Páginas

terça-feira, 20 de abril de 2010

AS PALAVRAS QUE NUNCA SÃO DITAS...

Por Zeca Camargo

“Joana não sabia se achava graça, se deixava ‘passar batido’, ou se abria o envelope que carregava sempre na sua bolsa. A terceira opção certamente era a mais perigosa, já que abrir o envelope significava deixar a memória de Breno substituir todos seus pensamentos. Fazia dias, talvez semanas, que ela nem lembrava que o envelope estava lá – branco, quase indistinto de tantos outros, não fosse pela caligrafia nervosa que, sobre o lado sem emendas havia escrito: ‘As palavras que nunca são ditas’.


Mas agora a presença dele em meio ao pequeno inventário que Joana carregava sempre a tiracolo era tão óbvia que o envelope parecia vibrar como um celular poderoso. E tudo isso porque, ao procurar no próprio telefone um ‘torpedo’ com um endereço de um dermatologista que uma amiga (também chamada Joana, só que com ‘u’) a havia enviado no final do ano passado, descobriu que não havia apagado todas as mensagens que ele havia mandado.

No início de abril, em mais uma tentativa de esquecer o cara que tinha mudado sua vida, Joana fez o impensável: deletou tudo que ele havia escrito para ela – tudo! Dos primeiros recados em código – já que nenhum dos dois sabia onde estava pisando – ao último recado onde ele inquestionavelmente pedia para ficar sozinho. Simples declarações de amor, profundos questionamentos sobre os sentidos da paixão, passagens de livros que ambos gostavam (e achavam que haviam sido escritas para eles), pedidos na linha ‘não me abandone jamais’, breves lembretes de que um havia encontrado no outro a parceria da sua vida – tudo sumiu em menos de dez segundos, depois que ela respondeu ‘sim’ à pergunta direta na tela do seu celular: ‘apagar mensagens marcadas?’.

Mas ‘tudo’ não era exatamente ‘tudo’. Havia sobrado uma mensagem, que Joana não tinha certeza se a havia guardado de propósito ou se foi mero ato falho – uma modalidade de esporte masoquista na qual ela era campeã. Talvez o recado não houvesse sido descartado junto com os outros por mero acaso mesmo. Afinal, ela nem podia imaginar por quais motivos ela gostaria de reler, mesmo tanto tempo depois, uma bobagem como essa:

‘Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?! Eu te adoro meu amor, tenho tanta felicidade dentro de mim que parece que eu não vou aguentar! E assim como eu a vi hoje quando abri meus olhos, eu também não sei mais durmir sem você…’

O problema era que tinha sim alguns motivos para retornar sempre a essa mensagem. O primeiro deles, a referência à tarefa sempre insana de um constantemente tentar surpreender o outro com uma frase de amor original. A citação a ‘Quase sem querer’, do Legião, era uma brincadeira íntima, como se os versos cantados por Renato Russo fossem uma espécie de provocação constante que fizesse parte da intricada equação do amor que eles sentiam. Geralmente quando Joana achava que tinha sido original – por exemplo, usando fragmentos da decadente decoração da casa dele para falar dos seus sentimentos –, Breno vinha com algo ainda mais inesperado – como uma listagem das coisas que melhoraram a sua volta simplesmente porque ela havia feito dele uma pessoa melhor. E a competição – que eles adoravam frisar que ‘não era uma competição’ – ia em frente.

A referência a ‘não aguentar de tanta felicidade’ era outra constante na relação entre Joana e Breno – e outro motivo não declarado para ela querer guardar aquela mensagem. Mais de uma noite foi gasta tentando pensar em como eles administrariam tanto amor – uma grande ironia, quando o que os separou foi justamente a incompetência (de ambos) em lidar com algo tão avassalador.

E finalmente havia a grafia errada do verbo ‘dormir’ – um pequeno pecado ortográfico que ele assumia, mas admitia não saber a origem… Desde pequeno escrevia daquele jeito – com ‘u’ – e só se dava conta que havia feito isso quando relia um texto seu. Joana, claro, adorava que ele cometesse aquela pequena gafe (um inexplicável deslize em alguém que tinha o português tão impecável), e mais de uma vez forçou dele uma reposta por escrito que tivesse o verbo ‘durmir’ só para rir sozinha, cheia de carinho e saudade, quando estava longe do Breno.

Voltou a ponderar as três reações possíveis à ‘redescoberta’ da mensagem. Achar graça seria leviano demais – mesmo depois de mais um ano, nada naquela separação inspirava sequer um sorriso. Passar batido? Impossível. Cada vez que Breno cruzava seu pensamento era como se todo seu raciocínio fosse sequestrado – não tinha como ignorar, qualquer referência a ele que não merecesse uma resposta.

O que a levava à terceira opção: abrir o envelope na sua bolsa. Mas se fizesse isso, já sabia o que viria depois. Ali ela encontraria todas as cartas e todos os bilhetes que ele havia escrito para ela. Contraditório? Nem tanto. Uma coisa era apagar as mensagens do celular. Outra era jogar fora o registro da letra de Breno. Isso ela não tinha coragem de fazer. O que não significava que ele estava preparara para revisitar aquele material. Enfim, reler aquilo tudo significaria se perder mais uma vez em lembranças boas demais que a fariam sofrer tudo de novo.

Não. Era preciso pensar numa quarta opção. Mas não houve tempo para pensar. Quase como um reflexo, Joana apertou a tecla ‘responder’ no seu telefone e escreveu:

‘Breno, não se assuste. Nem pare de ler essa mensagem por aqui’.”

Caro visitante, se você chegou até esta frase, eu já posso comemorar. Consegui seduzi-lo (ou seduzi-la) até aqui com um pequeno atrevimento da minha parte: uma pequena obra de ficção – de minha própria lavra! Ou ainda, um fragmento dessa obra de ficção – porque a história, claro, continua (pelo menos como eu a imaginei). Mas mais sobre isso daqui a pouco – aliás, pode sentar e relaxar porque este vai ser um post longo, talvez o mais longo da história deste blog…

Fiquei inspirado a escrever alguma coisa quando, esta semana, encontrei numa livraria a coletânea de contos “Como se não houvesse amanhã”, organizada por Henrique Rodrigues e editada pela Record. Trata-se de uma série de histórias inspiradas em músicas do Legião Urbana – uma iniciativa interessante, que deve agradar não apenas aos fãs da banda (e de Renato Russo), mas aos leitores que gostam de um bom exercício lúdico.

Usar música como inspiração para literatura não é novidade. Por exemplo, o autor de “Alta fidelidade”, Nick Hornby, fez sua carreira literária em cima disso. E vale lembrar também de uma série de pequenos livros (que coleciono não muito religiosamente) chamada “33 1/3” – uma referência à rotação necessária para tocar os antigos LPs de vinil (consulte seu tio “mais velho” para mais detalhes). Ela convida escritores de vários estilos a contar uma história em torno de um álbum clássico do pop/rock (meus favoritos são um sobre “Unknown pleasures”, do Joy Division, por Chris Ott; “Pink moon”, de Nick Drake, por Amanda Petrisich; “Doolittle”, do Pixies, por Ben Sisario; “Endtroducing”, do DJ Shadow, por Eliot Wilder; e obviamente “Meat is murder”, do The Smiths, por Joseph T. Pernice – mas não, curiosamente, “Achtung baby”, do U2, por Stephen Cantanzarite, nem “OK Computer”, do Radiohead, por Dai Griffiths).

Mesmo não sendo muito original, a idéia de “Como se não houvesse amanhã” me pareceu bastante oportuna – nem que fosse pela passagem recente (lembrada com entusiasmo aqui mesmo na internet) da data que marcaria o aniversário de 50 anos de Renato Russo, agora, dia 27 de março. Como qualquer coletânea, ela é bastante irregular. Mas a maioria dos textos é interessante – são menos tributos apaixonados do que elegantes referências a obra daquele que foi um dos mais inspirados poetas e um dos mais apaixonados compositores do nosso pop.

Nenhum dos textos “baba ovo” para o Legião, mas há sempre uma alusão discreta e carinhosa às músicas escolhidas pelos colaboradores (boa parte deles, notei, nascida nos anos 70). Entre os que mais gostei, estão o de Ramon Mello (em cima da música “Sereníssima”); o disfarçadamente triste reencontro descrito por Susana Fuentes (baseado em “Quando o sol bater na janela do seu quarto”); e o conto de Miguel Sanchez Neto, inspirado por “Meninos e meninas”, que começa com essa quase perfeita frase: “É preciso passar por muitas decepções para merecer de novo o primeiro amor”.

Totalmente imbuído desse espírito, lá fui eu tentar minha sorte na ficção, com a mesma desculpa: usar uma música do Legião Urbana para contar uma história. O primeiro desafio, claro, era escolher uma canção que os outros autores ainda não haviam usado. Para minha surpresa, entre as 20 músicas escolhidas, duas das minhas favoritas ficaram de fora: “Índios” e “Quase sem querer”. Qual das suas eu deveria ser minha opção?

As duas falam muito próximo do meu coração. “Índios”, sobretudo, tem uma letra que, na minha opinião, transcende a interpretação primária de que é uma canção sobre uma grande decepção amorosa. E “Quase sem querer” é, depois de “Quando um certo alguém” (do meu guru Lulu Santos), o maior hino ao amor que não consegue se declarar – como não usar isso como inspiração?

Por fim, decidi por “Quase sem querer” – quase que por eliminação. “Índios” exigiria de mim um esforço que está bem acima do tempo que dedico para fazer este blog (que já é bem generoso…). Escrever sobre “Quase sem querer” não seria exatamente mais fácil. Mas seria mais rápido. E foi assim que essa história que você começou a ler hoje (ainda está aqui comigo?) nasceu! Mas… mais sobre isso daqui a pouco.

Antes disso – já avisei que esse seria um dos posts mais longos da história deste blog? –, preciso falar de Renato Russo.

Teve o “aniversário”, como você acompanhou – a data em que Renato faria 50 anos. E entre as comemorações a MTV passou – mais uma vez, diga-se – a entrevista que eu fiz com ele, nos idos de 1993… Eu era bem mais jovem – e não vamos nem falar sobre a minha silhueta… Eu era outro cara, enfim – “só” com 30 anos! E eu me lembro até hoje da excitação de entrevistar Renato Russo.

Como já contei no meu livro “De a-há a U2”, quando chegamos à casa de Renato, ele estava “dormindo”… Era um “teatro”, claro – uma encenação para nós, como se ele tivesse se esquecido do compromisso de receber uma equipe de TV no seu apartamento na rua Nascimento Silva, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Eu mesmo caí na “pegadinha” de Renato – e por alguns minutos pensei em desarmar toda a operação. Mas era Renato Russo! Ele era “o cara” – não só porque era 1993, mas porque toda uma geração tinha crescido ouvindo sua potente voz (e seus sábios ensinamentos…). Eu tinha uma responsabilidade enorme nas minhas costas – com o perdão do clichê! –, e o cara estava em sua casa, deitado embaixo dos lençóis dizendo que não queria dar uma entrevista? Por alguns minutos, eu achei que iria enlouquecer!

