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sábado, 7 de novembro de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

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Clara, Elis e Beth

A figura da mulher sempre esteve muito presente no imaginário dos nossos compositores de samba. Letras que falam da mulher amada, desejada, cruel, traidora ou desprezada povoam o cenário de nosso cancioneiro. Mas, para nossa sorte, a importância das mulheres compositoras e cantoras na história da MPB redimiu por completo a tentativa de reduzi-las a meras “musas inspiradoras” de canções.
Para falar de mulheres na música, é preciso voltar um pouco e retomar essa história, a partir da tríade do início do século: Chiquinha Gonzaga, Aracy Cortes e Gilda Abreu. Depois, passando pelas cantoras do rádio, podemos destacar Emilinha e Marlene – notórias rivais que cativaram milhares de fãs –, a internacional Carmen Miranda e a divina Elizeth Cardoso. E só então chegamos à década de 1970, com a forte presença de três intérpretes que imprimiram ao samba características únicas: Clara Nunes, Elis Regina e Beth Carvalho.
Clara Nunes

Foi no Festival da Record de 1968 que a mineira Clara Nunes interpretou com grande sucesso “Você passa e eu acho graça”, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial, passando a ser conhecida nacionalmente. Primeira mulher a vender mais de 400 mil cópias, um sucesso absoluto, Clara provou que se pode unir qualidade com mercado. Sua associação com o  radialista e produtor Adelzon Alves gerou discos antológicos e sucessos eternos: “Ê baiana”, “Tristeza pé no chão”, “Ilu-Ay ê”, “Quando eu vim de Minas” e “Conto de areia”, uma das músicas mais identificadas com sua carreira. 
Estudiosa dos ritmos e do folclore, utilizando indumentária do candomblé – religião que adotou –, elétrica, carismática, portelense apaixonada, Clara Nunes virou uma grande paixão nacional. Com interpretações personalíssimas, revelou compositores como Aldir Blanc (em “De esquina em esquina”), recordou sambistas de longa estrada, como Candeia (“O mar serenou”) e Nelson Cavaquinho (“Juízo final”), gravou Mauro Duarte (“Meu sapato já furou”) e ajudou muito na divulgação do samba-enredo. “Morena de Angola”, composição
de Chico Buarque, foi feita especialmente para ela.
Após o casamento com o compositor Paulo César Pinheiro, este passou a assinar a produção musical de seus discos, o que resultou em um sofisticado repertório, com equilíbrio de ritmos e refinado acabamento musical.
Assim, a partir de 1976, com o disco O canto das três raças, até Brasil-mestiço, lançado em 1980, a guerreira Clara Nunes sedimentou o seu papel como uma das mais influentes cantoras das últimas décadas do século XX.


A Marrom

Mangueirense como a contemporânea Beth Carvalho, Alcione Nazaré, nascida em São Luís do Maranhão, trilhou sua carreira como intérprete de importantes sambas. Seu primeiro LP foi A voz do samba. Devido a dois grandes sucessos do disco, “Não deixe o samba morrer” (Edson e Aluísio) e “O surdo” (Totonho e Paulinho Rezende), ganhou seu primeiro disco de ouro. Em 1976, lançou o LP Morte de um poeta, do qual se destacam os sucessos “Lá vem você” (Totonho, Paulinho Rezende e Zay rinha), “Morte de um poeta” (Totonho e Paulinho Rezende) e “É melhor dizer adeus” (Mita). O disco de 1977, Pra que chorar, vendeu 400 mil cópias, consagrando a cantora. Desse disco, despontaram vários sucessos de sua carreira, como “Ilha de maré” (Lupa e Walmir Lima), “Pedra que não cria limo” (Vevé Calazans e Nilton Alecrim), “Pandeiro é meu nome” (Venâncio e Chico da Silva) e a faixa-título “Pra que chorar” (Baden Powell e Vinicius de Moraes). Em 1979, com a composição “Gostoso veneno”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso de todo o país. A música deu título ao LP, que trouxe, entre outras, “Menino sem juízo” (Paulinho Rezende e Chico Roque), “Rio antigo” (Nonato Buzar e Chico Anísio) e “Dia de graça” (Candeia). Em 1985, lançou seu 12o LP, Fogo da vida, e, na seqüência, Fruto e raiz (1986), o maior sucesso de sua carreira, que alcançou a marca de 700 mil cópias vendidas e lhe rendeu o disco de platina duplo pelo hit “Garoto maroto”.
Muitos associavam o estilo de Clara ao de Carmen Miranda. Comparações à parte, só podemos afirmar que a prematura e inesperada partida das duas empobreceu em demasia o ambiente musical de cada época.



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