LUZ
Era escuro. Na negritude daquela terra não se estranhava a pouca luz. Sempre foi assim e assim deverá continuar sendo por muito tempo. Pouca esperança há. Mas eis que no céu risca um relâmpago, como que a anunciar que uma claridade diferente estava por vir. Zefa esperava essa luz com a ansiedade que o tempo provoca em quem espera, embora portadora de outras luzes já tivesse sido. João, também já afeito ao escuro que predominava, aguardava tudo aquilo com a mesma ansiedade vivida quando Zezinho, filho mais velho, foi parido, tanto tempo atrás. Naquele instante, o milagre da vida se renovava, era o claro do novo, era hora do nascer. Contrações, gemidos, dores e a alegria de mais uma estrela chegando para alumiar aquele céu tão carente do claro, aquele chão tão precisado quanto as vidas de Zefa e de João. Num cantinho do quarto, à beira da cama, a chama acesa de uma lamparina a querosene ajudava a clarear a chegada de mais um. Fez-se festa na vida de todos naquela casa quando Francisco, apresentado à luz, chorou seu choro primeiro.
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