Mas Renato – como se diz em Portugal – estava “a desporto”… E em questão de minutos, ele acabou com a brincadeira, saiu do seu quarto, e começamos a conversar como se fôssemos grandes amigos. Atenção aos mais cínicos: isso não é uma demonstração de falsa intimidade. Eu não era exatamente amigo de Renato Russo até então – e, embora a entrevista tenha levado nossa intimidade a um novo patamar, não posso dizer que ficamos mais “próximos” depois dela. Mas tenho certeza – e revendo a entrevista que a MTV reapresentou neste fim-de-semana tive mais convicção disso – de que consegui ali estabelecer uma proximidade e uma transparência que ele ainda não havia mostrado para nenhum outro jornalista.

Renato Russo era um gênio. Quanto mais escuto suas músicas, quanto mais revisito seu trabalho, tenho certeza disso. Mesmo longe da adolescência, ouvia cada letra de música do Legião como um oráculo. Devoto ferrenho dos Smiths, tinha a certeza de que Renato Russo era a encarnação brasileira de Morrisey – não apenas por imitação, mas como um verdadeiro herdeiro daquela poesia suprema que consegue dizer o indizível: a dor da rejeição, a impossibilidade do amor, a incompreensão do mundo, o questionamento da inadequação.

Parece muito profundo, mas não é. Ou melhor, a beleza da música pop criada por Renato Russo – junto com o Legião – está exatamente em traduzir questões tão complicadas de maneira totalmente acessível para todos. Exemplos? “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você” – de “Será”, que até hoje eu acho que Renato tirou de “Say hello, wave goodbye”, a obra-prima do Soft Cell. “Antes eu sonhava, agora já não durmo” – de “Sereníssima”. “Todos se afastam quando o mundo está errado” – de “O livro dos dias”. “A gente quer um lugar pra gente, a gente quer de papel passado, com festa, bolo e brigadeiro” – de “O descobrimento do Brasil”. “Desculpas nem sempre são sinceras, nunca são” – de “Acrilic on canvas”. “Acho que o imperfeito não participa do passado” – de “Meninos e meninas”. E olha que não estou falando nem das músicas mais óbvias…

Esse cara – desculpe a intimidade, Renato, mas depois de rever a entrevista, e depois de ouvir tantas vezes suas músicas e me identificar tanto com suas palavras –, enfim, esse cara, o Renato, me dá forças até hoje para acreditar no amor.

Renato era um devoto da beleza. Não tendo ele mesmo sido agraciado com esse presente – você que se acha tão bonito ou tão bonita, nunca se esqueça de que isso é um presente – Renato se cercava de coisas belas. Das caixas de óperas completas que recheavam as estantes da sua casa, às fotos dos meninos que decoravam as paredes de seu apartamento, ele espalhava por sua casa a graça que ele mesmo não tinha. E mais: fazia da sua arte o melhor canal para espalhar pelo mundo justamente o que a natureza lhe privou – beleza.

Essa me parece ser uma questão fundamental na sua obra – e o legado mais precioso que Renato nos deixou. E é justamente o que eu queria celebrar aqui hoje, ressaltando, ainda que um pouco atrasado, seu aniversário “virtual” de 50 anos. Nós vamos sempre voltar para Renato Russo como uma referência de beleza e poesia. Minha geração foi inevitavelmente influenciada por ele – e pelo que vi na coletânea “Como se não houvesse amanhã” – a geração que veio logo depois da minha também.

O filho de uma de minhas melhores amigas – que acabou de entrar no vestibular – ouve as músicas do Legião como se elas falassem diretamente com ele, o que me dá esperança de que elas sejam justamente atemporais… Universais! E eu não tenho receio de arriscar um palpite de que isso vai se repetir por muitos e muitos anos…

Por muitos e muitos anos…

Eu mesmo, na relativa insignificância do meu registro cultural, espero um dia fazer diferença para gerações que não são exatamente essa que está me lendo agora. E se eu tenho uma inspiração forte é Renato Russo. Nosso cenário pop não é dos mais ricos no que diz respeito a ídolos. Mas isso nem de longe diminui o mérito de Renato. Ao lado do já citado Lulu Santos, Cazuza em bons momentos – e possivelmente Caetano (se você tiver a flexibilidade necessária para considerá-lo uma artista pop) –, ninguém traduziu tanto a angústia de não ser amado como ele. E por isso ele será sempre lembrado. Sempre.

Na música que escolhi como ponto de partida para o conto que abre o post de hoje – e que, diga-se, não foi solicitado –, “Quase sem querer”, aprendi que “mentir para si mesmo é sempre a pior mentira”. E ao ressuscitar esse lugar tão comum, Renato, com sua genialidade renovou a esperança em mais de um coração destruído. Seus versos – e esse inclusive – são as próprias “palavras que nunca são ditas”. Não que elas nunca tenham sido pronunciadas por ninguém. Mas é que na voz de Renato – e no embalo que o Legião como um todo criava para elas – essas palavras sempre surgiam como se, de fato, fossem “nunca ditas”.

Porque são palavras assim que os amantes trocam – na ilusão deliciosa de que elas são inéditas. E são palavras assim que eu tentei rearranjar nessa minha primeira incursão oficial – pelo menos, a primeira incursão assumida! – pelo universo da ficção. Escrevi esse texto que abre o post de hoje esta semana quase que por impulso, motivado pelo livro-tributo que, como já contei (este texto está realmente longo, mas eu avisei…), encontrei esta semana numa livraria – e tenho de confessar que precisei de uma boa dose de coragem para apresentá-lo aqui para você.

Reforçando, este não é o conto inteiro. De propósito, publiquei aqui apenar uma parte dele – e, como alguém que é assumidamente fã de novelas, interrompi minha narração num ponto que, em inglês a gente chama de “cliffhanger”, um “gancho” que explicitamente faz com que quem lê fique curioso para saber o que vem depois na história. Foi, como disse, de propósito. Como qualquer autor principiante, lido com a incerteza de saber se meu leitor ou minha leitora vai quer saber do resto. E, num rasgo de atrevimento, pergunto: será que você quer saber como esse conto termina? Devo continuar?

Sei que é uma ousadia – ainda mais depois de ter dedicado praticamente todo o post para um ícone como Renato Russo. Mas se eu sentir que a água está tranquila – todo autor é inseguro por natureza, lembre-se disso! –, eu publico o resto. Se não, fica aqui só meu registro de uma homenagem que eu nunca pude fazer para o cara com quem eu passei uma manhã e uma tarde incrível conversando sobre os mais variados assuntos, quase sem acreditar que eu estava tão próximo dele.

O que a MTV exibiu novamente neste fim-de-semana – e que você pode encontrar com facilidade aqui mesmo na internet – não é mais que a versão editada de um encontro tão especial, que mesmo no relato mais íntimo que tentei dar no meu livro não foi capaz de espelhar por inteiro.

Uma outra hora, num outro plano, quem sabe, eu volto a encontrar com ele. E a conversa vai continuar, eu tenho certeza. Quem sabe até eu mostro para ele, por inteiro, um conto que eu escrevi, e que se chama “As palavras que nunca são ditas”?

DORI OLHA PARA DENTRO DE DENSO MUNDO AUTORAL

Resenha de CD por Mauro Ferreira

Título: Mundo de Dentro
Artista: Dori Caymmi
Gravadora: Music Taste
Cotação: * * * *

Mundo de Dentro - o disco que Dori Caymmi está lançando no Brasil neste mês de abril de 2010 - já tem importância natural por ser o primeiro álbum autoral solo do compositor desde If Ever... (1994). Dori vem de um disco dividido com Joyce (Rio-Bahia, 2006) e, antes, exercitou seu talento de intérprete nos belos CDs Influências (2001) e Contemporâneos (2002) - além de ter regravado o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Tome Conta de meu Filho que Eu Também Já Fui do Mar... (1997) com a autoridade de ter tanto intimidade com a obra quanto uma voz profunda que evoca o canto de seu pai . Há algo de Dorival - a quem Mundo de Dentro é dedicado - na obra e no canto de Dori. Influência primordial que salta aos ouvidos logo na sublime Quebra-Mar, primeira das 13 faixas deste CD que alterna músicas inéditas com temas gravados por outros intérpretes neste hiato de 16 anos em que Dori não lançou disco inteiramente dedicado à sua obra autoral. Gravada em dueto com Renato Braz, grande cantor de timbre profundo com o o de Dori, Quebra-Mar mergulha no universo praieiro de mestre Dorival através dos versos poéticos de Paulo César Pinheiro, letrista de 12 dos 13 temas cantados por Dori neste Mundo de Dentro (a faixa-título tem a adesão de Danilo Caymmi na autoria). A exceção é Fora de Hora, o tema feito para o filme Lara (2003) que tem versos escritos por Chico Buarque sob a ótica feminina hoje mais escassa no cancioneiro do criador de Olhos nos Olhos e Terezinha.

Dentro da memória das águas, Mundo de Dentro - disco de tom denso e interiorizado como sugere seu título - traz a regravação de Rio Amazonas num correto registro (com letra) que não atinge as profundezas da beleza da gravação feita por Wanda Sá e Célia Vaz com vocalises para o CD Brasileiras (1996). Em contrapartida, o frevo Chutando Lata - tema que batizou (na versão em inglês) o álbum Kicking Cans, lançado por Dori em 1992 - ressurge em gravação mais sedutora. Inclusive pelo fato de trazer Edu Lobo - compositor carioca que sempre teve intimidade com o ritmo mais popular de Pernambuco - como convidado da faixa. Em dueto com Dori, Lobo se mostra obviamente à vontade nas divisões do frevo. Ainda dentro da seara nordestina, Dori rebobina Flauta, Sanfona e Violão - tema que já gravou em If Ever... (1994), mas sem os apropriados versos em português de Paulo César Pinheiro.

Em que pesem as faixas de maior vivacidade rítmica, Mundo de Dentro soa denso porque boa parte do repertório tangencia o universo do samba-canção para falar de amor. Às vezes com júbilo pela própria chegada do sentimento (como em É o Amor Outra Vez, o tema lançado por Maria Bethânia em 2009 no CD Tua), às vezes com dor (como em Armadilhas de um Romance), às vezes com saudade do êxtase fugaz da paixão (como em Saudade de Amar, música lançada por Nana Caymmi em 2001 no disco Desejo), mas quase sempre com a certeza de que vale a pena amar (como em Sem Poupar Coração, linda faixa-título do álbum lançado pela mesma Nana em 2009). No terreno amoroso, Dori tem se revelado inspirado compositor sem nunca patinar na lama sentimental em que se afundam a maior parte das canções do gênero. E seus registros autorais desses temas - feitos com doses altas de interiorização - valorizam este vasto Mundo de Dentro.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

50 ANOS DE BRASÍLIA

No dia 21 de abril de 1960, o último do Rio de Janeiro como capital da República, dois de seus principais cronistas – nenhum deles carioca de nascimento, o que era típico de uma metrópole que se pretendia a "síntese do Brasil" – viveram experiências opostas. O capixaba Rubem Braga se desgarrou dos amigos que iam conferir o desfile das escolas de samba na Avenida Rio Branco, um evento sintomaticamente bagunçado, promovido sem dinheiro e com escassez de policiamento pelo Departamento de Turismo da prefeitura para comemorar o nascente estado da Guanabara. Depois de ver no Leme os fogos de artifício que saudaram a meia-noite, Braga entrou solitário numa boate e, ao sair, constatou melancolicamente que a lua minguante era agora uma "lua estadual".

