Filha de um cantor de seresta e criada entre sambistas bambas, o caminho de Micheline Mayz não podia ser outro se não a música. Aos 17 anos ela já integrava a Orquestra Tamoio. Passou por outras e pelos backing vocais de artistas como Tim Maia, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. Levou sua música para o Canadá e, em 2004, preparou o primeiro CD, Samba de pista, que ganhou direção artística de Robertinho do Recife.
O samba de Micheline tem um sabor próprio: brasileiríssimo, pop e eletrônico sem perder o balanço em nenhum momento. Transitando no difícil terreno dos músicos que reciclam suas influências com novos timbres, Micheline se sai bem e fez um CD alegre e para cima. No fundo sambão mesmo, só que com outra visão. Para dançar no terreiro e na boate de mente aberta.
O álbum foi produzido e arranjado por Luiz Antônio, que também toca todos os instrumentos. Violão, guitarra, pandeiro, piano, surdos e ganzás ao lado de samplers, pads, pickups e cds. O ruído dos velhos vinis está lá, ao lado da percussão eletrônica dos novos carnavais.
Sem perder a linha de seu trabalho, a cantora vai de composições próprias até a recriação de clássicos como Aquele abraço, Cidade maravilhosa e Taj Mahal. Ainda nas regravações dá sua ótima interpretação para Bicho de sete cabeças, de Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Renato Rocha, tema do filme homônimo.
Entre as composições de Micheline, todas em parceria com Luiz Antonio, destaque para Samba sem destino, que recentemente ganhou um vídeo-clip. O início traz uma introdução eletrônica para logo depois cair no samba misturando piano acústico e percussão. "Se eu quiser entrar no samba sei melhor do que ninguém", ameaça a letra. E quem vai duvidar?
Micheline mostra sua experiência em orquestra e passeia com facilidade por boas baladas como Terceiro andar. A voz, doce e afinada, sabe encontrar seu caminho em vários estilos sem perder a personalidade. Quebra o ritmo com graça em Da lua e levanta a poeira em A vida ficou bem melhor e Som do S. "Tudo é samba meu irmão!", garante com propriedade.
A voz carrega experiência e frescor. A música é contagiante. O suingue carioquíssimo de Samba de pista tem esse ar de novidade conhecida. O som é novo, inovador e ao mesmo tempo carrega o samba, velho conhecido. Impossível não sentir vontade de dançar e cantar junto.
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