- O programa está cada vez mais eclético. Nossa única limitação, claro, é que os discos escolhidos tenham sido lançados em vinil. Mas com os lançamentos atuais nesse formato, podemos incluir também artistas contemporâneos, como a Fernanda Takai e o Lenine.
Baterista desde os 19 anos, quando ganhou um instrumento do pai, Gavin - que teve breves passagens por outros grupos fundamentais do rock brasileiro, como o Ira! e o RPM - conta que uma das entrevistas que mais o tocou foi com o grupo mineiro de música instrumental Uakti, famoso por construir seus próprios instrumentos:
- Quando comecei a estudar bateria, nos anos 80, meu professor indicou um disco do Uakti. E passei a acompanhar a banda desde então. Por isso, quando entrevistei os músicos e eles me mostraram a trilobita, um instrumento de percussão feito com tubos de PVC, eu quase não conseguia falar. Me impressionou também descobrir que só existe uma trilobita. Se a gente estivesse num país de Primeiro Mundo, esse original estaria preservado num museu de música e tecnologia.
Metódico e perfeccionista, Gavin não se contentou em ficar apenas à frente do programa, dirigido por Darcy Burger, e tem se envolvido cada vez mais no que acontece nos bastidores.
- Já que eu passei para o outro lado, que seja até o fim - brinca. - Gosto de acompanhar o roteiro e até mesmo de fazer a edição, outra coisa que aprendi na marra. Acho que isso é uma extensão do que eu fazia nos Titãs, já que foram raras as mixagens dos nossos discos das quais eu não participei. Vejo nisso também um paralelo com o trabalho de um produtor.
" Sinto falta de produzir. Quer dizer, sentia porque agora, sem os Titãs, posso voltar a me dedicar mais à produção "
Trabalho, aliás, que Gavin exerceu com brilho nas vezes em que foi convocado, fosse junto à cantora Vange Leonel (em disco lançado em 1991, que gerou o hit "Noite preta") ou com o espetacular début do Mundo Livre S/A, "Samba esquema noise", um trabalho dividido com Carlos Eduardo Miranda, em 1994.
- Aquele disco do Mundo Livre realmente é muito bom, né? Sinto falta de produzir. Quer dizer, sentia porque agora, sem os Titãs, posso voltar a me dedicar mais à produção - conta ele, já no segundo café.
Um dos frutos dessa liberdade recém-adquirida é a associação com o grupo Canastra. Por causa disso, Renato Martins, vocalista e guitarrista da banda, garante estar nas nuvens:
- Nunca sequer sonhamos ter um produtor desse calibre ao nosso lado. A gente se encontrou em um show do (grupo) Brasov, no começo do ano, e foi amor à primeira vista. Ele veio trabalhar com a gente trazendo toda uma bagagem de 20 anos de estrada, mas sem tirar onda por ser o Charles Gavin dos Titãs. Ele é muito generoso e deixa todo mundo à vontade. É um tremendo profissional. Chega aos ensaios e anota tudo, de forma quase científica, como se fosse um Professor Pardal. É um cara muito bacana e equilibrado.
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