Zé Guilherme, cantor e compositor cearense radicado em São Paulo, está de trabalho novo, comemorando seus 20 anos de carreira.
Cearense nascido em Juazeiro do Norte, Zé Guilherme vive em São Paulo, desde 1982. Em 1998, estreou o show Clandestino, no Espaço Anexo Domus, com direção musical de Swami Jr. e direção do ator Luiz Furlanetto. Mais tarde, apresentou o show Zé Guilherme e Convidados no Teatro Crowne Plaza, com a participação especial de Carlos Careqa, Maurício Pereira, Vânia Abreu, Zé Terra e René de França.. Em 2000, lançou o primeiro CD, Recipiente (Lua Discos), com produção e arranjos de Swami Jr., e, em 2002, sua interpretação para Mosquito Elétrico, de Carlos Careqa, foi incluída na coletânea Brazil Lounge: New Electro-ambient Rhythms from Brazil, lançada pela gravadora portuguesa Música Alternativa. Em 2003, participou do CD homônimo do mineiro Cezinha Oliveira. Em 2004, estreou o show Canto Geral com canções de seu disco de estreia e músicas inéditas de novos autores. Lançou, em 2006, o segundo CD, Tempo ao Tempo, com produção e arranjos de Serginho R., direção artística do próprio Zé Guilherme, que assina também a coprodução junto com Marcelo Quintanilha. Em 2007, cantou no CD ao vivo Com os Dentes - Poesias Musicadas, de Reynaldo Bessa. Em 2015, lançou o seu disco Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva, uma releitura da obra do cantor Orlando Silva, em comemoração ao centenário de nascimento do Cantor das Multidões. O álbum foi apresentado nas unidades Belenzinho e Santana do Sesc, entre outros espaços. Cantou nos projetos Arte nas Ruas, Clima do Som no Parque da Aclimação e MPB nas Bibliotecas, Quinta Mariana, do SESC Vila Mariana, Quatro Vozes (Sesc Consolação) e Música no Museu (Museu da Casa Brasileira). Atualmente, o artista trabalha no lançamento de Alumia, que mostra também seu lado autoral.
Após lançar, em 2015, um disco em homenagem ao “cantor das multidões”, o artista deixa de lado o viés confortável de ser apenas intérprete e lança o quarto disco, Alumia, com repertório de músicas autorais, em sua maioria.
“Nunca tive pretensão de ser um compositor, pois meu ofício maior é o de cantor. A poesia é um exercício que me acompanha desde a adolescência, mas só agora, depois de 20 anos de dedicação à música, eu me sinto mais à vontade para mostrar também o meu lado autoral”, comenta.
Zé Guilherme assina letra e melodia das composições “Alumia”, “Teus Passos” e “Canção de Você”. As letras são frutos de seus poemas. E “as melodias nasceram intuitivamente, pois não sou instrumentista”, afirma. Ele ainda divide a autoria de “Espelho” com Luis Felipe Gama, de “Ave Solitária” e “Teu Cheiro” com Cris Aflalo, de “Laço” com Marcelo Quintanilha e de “Oferendas” com Cezinha Oliveira, que é o produtor musical e arranjador do álbum. Completando o repertório, Luis Felipe, Quintanilha e Cezinha aparecem novamente como autores de “Franqueza”, “A Voz do Rio” e “Cesta Básica”, respectivamente, ao lado do baiano Péri, compositor de “Clarão” e “Paixão Elétrica”.
Alumia registra o momento de amadurecimento artístico de Zé Guilherme. Não só pelo fato de ele se mostrar também como compositor, mas pela própria trajetória musical. O primeiro CD, Recipiente (Lua Discos, 2000), com arranjos de Swami Jr., apresentava sua origem nordestina e sua música universal brasileira em um trabalho com a força da raiz e do pop brasileiro. Seis anos depois, o disco Tempo ao Tempo chega com uma linguagem pop mais contemporânea nos arranjos de Serginho R. O terceiro CD viaja no tempo e o artista faz um pouso na época mais romântica da música brasileira com Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva, trabalho que também tem produção musical e arranjos de Cezinha Oliveira.
