (com Pedro Caetano), gravada por Francisco Alves para o Carnaval de 1944, e Sei que é covardia (com Ataulfo Alves), gravada por Carlos Galhardo para o Carnaval de 1939.

Compôs também ao lado de André Filho, Wilson Batista, Dunga, Freitinhas e Portinho, além de fazer gravações e shows com Orlando Silva, Francisco Alves, Dircinha Batista, Linda Batista, Ângela Maria, Araci de Almeida, Isaurinha Garcia, Gilberto Alves, Deo e João Petra de Barros. Durante muitos anos foi baterista, trabalhando também como vendedor de livros e operador de carga do cais do porto.

Desde a fundação dirigiu seu Regional, só abandonando essa atividade quando a música estrangeira invadiu as rádios. Com mais de 400 gravações, foi homenageado em agosto de 1995 no espetáculo Um poema na terra, no Espaço BNDES, Rio de Janeiro.


Luis Barbosa
Luís Barbosa (Luís dos Santos Barbosa), cantor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 7/7/1910 e faleceu em 8/1 0/1938. Irmão do compositor Paulo Barbosa, do humorista e cantor Barbosa Júnior e do radialista Henrique Barbosa, começou sua carreira na Radio Mayrink Veiga, no Esplêndido Programa, de Valdo Abreu, em 1931, logo se destacando por sua personalidade na interpretação de sambas, reforçada pela novidade da utilização de “breques”.

Foi também o introdutor do chapéu de palha como acompanhamento rítmico, nos programas de rádio e em gravações. Seus primeiros sucessos foram as interpretações de Caixa Econômica (Nássara e Orestes Barbosa) e Seu Libório (João de Barro e Alberto Ribeiro).

Em 1931 gravou na Odeon seus primeiros discos: os sambas Meu santo (Pedro Brito), Silêncio (Vadico), Não gostei de seus modos (Amor) e Sou jogador (de sua autoria), e as marchas Vem, meu amor (Pedro Brito e Milton Amaral) e Pega, esta também de sua autoria.

Na Victor, em 1933, gravou o primeiro samba de Wilson Batista, Na estrada da vida, e em seguida o samba Adeus, vida de solteiro, além do samba-canção Jamais em tua vida, ambos do compositor e pianista Mano Travassos de Araújo, que o acompanhou ao piano. No mesmo ano, a convite de Jardel Jércolis, passou a se apresentar todas as noites no Teatro Carlos Gomes, cantando juntamente com Deo Maia o samba No tabuleiro da baiana (Ary Barroso), que seria gravado por ele em dupla com Carmen Miranda, na Odeon, em 1937.

Em seguida gravou, na Victor, a marcha Quem nunca comeu melado (com Jorge Murad), o samba Bebida, mulher e orgia (Luis Pimentel, Anis Murad e Manuel Rabaça), o samba Cadê o toucinho e a marcha Eu peço e você nao dá (ambos de Nássara e Antônio Almeida), e os sambas Lalá e Lelé (Jaime Brito e Manezinho Araújo), Risoleta (Raul Marques e Moacir Bernardino), Perdi a confiança (Rubens Soares e Ataulfo Alves) e Já paguei meus pecados (Leonel Azevedo e Germano Augusto).

Entre 1935 e 1937 gravou uma série de sambas de breque de Antônio Almeida e Ciro de Sousa, com acompanhamento ao piano de Mário Travassos de Araújo. No Carnaval de 1936, fez sucesso com a gravação da marchinha de Antônio Almeida e A. Godinho Ó! ó! não, que inicialmente era um anúncio da Drogaria Sul-Americana, do Rio de Janeiro.

A vida de boêmio interrompeu o sucesso de sua curta mas extraordinariamente marcante carreira, tendo morrido tuberculoso em casa de sua família, na Tijuca, em 1938.

Dois álbuns bastante interessantes sobre dois dos artistas aqui presentes (Nássara e Claudionor Cruz) podem ser adquiridos através do endereço:


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