Naquele momento, o pernambucano Nelson Rodrigues estava longe de tudo isso – do Rio e da melancolia –, em plena festa de inauguração de Brasília, esta sim uma comemoração rica, financiada por um "crédito especial de
Cr$ 150 milhões", como noticiou na primeira página o jornal antibrasiliense Tribuna da Imprensa. Contrariando sua lendária aversão a viagens, Nelson tinha aceitado carona num dos ônibus que o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) – onde um de seus filhos prestava serviço militar – alugara para levar oitenta estudantes secundaristas aos festejos. A caravana saiu do Rio no dia 20 para uma desconfortável viagem de vinte horas. Em troca da hospedagem no Planalto Central, o maior dramaturgo brasileiro negociou enviar para o jornal Última Hora, de Samuel Wainer, uma crônica a ser publicada no dia 22, o primeiro da Federação redesenhada.

O cisma aberto em sua elite cultural deixa claro que o Rio de Janeiro chegou aos últimos momentos de seus 71 anos como capital da República – e dos 197 desde que se tornara sede da colônia, em 1763 – imerso em confusão. Uma confusão construída paralelamente ao trabalho dos candangos, crônica por crônica, samba por samba, conversa por conversa, pelo menos desde o início de 1957, quando começou a ficar evidente até para os céticos que Juscelino Kubitschek não estava brincando ao dizer que levaria a capital embora. Aquilo seria bom para o Brasil, mas ruim para a cidade? Um desastre para ambos? Excelente para todos, com exceção dos barnabés? O Rio, agora autônomo, ganharia mais atenção de seus governantes? Brasília dividiu os brasileiros em duas facções, a dos "mudancistas" e a dos "antimudancistas". Era natural que a capital preterida fosse palco das principais batalhas.

Quem não chora não mama

Havia muita reclamação, mas a população do Rio aceitara Brasília – Ibope*

80% acreditavam que JK tinha acelerado o desenvolvimento brasileiro

73% aprovavam a mudança da capital

62% acreditavam que a nova capital traria benefícios ao país

24% desaprovavam a iniciativa

* Pesquisa realizada em março de 1960
Não se tratava de mera rixa de literatos. A novidade de concreto armado que brotara em tempo recorde no meio de Goiás era um ímã de aventureiros em busca de enriquecimento rápido, mas deixava apavorados os funcionários públicos federais habituados à vizinhança da praia e ao consumo elegante na Galeria Menescal – destes, apenas 1,1% tinha sido transferido para Brasília a tempo da inauguração. Políticos amotinados ameaçavam criar um Senado paralelo no Rio, alegando falta de condições de trabalho na Novacap. Na área da cultura popular, o racha ganhou corpo nos sambas antípodas de Billy Blanco e Ataulfo Alves. O primeiro, que em 1957 chegou a ter sua execução proibida extraoficialmente na Rádio Nacional, apregoava que, por não ser "índio nem nada", não iria para Brasília, "nem eu nem minha família". O segundo rebuscava a rima com o nome da nova capital para tomar o rumo oposto: "Levo comigo Conceição e Dorotília / violão e tamborim. / Vou fazer samba em Brasília".

A imprensa guardou os melhores registros da briga. O título da crônica que pagou a hospedagem de Nelson Rodrigues em Brasília – e que mereceu chamada de primeira página na Última Hora – era "A derrota dos cretinos". Não foi Rubem Braga o alvo escolhido pelo autor entre os antimudancistas que, sobretudo no Rio e em São Paulo, pululavam na imprensa e nos meios políticos – estes puxados pela retórica inflamada do udenista Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa e líder das manobras que haviam tentado impedir JK de tomar posse. "A derrota dos cretinos" fazia mira no poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, outro carioca de adoção, que em uma crônica no Correio da Manhã tinha criticado a poeira vermelha do Planalto Central. Em transe épico – o mesmo que o levara a declarar que, "a partir de Juscelino, surge um novo brasileiro" –, Nelson imaginou o dia em que veria Drummond num canteiro de obras da nova capital, "dando rijas e sadias marteladas".

Havia mudancistas mais sóbrios. O escritor paraibano José Lins do Rego defendia a tese corriqueira de que o governo federal precisava se isolar dos "problemas locais" de uma grande cidade. Os antimudancistas também tinham colorações variadas. Enquanto o maranhense Josué Montello lamentava a partida das autoridades federais, "grandes figuras que se ajustavam à importância" do relevo carioca, Rubem Braga mal disfarçava o despeito ao prever que "pelo menos no caráter" faria bem ao Rio a migração da "fauna mais graúda dos animais de rapina" para o Planalto Central. O ciúme era tão disseminado que chegava a ser explícito no texto publicado por David Nasser na revista O Cruzeiro de 7 de maio de 1960: "Obrigado, Juscelino, por haveres trocado esta cidade por uma paixão recente. O Rio te agradece por Brasília, a noiva que preferiste a um velho amor".

Café society. Tratava-se, porém, de um ciúme temperado por autossuficiência. Ao mesmo tempo em que listava as mazelas urbanas que poderiam ter sido resolvidas pelos dutos de dinheiro canalizados para Brasília – falta de água crônica, enchentes, trânsito engarrafado, favelização –, a imprensa da cidade fazia variações sobre o tema "Encanto não se transfere", ilustrado por uma foto da Praia de Copacabana no Jornal do Brasil de 21 de abril de 1960. O "encanto" não englobava pouca coisa. O Rio acabava de adicionar mais um tijolinho ao edifício de sua fama internacional com o sucesso do filme Orfeu Negro, de Marcel Camus, Palma de Ouro em Cannes. Exportava para o resto do Brasil, via colunismo social e revistas de grande vendagem como O Cruzeiro e Manchete, um espetáculo de boa vida e elegância conhecido como café society e simbolizado pela sofisticação da boate Sacha’s, frequentada até por JK. E embalava tudo isso na batida da bossa nova, produto de sua classe média praiana, que naquele ano de 1960 venderia nos Estados Unidos mais de 1 milhão de cópias de Samba de Uma Nota Só e Desafinado. Como poderia o Peixe Vivo competir com aquilo? "Espírito e coração do Brasil", pontificou o Correio da Manhã em editorial, "continuamos sendo nós."

JK, político hábil, tratou de afagar esse orgulho na despedida. No programa de rádio Voz do Brasil de 19 de abril de 1960, mandou um recado à cidade, dizendo que seus "centros de cultura prosseguirão jorrando a luz que dirige a marcha do Brasil para o seu grande destino". No dia seguinte, ao descer a escadaria do Palácio do Catete pela última vez, derramou algumas lágrimas. E no fim tudo acabou em festa popular, com "centenas de milhares de pessoas" (a conta é do jornal O Estado de S. Paulo) tomando "a Avenida Rio Branco, Largo da Lapa e vias adjacentes". À meia-noite do dia 20, o samba deu lugar a um buzinaço e à marchinha Cidade Maravilhosa, recém-transformada em hino da Guanabara. Na guerra ruidosa entre mudancistas e antimudancistas, entre a ciumeira e a euforia, não sobrara espaço para uma reforma institucional que equacionasse o futuro político e econômico de uma cidade desabituada de ser província. Quarenta anos depois, com amargura, o economista Carlos Lessa anotaria no livro O Rio de Todos os Brasis: "O Rio cedeu os direitos de primogenitura em troca de um prato de lentilhas". Deu-se parte da recuperação da autoestima carioca em 2 de outubro deste ano, quando a cidade foi anunciada como sede da Olimpíada de 2016. "O Rio é uma cidade que perdeu muitas coisas ao longo da história", disse o presidente Lula. "Foi capital, foi coroa portuguesa, e aparece nos jornais em notícias ruins. É hora de retribuição a um povo maravilhoso."


O duelo dos sambistas


Eu não sou índio nem nada
Não tenho orelha furada
Nem uso argola pendurada no nariz
Não uso tanga de pena
E a minha pele é morena
Do sol da praia onde nasci
E me criei feliz
Não vou, não vou pra Brasília
Nem eu nem minha família
Mesmo que seja pra ficar cheio de grana
A vida não se compara
Mesmo difícil, tão cara
Eu caio duro mas fico em Copacabana

Billy Blanco, em Não Vou pra Brasília, contra a mudança



Trabalhador eu sei que sou
Me dê um palmo de terra, doutor
Garante a minha família que eu vou
Levo comigo Conceição e Dorotília
Violão e tamborim
Vou fazer samba em Brasília
Parto, saudoso do meu
Rio de Janeiro
Mas eu vou ficar famoso
Lá serei o primeiro

Ataulfo Alves, Samba em Brasília,a favor da mudança.
Anos depois, em comemoração aos 30 anos de Brasília o compositor pernambucano Alceu Valença também deu sua contribuição na música popular para homenagear a capital federal de nosso país:


Te Amo Brasília (Alceu Valença)

Estava tão lôbo
Nos bares da vida
Sangrava a ferida
Do meu coração
E uma doida dona
Charmosa e tão linda
Com tudo de cima
Me botou no chão...

-Qual é o seu nome?
-Me chamo Brasília
Sabia que um dia
Ia te encontrar
Ela só queria
Eu quase acredito
Quebrar o meu mito
E me abandonar...

Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília
Vou morrer de saudade
Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília
Vou prá outra cidade...

Lê Lê Lê Lê Lê Lê
Lê Lê Lê Lê Lê Lê
Lê Lê Lê Lê Lê Lê...

Agora conheço
Sua geografia
A pele macia
Cidade morena
Teu sexo, teu lago
Tua simetria
Até qualquer dia
Te amo Brasília...

Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília,
Vou morrer de saudade
Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília
Vou prá outra cidade...

Agora conheço
Sua geografia
A pele macia
Menina morena
Teu sexo, teu lago
Tua simetria
Até qualquer dia
Te amo Brasília...

Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília
Vou morrer de saudade
Se teu amor foi
Hipocrisia!
Adeus Brasília
Vou prá outra cidade...(4x)

Vejam também como a construção de Brasília influenciou a nossa MPB:

FÃS E AMIGOS DO REI, NO ADEUS A LADY LAURA

Amparado pela família, os amigos da época da Jovem Guarda e cerca de 400 fãs, Roberto Carlos enterrou sua mãe, NO dia em que fez 69 anos. Chorando muito, ele cantou Lady Laura, a música que compôs em sua homenagem, diante do caixão - bem baixinho, como se fosse para só ela ouvir. Laura Moreira Braga morreu no sábado, aos 96 anos. O sepultamento foi no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, pouco depois das 10 horas.

O cantor preferiu não olhar quando o caixão baixou à sepultura, e virou o rosto para o lado. Antes de sua chegada, os fãs, em parte incitados por cinegrafistas de emissoras de TV, cantaram sucessos como Jesus Cristo, Nossa Senhora, Como É Grande o Meu Amor por Você e a própria Lady Laura, canção em que fala do conforto que encontrava, já adulto, no abraço da mãe. No momento final, no entanto, silenciaram. As pessoas chegaram cedo e não se deixaram abater pelo sol forte. "Vim em homenagem ao Roberto, quero compartilhar da sua dor", contou Odinete Moreira, de 76 anos. O público foi mantido afastado do local do sepultamento por seguranças, mas pôde assistir distante apenas 20 metros. Muita gente estava ali para ver não só Roberto, mas também Erasmo Carlos, Wanderléa, Rosemary e Jerry Adriani. O cantor chegou às 9h45, acompanhando o carro funerário, e ficou meia hora na capela, fechada ao público, onde a família o esperava. O padre Antônio Maria, seu amigo, fez as orações.


Nos últimos dois dias, Roberto não descansou: soube da morte da mãe no sábado à noite, quando se preparava para o bis no show do Radio City Music Hall, em Nova York (a cidade abriu a turnê internacional comemorativa dos 50 anos de carreira, que termina na Colômbia, em junho). Tentou voltar imediatamente para o Rio, mas não conseguiu. No domingo de manhã, embarcou e, ao chegar ao Rio, foi direto para o hospital Copa D"Or, onde ela estava internada. Ontem, sem condições de falar sobre a perda, ele só acenou para os fãs. Na saída da capela, Roberto carregou o caixão junto com parentes. Curiosamente, o túmulo de Lady Laura é quase ao lado de onde fica o da cantora Cássia Eller, que morreu em 2001.

Os amigos lembraram a personalidade afetuosa da "rainha mãe". "Para mim, era o gênio do Roberto", disse Rosemary. "Lembro de a gente varar a madrugada gravando e ela aparecendo no estúdio, às 2 da manhã, com balinhas pra todos", contou o produtor Guto Graça Mello. O cronograma da turnê não será alterado, afirmou o empresário de Roberto, Dody Sirena. "O sucesso dele era o maior orgulho da Lalá." O próximo show é dia 4 de maio, em Lima, no Peru.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SONY CELEBRA ROBERTO POR 100 MILHÕES DE DISCOS VENDIDOS

"Em 50 anos, este homem atravessou geração após geração e se reinventou com criatividade tanto como cantor quanto como compositor, chegando a 100 milhões de discos. Para nós da Sony Music, e para toda a indústria fonográfica mundial, é um sucesso fantástico". Com tais palavras, ditas na homenagem prestada pela Sony Music esta semana em Nova York (EUA) a Roberto Carlos por conta dos alegados 100 milhões de discos vendidos pelo Rei em suas cinco décadas de carreira, o presidente da Sony Music Entertainment International, Richard Sanders, tentou sintetizar a trajetória fenomenal do artista no Brasil e no mercado de música hispânica. Fenômeno ainda não explicado a contento por nenhum crítico musical. Talvez até porque não haja explicação plausível para o carisma de um cantor, a força do repertório de um bom compositor popular e a comunhão afetiva que se estabelece - sem critérios racionais - entre o público e o artista que possua tais atributos. Roberto Carlos sempre os teve, com fartura. Carisma, voz (extremamente afinada, de emissão perfeita) e um cancioneiro popular de ótimo nível - apesar da evidente queda de qualidade observada a partir da segunda metade dos anos 80 - são atributos valiosos que ajudam a entender os números superlativos que cercam a carreira de Roberto Carlos. Mas nem eles são suficientes para justificar a adoração do público pelo compositor. A comunhão entre o Rei e seus súditos passa pelo subconsciente e por uma afinidade de valores que extrapolam o campo puramente musical. De certa forma, o autor de Jesus Cristo e Como É Grande o meu Amor por Você sempre encarnou o bom moço. O rapaz bem-intencionado (e algo triste) que acredita no amor e em Deus. Que fala de sexo sem ultrapassar os limites impostos pela moral social. Mesmo na sua fase jovem, nas efervescentes tardes dominicais, Roberto já tinha esses românticos valores embutidos em sua figura e em sua música. Tanto que conseguiu fazer de forma perfeita a transição desse mundo jovem para a fase adulta. Lá se vão 51 anos de carreira. A acomodação já rege a trajetória de Roberto Carlos, hoje já a caminho dos 70 anos, mas nada lhe tira o mérito de ser a voz mais popular da música brasileira nestas cinco décadas. E os alegados 100 milhões de discos vendidos nada mais são do que a tradução em números de um reinado inabalável.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

BRASIL DEVE SEDIAR VERSÃO DE WOODSTOCK EM OUTUBRO

Cidade de Itu pode sediar evento, diz assessoria; organizadores não confirmam nomes de artistas.

O famoso festival de Woodstock deve ganhar uma edição brasileira em outubro deste ano, informou a assessoria de imprensa do festival Maquinária, um dos organizadores do evento.

Os produtores estariam em negociações para realizar o evento na cidade de Itu, interior de São Paulo. A informação de que a escolhida seria Itu chegou a ser confirmada pela assessoria, em um primeiro momento, mas depois foi retificada.

Também segundo os organizadores, o Woodstock brasileiro ainda não tem nenhum artista confirmado. As informações deverão ser divulgadas a partir de maio.

Nesta quarta-feira (7), circularam relatos na internet de que Perry Farrell, vocalista do Jane’s Addiction e criador do festival itinerante Lollapalooza, participaria da organização do Woodstock brasileiro, que teria no line-up nomes como Green Day, Bob Dylan e Pearl Jam. A assessoria do Maquinária também não confirma nenhuma dessas informações.

QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA
A primeira edição do festival de Woodstock aconteceu em agosto de 1969 em uma fazenda no estado de Nova York, nos EUA, com nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Crosby, Stills, Nash & Young.

Em 1994 uma nova edição foi realizada a 15 km do local original, para comemorar o aniversário de 25 anos do festival, com Aerosmith, Metallica, Green Day e Red Hot Chili Peppers e outros artistas.

Uma terceira edição, em 1999, reuniu nomes como Megadeth, Creed, Limp Bizkit, Korn e Offspring, e foi marcada por uma série de tumultos.

DICAS DA MUSICARIA

Felipe Cordeiro – Outra Esquina
Este Cd reune as músicas de Felipe Cordeiro com nada menos que um escrete mineiro, principalmente: Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini. Além de : Boca Livre, Katia Freitas, Karine Alexandrino, Zé Renato, David Duarte, Joyce, Erico Baymma, Jorge Vercilo, Edmar Gonçalves, Carol Costa, Ana Fonteles, Paulo Façanha, Nonato Luiz

01 - Juba San (Com Boca Livre)
02 - Estrela Mágica (Com Lô Borges)
03 - Flor de Maio (Com Beto Guedes e Katia Freitas)
04 - Olhar de Caramelo (Com Karine Alexandrino)
05 - Janela do Quintal (Com Zé Renato e Toninho Horta)
06 - Mel e Sal (Com Toninho Horta)
07 - Rio (Com David Duarte)
08 - Banda de Lua (Com Joyce)
09 - Qualquer dia (Com Erico Baymma)
10 - Letra de Música (Com David Duarte)
11 - Natureza dos Oceanos (Com Kátia Freitas)
12 - Romance da Noite (Com Jorge Vercilo)
13 - Favela (Com Edmar Gonçalves)
14 - Anseio (Com Carol Costa)
15 - Elemental (Com David Duarte, Edmar Gonçalves, Ana Fonteles, Karine Alexandrino)
16 - Cecy II (Com Paulo Façanha e Flávio Venturini)
17 - Outra Esquina (Com Boca Livre)
18 - Prelúdio (Com Nonato Luiz)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

MULHER POPULAR BRASILEIRA



É uma tarde cinza de março e a paulistana Tiê Gasparineti Biral – que, com o violão nas mãos, atende somente por Tiê – tenta fazer diversas coisas ao mesmo tempo: cuidar da pequena filha, Liz, nascida há pouco mais de um mês, provar uvas de um mercado em Perdizes e ainda conversar sobre sua carreira. As três coisas ela consegue fazer muito bem, principalmente comentar sobre seus recentes triunfos. A vinda para o Brasil, em 2009, do cantor norte- americano Jason Mraz deu a Tiê a chance de ser a atração de abertura. Antes de aceitar o convite, a cantora de 30 anos se sentiu insegura. “E se o público não me receber bem?” Algo melhor aconteceu. “Foi incrível. As pessoas cantaram junto e ainda vieram me cumprimentar pelo CD. O Jason também foi muito legal.”

Sweet jardim, sua primeira cria musical, chegou em 2009. Temas como a faixa título A bailarina e o astronauta e Stranger But Mine são inspiradas por sons minimalistas nativos do norte, como Syd Barrett e Leonard Cohen. Uma primeira audição é suficiente para perceber a fuga da música pop fast-food, e Tiê é consciente disso. “Antes de lançar meu disco, pensei em fazer algo de que gosto, algo para mim e não para o mercado”, justifica a artista. A escolha do estilo mais sofisticado também teve seu preço. Por isso, o uso de poucos instrumentos acústicos em algumas faixas, como violão, percussão e cello. “Sempre reforço que a dificuldade em divulgar minhas canções é pela estética, não por conta da pobreza”, comenta a ex-modelo, que teve Toquinho, parceiro de trabalho por mais de dois anos, como convidado especial no álbum.

A experiência de descobrir o som de Tiê é ímpar, assim como as impressões da publicitária Talita Melone sobre a artista. Segundo Talita, essa descoberta aconteceu após algumas “caçadas musicais pela internet”. “Conheci o som dela por meio de uma amiga e foi amor à primeira vista, ou melhor, à primeira ouvida”, brinca a fã de Nova Friburgo. “Depois de garimpar as músicas na internet, ganhei o CD e já fui a vários shows”, celebra.

