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domingo, 5 de agosto de 2018

MORAES MOREIRA: 'O CORDEL ME DEU UM RITMO MARAVILHOSO'

Músico, que se apresenta hoje em Belo Horizonte com os Novos Baianos, acaba de lançar o álbum Ser Tão, que marca a virada em sua carreira de cantor para cantador

Por Mariana Peixoto


"O cordel me deu um ritmo maravilhoso. Comecei a gostar da brincadeira e passei a exercitar a mente, já que você tem que ser rápido para fazer cordel. Uma pessoa fala uma frase e já começo a contar sílaba. Vira uma loucura”


Moraes Moreira é músico, mas também acadêmico. Ocupante da cadeira de número 38 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, o baiano de 71 anos acabou de dar sua maior contribuição à manifestação literária da cultura popular nordestina.

Lançado nesta semana, Ser Tão (selo Discobertas), novo álbum de Moraes, reúne nove músicas inéditas. Todas compostas em formato de cordel. “Tem uma história que aconteceu comigo e o Xangai no aeroporto. Ele estava lá e um cara chegou e falo: ‘Olha o cantor Xangai’. Ele respondeu: ‘Cantor não, cantador.’ Fiquei reparando naquilo até que, um dia, encontrei novamente com o Xangai e disse que estava fazendo minha passagem de cantor para cantador”, conta Moraes.

A vertente cantador de Moraes Moreira tem convivido muito bem com a de cantor. Hoje, ele retorna a Belo Horizonte para, ao lado dos companheiros Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, fazer o show do DVD Acabou chorare – Novos Baianos se encontram.
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A apresentação será no KM de Vantagens Hall, mesmo espaço que recebeu o grupo em setembro de 2016 – na época, o histórico combo setentista dava início a uma turnê retrospectiva. A reunião deu tão certo que eles continuam na ativa.

Ser Tão teve gestação longa. Moraes é o irmão mais novo de José Walter Pires, o cordelista Zewalter. Sempre interessado nas métricas do cordel, Moraes publicou, em 2009, o livro A história dos Novos Baianos em formato de cordel. “São 161 estrofes e 966 versos”, comenta. Em 2016, houve outro livro, Poeta não tem idade, com 70 cordéis, um inclusive sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Já apaixonado pela produção, foi convidado pela ABLC para se tornar seu integrante. “Quando o presidente me chamou, falei: ‘Vocês vão querer um cabeludo na academia?’ Ele disse que eu estava no ponto, e a coisa esquentou”, relembra Moraes. Ele, que tem como padrinho na ABLC o poeta paraibano Manoel Monteiro, começou a intensificar a produção, até chegar aos cordéis musicados. As primeiras gravações são de 2012.


DOIS MUNDOS 

O material que redundou em Ser Tão é bem diverso. Moraes coproduziu o trabalho com Alexandre Meu Rei, que ainda toca cordas (viola, guitarra, violão) na maior parte das músicas. O álbum é aberto por Sambadô/Deixa o pé no chão. Os versos fazem menção aos dois “mundos” do músico: o do cancionista, com o samba, e o do cantador, e também a diferentes momentos e autores da música brasileira: “O nosso pioneirismo/É verdadeiro e não tarda/Da bossa ao tropicalismo/O nosso afã de vanguarda/Caymmi é um caso à parte/Acordes Gilbertianos/Na vida fazendo arte/Velhos e novos baianos.”

I am the captain of my soul é um cordel em inglês, com versos inspirados no poema vitoriano Invictus, do britânico William Ernest. Já O nordestino do século é dedicado a Luiz Gonzaga. Moraes escreveu a música ao saber do reconhecimento que o Rei do Baião havia recebido da prefeitura do Recife em 2012.

Música e versos são de autoria de Moraes, que só dividiu uma das faixas: Nas paradas, parceria com o conterrâneo Armadinho. “Sou do sertão da Bahia, da Chapada Diamantina (ele nasceu no município de Ituaçu). Para este disco, me inspirei muito no tempo do sertão. Foi uma volta às raízes, à vida de menino com a banda de músico, os violeiros e sanfoneiros da minha cidade”, diz.

Compor com métrica, de acordo com Moraes, acabou se tornando uma mania. “O cordel me deu um ritmo maravilhoso. Comecei a gostar da brincadeira e passei a exercitar a mente, já que você tem que ser rápido para fazer cordel. Uma pessoa fala uma frase e já começo a contar sílaba. Vira uma loucura.” Para ele, há muita diferença entre o cantor e o cantador. “O primeiro tem a coisa glamourosa do show. Já o cantador fala de suas raízes, da cultura popular. Agora estou indo mais por aí”, afirma.

O trabalho recém-saído do forno já vai ganhar os palcos. Ser Tão estreia no Teatro Ginástico, no Rio, em 22 deste mês.
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GRUPO PLANEJA DISCO DE INÉDITAS

“Te confesso que no começo fui meio resistente”, assume hoje Moraes Moreira sobre o retorno dos Novos Baianos. Em maio de 2016, quase 20 anos depois de lançar seu último disco, Infinito circular, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão e Moraes se reuniram na Concha Acústica, em Salvador, para um show da icônica trupe setentista.

A reunião deu tão certo que eles deram início a uma turnê, que rendeu um CD/DVD e segue até hoje. Na próxima quarta-feira, os Novos Baianos irão ao Theatro Municipal, no Rio, como concorrentes do Prêmio da Música Brasileira. Por Acabou chorare – Novos Baianos se encontram, o grupo concorre em duas categorias: melhor álbum e melhor grupo de pop/rock. Moraes e Pepeu produziram o trabalho.

“Depois que vi a coisa andando, deu vontade de continuar”, conta Moraes. Ele afirma que o show está “mais maduro”, depois de ter rodado boa parte do país. A apresentação deste sábado (11) em BH, segundo diz, seguirá basicamente o mesmo roteiro que a de setembro de 2016. Agora tocando principalmente para um novo público, que não conheceu os Novos Baianos em sua primeira fase, a banda continua apresentando uma sonoridade que cativou os fãs décadas atrás – mistura vibrante e alegre de samba, rock e bossa nova.

Os Novos Baianos são autores de alguns clássicos da música brasileira: Acabou chorare, Preta pretinha, Tinindo trincando, A menina dança e Ladeira da praça. “Vamos continuar com a turnê, mas, daqui a pouco, daremos uma parada. A ideia é lançar, daqui a um ano e meio, pela Som Livre, um novo disco”, conta Moraes. O próximo registro será só de inéditas.

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