AFINIDADES ELETIVAS
Muitas das observações que naquela época me ocorriam a respeito dos shows dos Stones ganharam nomes precisos e caracterizações definidas quando travei conhecimento com Jorge Mautner. Na verdade, duas pessoas entraram em minha vida pela porta do 16 da rua Redesdale que se revelaram decisivas para minha formação ideológica; duas personalidades antagônicas em muitos aspectos - embora nunca se hostilizassem - e que se faziam complementares na função de estimular-me a inteligência demonstrando como podia ser entendido o que eu queria dizer e como se devia entender o mundo quando se assumia um ponto de vista como o meu: Jorge Mautner e Antônio Cícero. Um, irracionalista radical, chutador assistemático, exemplo vivo do que Décio Pignatari chamara de "nova barbárie"; o outro, metódico dissecador dos movimentos inteligíveis da sensibilidade. Os dois tiveram, ao longo dos anos, funda influência em minha visão da política.
Jorge surgira ruidosamente como escritor no início dos anos 60 com um caudaloso romance chamado Deus da Chuva e da Morte. Eu tinha lido uma entrevista sua na revista Senhor em que ele - muito bonito na fotografia – dizia coisas inusitadas. Anecir me falou dele, frisando que Glauber tinha lhe dito quão interessante seu livro era. (Mais tarde Glauber diria ao próprio Jorge que o título de Deus e o Diabo na Terra do Sol ecoava propositadamente o título desse seu primeiro romance.)
Em Londres, Mautner chegou a nossa casa de Chelsea trazido por Arthur e Maria Helena Guimarães. A esse casal, que me deu tantos ensinamentos de urbanidade, devo também o contato direto com a chama mautneriana. Jorge era um nietzschiano desde a adolescência. Surgiu na Capela Sixteena com um guarda-chuva, sentou-se na sala com um ar suspeitamente modesto de velho chinês, falando muito baixinho e em tom de interrogação. Em pouco tempo, encorajado com a receptividade, estava bradando como um profeta de Israel. Ele misturava a Jovem Guarda de Roberto Carlos com a guarda vermelha de Mao, descrevia a revolução por que estávamos passando como se fosse um cataclismo universal, voltava a seu velho sonho de casar Marx com Nietzsche, e, depois de passar por um deprimido cenário em que o ressentimento do terceiro mundo e a arrogância do primeiro terminariam por produzir uma opressão maior do que a vivida no segundo, chegava a profecias mais precisas - e aqui ele realmente mudava de tom, como se tudo o mais que estivera dizendo tivesse sido mera retórica de choque -, afirmando que as lutas políticas do futuro se definiriam, a partir dos Estados Unidos, como lutas de minorias sexuais inspiradas na ideia de direitos civis. Ele de fato descrevia com muita exatidão o que vemos hoje. E era tão entusiástico em relação a uma cena assim quanto se podia ser então - e tão irônico em relação à mesma quanto se pode ser hoje. Ao mesmo tempo que dizia: "O futuro é nosso, a velha política de esquerda e direita, de luta de classes, de guerra fria, vai acabar: Marcuse não é nada comparado com o que vem", ria diabólico: "Vai ser chatíssimo: as lésbicas negras sadomasoquistas vão disputar direitos com os pais gay s brancos protestantes etc. etc".
O pai de Mautner era um judeu austríaco intelectual (foi professor de matemática e humanista em Viena) que chegou a ser preso num campo de concentração nazista, de onde escapou com a ajuda da esposa - a mãe de Jorge - , uma gói de ascendência eslava, lorge contava que ela, uma mulher muito vital e instintiva, nunca deixou de admirar Hitler. Aparentemente seu marido judeu entendia com irônico amor essa admiração que de resto não turbava o ódio que ela nutrira pelos algozes de seu marido, os comandados do para ela fascinante Führer. Com a mesma intensidade ela se sentia grata ao país que os acolhera em sua fuga: a figura de Getúlio Vargas se impôs sobre sua imaginação como representante dessa hospitalidade. Evidentemente ela era sensível às lideranças carismáticas. Seu marido, ao contrário, era refinadamente sábio e irônico como só um judeu pode ser. Jorge jogava com os elementos contraditórios dessa formação de um modo que comovia e assustava. Mas sobretudo estimulava e interessava.
