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domingo, 15 de setembro de 2019

A EXPLOSÃO DA MULHER NA MÚSICA DO BRASIL EM 1979 ECOA HÁ 40 ANOS – A CONTRIBUIÇÃO DE JOYCE MORENO

Por Mauro Ferreira, G1




A VOZ DA MULHER EM 1979 (PARTE 3) – Chega a ser irônico que Joyce Moreno, cantora e compositora carioca de importância fundamental na revolução feminina feita na MPB em 1979, tenha atravessado aquele ano sem lançar álbum.

Contudo, o fato é que o álbum que projetou definitivamente a artista, Feminina, somente foi gravado e lançado em 1980. E nenhum romantismo norteou a gravadora EMI-Odeon na decisão de bancar o disco. Joyce teve reabertas as portas da masculina indústria fonográfica brasileira somente por questão comercial.

É que tantas músicas de autoria da artista estavam sendo gravadas e lançadas com sucesso em 1979 que ficou óbvio para o mercado que era preciso dar voz a essa cantora e compositora que, sozinha, em 1967, tinha feito a própria revolução ao defender em festival uma música, Me disseram, escrita sob ótica feminina com direito a um controvertido "meu homem" inserido em um dos versos da letra.

Naquele efervescente ano de 1967, Joyce fez a hora sem esperar acontecer. Mas foram precisos 12 anos para o público se liberar e, sob os ventos da abertura política que começaram a soprar em 1979, se permitir admirar e cantar o cancioneiro feminino de Joyce – na época, ainda sem o 'Moreno' que somente iria incorporar ao nome artístico a partir de 2009.

Joyce em 1980, ano em que lançou álbum com canções propagadas em 1979 — Foto: Reprodução / Álbum 'Feminina'


Atentos aos sinais, grandes intérpretes da MPB começaram a gravar músicas de Joyce quase simultaneamente ao longo de 1979. Maria Bethânia incluiu no álbum Mel a composição Da cor brasileira, em cuja letra (da parceira Ana Terra) o macho nacional foi perfilado com ternura e consciência femininista.

Já o Quarteto em Cy incluiu a emblemática composição Feminina no álbum Quarteto em Cy em 1.000 kilohertz. Samba que batizou o álbum lançado por Joyce em 1980, Feminina exemplifica com perfeição a mudança no cancioneiro feminino. Na MPB, a mulher já podia celebrar o gosto de ser mulher e de questionar a posição feminina no mundo (ainda) dos homens.

Lançada por Elis Regina (1945 – 1982) no álbum Essa mulher, a canção homônima, música de Joyce com letra de Ana Terra, tocou fundo nessa questão ao perfilar com poesia densa a cantora que era também mãe, fêmea, dona de casa. Mulher, enfim.

Reforçando o coro, Ney Matogrosso propagou a liberdade do corpo e o gosto pelo prazer ao registrar Ardente no álbum Seu tipo. Mesmo sem obter o sucesso de canções como Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro), lançada por Milton Nascimento em 1978 e regravada pelo grupo Boca Livre em 1979, Ardente sublinhou o progressista discurso musical de compositora que libertou a mulher da culpa e da dor entranhadas no cancioneiro de desbravadoras antecessoras como Dolores Duran (1930 – 1959) e, sobretudo, Maysa (1936 – 1977).

Atualmente com 71 anos, essa mulher carioca, feminina, chamada Joyce Moreno, contribuiu decisivamente para que as sucessoras pudessem ter voz ativa na música do Brasil, já livres do jugo historicamente machista do mercado fonográfico.

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