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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

HISTÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Por Luiz Américo Lisboa Junior


AGOSTINHO DOS SANTOS - INIMITÁVEL (1959)

Qual o legado que um artista pode dar ao seu país? A sua obra como referencia? O seu engajamento político como elemento ativo dos problemas sociais sugerindo mudanças e emprestando seu prestigio para diminuir as diferenças? Qual afinal o seu objetivo? Muitos afirmam que um artista tem um compromisso firmado com sua gente pois ele o representa em sua arte e suas opiniões são levadas em conta quando se discute os caminhos e descaminhos da pátria. A visibilidade alcançada pela celebridade conquistada o faz ser um porta-voz dos anseios da sociedade, e se ele se faz representar com mais destaque num determinado segmento da população todos verão nele o espelho de suas angustias e esperanças estando sempre dispostos a aplaudi-lo quando sua mensagem for ao encontro dos clamores populares. 

Evidentemente que nem todos se colocam no cenário como protagonistas de tamanhas responsabilidades e preferem serem reconhecidos única e exclusivamente pelo legado de sua obra, ou seja, a satisfação que ela causa nas pessoas transmitindo-lhes paz, reconforto nos momentos difíceis e acima de tudo um elevado estado de espírito. Uma das expressões artistas de mais densidade em nossa sociedade é a música, isso porque somos um país essencialmente musical e a qualidade de nossa canção nos toca muito na alma elevando os nossos sentimentos e tornando-nos mais felizes. É claro que estamos falando de uma música que tenha uma mensagem que nos cala fundo e que nos faça dela sempre recordar com carinho e paixão. Não precisa ter versos rebuscados e sim uma mensagem que englobe sentimentos nobres e é claro uma melodia agradável que não fira os nossos ouvidos. Infelizmente hoje em dia nem toda musica que ouvimos nos causa esse sentimento inebriante, embriagador o que acaba contribuindo para uma crescente diminuição da nossa sensibilidade estimulando comportamentos que em nada favorecem a nossa evolução moral e ética. 

Contudo, houve um tempo em que a canção popular se vestia desse compromisso fundamental de levar aos lares e aos corações das pessoas algo sublime, um fervor sentimental que se perpetuava, era como uma referencia existencial, a representação de um momento inesquecível ou de uma época evocada sempre como as mais felizes de nossas vidas, ou seja, a canção popular penetrava tanto dentro de nós que dela nunca nos afastaríamos, fazia parte da gente, complementando a nossa existência e a nossa história. 

Muitos intérpretes ficaram imortalizados por proporcionarem momentos tão encantadores, pois, a beleza de suas interpretações e mensagens contidas em suas canções revelavam os nossos sentimentos mais íntimos e ao longo da vida o eco de suas vozes nos acompanhavam permanentemente. Dentre os cantores brasileiros que conseguiu reunir todas essas virtudes, destaca-se o fabuloso Agostinho dos Santos. 

Artista excepcional e dono de um timbre de voz único na musica popular brasileira, a suavidade de seu canto nos proporciona momentos de grande enlevo. Nascido em São Paulo em 25 de abril de 1932 muito cedo despertou para musica e a arte de interpretar, aos 23 anos em 1955 já era contratado da Radio Nacional de São Paulo, apresentando-se também na Radio Mayrink Veiga no Rio de Janeiro e gravando seu primeiro sucesso, a canção Meu benzinho, versão de My little one, de Frank Lane, recebendo os troféus Roquete Pinto e Disco de Ouro. A sua ascensão foi rápida tornando-se num dos mais aplaudidos cantores brasileiros. Seus discos eram garantia de sucesso e primavam pela qualidade do repertório. Em 1959 já contratado pela RGE depois de ter lançado belíssimos discos na Polydor, grava um LP denominado o Inimitável Agostinho dos Santos, incluindo o grande sucesso A felicidade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes por ele interpretada na trilha sonora do filme Orfeu do Carnaval e reunindo, dentre outras, algumas das mais representativas canções da musica popular brasileira na época como, Hino ao sol, de Billy Blanco; Eu sei que vou te amar, de Tom e Vinicius; A noite de meu bem e Fim de caso, de Dolores Duran; Não tem solução, de Dorival Caymmi e Carlos Guinle; Canção do amor, de Luiz Bonfá e Antonio Maria; As aparências enganam, de Lupicinio Rodrigues e Canção da volta, de Ismael Neto e Antonio Maria.

Agostinho dos Santos durante toda sua vida prezou pela qualidade de seu repertorio não se dando a concessões de cunho comercial, sua obra é um dos mais preciosos legados de nosso cancioneiro e sua voz é única e nunca foi inigualada, porque ninguém conseguiu cantar como ele, apenas um certo cantor americano, Nat King Cole, reverenciado como celebridade mundial numa época em que o nosso astro em nada lhe devia ao estilo e em talento, sendo, pois, irmãos em arte e exuberância interpretativa. 

A juventude de hoje precisa redescobrir Agostinho dos Santos, o Brasil não o pode esquecer e a cultura brasileira deve reverenciá-lo sempre, para que ele não fique apenas como uma doce e radiante lembrança, cuja estrela neste mundo se apagou no triste desastre aéreo com o Boeing da Varig no Aeroporto de Orly em Paris no dia 12 de julho de 1973. Naquele instante ele apenas deixou de gravar e estar fisicamente entre nós, mas o seu legado, este permanecerá sempre e quem tiver um pouco de sentimento e sensibilidade nunca deixará de ouvi-lo, pois ele foi e sempre será eterno. 


MÚSICAS: 
1)Hino ao sol (Billy Blanco/Tom Jobim) 
2)Eu sei que vou te amar (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) 
3)Eu sou de ser você (Fernando César) 
4)Saudade de Itapoã (Dorival Caymmi) 
5)Balada do homem sem Deus (Fernando César/Agostinho dos Santos)
6) Fim de caso (Dolores Duran) 
7)Não tem solução (Dorival Caymmi/Carlos Guinle) 
8)Canção do amor (Luiz Bonfá/Antonio Maria) 
9)Felicidade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) 
10)A noite do meu bem (Dolores Duran) 
11)O morro (Billy Blanco/Tom Jobim) 
12)As aparências enganam (Lupicinio Rodrigues) 
13)Palpite infeliz (Noel Rosa) 
14)Canção da volta (Ismael Neto/Antonio Maria) 
15)Eu não sou de reclamar (Lupicinio Rodrigues) 
16)Feitio de oração (Noel Rosa/Vadico)

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