As ligações da filosofia de Nietzsche - e, sobretudo, da biografia de Heidegger - com o nazismo não eram minimizadas por Mautner. Ele antes as enfatizava. Mas se isso era em parte usado como truque para chocar, era também um meio de ele se mostrar mais autorizado a reivindicar esses dois pensadores para a esquerda. O que tinha o efeito ambíguo de enriquecer seu ideário e pôr em dúvida suas premissas básicas. Já tendo militado entre os comunistas - e sido uma alarmista ovelha negra entre eles -, Mautner não tinha escrúpulos em propor que se somasse a indagação sobre o Ser dos seres à luta de classes. Isso tudo envolto em rituais de comportamento que iam da ginástica ao repúdio às gírias e às drogas. Era curioso ver um louco desses, entre drogados esquálidos que só falavam em jargão marginal, dedicar-se ao body -building, à abstinência e ao português escorreito. Ainda mais que, tendo tido o alemão como primeira língua em casa, ele falava um português cheio de estranhezas sutis, de quase-erros risíveis e encantadores. Nada disso era recebido por mim - ou por Gil ou por Péricles ou por Dedé - sem uma dose de distanciamento crítico freqüentemente temperado com gargalhadas. Arthur Guimarães, que o apresentara a nós, era seu amigo de infância e, ao mesmo tempo que fazia-lhe a propaganda, vacinava-nos contra seus desvarios. Mas era o próprio Mautner quem se incumbia de conferir eficácia a essa vacina: com auto-ironia judaica - e com a onipresente ideia de que artistas devem dar todo o poder à sua imaginação mas nunca devem ter eles mesmos poder político real - ele vivia com intensidade e clareza sua própria lenda e sua própria desmistificação. Gostava de repetir: "Mais alto o coqueiro, maior é o tombo", para frisar o paralelo entre a queda de Marx até o stalinismo e a de Nietzsche até o nazismo. A democracia liberal então aparecia como a manifestação do bom senso, a única vacina contra o horror. Mas aí, ele próprio, Mautner. era um exemplo de indivíduo rebelde que, ao invés de adequar-se às convenções e ao mercado, seria sempre seu crítico, apaixonado pelos pensadores e artistas perigosos a cujas ideias não se devia dar demasiado poder formal. Mautner percorria esse círculo sem cessar, sempre enriquecendo nossa visão, e temperando tudo com os batuques afro- brasileiros que dizia terem-no enfeitiçado através de sua muito
amada babá negra (que também o aproximara de Getúlio Vargas).
Não se incomodava de parecer ridículo e nunca propiciou a si mesmo um tipo de respeitabilidade que ele via como me sendo dada de bandeja, a despeito de meu aparecimento público escandaloso. Quando voltamos para o Brasil, Mautner se dedicou mais à música popular, tornando-se uma figura cult, mas sem nunca conhecer diretamente o grande sucesso de massas. Pelo menos uma de suas canções, o "Maracanã atômico", uma obra-prima composta em parceria com Nelson Jacobina, tornou-se um clássico, isto é, um hit eterno, a partir de uma gravação de Gil. E "O vampiro", uma balada que ele tinha composto sozinho no fim dos anos 50 também se tornou muito conhecida numa gravação minha de meados dos 70, e ainda hoje me pedem que a cante. Muitas outras canções suas são notáveis - e todas têm, no mínimo, um charme especial. Ele é, reconhecidamente - e apesar de muitos chatos não o engolirem e alguns grandes não se comoverem -, uma grande figura da vida cultural brasileira. De todo modo, continua sendo uma referência crucial para mim: seus julgamentos, suas observações, suas profecias me trazem sempre uma luz que não poderia vir de nenhum outro lugar.
