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sexta-feira, 10 de julho de 2020

MÚSICO CÉSAR LACERDA FAZ CLIPE COLABORATIVO COM FÃS DE 21 PAÍSES

Duzentas pessoas enviaram para o cantor e compositor mineiro cenas de seu dia a dia durante a quarentena. Elas farão parte do vídeo da canção 'Isso também vai passar'

Por Frederico Gandra

(foto: Thiago Britto/divulgação)


Durante a quarentena, o músico mineiro César Lacerda, de 32 anos, propõe-se a produzir “conteúdo de pensamento” com o objetivo de aprimorar a condição humana no mundo pós-pandemia. “Tenho buscado alternativas criativas para melhorar o meu dia a dia, mas também uso meus canais de divulgação para que as pessoas sejam afetadas positivamente neste momento conturbado”, diz.

César produziu o clipe colaborativo de sua canção Isso também vai passar e gravou uma série de entrevistas sobre esse tema. Lançada há três anos, a música, que abre o quarto disco dele, Tudo, tudo, tudo, tudo, faz todo sentido neste 2020.

A ideia do projeto surgiu de comentários dos fãs sobre a semelhança da canção com o atual momento. “Recebi vídeos de mais de 200 pessoas de 21 países. Elas filmaram a sua quarentena, a vida em casa e dublaram a canção”, explica. O lançamento está marcado para quinta-feira (23), no YouTube.

Esta semana, César exibiu o primeiro episódio da série de entrevistas Isso também vai passar – Algumas ideias para o futuro. “Entrevistei a Neide Rigo, nutricionista slow food, a Cláudia Lisboa, que é astróloga, e a Tatyana Ribeiro de Souza, professora da pós-graduação em direito da Universidade Federal de Ouro Preto. E ainda vou fazer mais”, promete. Gravados em home office, os vídeos, com cerca de 30 minutos, são disponibilizados na página do artista no YouTube, onde conta com 2 mil inscritos, e no Instagram (@ocesarlacerda), onde ele é seguido por 4 mil pessoas.

Devido a esses projetos, César Lacerda tem evitado as lives.“Esta semana, fui convidado para quatro festivais diferentes, com programações lindíssimas e artistas que admiro. Mas acabei não aceitando para concentrar o público das minhas redes sociais nos vídeos que pretendo lançar”, afirma.

Ele fez parte do evento on-line europeu #AtYourHome, que destinou 60% dos recursos arrecadados a uma empresa que produz respiradores de baixo custo para o tratamento da COVID-19 e 40% para os músicos.


ESPELHO 

Ao analisar o fenômeno das lives, Lacerda considera positivo o feedback do público. “Num show convencional, você recebe algum grito ou o público canta junto. On-line, há a possibilidade de a pessoa dizer que gosta de uma música ou daquela letra.” Porém, observa: “É um pouco distópico você ficar ali, cantando pro espelho. Não é uma dificuldade, apenas uma observação sociológica e psicológica sobre o formato. No fim das contas, quando nos filmamos, você fica ali se olhando. Acho um pouco curioso”.

Na opinião de César, a live tende a se desgastar e não sobreviverá à quarentena. “Tem muita gente fazendo. Vai chegar o momento em que o próprio público perderá o interesse”, prevê.

Nascido em Diamantina e morador de BH até os 20 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro, o músico vive atualmente em São Paulo. A quarentena longe da família não é um trauma. “Já me acostumei a essas fases longas de distanciamento”, comenta.

Se alguns projetos foram adiados, dá para tocar outros. César assina a direção artística do disco da cantora Ana Rafaela, que participou do The Voice Brasil e deve ser lançado neste semestre. Porém, está preocupado com o futuro dos artistas. “O cenário cultural do país, que já vinha num processo de desconfiguração, entrou em completa hibernação”, lamenta, comentando que alguns colegas já não têm dinheiro para viver na semana que vem.

“Artistas grandes têm anunciado a retomada das turnês para setembro ou outubro. Acho isso perigoso. Tenho a sensação de que, possivelmente, o mercado não volte a existir este ano”, pondera. Entretanto, diz que a proximidade com o público durante a quarentena deve ser estrategicamente aproveitada.

“Num momento em que o artista é visto como problema da sociedade, precisamos recuperar a ideia de que o inimigo não é ele. É óbvio que a gente precisa de grana pra comer amanhã, mas é só isso?”, questiona. “Devemos recuperar o sentido político do artista para o mundo. Assim como precisamos brigar pela grana da comida de amanhã, precisamos brigar pelo sustento ideológico da sociedade”, conclui.

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