Os universos erudito e popular dialogam no álbum 'Música para cordas', do Selo Sesc, dirigido pelo maestro e spalla Emmanuele Baldini. Faixas homenageiam Monteverdi, Shostakovitch e Vivaldi
O compositor e pianista André Mehmari se destaca nos cenários erudito e popular (foto: Elcio Paraíso/divulgação)
Há alguns momentos em que não sabemos se estamos no universo da música popular ou de concerto. “Essa é, na verdade, uma das principais virtudes dessa música”, diz o violinista e maestro Emmanuele Baldini, que assina a direção de um disco recém-lançado pelo Selo Sesc, dedicado a obras do compositor André Mehmari.
“A liberdade é justamente uma das marcas do trabalho de André”, afirma Baldini. Música para cordas nasceu da ideia de Mehmari de reunir em um só álbum peças do gênero escritas por ele, cobrindo o período que vai de 2006, ano de Shostakovitchiana, até 2015, quando estreou Música para harmônica e cordas. O repertório chama a atenção pela enorme variedade. “Uma das marcas de Mehmari é o poliestilismo, a multiplicidade de vozes”, explica Baldini.
Ballo, escrita a pedido da São Paulo Companhia de Dança, evoca o compositor barroco Claudio Monteverdi, uma das paixões de Mehmari, que batizou com o nome do italiano seu estúdio, em São Paulo, onde o disco foi gravado.
Vivaldi aparece em Strambotti, peça para clarinete, acordeom e cordas. Por sua vez, Shostakovitchiana, encomendada pela Orquestra de Câmara do Amazonas, homenageia o compositor Dmitri Shostakovich, mas o faz, à certa altura, em diálogo com o choro.
PARCERIAS
Além da orquestra formada especialmente pelo projeto, o álbum reúne importantes solistas, com quem Mehmari tem uma importante relação profissional: o gaitista José Staneck (na faixa Música para harmônica e cordas), o clarinetista Gabriele Mirabassi e o acordeonista Christian Riganelli (em Strambotti), o fagotista Fabio Cury e a harpista Paola Baron (Concerto para fagote, cordas e harpa), o percussionista Sergio Reze e o contrabaixista Neymar Dias (Concerto para jazz trio e cordas).
“As partituras são sempre bem escritas, originais. Quando Mehmari se inspira em outros compositores, percebe-se um respeito incrível, as liberdades que ele toma estão sempre dentro dos limites do bom gosto, nunca passam do ponto”, diz Baldini. “Quando você considera peças como o Concerto para jazz trio, há quase um sentido de improvisação, mas tudo está ali escrito. Essa também é uma virtude: o trabalho artesanal único unido à liberdade de improvisação, que é a melhor herança da música popular brasileira e sua capacidade de sempre soar nova.”
Spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Baldini tem atuado como maestro nos últimos anos – dirige, no Chile, a Orquestra de Câmara de Valdívia e recentemente passou a trabalhar com a Orquestra Sphaera Mundi, de Porto Alegre, dedicada ao repertório barroco.
“A visão polifônica do maestro, a visão do todo de uma partitura, abriu muito meus horizontes musicais. Sinto que, como músico e violinista, sou extremamente mais rico desde que comecei a trabalhar como maestro”, explica.
BACH
Nessa missão dupla, Baldini vai gravar, em Porto Alegre, um disco com os concertos de Bach. Aliás, o compositor é parte de um novo projeto com Mehmari. Outro projeto do maestro, também pelo Selo Sesc, é o álbum com sonatas para piano e violino de Claudio Santoro, gravadas com Alessandro Santoro, filho do compositor – além das cinco conhecidas, os dois registraram uma sonata inédita.
Também já está pronto, para o selo Naxos, um disco com as sonatas do italiano Wolf-Ferrari. Este mês, Baldini se une ao pianista Pablo Rossi para gravar em Nova York as sonatas para violino e piano de Villa-Lobos, “projeto de sonho para qualquer violinista que atue no Brasil”.
ANDRÉ MEHMARI: MÚSICA PARA CORDAS
. Selo Sesc
. 23 faixas
. R$ 35
. Disponível em www.sescsp.org.br/livraria e plataformas digitais
Fonte: Estado de Minas
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