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sexta-feira, 28 de junho de 2019

OS BASTIDORES DE "CHEGA DE SAUDADE", CLÁSSICO DE JOÃO GILBERTO QUE COMPLETA 60 ANOS... – PARTE 03

Lançado no dia 8 de março de 1959, o álbum começou a ganhar vida três anos antes no sítio da família de Tom Jobim, em Poço Fundo, na região serrana do Rio

Por André Bernardo




'Chet Baker brasileiro'


Dois meses depois do lançamento de Canção do Amor Demais, João Gilberto decidiu, ele mesmo, gravar Chega de Saudade. Mas não foi fácil convencer Aloysio de Oliveira, o todo-poderoso da Odeon, a investir na produção de um LP daquele ilustre desconhecido.

Antes de lançar seu primeiro disco, em março de 1959, João gravou dois compactos de 78 rpm: o primeiro, em julho de 1958, trazia "Chega de saudade" e "Bim Bom", e o segundo, em janeiro de 1959, "Desafinado" e "Hô-bá-lá-lá". Todos os arranjos levaram a assinatura de Tom Jobim.

Quando regressou aos estúdios Odeon, na Cinelândia, para gravar seu LP de estreia, 4 das 12 faixas já estavam prontas. Para finalizar o álbum, gravou "Brigas nunca mais" no dia 23 de janeiro, "Morena Boca de Ouro" no dia 30 de janeiro e "Lobo bobo", "Saudade fez um samba", "Maria Ninguém", "Rosa Morena", "Aos pés da cruz" e "É luxo só" no dia 4 de fevereiro.

"O repertório era superior ao dos maiores cantores da época, como Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva", avalia o jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin. "Em 1959, eu gostava de ouvir jazz e, por essa razão, senti um prazer imediato ao ouvir "Chega de saudade". João Gilberto era uma espécie de Chet Baker brasileiro", compara, em alusão ao cantor e trompetista americano.

As gravações de "Chega de saudade" duraram de 10 de julho de 1958 a 4 de fevereiro de 1959. Ao longo de sete meses, João conseguiu se desentender com todo mundo: técnicos, músicos e até Tom Jobim, o produtor musical do LP. A primeira vítima foi Z. J. Merky, o diretor técnico da gravação, que não entendeu quando João pediu dois microfones: um para a voz e outro para o violão. Exigência atendida, ele passou a interromper a gravação sempre que identificava algum erro da orquestra.

"Numa das incontáveis interrupções, alguns músicos se amotinaram e saíram batendo portas. Quando concordaram em voltar, era o cantor que já não queria gravar", conta Ruy Castro em Chega de Saudade. "Tom Jobim não sabia se tocava piano, se regia a orquestra ou se corria de um lado para o outro, com os panos quentes". Lá pelas tantas, sobrou até para ele. "Você é brasileiro, Tom, você é preguiçoso!", foi obrigado a ouvir.

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