O novo CD faz um sobrevoo por todos esses caminhos para apresentar a MPB de Zé Guilherme, agora mais romântica, que envereda por uma sonoridade acústica mais jazzística. “Os arranjos trazem como unidade estética a sonoridade característica do piano, executado de forma primorosa por Jonas Dantas (também no acordeon), e do baixo acústico, tocado por Johnny Frateschi”, justifica o produtor musical. É possível perceber que todas as músicas se harmonizam como células sonoras dentro da estrutura musical do disco. Os demais instrumentos que aparecem são: bateria e percussão (por Adriano Busko), violão e guitarra (por Cezinha Oliveira) e sopros (por Walter Pinheiro). “Esse trabalho pode ser considerado uma declaração de amor, amor a outras pessoas e à minha própria vida”, confessa o intérprete.
As canções de Alumia
A faixa “Oferendas” (Cezinha Oliveira e Zé Guilherme) tem arranjo elaborado para essa letra que fala do encontro carnal, da viagem pelo corpo da pessoa amada. “Espelho” (Luis Felipe Gama e Zé Guilherme) é uma composição que se assemelha à “lide” alemã. Composta para voz e piano, o lirismo nasce da tensão entre a execução do instrumento e a voz do intérprete. Fala do encantamento sentido na manhã seguinte à noite de amor. “Ave Solitária” (Cris Aflalo e Zé Guilherme) tem o sotaque nordestino do baião. Essa canção brejeira canta a alma solitária que, como uma ave, busca um lugar para pousar. A romântica “Canção de Você” (Zé Guilherme) é um poema sobre a saudade e as ilusões do amor. “Teu Cheiro” (Cris Aflalo e Zé Guilherme) é também uma canção de amor, em ritmo de bossa nova, que fala sobre a espera pela pessoa amada.
A música “Alumia” (Zé Guilherme), que dá nome ao CD, remete à origem nordestina do autor. Concebida originalmente como coco com toques de carimbó, ela ganhou arranjo elaborado com destaque para o piano de Jonas Dantas. A faixa “Teus Passos” também fala de amor, de sedução, de conquista. O samba-choro “Franqueza” (Luis Felipe Gama e João P. de Souza) traz na letra um soneto escrito, em 1918, por João Pinto (avô das cantoras Ana Luiza e Juliana Amaral) e registrado em um livreto artesanal. “A Voz do Rio” (Marcelo Quintanilha) é uma homenagem a Oxum (orixá das águas doces, das cachoeiras; protetor da voz, do amor). “Escolhi esta música porque também sou filho de Oxum”, comenta Zé Guilherme.
Com uma pegada mais pop, vem “Laço” (Marcelo Quintanilha e Zé Guilherme), outra canção romântica, cuja letra discorre sobre as possibilidades e impossibilidades do amor. “Clarão”(Péri) é uma homenagem a Oxalufan pela suprema criação (no candomblé ele é Deus, um Oxalá velho e sábio). “Com esta música agradeço por estar vivo, pela proteção nos momentos difíceis e por estar completando 20 anos de carreira artística”, confessa o cantor. “Paixão Elétrica” (Péri), como o próprio nome sugere, canta a paixão e as armadilhas do amor. Estava na seleção de músicas do segundo CD de Zé Guilherme, mas só agora a ideia de gravá-la se concretizou. E “Cesta Básica” (Cezinha Oliveira) é a faixa mais pop de Alumia. A letra fala de sentimentos, sensações da vida, da busca pela felicidade. “Esta composição faz uma síntese do que repertório do disco aborta. Tinha que estar nesse roteiro, para amarrá-lo”, finaliza Zé Guilherme.
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