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segunda-feira, 4 de maio de 2020

SILVIO CÉSAR E SUAS HISTÓRIAS



UM SONHO BOM

Em 1969, eu participava assiduamente da programação da TV Record de São Paulo e, praticamente, morava no Hotel Danúbio, na Brigadeiro Luiz Antonio.

O Danúbio era um dos 3 hotéis que as TVs utilizavam constantemente para hospedar os artistas convidados. Os outros dois eram o Normandie, na Ipiranga e o Jandaia, na Duque de Caxias - que alguns gaiatos chamavam, brincalhonamente, de Gandaia e até hoje não sei porque, pois muitas vezes me hospedei lá e nunca vi gandaia nenhuma, ao contrário sempre encontrei respeito e muito carinho.

O Danúbio era a minha casa e a de muitos artistas também.

Caetano, Gil, Lennie Dale, Geraldo Vandré eram alguns de seus moradores ilustres.

A Seleção Brasileira de Futebol se concentrava lá de vez em quando
.
Numa dessas, conheci o Carlos Alberto Torres e o Rildo, que foram me visitar uma noite e ficamos amigos.

Eu acabara de lançar um disco com algumas músicas em parceria com um jovem e brilhante escritor carioca chamado Sylvan Paezzo e uma delas era "Gingilin - o último palhaço".

Essa canção nasceu de uma matéria que o Sylvan havia escrito para a revista REALIDADE sobre o mundo do circo.

Nós queríamos homenagear os artistas circences, por isso escolhemos o Gingilin como um símbolo de uma arte tão nobre e tão especial, valorizada e compreendida, quase sempre, apenas pelas crianças.

Eu não conhecia o Gingilim pessoalmente. O Sylvan também não.

Uma noite eu esperava uma jornalista pra fazer uma matéria, quando o interfone tocou e o gerente me disse que alguém procurava por mim. Pedi a ele que mandasse pessoa subir. Quando abri a porta, vi que não era quem eu esperava.

Ali, parado estava um velhinho pequenino, sorridente, desses que a gente tem vontade de pegar no colo.

Ele me olhou com uns olhinhos matreiros e disse: Eu sou o Gingilin!

Fiquei sem saber o que fazer, tremendo, o coração disparado, .

Depois de algum tempo, pedi que ele entrasse e começamos a conversar.
Fiquei encantado com ele. Ele me fez rir como se estivesse num picadeiro.

Depois de algum tempo, perguntei se ele toparia ir ao programa da Hebe e ele disse que não, que já estava aposentado.

Insisti muito e ele acabou topando.

Falei com a Hebe e ela adorou a idéia.

Ele foi ao programa e fez o maior sucesso.

Quase matou a Hebe e todo mundo de rir com suas palhaçadas autênticas.

E sumiu.

Nunca mais o vi.

Eu nao sabia seu endereço, nem ele me procurou mais.

Tudo que ficou foi uma foto antiga que ele me deu.


Às vezes, penso que aquilo tudo foi um sonho.


Um lindo sonho de criança.


Nota: Para ouvir a canção "Gingilin - o último palhaço" vá em Gravações
LP "Silvio Cesar" de 1968 e clique na faixa.

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