Carioca define seu som como "universalista". Seu novo trabalho une jazz, música brasileira e erudita
Por Augusto Pio
(foto: Rosi Reis/Divulgação)
Um músico da corrente Third stream (terceira corrente – termo criado pelo compositor norte-americano Gunther Schuller, em 1957, para descrever um gênero musical que junta a música clássica ao jazz), que gosta de misturar o jazz com elementos da música de concerto europeia. Assim Alexandre Carvalho define o seu som, que considera universa- lista. Ao lado de Fernando Trocado (sax), Jefferson Lescowich (baixo) e Vitor Vieira (bateria), ele está lançando o álbum Rio joy, composição autoral que também dá nome ao CD.
O disco ainda contou com as participações especiais de Ademir Junior (sax-tenor), Daniel Castro (baixo acústico) e Pedro Almeida (bateria), nas faixas Rio joy e Nica’s mood. Neste álbum, o guitarrista carioca revisita clássicos de grandes músicos, como o norte-americano Charles Mingus, o argentino Astor Piazzola e os brasileiros Luis Eça (1936-1992) e JT Meirelles (1940-2008). Alexandre é doutor em música pela Manhattan School of Music, compositor e arranjador, sendo considerado pela crítica especializada uma referência da guitarra jazzística no Brasil e nos Estados Unidos, onde viveu por muitos anos.
O músico explica que neste novo trabalho (ele já havia lançado, em 1996, o CD Central Park West, em duo com o saxofonista francês Idriss Boudrioua), procurou resgatar pérolas do Brazilian Jazz, revisitando clássicos das obras dos cariocas JT Meirelles (Samba jazz) e Luis Eça (The Dolphin), dois nomes fortes do Beco das Garrafas nos anos 1960. “Também procurei homenagear o grande Astor Piazzolla (La Calle 92) e a lenda do jazz Charles Mingus (Duke Ellington's sound of love), além de gravar Armadilha, um samba-jazz eletrizante do novato compositor Henrique Alvim.”
Autorais, Alexandre gravou três composições inéditas, Rio joy, Nica's mood e Waltz nova, que mesclam elementos do jazz com a música clássica, mas sem perder o sotaque brasileiro. “Tenho influências de estilos de várias partes do mundo e meu único critério na escolha do repertório é a qualidade da música e não sua nacionalidade”, justifica.
Ele explica que o disco tem uma vertente tripla, com um pouco de jazz, um pouco de música brasileira e um pouco de música de concerto. “Na verdade, ele tem umas texturas meio de concerto. Gravei três músicas autorais que compus quando ainda fazia doutorado nos Estados Unidos. Ele tem também um pouquinho de Third stream, além de influência de música mineira, algumas harmonias típicas de Toninho Horta”, revela o músico carioca.
Alexandre ressalta que resolveu também homenagear alguns músicos do samba-jazz, como Luizinho Eça e JT Meireles, porém lamenta não ter podido tocar com eles. “Mas cheguei a ver o Luizinho tocar por várias vezes e acabamos ficando amigos. Por outro lado, ele também me viu tocar. O Meireles não tive o prazer de conhecê-lo, mas sempre admirei o seu trabalho, que pode ser acessado através da internet. Eça era professor, músico, compositor, arranjador e pianista, e Meireles, saxofonista, arranjador e compositor, ambos incríveis.”
O músico também gravou uma canção que é considerada por muitos como jazz puro. Trata-se de Duke Ellington’s sound of love, de Charles Mingus (1922-1979). “É uma composição que não tem influência de nada, digamos que é bem purista”. Ele lembra que quando começou a tocar, ainda na adolescência, ouvia muitos guitarristas de rock, principalmente Jimmy Page, do Led Zeppelin, mas hoje garante que ouve mais as orquestras. “Uso a guitarra mais como uma ferramenta. Além disso, toco um pouco de piano e contrabaixo.”
Alexandre conta que a sua migração do rock para o jazz se deu quando foi ver um show do guitarrista e violonista carioca Hélio Delmiro. “Como disse, comecei ouvindo rock na adolescência, mas, a partir daquele show, minha cabeça se abriu para outras coisas. Delmiro faz aquela coisa mais moderna, mais rebuscada de violão, mais de harmonia. Então, ele conseguiu abrir a minha cabeça para as sutilezas harmônicas do jazz. A partir dali, fui beber na fonte, ou seja, ouvir os grandes músicos do jazz e do fusion.”
SHOWS
O músico confessa que hoje quase não ouve mais os guitarristas, pois prefere mesmo as orquestras. “Interesso-me mais pela música pura mesmo, erudita, pelas orquestras e concertos, lembrando que fiz mestrado em música erudita no Brasil e nos Estados Unidos. Quanto a este disco, por enquanto, vamos fazer um show de lançamento no Rio de Janeiro e depois vamos para São Paulo. Esperamos percorrer várias cidades.”
Alexandre já tocou ao lado de nomes importantes do jazz, nacional e internacional, como Danilo Perez, Jeff Andrews, Bob Mintzer, Jerry Bergonzi, Claudio Roditi, Marcio Montarroyos, Mauro Senise, Leo Gandelman, Robertinho Silva e Pascoal Meirelles, além de fazer parte do quinteto Victor Assis Brasil. Tocou também ao lado de João Bosco, entre outros.
FAIXA A FAIXA
01 – Rio joy (Alexandre Carvalho)
02 –Samba jazz (JT Meirelles)
03 – Nica’s mood (Alexandre Carvalho)
04 – La Calle 92 (Astor Piazzolla)
05 –The Dolphin (Luiz Eça)
06 –Waltz nova (Alexandre Carvalho)
07 – Duke Ellington’s sound of love (Charles Mingus)
08 – Armadilha (Henrique Alvim)
(foto: Reprodução)
Rio Joy
Alexandre Carvalho
Oito faixas
Selo: Tratore
Preço: R$ 20
Disponível nas plataformas digitais
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