No DVD “Infinito ao meu redor”, Marisa Monte, num show ao vivo, logo antes de cantar um belíssimo samba(Vai saber, de Adriana Calcanhoto), faz referência que as pessoas costumam dizer que o samba nasceu na Bahia, mas que ela vai cantar um belo samba de uma gaúcha. Isso me fez pensar se no Rio Grande do Sul há samba, ou se por lá o que faz sucesso mesmo é Teixeirinha, Lupicínio, Kleiton e Kledir.
E, pesquisando aqui e acolá, encontrei referência àquele que parece ter sido o maior sambista gaúcho. Matheus Nunes, conhecido como Caco Velho. Nascido em 1919, diz-se que seu apelido “Caco Velho” surgiu por causa de um samba homônimo de Ary Barroso, gravado em 1934.
Embora haja diversas referências a caco velho como um menino prodígio, que começou a tocar com 9 ou 10 anos, o certo é que em 1937 já era pandeirista e cantor na Orquestra de Paulo Coelho, no Café Florida. Em 1938, já contratado pelo “Conjunto Regional de Piratini”, que tocava na Rádio Gaúcha. Nessa época, além de cantar, tocar pandeiro e tamborim, também toca contrabaixo. Faz diversas excursões pelo interior do Rio Grande do Sul, Argentina, Uruguai e Paraguai.
No final da década de 1930, Caco Velho já fazia muito sucesso no Rio Grande do Sul, formando com Nino Martins a dupla de cantores “Dupla Tupinambá”. No começo da década de 1940, feito uma viagem ao Rio de Janeiro para apresentar algumas de suas composições. Lá impressionou Walt Disney, que fizera uma viagem ao Brasil (e segundo Caio Silveira Ramos, na biografia que escreveu sobre Germano Mathias – discípulo do compositor – Caco Velho foi um dos principais modelos que inspirou Disney a criar o personagem Zé Carioca), além de apresentar suas músicas para que fossem gravadas por artistas cariocas.
Entre 1942 e 1943 Caco Velho muda-se para São Paulo, e logo se torna um Sucesso na capital paulista. Em outubro de 1944, “Caco Velho” se firmou no Rádio gravou seu primeiro disco pela gravadora Odeon, que recebe o número 12497, com os sambas “Briga de Gato” (Lupicínio Rodrigues – Felisberto Martins) e “Maria Caiu do Céu” (Caco Velho – Nilo Silva – com Conjunto de Claudionor Cruz).
Caco Velho recebe a alcunha de “Sambista Infernal”. É atração do programa “Roleta Colgate”, na Radio Tupi Paulista, ao lado de Arrelia, Xisto Guzi e demais artistas consagrados.
No Rio de Janeiro, Caco Velho, já chamado de “Sambista Infernal”, canta na Rádio Nacional, Rádio Guanabara, Boates “Béguin”, “Ranchinho” em Copacabana, no Hotel Gloria e também no “Casablanca” com Dolores Duran e o notável “Bola Sete”.
Caco Velho também tem algumas incursões no cinema, sendo “Carnaval na Atlântida”, em que atuou somente participando dos números musicais. Fez, em 1955/6, uma temporada de sucesso em Paris.
Embora não seja vinculado à bossa nova, nas décadas de 40 e 50 já apresentava uma característica muito cara aos bossanovistas: um domínio da divisão rítmica que conferia uma extrema modernidade a seu som.
No entanto, como seu samba (e suas fusões com outros gêneros musicais) não eram intimistas como a bossa-nova, o final da década de 50 e começo da década de 1960 não foram fáceis para Caco Velho. No entanto, em 1963, Caco Velho grava, pela Continental, o Disco “O Comendador da Bossa Nova”, que, embora tivesse esse nome, continuava a ser um disco de samba.
Em 1964, Caco Velho embarca para os Estados Unidos, para uma temporada em Las Vegas, permanecendo depois em San Francisco, indo, em 1966, para Lisboa (Portugal). Lá concede uma entrevista, e num trecho comenta as relações entre samba e bossa nova:
– Gosto, acima de tudo, de escrever samba puro. A Bossa Nova é “Bossa Velha”, porque já há anos eu a improvisava. E note que a Bossa Nova não tem riqueza melódica. O samba sim, esse é melodia.
– Não considera que a Bossa Nova esteja a destronar o samba?
– O samba nunca será destronado pela Bossa Nova nem por qualquer outra. O samba é a maior expressão da música do Brasil.Todos os compositores que o escrevem começam por “bater” a caixa de fósforos, só assim ganhando o sentido de ritmo. E samba é a cuíca, o pandeiro, o reco-reco e o gaúza. Samba é Brasil.
João Augusto Marques de Andrade, Genro do Sambista, narra (site http://www.samba-choro.com.br/artistas/cacovelho), narra que “Conhecendo e apresentando-se em boa parte das cidades do continente, “Caco Velho”, vai atuar em “Funchal”, grande cidade da Ilha da Madeira. Torna-se atração nos cassinos “Lar Madeirense”, “Cassino da Madeira”, entre outros entretenimentos, daquela conhecidíssima Ilha Portuguesa, um verdadeiro Paraíso”.
Interessante é que Caco Velho passa a residir na ilha da Madeira, faz um curso de massagem, e passa a dividir a profissão de músico com a de massagista.
“No final de 1969, Caco velho, com Câncer, retorna ao Brasil, deixando, todavia, todos os seus instrumentos na “Ilha da Madeira” com a esperança de retornar com a família a “Perola do Atlântico”.
Ainda segundo João Augusto Marques de Andrade, “Entrevistado para a imprensa escrita, pelo jornalista “Oswaldo Mendes”, do Jornal Última Hora, “Caco Velho”, narra, “As Queixas do Sambista”, onde compara à Bossa Nova com o IE-IE-IE (Jovem Guarda), respeitando este ultimo, dando maior ênfase à Bossa Nova e M.P.B., elogiando a chegada dos cantores baianos, enaltecendo a riqueza nas poesias do poetinha e seu fiel maestro, no conteúdo das palavras de nossa linguagem, simultaneamente, comentado, o esquecimento das emissoras, pelos nossos grandes e eternos sambistas, lembrando de muitos nomes”.
Caco Velho morreu em 14 de setembro de 1971.
São sucessos de Caco velho: Por um Beijo Teu Mania da Rita, Nega Velha, “Samba Russo”, “Barriga Vazia, Chinesinha, Deu Cupim, Não Faça Hora, Desenho Animado, Meu Fraco é Mulher, É Doloroso,Alegria de Pobre Novo Cartaz, Vida Dura Até Onde Vai o Tubarão, O Azar de Jacó, A Sanfona do Gaudêncio, Chico Pança, Uma Crioula, Tempo Feliz,Samba do Meu Tio. A composição “Barco negro”, um famoso fado cantado por Amália Rodrigues, é, na verdade, uma adaptação da música “Mãe Preta” de Caco Velho e Piratini, e ainda é tocada em muitos países europeus.
Fontes:
Caio Silveira Ramos, Sambexplícito: as vidas desvairadas de Germano Mathias;http://www.samba-choro.com.br/artistas/cacovelho (texto escrito por João Augusto Marques de Andrade);
- musica em prosa
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