Chega a ser óbvio apontar Johnny Alf como um dos precursores da Bossa Nova. Mas sua morte – ocorrida ontem em São Paulo em decorrência de um câncer na próstata – força uma reavaliação de sua obra. E essa análise gera certa sensação de injustiça (por parte do Brasil) com um de seus mais criativos e originais compositores. Não por acaso, apelidado de Genialf por gente que logo percebeu o pioneirismo do cancioneiro do autor de Rapaz de Bem, Ilusão à Toa e Céu e Mar. Sem falar na obra-prima Eu e a Brisa. Para entender a importância de Alf, é preciso voltar no tempo. Mais especificamente, ao início dos anos 50, década em que ainda imperavam o canto empostado e as letras carregadas de dramas e sofrimento, mola mestra do samba-canção. Pois Alf surgiu em 1952 – seis anos antes da explosão formal da Bossa na voz de João Gilberto – e, na sua, sem fazer alarde, como era do seu temperamento discreto, apresentou repertório que impressionou gente como Tom Jobim pela refinada teia harmônica, pelo canto natural (próximo da fala) e pelas letras que falavam de Rio, céu e mar. Ou seja, já estavam ali – na obra de Alf – elementos essenciais na composição do som revolucionário que veio a ser rotulado de Bossa Nova. Alf, que faria 81 anos em 19 de maio, fez parte dessa revolução. Mas partiu sem colher todos os louros a que sua obra imortal fazia jus. Coisas do Brasil.
Fonte: https://blog.saraiva.com.br/
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