Portela
“Portela
eu nunca vi coisa mais bela
quando ela pisa a passarela
e vai entrando na avenida...”
MAURO DUARTE e PAULO CÉSAR PINHEIRO, “Portela na avenida”
A Portela é a escola carioca com o maior número de títulos conquistados no carnaval. Tem origem no bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz, fundado em 1926 e rebatizado dois anos depois de Vai como Pode. No dia 1o de maio de 1934, alguns dirigentes da escola de samba Vai como Pode queriam renovar a licença de funcionamento da agremiação e foram ao delegado Dulcídio Gonçalves, que fez uma proposta inesperada ao grupo: mudar o nome da escola. E o novo nome acabou sendo aceito. Nascia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela.
Seus fundadores tornaram-se baluartes da Azul-e-branco de Oswaldo Cruz e, pela excelência de suas criações, são referência em todo o mundo do samba: Paulo Benjamim de Oliveira, Antônio Caetano, João da Gente, Antônio Rufino, Heitor dos Prazeres, Alcides Dias Lopes, o “Malandro Histórico”, e Manoel Bam-Bam, entre outros.
Paulo da Portela
“Cidade,
quem te fala é um sambista
anteprojeto de artista
teu grande admirador...”
PAULO DA PORTELA, “Cidade mulher”
Paulo Benjamim de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela, foi o grande organizador do samba em Oswaldo Cruz. Aliás, Paulo representou para a comunidade mais do que isso. A elegância, a auto-estima e a determinação fizeram dele uma referência cultuada pelos moradores do bairro e pelos mais notórios representantes da estirpe musical portelense: “Em Oswaldo Cruz, bem perto de Madureira/ todos só falavam de Paulo Benjamim de Oliveira”, dizem os versos do compositor Monarco em “Passado de glória”.
Paulo Benjamim de Oliveira teve uma infância pobre, cresceu no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, trabalhando como entregador de marmitas e lustrador de móveis. Na década de 1920 a família foi morar em Oswaldo Cruz, e ali Paulo começou sua relação com o carnaval, fundando um dos primeiros ranchos da região, o Ouro sobre Azul. Em 1922, criou com Antônio Rufino e Antônio Caetano, futuros fundadores da Portela, o bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz. Data desse tempo o apelido artístico Paulo da Portela – referência à estrada do Portela –, que servia para diferenciá-lo de outro Paulo, sambista de Bento Ribeiro. Seu nome veio antes da escola.
Foi na casa do seu Napoleão (pai de Natal da Portela) que Paulo começou a se embrenhar no mundo do samba, indo a festas onde se tocava e dançava jongo e conhecendo gente como Ismael Silva, Baiaco e Brancura, sambistas do Estácio.
O papel de Paulo como líder na defesa e na luta pelo reconhecimento das escolas de samba começou ainda em 1926, quando passou a ser organizador do Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz. O curioso é que, antes de fincar pé na estrada do Portela, a agremiação teve várias sedes, uma delas especialmente curiosa: um vagão de trem, que partia por volta das 6 da manhã da Central do Brasil em direção ao subúrbio.
Foi Mário Reis o primeiro a gravar, em 1931, uma composição de Paulo da Portela, “Quem espera sempre alcança”. O ano de 1935 marca alguns eventos importantes: a escola de samba Vai como Pode ganhou o carnaval com um samba de Paulo, mudou de nome e passou a se chamar Portela. No mesmo ano, Paulo foi eleito pelo jornal A Nação o maior compositor de samba do Brasil. Nos anos seguintes ganhou os títulos de Cidadão-Momo e Cidadão-Samba.
A Portela venceu o carnaval de 1939 com outro samba de sua autoria, apontado por muitos como o primeiro samba-enredo da história, pois Paulo conseguiu estruturar toda a escola em função de sua composição.
Ao lado de Cartola e Heitor dos Prazeres, começou a apresentar, em 1940, o programa A Voz do Morro, na Rádio Cruzeiro do Sul. No ano seguinte, Paulo rompeu relações com a Portela e saiu da escola logo depois de a Azul-e-branco vencer o carnaval com mais um samba seu, “Dez anos de glória”, feito em parceria com Antônio Caetano. Sua mágoa se traduziu em uma de suas mais belas músicas:
“O meu nome já caiu no esquecimento/ o meu nome não interessa a mais ninguém/ E o tempo foi passando/ a velhice vem chegando/ já me olham com desdém/ Ai quanta saudade de um passado que se vai lá no além/ Chora cavaquinho chora/ chora violão também/ O Paulo no esquecimento não interessa a mais ninguém/ Chora Portela, minha Portela querida/ Eu que te fundei, serás minha toda vida.”
Paulo foi para uma escola de Bento Ribeiro, a Lira do Amor. Candidatou-se, sem sucesso, a vereador pelo Partido Trabalhista Nacional em 1945, com o apoio de agremiações carnavalescas e do jornal Diário Trabalhista, chegando mesmo a participar de comícios do Partido Comunista Brasileiro. No dia de seu enterro, que contou com cerca de 15 mil pessoas, o comércio de Madureira, de luto, fechou as portas. A história de Paulo da Portela confunde-se com o surgimento do próprio samba carioca. São vários os depoimentos que o colocam como brilhante orador e grande liderança, um verdadeiro professor, como era chamado e é lembrado até hoje por vários sambistas.
A Velha Guarda da Portela gravou um vinil, que hoje já existe em cd, com as principais músicas de Paulo: “Linda Guanabara”, “Homenagem ao Morro Azul”, “Quem espera sempre alcança”, “Linda borboleta”, “Cocorocó” e outras.
Cristina Buarque
A portelense Cristina Buarque é a memória do samba carioca. Com seu talento de cantora, tem sido um frutífero elo entre a nova geração e os baluartes do gênero. Cristina gravou os principais sambistas do Rio, com destaque para os trabalhos dedicados a Noel Rosa e Wilson Batista, e imortalizou a composição de Manacéia “Quantas lágrimas”. Sua forte ligação com a Velha Guarda da Portela tornou-a quase um membro efetivo do grupo.
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