D.N.A.: Substantivo Masculino. Ácido desoxirribonucléico. Elemento molecular responsável pelo armazenamento de todo o código genético dos seres vivos. D.N.A.: Nome que batiza o 8º álbum de estúdio do cantor e compositor Jorge Vercillo e que registra, na trajetória do artista, o início de muitas estreias.
Produzido pelo próprio Vercillo e por Paulo Calasans, o disco marca a estreia do artista em sua nova gravadora, a Sony Music. No melhor sentido da expressão, D.N.A. foi concebido de modo artesanal e também inaugura o estúdio “Poeta Paulo Emílio”, montado na casa do cantor. O estúdio foi batizado em homenagem ao compositor Paulo Emílio, sogro de Vercillo, e parceiro de Aldir Blanc, João Bosco, Sueli Costa, dentre outros.
O disco traz ao todo doze faixas, sendo dez canções inéditas, todas de autoria de Jorge Vercillo, sozinho ou em colaboração com parceiros habituais, como Dudu Falcão e Ana Carolina. D.N.A. ainda registra a primeira parceria do compositor com Alexandre Rocha, no ijexá “Por nós”, além do encontro inédito do cantor com o multi-instrumentista Filó Machado, no samba funk latino “Arco-Íris”.
Abrindo o álbum, “Há de ser” (Jorge Vercillo) traz o primeiro trabalho em conjunto do cantor com um de seus ídolos, Milton Nascimento, com quem o cantor faz um sofisticado dueto. “Jorge é o que eu entendo por verdadeiro músico. É um amigo, faz parte de minha família, assim como abriu as portas da dele. E como se não bastasse ainda me deu a felicidade de cantarmos juntos Há de ser, uma obra prima. Irmão, obrigado a você e a seus músicos maravilhosos”, declara-se Milton Nascimento.
Outra estreia significativa desse novo álbum é a parceria entre o cantor e sua esposa, Gabriela Vercillo. Juntos, eles dividem a letra do standard jazz “Memória do prazer”, que tem melodia do compositor. Com regência e arranjo de cordas de Jaques Morelembaum, a canção conta ainda com a participação especial da talentosa voz da cantora Ninah Jo, apresentada por Vercillo.
Eleita como o primeiro single do disco, “Me transformo em luar” (Jorge Vercillo) remonta às origens musicais de Jorge Vercillo quando, no início do novo milênio, ele surgiu no cenário musical trazendo em seu D.N.A. o rhythm & blues e a black music, em canções como “Final feliz” e “Leve”, vertentes ausentes em “Todos nós somos um”, seu disco de estúdio anterior.
Em setembro de 2009, o cantor embarcou para uma temporada de shows em Luanda, Angola, onde gravou a afro “Quando eu crescer” (Jorge Vercillo), que tem parte da letra cantada em Kimbundo, um dos dialetos angolanos, em versão criada por Felipe Mukenga. A canção tem a participação do cantor angolano Dodô Miranda nos vocais, a percussão de Dalu Rogê e o apoio de um coral de adolescentes angolanos. Jorge Vercillo e Felipe Mukenga doaram integralmente os diretos autorais dessa música para o projeto de alfabetização das crianças angolanas.
D.N.A. traz ainda a jazzística “Caso perdido”, primeira parceria de Vercillo com Max Viana, nascida em um dos vários encontros de compositores, promovidos por Vercillo e Dudu Falcão, também parceiro de Vercillo em “Cor de mar”, que traz elementos de salsa, reggae, xote e shufle.
Pela primeira vez Vercillo usa cavaquinho, surdo, violão de sete cordas e formação original de samba num disco. A música “Verdade oculta”, de sua autoria, mostra o momento de envolvimento do cantor com a teosofia, ufologia e uma visão holística do mundo (“Como é que eu devo ter medo do que é só amor? / Perceba a cumplicidade entre espinho e flor... / Quem não julga o desigual nada vai descriminar...”). Em “Ventos elísios”, também de sua autoria, Vercillo faz um questionamento sobre a nossa incapacidade de compreender e de se aprofundar no que é impalpável e indizível (“É raso quando falo do profundo / É claro o despreparo se eu adentro pelo escuro”).
Jorge Vercillo ainda elegeu duas de suas canções já registradas por grandes - e queridas - intérpretes: “O que eu não conheço” (parceria com Jota Velloso), gravada por Maria Bethânia em 2009, no disco “Tua”, que agora ganha uma versão mais intimista, e “Um edifício no meio do mundo” (Jorge Vercillo/Ana Carolina), registrada pela parceira no projeto “Dois Quartos”, de 2009.
A canção “Deve Ser”, parceria com Dudu Falcão, entrou como faixa bônus. A balada, que compõe o repertório do último DVD de Vercillo, “Trem da Minha Vida”, está na trilha sonora da novela “Viver a Vida”, da TV Globo.