Em Londres, as conversas com Mautner confirmaram e fundamentaram a discrepância que se mostrara entre nós, tropicalistas, e a esquerda convencional dominante no ambiente de mpb antes de nossa chegada. Nós já tínhamos nos desatrelado do engajamento automático e tínhamos recebido as demonstrações de hostilidade por causa disso.
Havia muito que oscilávamos, mais ou menos conscientemente, entre nos caracterizar como ultra-esquerda - a verdadeira esquerda, uma esquerda à esquerda da esquerda - ou como defensores da liberdade econômica, da saúde do mercado. No nosso próprio campo, fazíamos as duas coisas: empurrávamos o horizonte do comportamento para cada vez mais longe, experimentando formas e difundindo invenções, ao mesmo tempo que ambicionávamos a elevação do nosso nível de competitividade profissional - e mercadológica – aos padrões dos americanos e dos ingleses. Uma política unívoca, palatável e simples não era o que podia sair daí. E Mautner exacerbava nossas contradições. É curioso que o livro de Heidegger sobre Nietzsche me tenha sido dado a ler. faz pouco tempo, por Antônio Cícero. Ao contrário de Mautner, Cícero, em Londres, parecia não querer interferir nos nossos pensamentos. No máximo ele mais funcionava como um copy desk de nossas conversas. Com total despretensão, estava sempre disposto a rearranjar uma frase que um de nós tentasse construir, de modo a fazê-la mais adequada à veiculação da idéia que queríamos expressar. Ele sempre a fazia mais sucinta.
Cícero chegou ao 16 de Redesdale Street como um mensageiro sem qualificações especiais a não ser o fato de ser parente distante de Dedé e Sandra. Alguém da família tinha mandado não sei o que para elas através dele e nós logo o achamos simpático. Viera acompanhado de Ronaldo Bastos, o letrista das canções de Milton Nascimento, que eu já conhecia por causa de sua amizade com Torquato. Ronaldo contou que Cícero estava em Londres estudando filosofia. Aos poucos fui sabendo que ele era marxista da linha althusseriana mas estava estudando lógica com os ingleses - o que não deixa de ser uma combinação curiosa. Mas Cícero não falava dessas coisas assim diretamente em conversas. Lembro de um dia em que Brian Darling, um professor universitário inglês a quem Violeta Arraes Gervaiseau nos recomendara e que foi boníssimo conosco, discutia a crítica althusseriana ao "historicismo", e Cícero se viu instado a argumentar. Fiquei impressionado com sua clareza. Ele falava inglês com acento britânico universitário e defendia sua posição com tanta segurança que Darling teve que desistir dos aspectos teóricos: "O que importa é que o marxista esteja fazendo alguma coisa pela causa, o resto é complicação desnecessária".
Cícero falava sobre nossa aventura tropicalista com entusiasmo contido. Mas sempre situava nossos atos e idéias de modo a pô-los em proporção. Seu realismo era sereno. Ele simplesmente dava grande importância ao clima que se fizera possível no Brasil por causa da entrada em cena dos baianos. Sem fazer confusão entre os estudos filosóficos e poéticos - que sempre tinham sido o seu principal interesse - e os fenômenos de massa, e sem adotar o tom apocalíptico então em voga, Cícero considerava o peso do que ocorria na seara da música popular, sobretudo sentia -se estimulado pelo que nós tínhamos feito acontecer no Brasil. Era importante que tivéssemos destronado o nacionalismo populista; era importante que considerássemos a modernidade como um valor universal e que tornássemos desafiadoramente o seu partido; era importante que assim ocorresse na órbita em que nos movíamos, isto é, a música popular e o show business. Ao contrário de Mautner, Cícero quase nada nos revelava de suas pesquisas filosóficas em andamento. Não por falta de generosidade, mas por modéstia e medo de importunar.
Foi somente a partir do instante em que comecei a lhe fazer perguntas muito específicas que se animou a me expor suas posições, certezas e dúvidas. Também ele veio a trabalhar com música popular depois da volta ao Brasil, embora isso nunca tivesse feito parte de seus planos. Ele sempre escrevera, ao lado de suas reflexões filosóficas, alguma poesia. Também ao contrário de Mautner, poesia classicamente erudita, sem nenhum traço de cultura pop.
