Moacyr nasceu numa família cercada de música: o pai, pianista; a mãe, bandolinista; o tio, Nonô (Romualdo Peixoto), um grande pianista de samba, além de homem de rádio; o primo, Cyro Monteiro, cantor famoso; e os irmãos eram Araken, trompetista, e Cauby Peixoto, um dos cantores mais populares do Brasil nas décadas de 1950 e 1960, além de Andyara, também cantora.
Autodidata, nunca chegou a ler partituras, mas ainda assim tornou-se um brilhante pianista de jazz. Aprendeu a tocar, primeiro, ouvindo o pai, que fazia o fundo musical de filmes mudos em sua cidade natal.
“Eu devia ter uns nove anos. Meu pai me levava para ver aqueles filmes de Tom Mix. Tocava tudo de ouvido, assim como meu tio Nonô. Só que, em vez de olhar o filme, eu queria era vê-lo tocar. 'Mas rapaz, vira para lá, vai ver o filme!', ele me dizia. E eu, que já era tarado por piano, como, aliás, nós todos lá em casa por música, ficava só prestando atenção no modo como meu pai tocava”.
Para que se tenha uma idéia da musicalidade do pai dos Peixoto, seu Elisiário, também conhecido como Cadete, sequer tinha piano em casa. Mas essa influência auto-didata e intuitiva interrompeu-se abruptamente aos 13 anos, com seu falecimento. A partir daí, até a maioridade, a escola de Moacyr foram os programas de rádio aos quais compareciam o tio Nonô e o primo Cyro.
Depois vieram os bailes. Ainda menor de idade, sempre curioso, Moacyr se aproximava dos músicos: “Nunca fui pobre soberbo. Via os caras tocarem e perguntava: 'Como é esse acorde?' Fui aprendendo e deslanchei rápido.”
O aprendizado seguiu pelo cassino Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro, onde travou contato com grandes orquestras e músicos internacionais. E desse convívio surgiu um fator decisivo em sua formação musical: Moacyr, que sempre foi uma pessoa sociável e freqüentador das altas rodas da época, fez amizade com Carlinhos Guinle (irmão do playboy Jorginho Guinle), que havia estudado bateria com Gene Krupa, grande baterista de jazz da banda de Benny Goodman. Carlinhos e Jorginho eram apaixonados por jazz e, na casa deles, Moacyr acabou tendo acesso a discos importados com o que havia de melhor na música dos anos 40.
A carreira de Moacyr teve três estágios, sendo que cada um deles representou uma ruptura com o que veio antes.
Primeiro, o rádio: em 10 de março de 1932, o jornal A Noite (RJ) publicava a seguinte nota: “Às 21:15, será transmitido, diretamente do estúdio de um programa da Rádio Clube Fluminense (Niterói), uma transmissão na qual tomam parte, entre outros, Cadete Peixoto, Cyro e Carino, o menino Moacyr Peixoto e o exímio pianista Nonô.” Moacyr tinha 12 anos de idade.
Com a aproximação da maioridade, o samba e a música brasileira tradicional iam sendo deixados de lado aos poucos, substituídos pelo convívio com outro tipo de ambiente. Vieram os bailes e as gafieiras:
Antigamente o cara tocava seis horas sem parar, o baile era só de piano. Então, os pianistas, vendo que ele queria tocar de qualquer maneira, chegavam perto e diziam: “Olha, garoto, amanhã você encontra comigo e pode tocar, tem uma festa, então você faz 'só isso'. Engana aí...”
“Eles me chamavam porque queriam paquerar as moças. Aí, eu tocava enquanto eles iam dançar, juntamente com os outros pianistas. E eu não queria saber de mulher, de nada, só queria saber de piano!”
Moacyr chegou a tocar em orquestras famosas da época, como as de Chuca-Chuca e Napoleão Tavares, e em mais de 10 gafieiras.
Nas palavras de Rodrigo Faour: “A propósito, o circuito de gafieiras de então ficava basicamente no subúrbio — Engenho de Dentro, Bento Ribeiro, Méier... — e no Centro, onde havia a famosa Mauá. Esses lugares eram o ponto de encontro de vários músicos que tinham Glenn Miller como mito e queriam tocar sons “modernos”, improvisar, e não ficar apenas nos sambas e choros tradicionais do Brasil, famosos na época. ‘Eles iam para as gafieiras tocar de graça. Eram músicos de cassinos’, diz Moacyr”.
O próximo passo, no início da década de 1940, definitivo, levou Moacyr Peixoto aos cassinos e às boates, nas quais passaria o restante de sua longa vida profissional.
A estréia de Moacyr Peixoto nas boates se deu pelas mãos do chará e saxofonista Moacyr Silva, por volta de 1941 e 1942. Por interferência dele, a quem havia conhecido numa gafieira, passou a se apresentar no Copacabana Palace, a conviver com a elite empresarial da cidade, e a travar contato com músicos internacionais. Logo depois, a convite do pianista Bené Nunes, participou da orquestra internacional do cassino do Hotel Quitandinha, onde se encarregava de executar ao piano o repertório brasileiro.
Com o fechamento dos cassinos, em 1946, a carreira de Moacyr associou-se definitivamente às boates. Casablanca, Night and Day (no Hotel Serrador, do Rio de Janeiro, onde travou contato com o trompetista americano radicado no Brasi,, Booker Pitman), Vogue (onde tocou novamente com Moacyr Silva e Bibi Miranda, a quem considerava “o maior baterista que já existiu”), e Au Bon Gourmet foram algumas de suas “casas” no Rio.
Depois disso, a mudança definitiva para São Paulo, para onde foi inaugurar a boate Oásis, em fins da década de 1940. Daí até o final da vida, foi esta a carreira de Moacyr Peixoto: os compromissos nas boates e clubes de luxo, como Club de Paris, Michel, A Baiúca, Arpège, Captain´s Bar, e Studio Jaraguá; as jam sessions com músicos amigos após o encerramento dos shows nas boates, e a convivência apaixonada com a música.
Revelando um pouco sua verve e suas preferências, acerca do tempo em que tocava no requintado Clube Harmonia de Tênis, em São Paulo, Moacyr diz: “Lá, o público entende a música que eu faço. Ninguém vai pedir para eu tocar Chitãozinho e Xororó”.
Ao contrário do irmão Araken, que nunca saiu do Brasil, Moacyr excursionou pelos Estados Unidos, América Central e Europa.
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