Nascida na Bahia e criada em Pernambuco, Karina Buhr canta em português, inglês e alemão em seu CD de estreia Eu menti pra você. Em seu time, há feras como Edgar Scandurra (ex-Ira!) e a atriz alemã Juliane Elting (voz na faixa Telekphonen). Quem lê as informações no livreto do disco e constata tantos nomes conhecidos deve atentar para o fato de que Karina é nova, mas não novata. Durante uma década, ela esteve com a Comadre Fulozinha – banda recifense de música regional – como vocalista, percussionista e rabequeira. Tanta experiência foi herdada pelo seu trabalho solo, mas de forma sem igual. “Minhas influências são muito variadas”, admite. “Talvez por ter ouvido muito Rita Lee, eu tenha me influenciado por sua versatilidade”, reflete a compositora, que passeia por diversos estilos com naturalidade, como o reggae distinto de Plástico bolha, um dos destaques do álbum, que, claro, a ex-atriz do Teatro Oficina suou para concretizar. “Não rolaram dificuldades além das esperadas. Sem patrocínio, tudo é mais suado por conta de grana, mas cada passo dado tem um gostinho especial”, reflete a artista, que tem um olhar particular sobre essa new wave de cantoras no país. “Eu sempre digo para as pessoas que essa fase é só impressão (risos). Sempre fomos ricos em cantoras, mas acredito que muito disso acontece porque as artistas atuais não são apenas intérpretes, mas também compõem”, afirma. Um de seus fãs tenta definir o seu perfil. “Impossível ficar parado em um show dela”, admite Rogério Augusto de Oliveira, professor de história paulistano e fã de Karina, que já assistiu a várias apresentações, incluindo no badalado projeto Prata da Casa, do Sesc Pompéia. “Em meio a tantas cantoras, Karina se destaca por conseguir uma sonoridade única, que ela alcança com uma banda incrível. Suas composições também são distintas”, depõe.

FIEL AO CORAÇÃO
Na escalada de Mallu Magalhães para o sucesso, a tímida menina causou polêmica ao surgir como sensação da internet com apenas 15 anos. E fez mais barulho ainda depois de assumir seu relacionamento com o “Hermano” Marcelo Camelo, 14 anos mais velho que a jovem cantora. Dois anos depois do boom, Mallu já gravou dois CDs (ambos homônimos), além de tocar por todo o Brasil e fazer shows na Europa – embalada por hits autorais como Tchubaruba, J1 e Vanguart. Seu jeito de criar é um mix de inspiração e influência de ídolos como Bob Dylan, Johnny Cash e, nos últimos tempos, Nara Leão. Além dos preconceitos citados, ela enfrentou também o problema de compor seu material em inglês, idioma que domina, principalmente, seu primeiro disco. Ela diz não ligar. “Eu tento ser fiel ao meu coração. Ele fala língua nenhuma e todas ao mesmo tempo. Só ouço o que vem de dentro. Cada vez vem de um jeito. É um negócio que chega assim, sem filtro ou peneira”, conta Mallu, mostrando seus cadernos cheios de esboços de canções. “Desde pequena, eu juntava uma notinha e procurava rimar. Tudo começou meio sem querer e algumas canções ainda saem assim, bem espontâneas”, conclui a artista, que, atualmente, divulga pelo país seu novo álbum Mallu Magalhães e o single Shine Yellow.

De fenômeno da internet a apresentações internacionais, Mallu tem cativado um público amplo, formado, em grande parte, por adolescentes como a paulistana Mariana Lazzari, de 14 anos. “Conheci a Mallu pela TV e depois fui ao MySpace ouvir melhor suas músicas. A partir daí, acompanhei o seu amadurecimento musical e fiz muitas amizades com pessoas que compartilhavam do meu gosto.” Uma dessas amigas é a mineira de Belo Horizonte Cora Alvarenga. “Mallu tem um jeito especial de tratar a todos e hoje compõe, canta e toca bem melhor que no início da carreira”, ecoa.

COMPONDO DO ZERO
Outro caso peculiar é o da olindense de criação Luciana Lins, mais conhecida como Lulina. Publicitária de ofício e criadora musical por talento, ela lançou no ano passado seu décimo álbum, Cristalina. Décimo? Sim, porque os anteriores foram “doces caseiros”, como chama a artista, somente agora disponibilizados para degustação em seu site oficial. Seu depoimento para esta matéria, digamos, foi dado na “cobrança de pênaltis” de uma decisão, já que se preparava para uma excursão de duas semanas pelos Estados Unidos, com shows em Portland, Seattle e Chicago. "O convite para essa turnê partiu de um amigo americano, que nos ajudou a fechar algumas apresentações. Pensamos até em gravar um disco (compor e gravar do zero!) durante a viagem", revela. Sem esconder sua visão sobre as “mulheres que fazem” a música de hoje, Lulina abre o jogo: “Acho que as mulheres não estão fazendo melhor do que os homens, mas estão fazendo igual. Como muitas compositoras criativas (e não apenas intérpretes), começaram a despontar agora, a gente tem a impressão de que as mulheres estão ‘bombando’. Mas acho que a coisa está de igual para igual, talvez porque a mulherada tenha assumido uma postura menos preocupada com a imagem-padrão da cantora brasileira e mais focada no conteúdo do que ela quer falar”, pondera Lulina, que teve sua música descrita como “irônica e surreal” pela crítica da Folha de S.Paulo.

MAURO DUARTE

O apelido, dado por Cyro Monteiro, era por conta da cara arredondada. Mauro “Bolacha” Duarte compôs aos montes e, mais que tudo, se divertiu na vida de sambista. Mas, por ironia, não chegou a fazer significativos registros de sua obra em bolachas – grandes como os vinis de antigamente ou pequenos como os CDs de hoje. Ao todo, foram apenas quatro discos – três deles como integrante do conjunto Os Cinco Crioulos. Talvez isso ajude a explicar, em parte, por que seu nome (com apelido ou não) nem sempre é diretamente ligado às suas composições. Ainda que muitas delas, como “Lama”, “Canto das Três Raças” e “Portela na Avenida” (as duas últimas com Paulo César Pinheiro) estejam até hoje na boca do povo.

Desde de sua morte em 1989 – próxima de completar 20 anos, portanto - Mauro vem tendo sambas gravados esporadicamente por aí. A homenagem mais recente foi do parceiro Walter Alfaiate, que gravou "Tributo a Mauro Duarte" (CPC-Umes) em 2006. Mas isso não significa que o baú de inéditas tenha esvaziado. Agora parte delas será lembrada em uma mesma bolachinha: o disco será lançado no fim de fevereiro pela Deckdisc com 30 canções, a maior parte nunca gravada, outras gravadas mas (quase) esquecidas, algumas ainda montadas como quebra-cabeça. Quem interpreta pérolas como “Jeito de cachimbo”, “Sublime primavera” e “Lenha na fogueira” é o grupo Samba de Fato, formado por Alfredo Del Penho, Pedro Miranda, Paulino Dias e Pedro Amorim, com auxílio luxuoso de Cristina Buarque, grande amiga do compositor, e participação especial de Paulo César Pinheiro, parceiro mais constante e figura fundamental para a realização do projeto. Para completar, há quatro faixas-bônus com trechos do próprio Bolacha cantando, em pequenas vinhetas.

Como a idéia é celebrar o sambista respeitadíssimo pelos compositores, mas pouco conhecido por seu próprio público, o projeto vai além do CD. O mergulho no baú rendeu a Alfredo, que coordena a empreitada, a redescoberta de fotos, fitas e anotações. Matéria-prima que o estimulou a dar mais um passo, registrando em vídeo os depoimentos dos parceiros e amigos de Mauro. O material iconográfico e audiovisual vai ser reunido num hotsite, a ser lançado junto com o disco. É tarefa de fã. “Acho o Mauro um dos melodistas mais ricos do samba. É daquele tipo de compositor que você consegue identificar ao ouvir o fraseado. Tem marca de autor. Isso torna ainda mais inusitado o fato de seu nome nem sempre ser ligado à sua obra”, explica Alfredo.

“Quem conhece a vida não se desespera
No mundo
O que tinha de ser, já era.” (Palavra)

Mauro nasceu em Matias Barbosa, distrito de Juiz de Fora (MG). Mas foi no Rio, no bairro de Botafogo, que se aproximou do samba, ainda na infância. “Ele ainda era criança quando começou a freqüentar o carnaval. Na época, em Botafogo, tinha muito bloco de sujo. Era o auge dos blocos cariocas, animados como são os de hoje, mas sem essa coisa arrumadinha, de camiseta. Então ele começou a compor por essa influência”, conta Cristina. A produção para os blocos era enorme e extrapolava o bairro. Do mesmo modo que compôs sambas-exaltação para diversas escolas, sem deixar de ser portelense convicto, criou músicas para blocos de Laranjeiras, Flamengo, Catete, sem trair de forma alguma o amor a Botafogo - o bairro e também o time.

Já adulto, tocava a vida trabalhando em banco, atuando como ourives, vendendo chapéu, mas sempre dedicando as horas vagas ao samba. Na Portela, desfilava sempre na ala dos compositores – e se não chegou a emplacar nenhum samba-enredo (apesar de ter tentado com “Fonte dos Amores”, com Alfaiate e Wilson Moreira, em 1988), mereceria todas as loas mesmo que fosse só por causa de “Portela na Avenida”, imortalizada na voz de Clara Nunes. Gostava de compor andando, batucando nas pernas. Daí a necessidade de registrar tudo no gravadorzinho ao chegar em casa. Na dele ou na dos parceiros. “O Mauro gostava de ir à praia cedinho. Logo começava a tomar umas e, como na época eu morava no Leblon, não era raro aparecer lá em casa dizendo que precisava me mostrar alguma melodia recém-criada”, lembra Paulo Pinheiro.

A aproximação da maturidade o deixou ainda mais próximo do samba. Passou a ser gravado por alguns intérpretes – sendo a mais recorrente e importante Clara Nunes, mas também Elizeth Cardoso, Alcione... – e até a se assumir timidamente como cantor. Função que exercia muito bem, segundo os amigos. A prova está nos três discos que gravou como membro do conjunto Os Cinco Crioulos (com Nelson Sargento, Elton Medeiros, Anescarzinho do Salgueiro e Jair do Cavaquinho), no qual substituiu Paulinho da Viola a partir de meados da década de 60. E também no disco independente que gravou com Cristina Buarque em 1985.

“Não adianta
Estar no mais alto degrau da fama
Com a moral toda enterrada na lama”
(Lama)

Mas nem só como compositor e cantor ele deu sua contribuição: nos anos 80, junto com a própria Cristina, começou a realizar o Projeto Resgate, com o intuito de fazer as pérolas de sambistas antigos não se perderem.

“A gente encontrava os compositores e revirava o baú. Da memória, porque muitos deles não tinham gravador. Então a gente gravava, conversava”, lembra Cristina. “O duro foi que ninguém poderia prever que Mauro morreria logo em seguida. Ele era até organizado com sua obra, tinha um caderno com os nomes de suas composições. Mas muita coisa ficou solta.” Quem organizava o resgate, curiosamente, acabou sendo alvo de outro, duas décadas depois. Se não chegou (e nem queria) ao mais alto degrau da fama, tem uma obra que mostra consistência e perenidade e o carinho eterno de muitos cariocas. O simpático símbolo disto é uma conquista de seus amigos em 1998: seu nome passou a batizar uma pequena praça de Botafogo.