Esse é o mais puro D.N.A. de Jorge Vercillo.
Susana Ribeiro, abril de 2010
“D.N.A.”, por Jorge Vercillo:
1- “Há de ser” (Jorge Vercillo) - A ambiguidade está marcada aí. Seja no amor, na vida em si. Acho que ela é dramática, pesada e, ao mesmo tempo, dócil e inconsequente. A participação do Milton, com sua voz do “Altíssimo” emociona muito a todos. Acho que fica bem claro toda a minha influência de sua música. Tem um alguns xamãs e caciques rondando por ali também. Por isso, inseri aquela tribo no início e no fim. 2 - “Arco-íris” (Filó Machado / Jorge Vercillo) - É uma realização pessoal poder apresentar esse gênio musical para o meu público. Sou fã do Filó desde 1983, quando eu comecei a ouvir seus discos. Mas só nos conhecemos em 2009, num show em São Paulo. Na casa dele, em Sampa, fizemos juntos parte da melodia. Filó trouxe todo o seu talento nas percussões e seus improvisos, cheios de swing.
3 - “Verdade oculta” (Jorge Vercillo) - Essa é um samba que fala sobre aceitação e tolerância entre culturas, religiões, etnias, etc. Existe uma outra parte da canção, que é revelada depois do “final”. 4 - “Memória do prazer” (Jorge Vercillo / Gabriela Vercillo) – É a primeira parceria minha com a minha mulher, Gabriela. Eu já tinha essa melodia, que remetia aos standards da Broadway. Ocasionalmente eu a cantarolava e a Gabi começou a se envolver naturalmente, me salvando no labirinto das palavras e das rimas. Não tinha como ser diferente, pois ela já estava refém da melodia que há dias girava em looping na sua mente (rs). Desde o primeiro momento, eu pensava em dividir essa canção em duo com a Ninah Jo, que nos encanta pela força e emoção da sua voz. Tenho agora a felicidade de poder apresentar um pouco do grande talento dela.
5 - “Cor de mar” (Jorge Vercillo / Dudu Falcão) - Mistura de reggae, xote, valsa, MPB e pop, essa é mais uma parceria com meu amigo Dudu. Na introdução e no final, traz nos talentoso teclado do Calasans, um efeito que batizei como “baleias asiáticas”.
6 – “Quando eu crescer” (Jorge Vercillo): Ritmo originado no meu violão com clara influência africana. Essa letra retrata nossas reminiscências infantis, como as primeiras paixões de sala de aula, que nunca foram correspondidas.
7 - “Me transformo em luar” (Jorge Vercillo) – Ela traz uma mistura de MPB com o rhythm & blues ou charme, como nós chamamos aqui no Rio. A levada de violão no começo e nos refrões tem sido uma forma minha e de muitos músicos da nova geração de tocar esse instrumento tão brasileiro de um jeito “guitarrístico”, explorando um recurso usado no pop e na música africana chamado “pica-pau”, que traz notas mudas e percussivas na guitarra. A letra fala de uma paixão avassaladora, tanto carnal quanto sagrada. E fala também de alquimia, outro tema pelo qual tenho particular interesse.
8 - “O que eu não conheço” (Jorge Vercillo / Jota Velloso): Uma vez, o Jota me falou de uma frase linda que tinha ouvido de sua tia Bethânia, que, por sua vez, tinha ouvido de uma bordadeira em Santo Amaro, que dizia que “o mais importante do bordado é o avesso”. Foi lá mesmo em Salvador que comecei a musicar aqueles versos...
9 – “Caso perdido” (Jorge Vercillo / Max Viana) - Essa canção nasceu nos nossos encontros de compositores no RJ. Quando Max me mostrou a primeira parte da melodia, fiquei ainda mais impressionado com seu talento criativo. Ela traz o jazz como principal tempero, mas com pitadas de fox e blues.
10 - “Ventos Elísios” (Jorge Vercillo) - Fala de nossa dificuldade de entender a energia da vida separada do mundo físico e aceitá-la como real. Como lidar com a fé e espiritualidade se nossos parâmetros são tão reféns do plano material? Ao mesmo tempo, como se cegar às evidências de que somos muito mais energia do que matéria?
11 – “Por Nós” (Jorge Vercillo / Alexandre Rocha) - Parceria antiga, da época que eu ainda tocava na noite. Traz sensações, aromas, lembranças prazerosas, ligadas a lugares e pessoas queridas. Fiz há pouco tempo o refrão que faltava e o Alexandre gostou. Tenho uma energia muito ligada ao sol e ao mar.
12 – “Um edifício no meio do Mundo” (Jorge Vercillo / Ana Carolina) - Essa é uma mistura do meu DNA com o da Ana. Começa com a percussão conduzindo a levada nos violões. Depois o arranjo cresce com a entrada da bateria, cordas e o naipe no ultimo refrão.
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