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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

MOACYR LUZ CELEBRA A CARREIRA, A VIDA E O RIO EM DISCO

'Natureza e fé' traz 12 músicas inéditas e novos parceiros como Fagner e Zélia Duncan

Por Ana Clara Brant



Moacyr tem origem tupi e significa “filho da dor”, “filho do sofrimento”. Para quem tem o sobrenome Luz e representa um gênero tão alto astral como o samba, não é dos nomes mais apropriados. Pouco importa. Moacyr Luz é só energia boa, assim como seu mais recente álbum, Natureza e fé, lançado pela Biscoito Fino. “Não é apenas um disco, mas sim o resumo da minha vida. Todo trabalho que faço tem uma coisa de fé, rainha negra, São Jorge. E quando falo do mar, falo da cidade do Rio de Janeiro. O Rio é pura natureza e é minha paixão e minha inspiração”, afirma.

O cantor e compositor escolheu o Mirante da Gávea como cenário para as fotos que estão na capa e no encarte do CD. “Não conhecia e me indicaram, porque seria um lugar que teria tudo a ver com isso que estou falando. O Rio tem lugares de uma beleza extraordinária. Você sabe que, por incrível que pareça, sou um carioca que não conhece o Pão de Açúcar (risos)”, comenta.

Natureza e fé é também o nome de uma das faixas. Parceria com Teresa Cristina, traz versos ora cantados por ela, ora por ele: (Meu amor/Quando vem/É Xangô, meu orixá, meu bem/ Carrega a claridade do trovão nas mãos/Um raio sentencia os corações/ Senhor das cordilheiras, por favor/Entenda o meu desejo/ a minha dor”. “É uma composição quase encomendada por Xangô. Quando terminei o verso, já imaginei como sendo o título do disco. Sou uma pessoa que acredita em tudo. Não tenho muito estudo para saber a diferença de sincretismos, mas respeito tudo”, diz.

O novo álbum solo – o 14º, se contabilizados os quatro projetos produzidos à frente do Samba do Trabalhador, famosa roda de samba que ele comanda desde 2005, sempre às segundas-feiras, no Renascença Clube, no bairro do Andaraí – não deixa de ser uma celebração dos 60 anos de Moacyr, completados em abril. A data redonda impulsionou o músico a fazer algo novo. “Essa data é significativa. Poderia ter feito uma retrospectiva, mas quis mostrar que meu coração continua pulsando, criando e apaixonado por música. Não poderia estar mais feliz.”


NOVOS PARCEIROS

As 12 faixas são inéditas. Algumas compostas há alguns anos e guardadas em gavetas e outras feitas quase na boca da gravação. Natureza e fé é o primeiro trabalho de Moacyr a não incluir canções com parceiros tradicionais, como Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Hermínio Bello de Carvalho e Ney Lopes. No entanto, o músico inaugura parcerias. Raimundo Fagner é uma delas. O cantor e compositor cearense assina com Moacyr Luz Periga e Samba em vão, na qual também solta a voz. Zélia Duncan, que havia gravado Moacyr em seu último projeto, está no disco em Gosto, como parceira e intérprete. “A letra é dela e é linda. É uma canção tão íntima de amor que achei que ficaria melhor só com a Zélia cantando. Não quis atrapalhar (risos). É a única faixa em que não canto”, diz ele.

Com Pretinho da Serrinha compôs Atravessado, que abre o disco. A canção também tem a colaboração de Fred Camacho, outra novidade. “Como era um álbum com intuito diferente, quis buscar novos parceiros. Ainda fiz com o Pretinho e o Fred a faixa Gostei do Laiálaiá. Mas claro que os amigos e companheiros de tantos anos, como Serjão, Martinho da Vila e Jorge Aragão estão presentes”, conta.

Um dos convidados mais especiais é o pianista Fernando Merlino, que assinou os arranjos do disco ao lado de Carlinhos 7 cordas. “Fiz meu primeiro show em 1976 com o Fernando, e ele também participou do meu primeiro disco, em 1988. Nunca mais tocamos juntos. Foi muito bacana essa retomada depois de tanto tempo”, comenta.

O disco conta ainda com o trombone de Allan Abadia, o clarone e clarinete de Dirceu Leite, a cuíca de Pretinho da Serrinha, a gaita de Rildo Hora tirando a base do piano (Fernando Merlino), dos violões de 6 e 7 cordas (Carlinhos 7 cordas), cavaquinho acústico (Dudu Braga) e elétrico (José Luiz Maia), bateria (Camilo Mariano) e percussões (Beto Cazes e Junior de Oliveira).

“Apesar de ser um disco intenso, ele é praticamente realizado por um quarteto. Não tem muitos instrumentos típicos do samba, como surdo, tantã. Eu quis desvincular um pouco do rótulo, mas o suingue, o jeito bamba continuam ali. Isso não tem como fugir. Está no sangue, na alma.”

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