Frankenstein

No fundo do baú havia três fitas. Cassete, sem grandes explicações, que foram passadas pela família de Mauro para Cristina Buarque. Ao ouvir, ela sacou o tamanho da encrenca e pensou: “Só o Paulinho pode dar um jeito nisso!” “Isso” eram os trechos de melodias e letras que Mauro registrava assim, de bobeira, para quem sabe um dia aproveitar. Não chegava a ser total novidade para Paulo. “Fomos parceiros por muitos anos e não foi raro eu trabalhar com base nessas gravações caseiras dele. Esse que é o grande barato: conhecia os caminhos criativos dele, a gente tinha uma intimidade musical, era muito companheiro. O engraçado é que ele gravava para não esquecer, mas depois esquecia que tinha gravado, ou não tinha paciência de ir ouvir para criar em cima. Sobrou pra mim”, conta, rindo.

E foi realmente um trabalho de formiguinha para ouvir melodias soltas, sem saber exatamente onde começavam e terminavam as idéias para as mesmas músicas. “Fui separando o que me chamava atenção e complementando. Quando vi, tinha 10 músicas prontas. Elas não existiriam se eu não tivesse essa paciência de chinês”, diverte-se, lembrando que, além delas, entraram no disco outras oito parcerias antigas dos dois.

A pesquisa rendeu pelo menos outro quebra-cabeças, dessa vez envolvendo mais gente. Num dos depoimentos gravados, um entrevistado comentou sobre a existência de um samba em homenagem ao polêmico casal Garrincha e Elza Soares. Alfredo começou então a perguntar a todo mundo. “Ninguém lembrava direito. O parceiro Walter Alfaiate cantou uma parte, um amigo de Botafogo lembrou da letra inteira, mas não da melodia... Aí o salvador Paulinho resolveu a parada, lembrando tudo. Foi o maior Frankenstein!”

Como a música acabou não entrando no disco, aí vai a palinha com a letra remontada pela lembrança coletiva:

Música sem título sobre Elza Soares e Garrincha (Mauro Duarte, Walter Alfaiate)

Eu já não sei mais o que fazer desta paixão
Além de amor proibido
Somos demais conhecidos
Demais, demais, demais
Pagando o tributo da fama
Fizeram do nosso caso um drama
Com manchetes de jornais

Vizinho se manda com a vizinha
Branco adora a escurinha
E ninguém diz nada

Plebeu desposa broto do society
Madame adora o chaveiro da light
E ninguém sabe de nada

Mas bastou ser artista
Pra ter o nome na lista de repórter à procura de furo
Que pra manter a alcunha de foca
Em todo caso faz uma fofoca
Se tornando um dedo duro


Imagens à vista

Hoje em dia é raro ver um projeto deste tipo ter vez em gravadoras tradicionais. Neste caso, saiu do papel graças aos esforços pessoais dos envolvidos (como costuma acontecer em toda produção apaixonada) e alguma negociação. A gravação pelo Samba de Fato barateou os custos, pois os arranjos foram feitos de forma coletiva e não foi necessário contratar músicos extras. A produção enxuta teve como contrapartida a possibilidade de se fazer o site com o resto do material pesquisado.

Na reta final do processo, uma constatação um tantinho desanimadora se instalou: se no processo de pesquisa cada foto ou material encontrado era comemorado, agora existe uma certa frustração de não poder mostrar tudo no site. Por questões de copyright. “Encontramos fotos lindas, mas em alguns casos não sabemos quem é o fotógrafo. Acredito até que o próprio autor da foto pode não se lembrar que a tirou. Mesmo assim, não podemos colocar no site sem autorização”, conta Alfredo. Sem entrar no mérito do inusitado da coisa, resta fazer um apelo: se nos carnavais da vida você por acaso tirou uma foto de Mauro Duarte, entre em contato com esse pessoal!


Cristina Buarque / Mauro Duarte (1985)
Faixas:
01 - Sorri de mim (Walter Nunes, Mauro Duarte)
02 - Vazio (Élton Medeiros, Mauro Duarte)
03 - Timidez (Noca da Portela, Mauro Duarte)
04 - Monograma (Cristóvão Bastos, Paulo César Pinheiro)
05 - Pra que, afinal? (Adélcio de Carvalho, Mauro Duarte)
06 - Lá se foi (Carlinhos Vergueiro, Mauro Duarte)
07 - Lama (Mauro Duarte)
08 - Quantas lágrimas (Manacéa)
09 - Nunca mais (Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte)
10 - Reserva de domínio (Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte)
11 - Papagaio falador (Buci Moreira, Geraldo Gomes)
12 - Aventura (Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte)
13 - Uma canção desnaturada (Chico Buarque)
14 - Sacrifício (Maurício Tapajós, Mauro Duarte)
15 - A alegria continua (Noca da Portela, Mauro Duarte)
16 - Portela na avenida (Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

SIMONE É TODO AMOR ENVOCANDO SENSUALIDADE

Com dois shows no Teatro Guararapes, em Olinda, cantora gravou novo DVD levando à loucura as fãs de carteirinha, que a acompanharam mesmo em canções menos conhecidas.

Por José Teles

Para a gravação de um DVD a plateia deveria ser convidada. Afinal ela está ali como figurante de um filme. Paga por um show e tem que esperar troca de fita, repetições de músicas, etc. Na gravação do DVD de Simone, com dois shows no Teatro Guararapes, sábado e ontem, o público foi sujeito a menos inconvenientes, à exceção das inevitáveis trocas de fitas e repetições, que não quebraram o ritmo do show. Tudo bem, o gravação, no sábado, começou com um atraso de meia hora, mas o público não reclamou. A maioria que estava lá era fã de carteirinha da cantora.

Cenário prateado, claro, elegante, combinando com o traje da cantora, que enfrenta um problema que todos de sua geração enfrentam. Tem um repertório radiofônico grande, conquistado até o início dos anos 90, e ilustres desconhecidas, as canções de discos mais recentes, no caso Na minha veia, base para o repertório do show que vai virar DVD.

Simone começou com Eu tô que tô (Kleiton & Kledir, 1982), um dos seus muitos hits, e foi equilibrando canções do novo e ótimo disco com algumas que o público inevitavelmente iria cantar junto, e se mexer na poltrona. Afinal DVD ao vivo não pode ter plateia estática. E o que levar o distinto público a sentir ímpetos de dança mais do que um Jorge Ben Jor vintage? Ives Brussel. Todo mundo cantou, obviamente (o teatro estava lotado).

Simone hoje se assemelha muito a Roberto Carlos. Se no início seu repertório era contestatório até mesmo quando falava de amor, agora é só de amor, mas na primeira pessoa, abundante em metáforas evocando sensualidade. Do repertório das antigas, nada de Gota d’água, À for da pele (o que será, que será). A exceção foi Face a face (Sueli Costa & Abel Silva), logo no primeiro bloco do show. Assim como Roberto Carlos ela se veste de branco, tem um sorriso franco, e sabe o momento certo de fazer gestos e poses que levem a plateia às palmas e aos gritos. Sabe apascentar com sutileza as fãs mais exaltadas, que não conseguem se controlar e atiram os indefectíveis “Te amo”, “Linda”, atrapalhando o tráfego, ou melhor, a gravação. Ela é dona de si no palco. E continua cantando bem aos 60 anos, idade que, de vez em quando lembra. Como o fez ao comentar porque estava gravando um DVD no Recife. Em uma coletiva de imprensa perguntaram a razão de ser aqui, pois ela era baiana: “Não sou baiana, sou do mundo”. E questionou dos mais jovens se conheciam uma antiga churrascaria da cidade e pontos do Recife de 30 anos atrás citando alguns pratos típicos enquanto era trocada a primeira fita.

Volta com Arquibaldo e geraldinos, de Gonzaguinha, passa por um Lulu Santos, chega Agepê – do samba kitsch Deixa eu te amar, aquele dos impagáveis versos: “Quero te botar no colo, te deitar no solo, e te fazer mulher” – com gestos, que levam as fãs aos aplausos e assobios, cita Perigosa, de As Frenéticas. Continua inserindo as novas canções entre outras manjadas e termina com uma versão lenta (se fosse em andamento de marcha de bloco ficaria melhor) de Chuva, suor e cerveja, frevo-canção de Caetano Veloso.

O inevitável bis traz Nada por mim, de Kid Abelha, e Ex-amor, de Martinho da Vila. A plateia teve direito a uma faixa bônus – que não estará no DVD – de Verdade, o hit maior de Zeca Pagodinho. Assim como Roberto Carlos, no fim do show Simone distribuiu flores, brancas, uma a uma, entre as fãs: “Vou me despedir como fui recebida”. E inédito em um show ao vivo no Recife: não se ouviu ninguém sugerir: “Canta Raul!”.

TALENTOS HERDADOS

Beto é filho da cantora Rita Lee e do guitarrista Roberto de Carvalho e pai de Izabella. Atualmente, apresenta o programa Geléia do Rock no Multishow.

Começou a tocar guitarra aos 10 anos, e aos 15, montou sua primeira banda. Desde 1995 acompanha a cantora Rita Lee em seus shows. Gravou discos e dvds com Rita Lee: Acústico Mtv (1998), 3001 (2000), Balacobaco (2003), MTV Ao Vivo (2004), Biografitti (2007), Multishow Ao Vivo (2009).

Como convidado, participou dos shows de Barão Vermelho, Capital Inicial, Andreas Kisser, Cachorro Grande, Sideral, Jota Quest, Liminha, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Velhas Virgens e Magazine. Beto também tocou nos discos de Zélia Duncan, Supla, Vampiros & Piratas e Otto.

Em 2002, gravou o primeiro disco "Todo Mundo É Igual", contando com a participação de Gabriel O Pensador, Itamar Assumpção e Carlos Rennó. Em 2004, criou o trio Galaxy com e lançou um disco independente, tocando pelos inferninhos de São Paulo. Em 2007, apresentou a série "Que Rock É Esse?" pelo canal Multishow sobre a história do pop rock brasileiro. A série foi um sucesso de audiência que em 2008 Beto voltou pra apresentar "Que Rock É Esse?", falando sobre o rock internacional. Depois, partiu para a Play Tv, onde apresentou o programa "Combo Fala+Joga" durante pouco tempo e, em Março de 2009, voltou ao canal Multishow para mais uma empreitada chamada "Geléia do Rock"! Beto Lee está preparando um disco novo sem previsão para lançamento.

Beto Lee - Todo Mundo é Igual (2002)
Faixas:
01 - Maníaco
02 - Quem Avisa Amigo É
03 - Todo Mundo é Igual (Part. Especial - Gabriel O Pensador)
04 - Provocação
05 - O Que Você Tem
06 - Me Diz
07 - Tanatofilia
08 - Alcatraz
09 - Mofodeu
10 - Ceia de Natal
11 - Porta da Perdição
12 - Fuscão Preto

sábado, 10 de abril de 2010

RENATO RUSSO - 50 ANOS

Se estivesse vivo, no último dia 27 de março o cantor e compositor Renato Manfredini Júnior, carioca da gema e mais conhecido como Renato Russo, completaria 50 anos de vida.

