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terça-feira, 4 de agosto de 2020

SILVIO CÉSAR E SUAS HISTÓRIAS

Em comemoração aos 80 anos do cantor e compositor o Musicaria Brasil relembra algumas de suas histórias




PÂNICO

Como já disse, comecei minha carreira na antiga TV Continental, nos programas de MPB dirigidos pelo Haroldo Costa e pelo Luiz Carlos Miele.

Vivi experiências incríveis e aprendi muito com esses dois mestres.

Uma delas me ficou gravada e aconteceu num programa dirigido pelo Haroldo.

O programa apresentava uma seleção das músicas de maior sucesso no momento, no Brasil e no mundo.

Num desses, o Haroldo me pediu pra cantar uma música gravada pelo Elvis Presley - um rock’roll movimentdo, bem ao estilo do Elvis.

O Haroldo sabia que eu cantava músicas americanas no Baccara, um barzinho simpático no Beco das Garrafas, por isso me convidou

Relutei muito, porque não levava ( e ainda não levo ) o menor jeito pra esse tipo de música, mas os argumentos do Haroldo e a minha amizade e respeito por ele, me convenceram.

O programa era ao vivo e com platéia.
As músicas eram acompanhadas por uma grande orquestra, regida pelo maestro Pernambuco.

Vejam o que aconteceu:

Quando a orquestra fez a introdução, me deu um branco total.
Não consegui me lembrar de nenhuma palavra da letra, que, por sinal, era gigantesca.

Fiquei apavorado. A orquestra tocando e eu pensando no que fazer.

Aí me ocorreu uma ideia maluca e totalmente ridícula:

Comecei a cantar todas as palavras em inglês que me vinham à cabeça e que coubessem dentro da melodia.

Ficou mais ou menos assim:

“ All my love for you”, “Very well, good night”, I’m all right, thank You”
It’s too late my darling” “Never, never, please forgive me”… e por aí afora.

Nada a ver com a letra original.

Estava tão apavorado que, além da letra, não me lembrava do arranjo, nem de como ele terminava. Esqueci tudo. Só pensava nas palavras em inglês.

A orquestra ficava repetindo a música e eu improvisando as palavras.
Virou uma história sem fim, sem pé, nem cabeça

O maestro, então, encontrou uma solução:
Fez um sinal para a orquestra e encerrou o arranjo com um acorde grandioso.

A plateia aplaudiu com entusiasmo.

No camarim, todos elogiaram meu desempenho.

O Haroldo me abraçou e agradeceu.

Até o maestro me cumprimentou.

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Até hoje eu desconfio que o Haroldo percebeu tudo e não me falou nada, em respeito à nossa grande amizade e ao carinho que ele tem por mim.

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