'No tempo da Chiquinha' resgata o Rio de Janeiro do começo do século 20 sob o olhar do pianista
Por Márcia Maria Cruz
Hercules Gomes resgata a obra de Chiquinha Gonzaga em novo disco.
A compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935) recebe homenagem do pianista Hercules Gomes, que gravou o CD Tempo da Chiquinha, com 13 faixas. No ano passado, quando se completaram os 170 anos de nascimento da compositora, o pianista foi convidado para gravar uma faixa para um site dedicado a ela. A experiência foi tão boa que resultou no disco. “Fui convidado para fazer o arranjo de uma música. Estava ficando legal, resolvi fazer quatro para gravar um EP. Continuei e, quando dei por mim, tinha material para um CD”, recorda-se
Hercules foi vencedor do 1º Prêmio Mimo, em 2014, promovido pelo maior festival de música instrumental do Brasil, que recebe o mesmo nome. Autodidata, começou a tocar piano aos 14 anos, diferentemente da maior parte dos músicos, que se iniciam na infância. Foi para o conservatório aos 17 e, pouco depois, ingressou no curso de música popular e música clássica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Hercules não executa as partituras exatamente como Chiquinha as escreveu. Ele acrescenta elementos posteriores à época da autora e admite a influência de Pixinguinha. Hercules lembra que Chiquinha, por ter tido papel fundamental na estruturação da música brasileira, é considerada “pianeira”, uma pianista pioneira. “Chiquinha e Ernesto Nazaré foram fundamentais para a identidade da música brasileira.”
A compositora enfrentou preconceito, pois, na época, mulheres não tinham o direito de atuar profissionalmente como musicistas. Apesar das objeções, Chiquinha integrou geração fundamental para a música no Rio de Janeiro, chamada então de Cidade dos Pianos. “Os pianeiros levavam música para vários lugares. Faziam concertos e bailes sozinhos”, diz.
Hercules optou por composições de Chiquinha menos conhecidas, incluindo a inédita Walkyria. Da própria Chiquinha Gonzaga, formam o repertório as músicas Gaúcho, Água do vintém, Cintilante, Cananea, Atraente, Santa Argentina e Biónne. O músico ainda gravou Querida por todos, de Joaquim Callado, Machuca, que ela compôs com Patrocínio Filho, Não impressione, parceria com Carlos Bettencourt e Luiz Peixoto, e No tempo de Chiquinha, de Laércio de Freitas.
Em função da influência de flautistas nas composições de Chiquinha, Hercules convidou para participar do CD o flautista Rodrigo Y Castro. “Descobrimos manuscrito de flautista da época para fazer o arranjo de Cintilante”, diz. Também foi incorporada ao álbum gravação de voz original de Chiquinha. A gravação estava em disco de 78 rotações descoberto por Gilberto Gonçalves em 2015, restaurado pelo Instituto Moreira Sales (IMS).
NO TEMPO DA CHIQUINHA
• De Hercules Gomes
• Independente
• R$ 25 (preço médio)
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