Amor com café
"Amor com café", de Cecéu, expressa o desejo de todos os apaixonados: virar dia e noite colado com o amante. Aliada ao som dos instrumentos do forró, "Amor com café" faz qualquer lençol pegar fogo.
Presente no disco Alegria (1982) a canção ainda é um grande sucesso e marcou a carreira de Elba Ramalho, a frevo-mulher que melhor traduz - corpo e performance vocal - a mensagem do sujeito da canção.
Nos versos "E de manhã cedo fazer o café, trazer na cama, depois do café a gente se ama, a gente se gama depois do café", a canção de Cecéu dialoga com "Café da manhã", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, quando esta diz: "nossa chama outra vez tão acesa e o café esfriando na mesa esquecemos de tudo": erótico diálogo da voz masculina com a feminina.
A inversão do título (ao invés do comum "café com amor", temos "amor com café") estabelece a prioridade do sujeito da canção de Cecéu. Ele impõe regras - "Se você quiser o meu amor Tem que ser assim" - e seduz o outro com uma saraivada de dengos, chamegos e outras propostas afins.
E quem não quer um amor assim? Sem preocupações da ordem do tempo (sem ninguém dar fé que o dia vai acabar) e da exposição social (agarradinho, escondidinho), mas pura e simplesmente voltado para o encontro dos dois parceiros: "nesse dá-me, dá-me; toma, toma; pega, pega".
Se para Camões o "amor é fogo que arde sem se ver", os amantes de "Amor com café" parecem querer viver e figurativizar isso de corpo e alma. Resta ao ouvinte voyeur a visão do desejo em pulsação.
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Amor com café
(Cecéu)
Se você quiser o meu amor
Tem que ser assim
Agarradinho, escondidinho
Bem bonitinho
Somente pra mim
E de manhã cedo
Fazer o café
Trazer na cama
Depois do café
A gente se ama
A gente se gama
Depois do café
Ficar o dia inteiro
Nesse dá-me, dá-me
Nesse toma, toma
Nesse pega, pega
Nesse coma, coma
Nessa brincadeira
Sem ninguém dar fé
Que o dia vai acabar
E a noite já vem
E nosso amor pegando fogo
Vamos se queimar
Somente a gente nesse jogo
Pra se ganhar
E muito mais se querer bem
* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".
Muito bom o texto.
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