Faz 20 anos hoje, 7 de maio de 2010, que Elizeth Cardoso (1920 - 1990) saiu definitivamente de cena. Sintoma dos descaminhos da cultura musical brasileira, nenhum lançamento foi programado pela indústria fonográfica para lembrar a data, mas o fato é que o padrão de interpretação da Divina resiste ao tempo como valiosa herança de um outro tempo, de uma outra era. Elizeth ajudou a elevar o padrão da música popular brasileira gravada no século 20. Cantora sofisticada que conseguiu alcançar o gosto popular, Elizeth tinha técnica exemplar que realçou o brilho de uma voz já naturalmente bela. A respiração, a afinação e a emissão eram perfeitas. Um nível tão alto de interpretação pedia um repertório à altura - algo que Elizeth passou a ter somente a partir dos anos 60, sobretudo quando Hermínio Bello de Carvalho passou a direcionar sua discografia. Antes, na primeira metade da década de 50, imersa no universo folhetinesco do samba-canção, a cantora nem sempre acertou no repertório. Contudo, sua obra - no todo - é tão digna quanto a artista, cuidadosa faxineira das canções que encarava cada música como diamante a ser lapidado.
Desde cedo precisou trabalhar e, entre 1930 e 1935, foi balconista, funcionária de uma fábrica de saponáceos e cabeleireira, até que o talento foi descoberto aos dezesseis anos, quando comemorava o aniversário. Foi então convidada para um teste na Rádio Guanabara, pelo chorão Jacob do Bandolim.
Apesar da oposição inicial do pai, apresentou-se em 1936 no Programa Suburbano, ao lado de Vicente Celestino, Araci de Almeida, Moreira da Silva, Noel Rosa e Marília Batista. Na semana seguinte foi contratada para um programa semanal na rádio.
Casou-se no fim de 1939 com Ari Valdez, mas o casamento durou pouco. Trabalhou em boates como taxi-girl, atividade que exerceria por muito tempo.
Em 1941, tornou-se crooner de orquestras, chegando a ser uma das atrações do Dancing Avenida, que deixou em 1945, quando se mudou para São Paulo para cantar no Salão Verde e para apresentar-se na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa Pescando Humoristas.
Além do choro, Elizeth consagrou-se como uma das grandes intérpretes do gênero samba-canção (surgido na década de 1930), ao lado de Maysa Monjardim, Nora Ney, a maior intérprete do gênero, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero, comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo ou fossa. O samba canção antecedeu o movimento da bossa nova (surgido ao final da década de 1950, 1957), com o qual Maysa já foi identificada. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, da dor-de-cotovelo e da melancolia.
Elizeth migrou do choro para o samba-canção e deste para a bossa nova gravando em 1958 o LP Canção do Amor Demais,[1] considerado axial para a inauguração deste movimento, surgido em 1957. O antológico LP trazia ainda, também da autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Chega de saudade, Luciana, Estrada branca, Outra vez. A melodia ao fundo foi composta com a participação de um jovem baiano que tocava o violão de maneira original, inédita: o jovem João Gilberto.
Nos anos 1960 apresentou o programa de televisão Bossaudade (TV Record, Canal 7, São Paulo). Em 1968 apresentou-se num espetáculo que foi considerado o ápice da carreira, com Jacob do Bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio, no Teatro João Caetano, em benefício do Museu da Imagem e do Som (MIS) (Rio de Janeiro). Considerado um encontro histórico da música popular brasileira, no qual foram ovacionados pela platéia; long-plays (Lps) foram lançados em edição limitada pelo MIS. Em abril de 1965 conquistou o segundo lugar na estréia do I Festival de Música Popular Brasileira (TV Record) interpretando Valsa do amor que não vem (Baden Powell e Vinícius de Moraes); o primeiro lugar foi da novata Elis Regina, com Arrastão.
Apelidos
Teve vários apelidos como A Noiva do Samba-Canção, Lady do Samba, Machado de Assis da Seresta, Mulata Maior, A Magnífica (apelido dado por Mister Eco) e a Enluarada (por Hermínio Bello de Carvalho). Nenhum desses títulos, porém, se iguala ao que foi consagrado por Haroldo Costa –- A Divina -- que a marcou para o público e para o meio artístico.
Elizeth Cardoso lançou mais de 40 LPs no Brasil e gravou vários outros em Portugal, Venezuela, Uruguai, Argentina e México.
Elizeth Cardoso morreu aos 69 anos, vítima de câncer.
Elizeth foi capaz de gravar discos antológicos (como por exemplo o precursor da bossa-nova "Canção do Amor Demais" de 1958) e de extremo bom gosto. Segue abaixo como exemplo 02 discos e suas respectivas faixas para da divina para matar a saudade de uma das maiores intérpretes da música popular brasileira:
01 - Elizeth interpreta Vinícius de moraes (1963)
Faixas:01 - Mulher Carioca (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
02 - Pela Luz dos Olhos Teus (Vinicius de Moraes)
03 - Sempre a Esperar (Vadico / Vinicius de Moraes)
04 - Menino Travesso (Moacir Santos / Vinicius de Moraes)
05 - Consolação (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
06 - Triste de Quem (Moacir Santos / Vinicius de Moraes)
07 - Se Você Disser Que Sim (Moacir Santos / Vinicius de Moraes)
08 - Ai de Quem Ama (Nilo Queiroz / Vinicius de Moraes)
09 - Lembre-se (Moacir Santos / Vinicius de Moraes)
10 - Valsa Sem Nome (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
11 - Canção do Amor Ausente (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Download:
http://lix.in/-5abdee
02 - Elizeth Cardoso - Live in Japan (1978)
Faixas:01 - Preciso Aprender a Ser Só (Marcos Valle / Paulo Sergio Valle)
02 - É Luxo Só (Ary Barroso / Luis Peixoto)
03 - Outra Vez (Tom Jobim)
04 - Naquela Mesa (Sergio Bittencourt)
05 - Manhã de Carnaval (Luis Bonfá / Antônio Maria)
06 - Última Forma (Baden Powell / Paulo César Pinheiro)
07 - A Noite do Meu Bem (Dolores Duran)
08 - Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves / Paulo Gesta)
09 - Barracão (Luis Antônio / Oldemar Magalhães)
10 - Apelo (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Download:
http://lix.in/-76ba21
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