Cantora prestigiada com entusiasmo pelo Rei do Marrocos retoma a bem sucedida ode a um dos nomes mais expressivos da música popular brasileira de todos os tempos.
Por Bruno Negromonte
A música do Brasil não precisa de tradução para ser apreciada lá fora. Ela tem uma vocação natural para ser exportada e pode ser considerada como um dos produtos mais bem sucedidos no mercado internacional. Não são poucos os casos de músicos brasileiros fazendo sucesso em diversos países ao redor do mundo. Do tchica-tchica bum às múltiplas variações do bate estaca da música eletrônica, passando pela cadência do samba e as levadas inconfundíveis da bossa nova só são capazes de sintetizar uma única afirmação: o mundo adora a música brasileira como podemos observar desde os anos de 1940 quando nossa MPB "infiltrou-se" em definitivo no show business americano através da emblemática de Carmen Miranda, símbolo internacional da música brasileira no exterior na época. Nossa “The Brazilian Bombshell” (a bomba brasileira, em tradução livre) chegou a ser a mulher mais bem paga do show business norte-americano, apresentou-se na Casa Branca, em uma festa para o Presidente Roosevelt, e somou, ao longo de sua carreira, cerca de 19 filmes, diversos shows na Broadway e uma marca: ser a única artista que tem gravada suas mãos e seus famosos sapatos de salto plataforma no cimento da Calçada da Fama, em frente ao Chinese Theatre, em Los Angeles. Com as portas abertas pela pequena notável, a música brasileira obteve uma relevante credencial para estar presente não apenas nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo, em particular a partir dos anos de 1960 quando a bossa nova (que este ano completa seis décadas de existência) impulsionou ainda mais a música brasileira a partir de características que abriram as portas para artistas brasileiros em ambientes tradicionalmente voltados para o jazz, por exemplo. A sofisticação melódica das criações de nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Luiz Bonfá, Roberto Menescal e tantos outros abriram portas como a do Carnegie Hall, uma das mais famosas salas de espetáculos dos Estados Unidos.
Por falar em Bossa Nova, o gênero vem comemorando seis décadas de existência contabilizadas a partir do lançamento do álbum "Canção do amor demais", da cantora Elizeth Cardoso. O disco que é considerado um dos marcos iniciais desse movimento musical que conquistou o mundo além de apresentar composições de Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim conta também com a presença de João Gilberto tocando violão em duas faixas, delineando a partir dali uma sonoridade que traria como resultado "Chega de saudades", álbum de estreia do cantor e compositor baiano que em 1959 arrebatou e influenciou toda uma geração e modificou, até certo ponto, os rumos musicais brasileiro como é possível perceber ao ouvir relatos de expressivos nomes da nossa música que surgiram posteriormente como é o caso da cantora e atriz Hanna, que nascida em Maceió, começou muito cedo a incursionar no meio artístico a partir da Rádio Difusora, onde foi eleita a "Rainha do Rádio". Tempos depois, no Rio de Janeiro fez o seu primeiro registro em disco a partir da trilha sonora do filme "Xavana a ilha do amor", no qual também atuou como atriz. Entre os anos de 1980 e 1990 fez alguns registros fonográficos hora pela gravadora Som Livre, hora de modo independente como foi o caso do álbum "Eu te amo", divulgado dentre diversos canais no "Jô onze e meia". Os anos 2000 serviram para sedimentar a carreira da artista (principalmente no mercado internacional), onde vem acumulando elogios e um notável reconhecimento em clubes de jazz da Itália, Suíça, Grécia, França, entre outros países como, por exemplo, o Marrocos onde em Marrakesh foi saudada com entusiasmo pelo Rei do país.
Quatro anos após o lançamento do primeiro e bem sucedido volume (O disco foi indicado em diversas categorias ao Grammy Latino e também ao Premio da Música Brasileira como melhor álbum à época), a cantora alagoana nos presenteia agora com o segundo volume do projeto "O Amor É Bossa Nova - Homenagem a João Gilberto", um projeto que reitera a importância não apenas do movimento em si, mas também do cantor e compositor de clássicos do gênero como "Ho ba la la" e "Bim bom"(canção que faz parte do repertório deste lançamento). Por falar em setlist o álbum duplo conta com 23 canções que abrange autores como Dorival Caymmi ("O samba da minha terra") Caetano Veloso ("Desde que o samba é samba" e "Avarandado"), Gilberto Gil ("Eu vim da Bahia"), Ary Barroso ("Aquarela do Brasil"), Haroldo Barbosa e Janet de Almeida ("Pra que discutir com madame", "Eu quero um samba"), Geraldo Pereira ("Falsa baiana"). Merecendo destaque há Tom Jobim, autor mais gravado nesse projeto, assinando nove das 23 faixas. De lavra do saudoso maestro soberano faixas como "Corcovado", "Águas de março", "Triste", "Lígia", "Eu Sei Que Vou Te Amar" (parceria com Vinicius de Moraes), "Retrato em branco e preto" (composta a quatro mãos com Chico Buarque), entre outras.
Em tempos de efemeridade, o canto e a interpretação de Hanna faz-se capaz de mostrar o porquê de um movimento majoritariamente composto por universitários e integrantes da alta sociedade carioca acabou alcançando distintas classes sociais e fez-se perene e respeitado ao redor do mundo. O apuro estético do gênero somado ao talento, sensibilidade e agudeza de uma cantora com uma carreira internacional digna de elogios (vale o registro de que, ao longo dos anos de carreira, vem somando ao seu currículo apresentações em clubes de jazz da Itália, Suíça, Grécia, França entre outros espaços). "O Amor É Bossa Nova - Homenagem a João Gilberto - Volume 02" não apenas contribui para repaginar a placidez da musicalidade de um dos nomes mais expressivos da música brasileira de todos os tempos, mas também para reiterar a importância de um legado singular pontuado por características marcantes daquele que é considerado um dos pais da Bossa Nova a partir da batida de violão que a caracterizou. Em tempos em que João Gilberto pouco é lembrado pela placidez e perfeccionismo de sua irrepreensível obra, Hanna busca outro viés para voltar os holofotes para o ícone baiano: a música.
Maiores Informações:
IMMUB - https://immub.org/album/o-amor-e-bossa-nova-volume-2-homenagem-a-joao-gilberto
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