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quarta-feira, 5 de junho de 2019

ALFREDO DIAS GOMES - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Nessa conversa informal e exclusiva, o baterista carioca fala um pouco sobre o início de sua carrreira ao lado de um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos, assim como sobre projetos pessoais e o novo álbum, "Solar".

Por Bruno Negromonte



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Dificilmente se vê a música brasileira no centro dos holofotes nos grandes espaços de divulgação midiático existentes em nosso país, no entanto, em contrapartida, temos um vastidão de grandes talentos ao nos referimos ao gênero como é o caso entrevistado em questão e que foi apresentado ao nosso público recentemente a partir da matéria "COM FORTE SOTAQUE BRASILEIRO, SOLAR IRRADIA A FORÇA QUE CONSTITUI A MÚSICA BRASILEIRA INSTRUMENTAL". Filho de dois grandes nomes da teledramaturgia nacional, Alfredo Dias Gomes enveredou para a música e atuou ao lado de grandes nomes da música popular brasileira até que decidiu que era a hora de seguir carreira sozinho. Com 11 álbuns solo na bagagem, o músico atualmente vem divulgando "Solar", álbum que não apenas reitera o talento do veterano músico como também traz um pouco de luz ao atual cenário musical brasileiro.





Alfredo, você vem de uma família onde a tendência natural a ser seguida, profissionalmente, seria a literatura ou alguma coisa interligada às letras. De que modo a música chegou em sua vida e tomou esse espaço tão relevante ao ponto de você enveredar de vez a favor dela?

Alfredo Dias Gomes - Acredito que essa tendência musical na minha casa veio através da minha avó que fazia questão que nós tivéssemos aulas de piano na infância e também pelo próprio trabalho dos meus pais. Eles sempre participavam da escolha das músicas das peças de teatro e das novelas. Nossa casa sempre foi frequentada por compositores, arranjadores e maestro E a música chegou na minha vida por influência dos meus irmãos que já eram músicos.


Sua primeira experiência profissional se deu ao lado de um dos nomes mais conceituados da música instrumental brasileira de todos os tempos. Você tinha noção dessa responsabilidade ao iniciar a carreira ao lado do Hermeto Pascoal?

ADG - Honestamente não. Eu estava num estúdio tendo aula de bateria com o baterista Don Alias e o Hermeto estava no mesmo estúdio gravando com o Stone Aliance, conjunto do Don. O Hermeto me viu tocar, veio até mim, perguntou o meu nome e disse: "Um dia você vai tocar comigo!". Eu tinha 16 anos. A partir daí eu me preparei pra isso. Quando eu fiz 18 anos o Hermeto me chamou. Primeiro pra substituir o Nenê nas músicas que ele ia para o piano, ele era o baterista e eu ficava na percussão. E quando ele saiu da banda eu assumi o posto.


Como se deu esse convite para a participação do disco "Cérebro Magnético"?

ADG - Aconteceu naturalmente, o Hermeto tinha esse disco pra gravar e eu já era o baterista da banda. Tenho muito orgulho de ter gravado esse disco e uma gratidão eterna pelo Hermeto ter me dado essa oportunidade.


Nesses pouco mais de quatro décadas de estrada você hoje tornou-se referência para muitos bateristas que estão começando. Quando você iniciou a sua carreira quais foram as maiores inspirações?

ADG - Chick Corea, Herbie Hancock, Miles Davis, Billy Cobham, Alphonse Mouzon, Lenny White, Jack DeJohnette, Tony Williams, Elvin Jones, Mahavishnu Orchestra, The Eleventh House, The Brecker Brothers, Márcio Montarroyos, Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Egberto Gismonti...


Como se dá o seu processo de composição?

ADG - Esse processo de criação é herança dos meus pais. A minha vida toda eu presenciei eles produzindo um capítulo de novela por dia. No caso do meu pai, as vezes, escrevendo ao mesmo tempo peça de teatro.Eu tenho a pretensão de tentar fazer o mesmo com a música. Tento criar ou produzir nem que seja uma ideia musical (quase)todos os dias. Tecnicamente, eu geralmente componho a partir do teclado mas muitas vezes parte de uma ideia rítmica na bateria.


Substanciar a sua sonoridade ao lado de grandes nomes da MPB trouxe alguma peculiaridade para esse processo?

ADG - Acho que posso citar o exemplo do próprio Hermeto que também tem como abito compor todos os dias. Sem dúvida foi uma grande inspiração.


Quando você percebeu que era necessário alçar vôo e dá início a sua carreira solo?

ADG - Na verdade o meu objetivo sempre foi ter meu trabalho solo. Acompanhar artistas aconteceu ocasionalmente na minha vida, aproveitei as oportunidades e procurei aprender ao máximo com todos eles mas o objetivo sempre foi o trabalho solo.


A música instrumental no Brasil não possui o espaço nem o prestígio que mereceria ter, mas em contrapartida é detentor de alguns dos maiores instrumentistas do mundo e os festivais instrumentais Brasil afora geralmente são prestigiados por  grandes públicos. Em sua opinião, qual a maior dificuldade em fazer esse estilo de música? 

ADG - Concordo totalmente com você, nós temos grandes músicos e a música instrumental deveria ter muito mais espaço. Mas a verdade que a música instrumental tem menos espaço em qualquer lugar do mundo. Esse é o caminho que escolhi, então não vejo como dificuldade, e sim como um tipo de música que não é tão popular.

São quase duas décadas de carreira fonográfica e um processo de produção cada vez mais constante em relação ao início. Em tempos onde o que rege o mercado são  efemeridades sonoras, como fazer para que o grande público absorva todo esse material? (uma vez que só em 2018 houve o lançamento dos projetos “ECOS” e “JAM”).

ADG - Gravar discos é o que eu escolhi pra minha vida, a única coisa que eu penso é em criar. Se tem público pra absorver a curto prazo todo esse material, não sei dizer. Mas a longo prazo, quero acreditar que todo esse material ficará para outras gerações.


Solar”, um projeto autoral, que traz em si uma brasilidade arraigada e um regionalismo destacável em vários momentos do álbum. Como se deu o processo de composição e quais foram os critérios usados para dar essa linha coesa a um projeto que poderia se perder ao tentar abarcar essa miscelânea que é a nossa música?

ADG - Quando eu começo a compor um disco, eu sou bem exigente com a concepção, justamente para não virar uma colcha de retalhos. Se eu decido fazer um disco de jazz rock por exemplo, eu não vou gravar uma música regional nesse disco. No caso do Solar eu comecei decidindo gravar a música Viajante que é um baião bem regional e que eu fiz uma versão instrumental. Decidi por um disco mais brasileiro com influência jazzística. Então o restante das músicas teriam que ser coesas com o a ideia inicial.

Como será o processo de divulgação do “Solar”? Já há previsão de cair na estrada para shows e divulgação?

ADG - Eu tenho divulgado o Solar desde março na imprensa e nas redes sociais. Estou planejando um show de lançamento, mas ainda sem data.



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