Marina, sua irmã mais nova, uma bonita menina de cabelos crespos e personalidade forte, revelou no fim da adolescência - que coincidiu com nosso retorno ao Brasil - talento para cantar e compor canções. Ao se profissionalizar, ela pegou um dos poemas de Cícero e. para sua surpresa, transformou-o em canção. Marina, com uma voz personalíssima e um jeito determinado, veio a se tornar uma estrela pop nacional. Por alguns anos manteve a tradição de gravar parcerias suas com o irmão, que assim ganhava algum dinheiro. Depois de algum tempo, ele se afastou da canção para poder dedicar-se àquilo de que mais gosta: filosofia e poesia. Várias das canções que compôs com Marina se tornaram grandes sucessos populares - e todas são bem escritas. Recentemente, Cícero publicou um livro de filosofia (O mundo desde o fim) - o seu primeiro - que é - embora a academia finja ignorar - um dos maiores acontecimentos intelectuais do final do milênio no Brasil. Trata-se de uma petulante retomada do cogito cartesiano em termos radicais, o que vale por um escândalo no ambiente acadêmico brasileiro, dividido entre comentadores do marxismo frankfurtiano e comentadores do pós-estruturalismo francês. Se eu lera, em 68, em Tristes Trópicos, de Lévi-Strauss, que "o eu não é simplesmente abjeto - ele é também impossível", e reconheço no esforço para superar o cogito - sobretudo no esforço para fingir-se que se o superou - a motivação básica das pretensões intelectuais e filosóficas do nosso século, não posso deixar de considerar o tamanho da ousadia de Cícero. E o próprio tom do livro - escrito num português excepcionalmente belo e sereno - revela que ele chegou a esse lugar depois de percorrer com sinceridade e inteligência os problemas essenciais que tal posição implica. O livro é uma afirmação radical da modernidade nascida com Descartes - contra todas as investidas antiiluministas que inspiraram grande parte do pensamento contemporâneo - e põe o Brasil na responsabilidade extrema de ser, não o grande exotismo ilegível que se opõe à razão européia, mas o espaço aberto para a transição para (parafraseando Fernando Pessoa sobre Mário de Sá Carneiro) um Ocidente ao ocidente do Ocidente. O que não é, de modo nenhum, a mesma coisa que inibir o Brasil, como querem fazer muitos acadêmicos que se crêem antifolclorizantes, reduzindo-o a um bom comportamento dentro de parâmetros "ocidentais" cristalizados. Com isso, Cícero destrói a falsa opção para o Brasil entre bizarria estridente e imitação modesta.
Ter ele chegado a esse ponto, para mim, representa uma confirmação da identidade profunda que senti com sua percepção das coisas, desde Londres. E o faz situar-se, em minha imaginação, não distante do Mautner do transliberalismo delirante - e com batuque.