Renato pode ser considerado como um dos mais importantes compositores do rock brasileiro da década de 80. Sua primeira banda foi o Aborto Elétrico (1978), a qual durou quatro anos, e terminou devido às constantes brigas que havia entre ele e o baterista Fê Lemos. Renato herdou desta banda uma forte influência punk que influenciou toda a sua carreira. Nessa mesma época, aos 18 anos, assumiu para sua mãe que era bissexual; em 1988, assumiu publicamente.

Em 1982, integrou a banda Legião Urbana. Nesta nova banda desenvolveu um estilo mais próximo ao pop e ao rock do que ao punk. Russo permaneceu na Legião Urbana até sua morte, em 11 de outubro de 1996. Gravou ainda três discos solo e cantou ao lado de Herbert Vianna, Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Paulo Ricardo, Erasmo Carlos, Leila Pinheiro, Biquini Cavadão e 14 Bis.

Infância
Até os seis anos de idade, Renato sempre viveu no Rio de Janeiro junto com sua família. Começou a estudar cedo no Colégio Olavo Bilac, na Ilha do Governador. Nessa época teria escrito uma bela redação chamada "Casa velha, em ruínas…", que inclusive está disponível na íntegra.

Em 1967, mudou-se com sua família para Nova Iorque pois seu pai, funcionário do Banco do Brasil, fora transferido para agência do banco em Nova York, mais especificamente para Forest Hills, no distrito do Queens, onde foi introduzido à língua e cultura norte-americanas.

Aos nove anos, em 1969, Renato e sua família voltam para o Brasil, indo morar na casa de seu tio Sávio numa casa na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.


Adolescência
Em 1973 a família trocou o Rio de Janeiro por Brasília, passando a morar na Asa Sul. Em 1975, aos quinze anos, Renato começou a atravessar uma das fases mais difíceis e curiosas de sua vida quando fora diagnosticado como portador da epifisiólise, uma doença óssea. Ao saber do resultado, os médicos submeteram-no a uma cirurgia para implantação de três pinos de platina na bacia. Renato sofreu duramente a enfermidade, tendo que ficar seis meses na cama, quase sem movimentos.


Carreira
Sua primeira banda foi o Aborto Elétrico, ao lado dos irmãos Felipe Lemos (Fê) (bateria) e Flávio Lemos (baixo elétrico) e do sul-africano André Pretorius (guitarra). O grupo durou quatro anos, de 1978 a 1982, terminando por brigas entre Fê e Renato. O Aborto Elétrico foi a semente que deu origem à Legião Urbana e ao Capital Inicial (formado por Fê e Flávio, junto ao guitarrista Loro Jones e ao vocalista Dinho Ouro-Preto).




Após o fim do Aborto Elétrico, Renato começa a compor e se apresentar sozinho, tornando-se o Trovador Solitário. A fase solo durou poucos meses, até que o cantor se juntou a Marcelo Bonfá (baterista do grupo Dado e o Reino Animal), Eduardo Paraná (guitarrista, conhecido como Kadu Lambach) e Paulo Guimarães (tecladista, conhecido como Paulo Paulista), formando a Legião Urbana, tendo Renato como vocalista e baixista.

Após os primeiros shows, Eduardo Paraná e Paulo Paulista saem da Legião. A vaga de guitarrista é assumida por Ico-Ouro Preto, irmão de Dinho Ouro-Preto, que fica até o início de 1983. Seu lugar é assumido definitivamente por Dado Villa-Lobos (que criou a banda Dado e o Reino Animal com Marcelo Bonfá, Dinho Ouro Preto, Loro Jones e o tecladista Pedro Thompson). A entrada de Dado consagrou a formação clássica da banda.

À frente da Legião, que contou com o baixista Renato Rocha entre 1984 e 1989, Renato Russo atingiu o auge de sua carreira como músico, sendo reconhecido como um dos maiores poetas do rock brasileiro, criando uma relação com os fãs que chegava a ser messiânica (alguns adoravam o cantor como se fosse um deus). Os mesmos fãs chegavam a fazer um trocadilho com o nome da banda: Religião Urbana/Legião Urbana. Renato desconsiderava este trocadilho e sempre negou ser messiânico.


Morte
Renato Russo morreu, pesando apenas 45 quilos, em consequência de complicações causadas pela Aids (era soropositivo desde 1989), mas jamais revelou publicamente sua doença[1]. Seu corpo foi cremado e suas cinzas lançadas sobre o jardim do sítio de Roberto Burle Marx.




No dia 22 de outubro de 1996, onze dias após a morte do cantor, Dado e Bonfá, ao lado do empresário Rafael Borges, anunciaram o fim das atividades do grupo. Estima-se que a banda tenha vendido cerca de 20 milhões de discos no país durante a vida de Russo. Mais de uma década após sua morte, a banda ainda apresenta vendagens expressivas de seus discos.


Livros
Durante sua carreira teve quatro livros publicados e, após sua morte, outros quatro livros foram lançados sobre ele, sendo um deles "Conversações com Renato Russo", que contém trechos de entrevistas mostrando o seu ponto de vista sobre o rock, a bissexualidade (incluindo a sua própria), o mundo, as drogas e a política.

Do ponto de vista da análise técnica, isto é, da crítica literária (acadêmica), foi lançado o livro: "Depois do Fim - vida, amor e morte nas canções da Legião Urbana", de Angélica Castilho e Erica Schlude (ambas da UERJ). Vale ser citado como bibliografia referencial os livros "O Trovador Solitário" e "BRock - O rock brasileiro nos anos oitenta", ambos de Arthur Dapieve.

Em junho de 2009, é lançada a biografia "Renato Russo: O filho da Revolução", do jornalista Carlos Marcelo Carvalho. A obra é contextualizada desde o período de infância de Renato, passando pela sua juventude - com acontecimentos políticos históricos da época forte de opressão da Ditadura Militar como pano de fundo - e culminando com o seu amadurecimento como homem, poeta, artista e músico.


RENATO RUSSO - POR TODA A MINHA VIDA

Parte 01:

Parte 02:

Parte 03:

Parte 04:

Parte 05:

Parte 06:

Parte 07:

Parte 08:



Discografia Renato Russo


Legião Urbana (1984)
Faixas:
01 - Será
02 - A Dança
03 - Petróleo do Futuro
04 - Ainda é Cedo
05 - Perdidos no Espaço
06 - Geração Coca-Cola
07 - O Reggae
08 - Baader - Meinhof Blues
09 - Soldados
10 - Teorema
11 - Por Enquanto


Dois (1986)
Faixas:
01 - Daniel na Cova dos Leões
02 - Quase sem Querer
03 - Acrilic on Canvas
04 - Eduardo e Mônica
05 - Central do Brasil
06 - Tempo Perdido
07 - Metrópole
08 - Planta em Baixo do Aquário
09 - Música Urbana 2
10 - Andrea Doria
11 - Fábrica
12 - Índios


Que País É Este 1978/1987 (1987)
Faixas:
01 - Que País é Esse?
02 - Conexão Amazônica
03 - Tédio (Com um T bem grande pra você)
04 - Depois do Começo
05 - Química
06 - Eu Sei
07 - Faroeste Caboclo
08 - Angra dos Reis
09 - Mais do Mesmo


As Quatro Estações (1989)
Faixas:
01 - Há Tempos
02 - Pais e Filhos
03 - Feedback Song for a Dying Friend
04 - Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto
05 - Eu era um Lobisomem Juvenil
06 - 1965 (duas Tribos)
07 - Monte Castelo
08 - Maurício
09 - Meninos e Meninas
10 - Sete Cidades
11 - Se Fiquei Esperando meu Amor Passar



V (1991)
Faixas:
01 - Love Song
02 - Metal Contra As Nuvens
04 - A Montanha Mágica
05 - Teatro dos Vampiros
06 - Sereníssima
07 - Vento no Litoral
08 - O Mundo Anda Tão Complicado
09 - L' âge D' or
10 - Come Share My Life


Música para Acampamentos (1992) (coletânea de gravações ao vivo)
CD 1
Faixas:
01 - Fábrica
02 - Daniel na Cova dos Leões
03 - A Canção do Senhor da Guerra
04 - O Teatro dos Vampíros
05 - Ainda é Cedo
06 - Gimme Shelter
07 - Baader - Meninhof Blues
08 - A Montanha Mágica
09 - Eu Sei
10 - Índios

CD 02
Faixas:
01 - A Dança
02 - Mais Do Mesmo
03 - Soldados
04 - Música Urbana 2
05 - On The Way Home
06 - Maurício
07 - Há Tempos
08 - Pais e Filhos
09 - Faroeste Caboclo
10 - Exit Music - Rhapsody In Blue



O Descobrimento do Brasil (1993)
Faixas:
01 - Vinte e Nove
02 - A Fonte
03 - Do Espírito
04 - Perfeição
05 - O Passeio da Boa Vista
06 - O Descobrimento do Brasil
07 - Os Barcos
08 - Vamos Fazer um Filme
09 - Os Anjos
10 - Um Dia Perfeito
11 - Giz
12 - Love in the Afternoon
13 - La Nuova Gioventú
14 - Só por Hoje


A Tempestade ou O Livro dos Dias (1996)
Faixas:
01 - Natália
02 - L'Avventura
03 - Música de Trabalho
04 - Longe do Meu Lado
05 - A Via Láctea
06 - Música Ambiente
07 - Aloha
08 - Soul Parsifal
09 - Dezesseis
10 - Mil Pedaços
11 - Leila
12 - 8º de Julho
13 - Esperando por Mim
14 - Quando Você Voltar
15 - O Livro dos Dias


Uma Outra Estação (1997) (póstumo)
Faixas:
01 - Riding Song
02 - Uma Outra Estação
03 - As Flores do Mal
04 - La Maison Dieu
05 - Clarisse
06 - Schubert Lândler
07 - A Tempestade
08 - High Noon (Do Not Forsake Me)
09 - Comédia Romântica
10 - Dado Viciado
11 - Marcianos Invadem a Terra
12 - Antes das Seis
13 - Mariane
14 - Sagrado Coração
15 - Travessia do Eixão


Mais do Mesmo (1998) (Póstumo)
Faixas:
01 - Será
02 - Ainda É Cedo
03 - Geração Coca-Cola
04 - Eduardo E Mônica
05 - Tempo Perdido
06 - Índios
07 - Que País É Esse?
08 - Faroeste Caboclo
09 - Há Tempos
10 - Pais E Filhos
11 - Meninos E Meninas
12 - Vento no Litoral
13 - Perfeição
14 - Giz
15 - Dezesseis
16 - Antes Das Seis


Acústico MTV Legião Urbana (1999) (Gravado Ao Vivo Em 1992) (Póstumo)
Faixas:
01 - Baader – Meinhof Blues
02 - Índios
03 - Mais do Mesmo
04 - Pais e Filhos
05 - Hoje a Noite Não Tem Luar
06 - Sereníssima
07 - Teatro Dos Vampiros
08 - On The Way Home / Rise
09 - Headon
10 - The Last Time I Saw Richard
11 - Metal Contra As Nuvens
12 - Há Tempos
13 - Eu Sei
14 - Faroeste Caboclo


Como É que Se Diz Eu Te Amo (2001) (Gravado Ao Vivo Em 1994 Na Turnê De "O Descobrimento Do Brasil") (Póstumo)
CD 01 - Faixas:
01 - Será
02 - Eu Sei
03 - La Nuova Gioventu
04 - Ainda É Cedo - Gimme Shelter
05 - Daniel Na Cova Dos Leões
06 - Vinte E Nove Vinte E Nove
07 - Um Dia Perfeito
08 - Os Anjos
09 - 1965 (Duas Tribos
10 - Monte Castelo
11 - Quando O Sol Bater Na Janela Do Teu Quarto
12 - Geração Coca-Cola
13 - O Teatro Dos Vampiros
14 - Meninos e Meninas

CD 02 - Faixas:
01 - Faroeste Caboclo
02 - Pais e Filhos
03 - Tempo Perdido
04 - Giz
05 - O Descobrimento Do Brasil
06 - Eduardo e Mônica
07 - Vento No Litoral
08 - Há Tempos
09 - Índios
10 - Perfeição / O Bêbado E O Equilibrista / Lithium /
11 - Andrea Doria
12 - Vamos Fazer Um Filme
13 - Que País É Este / Cajuína / Pintinho Amarelinho


As Quatro Estações ao Vivo (2004) (Gravado ao vivo em 1994 na turnê de "As Quatro Estações") (Póstumo)
CD 1 - Faixas:
01 - Fábrica
02 - Daniel na cova dos leões
03 - O Reggae
04 - Há tempos
05 - Meninos e Meninas
06 - Pais e Filhos (Stand by me)
07 - Maurício (She loves you)
08 - Feedback song for a dying fried
09 - 1965 (duas tribos)
10 - Monte Castelo
11 - Se fiquei esperando meu amor passar

CD 2 - Faixas:
01 - Ainda é cedo (Gimme shelter /Pretty vacant)
02 - Geração coca-cola
03 - Eu sei
04 - Angra dos Reis
05 - Tempo perdido
06 - Soldados (Help/Ball and chain)
07 - Quase sem querer
08 - Será
09 - "Índios"
10 - Faroeste caboclo (Bonus)



Discografia Solo

The Stonewall Celebration Concert (1994)
Faixas:
01 - Send In The Clowns Send In The Clowns
02 - Clothes Of Sand Clothes Of Sand
03 - Cathedral Song Cathedral Song
04 - Love Is Love Is Love Is
05 - Cherish Cherish
06 - Miss Celie´S Blues Miss Celie´S Blues
07 - The Ballad Of The Sad Young Men The Ballad Of The Sad Young Men
08 - If I Loved You If I Loved You
09 - And So It Goes And So It Goes
10 - I Get Along Without You Very Well I Get Along Without You Very Well
11 - Somewhere In My Broken Heart Somewhere In My Broken Heart
12 - If You See Him, Say Hello If You See Him, Say Hello
13 - If Tomorrow Never Comes If Tomorrow Never Comes
14 - The Heart Of The Matter The Heart Of The Matter
15 - Old Friend Old Friend
16 - Say It Isn´T So Say It Isn´T So
17 - Let´S Face The Music And Dance Let´S Face The Music And Dance
18 - Somewhere Somewhere
19 - Paper Of Pins Paper Of Pins
20 - When You Wish Upon A Star When You Wish Upon A Star
21 - Close The Door Lightly When You Go


Equilíbrio Distante (1995)
Faixas:
01 - Gente
02 - Strani amori
03 - I venti del cuore
04 - Scrivimi
05 - Dolcissima Maria
06 - Lettera
07 - La solitudine
08 - Passerà
09 - Come fa un'onda
10 - La forza della vita
11 - Due
12 - Più o meno
13 - La vita è adesso


O Último Solo (1997) (Póstumo)
Faixas:
01 - Hey, that's no way to say goodbye
02 - The dance
03 - Il mondo degli altri
04 - Il chedo' onestà
05 - Lettera
06 - I loves you porgy
07 - E tu come estai?
08 - Chance partners


Presente (2003) (Póstumo)
Faixas:
01 - Mais uma vez
02 - Hoje (com Leila Pinheiro)
03 - Boomerang Blues
04 - Cathedral Song/ Catedral (com Zelia Duncan)
05 - A Cruz e a Espada (com Paulo Ricardo)
06 - A Carta (com Erasmo Carlos)
07 - Gente Humilde (com Helio Delmiro)
08 - Thunder Road
09 - Quando eu estiver cantando
10 - Entrevista 1994
11 - Entrevista 1995
12 - Entrevista 1996
13 - Mais uma vez (com 14 Bis)


O Trovador Solitário (2008) (Póstumo)
(Este é o único álbum do cantor não lançado pela gravadora EMI. Foi lançado pelo selo Discobertas/Coqueiro Verde.)

Faixas:
01 - Dado viciado
02 - Eduardo e Mônica
03 - Eu sei
04 - Geração coca-cola
05 - Faroeste cabloco
06 - Boomerang blues
07 - Anúncio de refrigerantes
08 - Marcianos invadem a terra
09 - Veraneio vascaí­na
10 - Que país é este (Demo) (Bônus)
11 - Summertime (Bônus) (Participação Especial: Cida Moreira)


Uma Celebração - Tributo a Renato Russo (2006)
Faixas:
01 - A Canção do Senhor da Guerra (Chorão)
02 - Eu Sei (Fernanda Takai & John Ulhoa)
03 - Música Urbana 2 (Nasi)
04 - Boomerang Blues (Paulo Ricardo)
05 - Por Enquanto (Vanessa da Mata)
06 - Faroeste Caboclo (Toni Platão)
07 - Vinte e Nove (Isabella Taviani)
08 - Química (Plebe Rude)
09 - Eduardo e Mônica (Biquini Cavadão)
10 - Geração Coca Cola (Cidade Negra)
11 - Daniel na Cova dos Leões (Detonautas)
12 - Que País é Este (Titãs)
13 - Marcianos Invadem a Terra (Dinho Ouro Preto)
14 - Tempo Perdido (Capital Inicial)
15 - Fábrica 2 (Titãs)
16 - O Grande Inverno da Rússia (Estúdio) (Confraria)


Renato Russo - Duetos (2010)
Idealizado pelo produtor Marcelo Fróes para festejar os 50 anos que Renato Russo (1960 - 1996) teria completado em 27 de março de 2010, mas posto efetivamente nas lojas a partir desta segunda-feira, 5 de abril, com expressiva tiragem inicial de 20 mil cópias, o CD Duetos fabrica encontros e emoções sem acrescentar nada de relevante à discografia solo do cantor. Assim como os também póstumos O Último Solo (1997) e Presente (2003), produzidos para faturar com o culto ao mentor da banda Legião Urbana. É fato que as junções virtuais de algumas vozes - como as de Russo e Fernanda Takai em Like a Lover (a versão em inglês de O Cantador gravada por Russo em janeiro de 1995, em um registro até então inédito) - primam pela perfeição técnica. Um mérito de Clemente Magalhães, produtor musical dos duetos forjados virtualmente em estúdio. Contudo, tal apuro técnico não justifica a edição do disco. Falta o conceito que havia em discos de Russo e da Legião Urbana.
Com exceção do duo que junta Renato e Cássia Eller (1962 -2001) em Vento no Litoral, com a voz da cantora extraída do show coletivo Tributo a Renato Russo (realizado no Rio de Janeiro - RJ, em 15 de dezembro de 1999), nenhuma faixa inédita deste trabalho póstumo chega a roçar a emoção que permeava os discos do artista. Originado de registro caseiro feito em dezembro de 1993 em fita DAT, o dueto com Marisa Monte - Celeste, embrião da única parceria da cantora com Russo, Soul Parsifal, gravada pela Legião em 1996 no álbum A Tempestade - foi bem restaurado em estúdio. Contudo, a produção adicional da faixa - capitaneada pelo produtor Carlos Trilha com o aval de Marisa - não atenua o fato de que a música em si é insossa, aquém dos históricos dos autores. Ao menos, este dueto não soa tão frio e tão burocrático quando o encontro forjado de Russo e Caetano Veloso em Change Partners, o standard de Irving Berlin (1888 - 1989). A faixa tem o mesmo tom asséptico dos duetos virtuais de Russo com Laura Pausini (Strani Amori, já cantada com mais vigor pela cantora italiana), Leila Pinheiro (La Solitudine, outro hit de Pausini) e Célia Porto (Come Fa Un'Onda, a versão italiana de Como Uma Onda, a balada havaiana de Lulu Santos que Célia entoa em português). No caso de La Solitudine, a voz de Leila soa tão apagada que fica até difícil perceber a técnica sempre irretocável da cantora. Mais valor (documental) têm os encontros com Dorival Caymmi (1914 - 2008) - no samba-canção Só Louco, cantado por Russo com leve empostação - e com Adriana Calcanhotto (Esquadros). Ambos foram promovidos em 1994, no estilo vozes & violão, para o programa de TV Por Acaso, apresentado por José Maurício Machline. Enfim, o oportunista Duetos - que agrega seis faixas já disponibilizadas anteriormente no anterior Presente e em CDs e DVDs de artistas como Erasmo Carlos (A Carta), Paulo Ricardo (A Cruz e a Espada) 14 Bis (Mais Uma Vez, em registro bem inferior à versão solo de Russo que foi lançada postumamente em 2003 no recém-citado álbum Presente) - é disco formatado para cativar órfãos de Renato Russo. Pena que muitos destes fãs não percebam que tais tributos escondem interesses meramente mercantilistas que até contrariam a ideologia do artista supostamente celebrado.

Faixas:
01 - Like a Lover - com Fernanda Takai
02 - Celeste - com Marisa Monte
03 - Vento no Litoral - com Cássia Eller
04 - Mais Uma Vez - com 14 Bis
05 - A Carta (The Letter) - com Erasmo Carlos
06 - A Cruz e a Espada - com Paulo Ricardo
07 - Cathedral Song - com Zélia Duncan
08 - Change Partners - com Caetano Veloso
09 - Strani Amori - com Laura Pausini
10 - La Solitudine - com Leila Pinheiro
11 - Come Fa Um'Onda - com Célia Porto
12 - Só Louco - com Dorival Caymmi
13 - Esquadros - com Adriana Calcanhotto
14 - Nada por mim - Com Herbert Vianna
15 - Summertime - com Cida Moreira