Mautner é três anos mais velho do que Gil e eu, e foi, sob vários pontos de vista, um precursor do tropicalismo (nós o chamávamos, com ternura e ironia, de mestre), enquanto Cícero, uns quatro anos mais novo do que nós dois (uns sete mais novo do que Mautner), foi ele próprio levado a dar guinadas em seu pensamento por causa do que julgava ver no que fazíamos, sendo assim, em alguma medida, uma espécie de seguidor do tropicalismo - embora, é claro, não tivesse motivos para nos chamar, mesmo brincando, de mestres. Mas eu os apresento aqui juntos nesse paralelo por atribuir a ambos - Mautner sendo mais influente do que Cícero na fase londrina, e este o sendo mais do que aquele depois da volta ao Brasil - papel decisivo na (não por culpa deles precária) organização do meu pensamento. Um encontro que também se revelou desde logo influente no desenvolvimento do meu modo de pensar a política e as coisas a ela relacionadas foi o que se deu entre mim e José Almino, filho de Miguel Arraes. Tínhamos estado juntos por poucas horas na minha primeira ida a Paris em 68, na época do show da Rhodia, antes da prisão, e já então sua fluência a um tempo divertida e angustiada ao comentar os recentíssimos acontecimentos de maio me impressionou. De Londres, a partir de 6970, íamos muito - sobretudo Dedé, Guilherme e eu - a Paris. As conversas na casa de Violeta, sua tia, eram apaixonantes. Lembro do aparecimento de Guel Arraes, aos quinze anos, lindo como um anjo índio, cuja atmosfera pessoal pura me comoveu até às lágrimas: Guel adolescente parecia ao mesmo tempo uma estátua clássica e uma fruta nordestina. Mas eram as conversas com Zé Almino que - certamente por eu as saber capazes de produzir consequências - dominavam a cena para mim. Na minha primeira ida de Londres a Paris, ele tinha em mãos um artigo de Roberto Schwarz sobre o tropicalismo. Era uma cópia datilografada que o autor - seu amigo - tinha dado a ele. o artigo era interessante e estimulante.
Mas desde já sabia-se que seria uma versão complexa e aprofundada da reação desconfiada que a esquerda exibia contra nós. Schwarz não demonstrava no entanto, nem hostilidade nem desprezo pelo nosso movimento. Ao contrário: dava-lhe grande destaque dentro do esquema que apresentava das relações entre a cultura e a política no Brasil pós-64. Estávamos longe da rejeição total que tivemos de um Boal, por exemplo. De todo modo seria uma honra para mim que o tropicalismo recebesse tanta e tão terna atenção de um pensador naturalmente tão pouco identificado com nossa sensibilidade. Era visível, por exemplo, que ele tinha mais intimidade com o que se fazia em cinema e teatro do que com o que se passava na música popular. Impressionava-me que opusesse o método de alfabetização Paulo Freire ao que os tropicalistas faziam: isso era exatamente uma repetição em sua teoria do que tinha acontecido em minha vida. Mas sua redução da "alegoria" tropicalista ao choque entre o arcaico e o moderno, embora revelasse aspectos até então impensados, resultava finalmente empobrecedora. Zé Almino, melhor entendedor das razões de Schwarz do que eu, se mostrava lindamente capaz de acompanhar (e mesmo adivinhar) minhas observações. Aí falávamos de Lévi-Strauss (eu estava lendo, na esteira dos Tristes trópicos, O pensamento selvagem); de Oswald de Andrade (lembro de ouvi-lo dizer que chegara a considerar Oswald o maior brasileiro de todos os tempos, mas que já estava relativizando esse julgamento); de Cinema Novo, de poesia concreta, do conceito de ''terceiro mundo", de tentarmos ser mais antropológicos (isto é. receptivos.) com os europeus. Ele comentava rindo que a fofoca brasileira tivera origem na moda existencialista. Mas o que me marcou mais fundo foi ouvi-lo dizer, numa conversa animada sobre o brilho das entrevistas de Borges e de Nelson Rodrigues, que era preciso ler os autores de direita - e que o dever da razão era alcançar e acolher o irracional, e não bani -lo. Almino tinha, aos dezoito anos, colaborado estreitamente com o pai quando este era governador de Pernambuco.
Essa colaboração com um governo sintonizado como nenhum outro com os anseios populares o tinha posto cara a cara com a miséria e a grandeza das possibilidades do povo brasileiro. E presenciar a prisão e expulsão de seu pai - o que o levou junto com toda a família ao exílio na França e na Argélia - lhe deu a dimensão trágica de todos os conflitos políticos humanos imagináveis. Os pensadores de direita - os grandes - falavam de dentro desse desencanto. Zé Almino nunca mais alimentaria suas esperanças de justiça social com nenhum pensamento que se mostrasse ingênuo quanto a essa dimensão. Isso lhe trouxe lucidez e, a médio prazo, melancolia. Mas a lição me foi crucial. E minha amizade por ele se tornou inabalável.
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